Me escreve uma jovem, interessada em ser tradutora, pedindo orientação. Perguntando que faculdade fazer, essas coisas. A pergunta é freqüente e vou responder mais uma vez por aqui, assim, pode ser útil para mais alguém.
Para ser tradutor, a rigor, você só precisa da cara e da coragem. Qualquer um, no Brasil e em qualquer país do mundo, pode pendurar uma tabuleta na porta dizendo "Fulano de Tal, tradutor". Em muitos países, há cursos de tradução, e em alguns deles os cursos são muito bons e prestigiados; em nenhum são obrigatórios. Por isso, por exemplo, na Alemanha se distingue entre Diplomübersetzer, que é o diplomado, e Übersetzer, que não tem diploma. Mas ambos podem exercer a profissão e a exercem.
Um curso superior, entretanto, ajuda muito, principalmente se for superior não só no nome, mas também na qualidade — e no empenho que você tiver nos estudos, porque fazer curso superior tomando chope com os colegas no boteco da esquina e reciclando trabalhos dos veteranos não ajuda muito.
Um bacharelado em letras é uma grande opção. Se conseguir um bacharelado em letras-tradução, melhor ainda. Se não for em letras-tradução, provavelmente vale a pena investir em um curso livre de tradução, como complemento. Ou em uma especialização em tradução. A especialização em tradução também é recomendável para quem se graduou em alguma área que não letras.
Quer dizer, se você fez direito e, depois, descobriu, como vários colegas nossos, que ama a ciência do direito, mas detesta as opções profissionais abertas ao bacharel em direito e prefere se dedicar à tradução, faça um curso de especialização em tradução ou um curso livre. Este, talvez, seja o melhor dos mundos, porque você já sai "especialista" em direito. Por outro lado, agüentar cinco anos de faculdade de direito, quando o que você quer sempre foi traduzir, pode ser um fardo insuportável.
Há muitos tradutores que não têm curso superior em letras. Entretanto, embora seja esse o caminho que eu próprio segui, não recomendo a ninguém. A norma é: quer ser tradutor, faça curso de letras.
Dois breves conselhos finais: Primeiro, não se esqueça de que é você quem faz o curso, não o curso que faz você: estude, estude e tenha certeza de que, por mais que estude, não estudou o suficiente. Segundo, para cada hora de língua estrangeira que estudar, estude duas de português. É assustador número de tradutores e candidatos a tradutor que conheço que exibem, orgulhosos, seu excelente inglês, mas traduzem para um português canalha.
Escrito por Danilo Nogueira, com revisão, muita colaboração, palpitação geral e puxões de orelhas de Kelli Semolini.
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Topônimos
Pipocou uma discussão numa das listas de tradutores sobre Bombaim e Mumbai. Essas discussões sempre aparecem e nunca terminam. Fazem parte da igualmente infindável busca do que é o certo, o indiscutível, o indiscutivelmente certo. Parece algo contraditório procurar o indiscutível em uma lista de discussão e, muitas vezes, o consulente que recorre a uma lista com uma dúvida dessas sai ainda mais confuso do que entrou e ainda meio queimado com uma que outra demonstração de intolerância.
Mas tudo isso à parte, uma boa parte dessas dúvidas sobre topônimos não tem mesmo solução. A capital do Peru é Lima e espero que continue sendo por muitos anos. Pelo menos o nome só tem uma grafia, que é fácil de lembrar e pronunciar, além de ser fácil de digitar, ao contrário de Poughkeepsie, que pode ser um excelente lugar, mas o nome é um terror. Entretanto, há casos insolúveis como o de New York / Nova York / Nova Iorque, cada variante com seus ferrenhos defensores e adversários. O pior é que todos têm lá sua razão e contam com fortíssimos argumentos. O mais forte deles é aquele do maranhense que dizia não lhe importar se a cidade americana era New York ou Nova York, mas que Nova Iorque fica no Maranhão e quem lá nasce é nova-iorquense.
Quanto a Bombaim / Mumbai, os indianos argumentam que o inglês Bombay simplesmente está errado — como se eles tivessem o direito de dizer alguma coisa desse tipo. A constituição lá deles diz que a língua oficial do país é o inglês, só que daí até poder legislar sobre o idioma vai lá uma diferença. Mas, agora, quando escrevem inglês, deram de chamar a cidade de Mumbai, o que não deixa de ser direito deles. E é direito de cada um achar que isso é uma grande maravilha ou uma grande bobagem.
O problema, cá para nós, é como vamos chamar a cidade em português destes Brasis. Há quem diga que há de continuar a ser Bombaim, porque assim sempre foi. Mas o Japão já foi Cipangu e o Ceilão já foi a Taprobana e agora está virando o Sri Lanka. Essas coisas podem mudar.
Muito disso tem conotações ideológicas: referir-se àquele arquipélago perdido no Atlântico Sul como "Malvinas" ou "Falklands" reflete toda uma visão política, da mesma forma que falar em "República Democrática Alemã" ou "Alemanha Oriental" também refletiu. Nesses casos, a minha praxe é respeitar a escolha do autor. Se o original diz que "during the Malvinas war", eu digo que foi durante a guerra das Malvinas. Se original diz que "during the Falklands war", eu digo foi durante a guerra das Falklands. Para mim, essas distinções sutis fazem parte integrante do estilo e conteúdo do texto.
Quando se escreve em inglês, o usar Bombay ou Mumbai também reflete uma posição ideológica, com a qual não é meu direito intervir. Se o autor diz "Bombay", eu digo "Bombaim"; se o autor diz "Mumbai", eu digo "Mumbai" e acabou a história.
Escrito por Danilo Nogueira, com revisão, palpitação geral e puxões de orelhas a cargo de Kelli Semolini.
Mas tudo isso à parte, uma boa parte dessas dúvidas sobre topônimos não tem mesmo solução. A capital do Peru é Lima e espero que continue sendo por muitos anos. Pelo menos o nome só tem uma grafia, que é fácil de lembrar e pronunciar, além de ser fácil de digitar, ao contrário de Poughkeepsie, que pode ser um excelente lugar, mas o nome é um terror. Entretanto, há casos insolúveis como o de New York / Nova York / Nova Iorque, cada variante com seus ferrenhos defensores e adversários. O pior é que todos têm lá sua razão e contam com fortíssimos argumentos. O mais forte deles é aquele do maranhense que dizia não lhe importar se a cidade americana era New York ou Nova York, mas que Nova Iorque fica no Maranhão e quem lá nasce é nova-iorquense.
Quanto a Bombaim / Mumbai, os indianos argumentam que o inglês Bombay simplesmente está errado — como se eles tivessem o direito de dizer alguma coisa desse tipo. A constituição lá deles diz que a língua oficial do país é o inglês, só que daí até poder legislar sobre o idioma vai lá uma diferença. Mas, agora, quando escrevem inglês, deram de chamar a cidade de Mumbai, o que não deixa de ser direito deles. E é direito de cada um achar que isso é uma grande maravilha ou uma grande bobagem.
O problema, cá para nós, é como vamos chamar a cidade em português destes Brasis. Há quem diga que há de continuar a ser Bombaim, porque assim sempre foi. Mas o Japão já foi Cipangu e o Ceilão já foi a Taprobana e agora está virando o Sri Lanka. Essas coisas podem mudar.
Muito disso tem conotações ideológicas: referir-se àquele arquipélago perdido no Atlântico Sul como "Malvinas" ou "Falklands" reflete toda uma visão política, da mesma forma que falar em "República Democrática Alemã" ou "Alemanha Oriental" também refletiu. Nesses casos, a minha praxe é respeitar a escolha do autor. Se o original diz que "during the Malvinas war", eu digo que foi durante a guerra das Malvinas. Se original diz que "during the Falklands war", eu digo foi durante a guerra das Falklands. Para mim, essas distinções sutis fazem parte integrante do estilo e conteúdo do texto.
Quando se escreve em inglês, o usar Bombay ou Mumbai também reflete uma posição ideológica, com a qual não é meu direito intervir. Se o autor diz "Bombay", eu digo "Bombaim"; se o autor diz "Mumbai", eu digo "Mumbai" e acabou a história.
Escrito por Danilo Nogueira, com revisão, palpitação geral e puxões de orelhas a cargo de Kelli Semolini.
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Apostila Wordfast e Reunião na Sala 7
Entre as novidades que estamos prometendo a vocês há tempos está a publicação de e-books.
Alguns vão ser grátis, como esta Introdução ao Wordfast Classic. Outros serão pagos. A Introdução é ainda experimental e contamos com os comentários dos usuários para aperfeiçoar o produto.
Esperamos que você goste. Tem mais na linha de produção e essa é uma das razões pelas quais o blogue anda tão paradão: é pouco dia para muito plano junto.
Vamos ter mais novidades logo. Uhm, aliás, dia 13, sábado, às 14 horas, tem Reunião na Sala 7, sempre via Aulavox, o que significa que você participa sem sair de casa. O tema vai ser Tradução: mito e realidade. Na verdade, entra tema e sai tema, um tema, outro tema, o assunto de todas as reuniões é sempre o mesmo: nossa profissão, complexa e multifaceitada. Espero por você lá. É grátis e todos são bem-vindos. Para mais informações, clique aqui.
Alguns vão ser grátis, como esta Introdução ao Wordfast Classic. Outros serão pagos. A Introdução é ainda experimental e contamos com os comentários dos usuários para aperfeiçoar o produto.
Esperamos que você goste. Tem mais na linha de produção e essa é uma das razões pelas quais o blogue anda tão paradão: é pouco dia para muito plano junto.
Vamos ter mais novidades logo. Uhm, aliás, dia 13, sábado, às 14 horas, tem Reunião na Sala 7, sempre via Aulavox, o que significa que você participa sem sair de casa. O tema vai ser Tradução: mito e realidade. Na verdade, entra tema e sai tema, um tema, outro tema, o assunto de todas as reuniões é sempre o mesmo: nossa profissão, complexa e multifaceitada. Espero por você lá. É grátis e todos são bem-vindos. Para mais informações, clique aqui.
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