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quinta-feira, 31 de maio de 2007

Você cobre? (2)

Pois é. Então, como estava dizendo. O que fazer quando o cliente me pede para cobrir um orçamento. A primeira vez que isso aconteceu, fiquei surpreso. Era, ainda, no tempo em que a gente ia ao escritório do cliente fazer orçamento. O cliente me mostrou uma cotação, inclusive de uma amiga minha. Fiquei bobo. Disse que ia mandar a cotação por escrito, voltei para casa, telefonei para a colega, contei a história. Indignado, cotei o dobro do que ela tinha cotado, que não era pouco.

Me arrependi. Não deveria ter participado da palhaçada. Esse é o ponto: não participar. Se alguém me diz, tenho um orçamento de dez, você cobre, minha resposta, automaticamente, é "não". Acho uma indignidade de parte do cliente e não participo. Aliás, o mesmo cliente me convidou para uma segunda concorrência e me neguei a participar.

Quer dizer, se você participa de uma indignidade, está não incentivando a recorrência dessa indignidade, como também se sujando. Pedir um desconto acho normal, embora eu não conceda. Mas pedir para cobrir, acho um insulto. Não vou perder minha dignidade participando dessas coisas.

Além disso, não argumento, não discuto, não digo que sou competente, não digo que "meu preço é condizente com minha experiência", não digo que é um insulto, nada disso. Digo "não, não senhor, por uma questão de política comercial, jamais participo de leilão às avessas".

Quer dizer, se você quer ser respeitado pelo cliente, primeiro tem que se dar ao respeito. E cobrir oferta dos outros não é um bom meio de granjear respeito.

Chega por hoje. Até amanhã.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Estou aqui meio que pensando em

lá para meados de junho fazer uma "Reunião na Sala 7", grátis como de sempre, claro, chamada "Da Faculdade ao Mercado" e voltada para os estudantes de tradução. Seria à noite, das 19:30 às 21:30. O que vocês acham? Dá até para botar num telão, se alguma faculdade tiver interesse.

Comentários são bem-vindos.

Você cobre?

A colega, irritadíssima, posta uma mensagem em uma lista de discussão. Já li muitas desse tipo, todas muito semelhantes.

Você apresentou uma proposta. O cliente depois de uns dias telefona e diz que tem alguém que cotou um preço menor, pergunta se você quer cobrir. Que fazer? Primeiro, não se exalte, não se irrite, não se descabele. Não vale a pena. Principalmente, não faça discursos para o cliente, aquela velha história de "os preços que eu peço estão de acordo...": ele não vai prestar atenção. Ele quer um desconto, não um discurso. Isso dito, vamos ver o resto.

Há uma grande chance de o cliente estar mentindo. Bem possível que não tenha consultado mais ninguém. Conhece você, não conhece mais ninguém, ou gosta do teu serviço e vai fazer com você mesmo. Mas dar uma choradinha é grátis e, muitas vezes, rende uns tostões. Por que não tentar. Então ele vem com essa do "temos uma cotação mais ______ (em conta, conveniente, realista, de acordo com o mercado atual ...)". Se você cair, ótimo. Se não cair, paciência.

Claro, pode ser verdade. Não importa quanto você cote, sempre vai ter alguém que peça menos, salvo se você fizer grátis, caso em que o cliente provavelmente vai perguntar se você, ao menos, também diagrama em Quark.

Por outro lado, há muita gente que cobra mais que você e acha que o seu preço é tão aviltante quanto o daquela pessoa que cobra menos que você. É estranho, isso. Todos achamos que cobramos um preço razoável; quem cobra mais que nós está esfolando; quem cobra menos avilta. Sim, você acha o seu preço razoável, eu sei. Mas isso é questão de opinião. Pode ter gente achando que você também avilta. Não serão poucos. Pode ter certeza.

Cobrir ou não cobrir, eis a questão. A vida é tua e não sou eu quem vou te dizer o que fazer, mas posso dizer o que eu faço: não cubro. Não cubro, não cubro, não cubro e pronto.Não entro em guerra de preços. Entre outras coisas, porque, se entrar, vou perder o direito de falar mal de quem entra. Já pensou nisso?

Por favor, não diga que são "os outros". Comece você a melhorar o mercado, dizendo "não" à guerra de preços, à loucura de participar de leilão às avessas. Na verdade, você não pode começar, porque eu já faço isso há tempos. Quer dizer, somos nós dois, então. Quem sabe mais alguém entra no exército Brancaleone dos que não participam de leilão invertido.

Amanhã volto ao assunto, dizendo como faço nesses casos, que este artigo já ficou longo demais. Não se esqueça da Reunião na Sala 7. Grátis, a distância. Sábado.

terça-feira, 29 de maio de 2007

Vida de tradutor

O blog esteve parado porque fiquei sem acesso à internet. Terrível. Demoraram dois dias para consertar, modem pifado, essas coisas. Acontece. Mas, do jeito que hoje dependemos da Internet, é uma catástrofe. Hoje de noite retomo os artigos.

Confesso que não dá muita vontade de escrever quando não se pode postar na hora.

Reunião na Sala 7

Mais uma vez, convido para a Reunião na Sala 7, um evento absolutamente grátis para a gente discutir coisas absolutamente profissionais. Como as anteriores, esta vai ser sábado de tarde. A próxima vai ser em horário diferente, para atender um público diferente. Temos muita gente que não pode participar nesse horário. Para mais informações sobre a Reunião na Sala 7, clique aqui.

Qual é o horário melhor para você?

Se você tem vontade de participar de um desses eventos grátis mas o sábado não convém, escreva para mim dizendo qual o melhor horário para você. Use como linha de assunto ***Sala 7***. Vamos ver o que se faz.

Até a noite, com mais alguma coisa e obrigado pela visita.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

E o português, como fica?

Não me lembro com precisão de como foi a conversa. Foi tudo muito rápido, o rapaz apagou tudo e, agora, não dá para lembrar os pormenores. Aconteceu no Orkut. Entra lá um jovem e pergunta que achamos da tradução que ele colocou num site. Escrevia exclusivamente com maiúsculas e não usava pontuação. Eu disse que não era bom procedimento, que ele devia usar maiúsculas e pontuação como mandam as regras de ortografia.

Ela não gostou. Disse que tinha pedido opinião sobre a tradução, não sobre questões de pontuação e uso de maiúsculas em português. Irritou-se, terminou por apagar todas as suas mensagens e sumiu, provavelmente sentindo-se incompreendido.

Mas o fato é que eu – e muito mais gente – acho que o bom uso das normas da língua de chegada faz parte da boa tradução, salvo se o original exigir procedimento contrário. E o original que o rapaz traduzia, a meu ver, não exigia violação alguma da norma.

Esse foi um caso extremo, mas o desleixo de muitos tradutores com o português é uma barbaridade. Não sou dos mais puristas e já tomei muita cacetada por aceitar construções que outros acham erradas. Mas, por favor, dava para, ao menos, ver coisas fundamentais como uso de hífen? Saber que subtotal se escreve sem hífen? Usar preposições antes de pronome relativo e dizer empresas a que mandei currículos? Saber que em português se escreve 1,25%, separando o inteiro das decimais por vírgula? Curioso é ver gente que fica vermelha de indignação ao ver um "eu vi ele chegando" escreve "que disse-me" e acha que está dando uma grande demonstração se sapiência lingüística.

Será que estou ficando um velho rabugento? Sei lá. Volte amanhã para ver.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Tradução: mercado em crise? (fim)

Perante situações como as narradas nos dois artigos anteriores, normalmente surgem duas reações: a primeira é pedir a regulamentação da profissão; a segunda é propor o estabelecimento de um piso profissional.

Essas duas soluções têm um ponto fraco em comum, os repasses de tradução entre tradutores, de que falo aqui http://tradutor-profissional.blogspot.com/search?q=subterr%C3%A2neos . Mesmo que conseguíssemos que todos os clientes, inclusive editoras e agências nacionais e estrangeiras, respeitassem a chamada "Tabela do SINTRA" ou outra qualquer, os primeiros a desrespeitá-la seriam os próprios tradutores, que iriam pegar serviço a preço de tabela e repassar aos colegas a preço inferior.

Se a profissão fosse regulamentada, então, ia ser pior: ia ter a turma que tem "Carteira de Tradutor" e ia viver de repasses, da mesma forma que sempre houve figurões que assinam toneladas de traduções tendo "desenvolvido intensa atividade como tradutor" sem jamais ter traduzido uma linha. Quer dizer, não é fácil regular uma profissão quando não é possível determinar a certo quem fez o quê.

Agora, chega dos negativos e vamos falar um pouco do que eu estou fazendo e sempre fiz para contornar a situação. É o que se chama uma estratégia de pinça: por um lado, divulgo meu serviço adoidado, para obter maior procura. Por outro, invisto pesadamente em equipamento, qualidade e atendimento ao cliente. Com isso, tenho uma carteira de encomendas sempre fornida. Com isso, tenho mais serviço que tempo. Então, vou o tempo todo passando os clientes mais piores para o "fim da carteira".

Por exemplo, recentemente dispensei uma agência que me pagava exclusivamente quando dava na telha da dona, algo que não era muito freqüente. Cliente que atrasa é uma praga, porque bagunça a vida da gente. Então, Adeus. Também recuso terminantemente ofertas de serviço com valores abaixo da minha tabela. Dizer "não" quando se tem um bom fluxo de serviço é facílimo. Assim, estou sempre escoimando minha carteira dos clientes marginais e deixando só a elite.

O mercado anda oferecendo pagas baixas mas, ao menos na minha área, anda inundado de serviço e, com isso, estou conseguindo me livrar dos chatos que mandam serviços idiotas e criam caso por nada, dando um enorme prejuízo. Assim, posso parcialmente compensar a queda do dólar, além de, aqui, cobrar sempre pela Tabela do SINTRA. Quando o cliente me diz "tem que faça por menos" respondo que sei que tem quem trabalhe por menos, mas que tem gente suficiente disposta a pagar o meu preço para me manter ativo. Se o cliente diz que "por esse preço você não trabalha para nós", eu respondo que por menos do que o meu preço eu não trabalho para eles. Tem os que desligam na hora. Mas também tem os que, depois de chorar um pouco, fazem a encomenda. E é disso que eu vivo.

Quer dizer, como tenho muito serviço no exterior, a queda do dólar me atingiu feio, mas estou conseguindo dar conta do recado. Mas lembre: a gente só consegue dizer um "não" firme quando sabe que não vai faltar serviço. Se você está com bastante serviço e cobrando dez, passe a cotar doze para os novos clientes. Serviço a dez, você não precisa mais.

Por hoje chega. Volte amanhã, que tem mais. Sábado tem Trados e dia dois tem Reunião na Sala 7, esta última sempre grátis, para todo o mundo via Aulavox.

Gravação da "Sala 7"

Aqui você encontra uma gravação da última "Sala 7", gentileza do colega Bruno Murtinho.

Para saber sobre a próxima, sempre grátis, clique aqui. Fico grato por qualquer divulgação que você faça da "Sala 7" entre seus amigos ou colegas de faculdade.

Mais tarde vou postar o artigo de hoje. Agora, ao trabalho. Obrigado pela visita e volte sempre.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Aviso e pedido aos comentaristas

Uma colega me mandou uma mensagem dizendo que o comentário dela não tinha saído. Postou o comentário de novo, e nada. Para evitar os espíritos suínos em geral, todos os comentários são sujeitos à minha aprovação antes de aparecer no blog. Até agora, jamais tive de vetar um. Quer dizer, ou a colega se embananou e não fez as coisas direito, ou tem problema como o Blogger. Se você postou algum comentário e nada apareceu, por favor, me mande um e-mail.

Comentários valorizam o blog e não gostaria que algum se perdesse.

Até amanhã!

Tradução: mercado em crise? (2)

As agências brasileiras que vivem de repassar serviço, como disse ontem, entraram em crise com a queda do dólar: receber em dólar e pagar em real deixou de ser bom negócio. Quem intermediava essas coisas tinha duas saídas: aumentar os preços ou reduzir as pagas. Claro que reduziram as pagas. Há algum tempo recebi uma circular de uma agência (para a qual jamais trabalhei), simplesmente baixando as taxas de pagamento dos tradutores. Quer, quer; não quer, tem quem queira. Dizem que não podem subir os preços, porque perderiam os clientes, já que eles, bonzinhos que são, são vítimas da concorrência geral dos outros. O culpado, como você sabe, são sempre os outros. A maioria dessas agências se esquece ou finge se esquecer, que elas são os outros dos outros.

Os clientes no exterior, evidentemente, ou não entendem o que está acontecendo ou fazem que não entendem. Pedem uma cotação, recebem uma cotação, escolhem a mais baixa e acabou a história.

O impacto no mercado foi terrível. Lamentavelmente, veio acompanhado de um problema ainda mais grave: as empresas começaram a transferir a compra de traduções para seus departamentos de compras. Antigamente, comprava traduções quem usava e o comprador procurava comprar de alguém que prestasse. Agora, compra o departamento de compras e sempre compra de quem cobra menos. A isso, se chama "commoditização da tradução". Commodity, para quem não sabe, é um produto padronizado. Por exemplo, ouro de 23 quilates é ouro de 23 quilates e acabou: tanto faz comprar de um como de outro, o ouro é igual. A commoditização é o tratamento de um serviço como se fosse uma mercadoria padronizada, como se todas as traduções fossem iguais. Então, evidentemente, vende quem aceita receber menos. Por que pagar dez, quando você pode comprar por nove? Como se tradução fosse Coca-Cola.

Mesmo editoras, algumas, nem todas, têm feito concorrências para ver quem traduz certos livros. Curiosamente, a revolta do público tem levado algumas editoras a tratar com maior carinho suas traduções e a pagar melhor os tradutores. Quem sabe a moda pega.

Como tem gente disposta a trabalhar por metade de quase nada, alguns por falta de opção, outros porque simplesmente têm outra fonte de renda e não querem ficar sem fazer nada, outros porque adoram ver seus lindos nomes adornando a capa de livros, não falta quem aceite o serviço, não importa quão baixo seja o preço.

Então, tem gente falando em "piso" para a profissão. Mas disso vamos tratar amanhã. Por hoje, chega. Por favor, dê uma olhadinha nos cursos da Aulavox. Tem Trados no sábado agora e tem a Reunião na Sala 7 no início do mês que vem. A Reunião é inteiramente grátis e todos são bem-vindos.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Tradução: mercado em crise?

Desde que me conheço por gente – e faz tempo, isso – ouço dizer que estamos numa crise. Acho que é coisa de latino-americano. Dizem que no México até existe um jornal chamado "La Crisis". De qualquer forma, há dois fatores a ponderar: primeiro, que todo mercado passa por altos e baixos e o nosso não é exceção; segundo, que esses altos e baixos não afetam a todos igualmente: num momento em que "A" está sem serviço, ou pegando o que aparecer a, ao preço que aparecer, "B" pode estar pegando um filé atrás do outro. A situação fica mais confusa pela falta de dados objetivos e pelo fato de que muitos tradutores mentem desbragadamente sobre sua situação. Uns contam histórias terríveis para desestimular a entrada de possíveis concorrentes; outros exibem-se em histórias maravilhosas que jamais aconteceram.

Neste artigo e em mais alguns que pretendo escrever sobre o assunto, vou dizer um pouco do que sei, o que é muito menos do que poderia e deveria ser tido, porque não sei tudo. Vou também dar lá as minhas opiniões, que não passam de meras opiniões, quer dizer, são todas sujeitas a chuvas e trovoadas.

Vamos começar pelo câmbio. Nosso mercado sofreu uma mudança radical com a Internet. Até então, era totalmente isolado do mercado mundial; hoje, faz parte integrante dele. O mercado começou a se internacionalizar ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, com o dólar a coisa de um real e uma montanha de serviço derivado das privatizações. Naquela época, nossas tarifas brasileiras eram altíssimas em relação às americanas e várias agências foram procurar brasileiros que moravam nos EUA para traduzir, porque a tarifa americana era mais baixa que a nossa. O pessoal que, aqui, traduzia para o inglês, então, perdeu grande parte da clientela.

O fluxo de trabalho se inverteu com a queda do real e, no devido tempo, os nossos colegas que moram nos EUA, perderam clientes para os que moram no Brasil, o que gerou muitas críticas azedas e algumas quiçá um pouco descorteses.

Neste século, aumentou barbaramente a demanda por traduções para o português nos EUA e, com a queda do real, muitas agências brasileiras e mesmo tradutores independentes começaram a viver quase que exclusivamente de pegar serviços enormes nos EUA para repartir por aqui. Com a violenta queda do dólar (ou ascensão do real, como queiram), esse pessoal entrou em profunda crise.

Amanhã, falamos mais nisso tudo. Por hoje, é só. Agora, dê um pulo aqui http://www.aulavox.com/eventos/textoecontexto/index.htm para saber mais sobre o curso de Trados de sábado que vem. Obrigado pela visita e volte sempre.

domingo, 20 de maio de 2007

Malabarismos com memórias de tradução

Além de tradução, revisão e treinamento, também presto serviços de consultoria na área de informatização da tradução, uma das coisas mais divertidas que faço no momento. Às vezes, até mais divertida que escrever no blog. Hoje vou contar uma das minhas aventuras de consultor.

Um dos meus clientes há muitos anos comprou um DV3, excelente programa que hoje lamentavelmente está fora do comércio. O DV3, entre outras coisas, produz uma tabela em formato Word, com o original do lado esquerdo e lugar para a tradução do lado direito. A isso se chama um "arquivo exportado em duas colunas". O cliente manda esse arquivo para o tradutor externo, que coloca a tradução na coluna da direita e devolve. O cliente faz as alterações que quer, reimporta o texto para o formato DV3. Depois, manda o DV3 exportar de novo no formato em que veio o original. É um sistema muito divertido e prático. Inclusive, já recebi (não desse cliente) um texto desses em duas colunas e traduzi em Wordfast. Beleza!

O problema é que, no caso que estou contando a você hoje, eram arquivos Excel enormes, alguns com mais de 40 planilhas, cheias de desenhos, corzinhas, títulos com fontes diferentes, o diabo. Para quem trabalha com DV3 é fácil, porque o DV3 usa um sistema de códigos. Por exemplo, se o cliente pula de Times New Roman 12 para uma fonte maluca que só ele tem, com 17,8 pontos, cor-de-burro-quando-foge, o DV3 continua apresentando ao tradutor um texto normal, simples e um código que avisa que mudou a formatação. Você copia o código e deixa o resto por conta do DV3.

O problema foi na hora de exportar o arquivo acabado. Os arquivos eram tão complexos que o DV3 se embananou e fez uma meleca dos diabos com dois deles. Traduzir aqueles arquivos extremamente confusos a muque, pelo método tradicional, estava fora de cogitação.

Aí, entrei eu em ação, converti o projeto em outro formato e reaproveitei usando um programa que o meu cliente não tinha nem sabia usar. Um tempinho de trabalho, mas deu tudo certo, para satisfação do cliente – e minha. O cliente teve que me pagar, claro. Entretanto, mesmo assim, saiu muito mais barato que fazer pelos métodos tradicionais, porque 45 planilhas num único arquivo XLS são coisa de doido.

Essas coisas estão ficando cada vez mais comuns. Recebemos arquivos cada vez mais complexos e nem sempre os filtros dos programas de memória de tradução dão conta do recado. Já peguei um ppt enfezado que travou WF e Trados, mas cedeu ao DVX e há certas coisas que só o StarTransit processa.

Ainda não aconteceu com você? Teu dia chega, você não perde por esperar.

Enquanto espera a sua vez, dê uma olhada aqui e volte amanhã, que tem mais. Obrigado pela visita.

sábado, 19 de maio de 2007

Medo

É a primeira tradução e a moça está apavorada. Bom, é a lei da selva: matou, tem que comer. Queria ser tradutora, agora é.

Não é uma situação fácil. O ideal seria ter um mentor, ao seu lado e começar a traduzir com a ajuda de alguém mais experiente, ou fazendo "as partes mais simples", como se faz em tantas profissões. Mas, na tradução, não tem jeito. Seria antieconômico. Seria impossível, por exemplo, para mim, ficar olhando um novato traduzir, orientar, elogiar, criticr, dar palpite e quetais. Também seria difícil separar os trechos mais simples de uma tradução, mandar para um novato e, como faziam os pintores, ficar eu com "o drapejado". Você tem que sentar e traduzir tudinho, de cabo a rabo.

Talvez, se você tiver sorte, seu serviço vai passar por um revisor inteligente (alguns são, outros não são). Se você tiver mais sorte ainda, vão tem mostrar as alterações do revisor, para que você tome ciência delas e não caia em pecado de novo. Dificilmente alguém vai te explicar por que o revisor alterou. No máximo, vão te dizer que "desse jeito fica melhor", muitas vezes com aquele olharzinho de superioridade que dá uma vontade enorme de encher o revisor de bofetada. Muitas vezes, o revisor não diz por que alterou, porque nem ele sabe. É tudo muito empírico, embora não precise ser: tradução não é ciência exata, mas tem lá suas formulazinhas.

O teu companheiro mais constante é o medo, não o revisor nem as minhas fórmulas. O medo, em si, não é problema. Durante muitos anos, fui fã da frase famosa de Franklin D. Roosevelt: você nada tem a temer salvo o próprio temor. Entretanto, um dia um analista jungiano me disse que o que importa não são as emoções, mas sim o que você faz delas. Se você está com medo e consegue transformar esse medo em cuidado, naquilo que minha mãe chamava "capricho no trabalho", está no lucro.

Eu, até hoje, sinto o bendito friozinho na barriga. Sei lá, tem tanta coisa que não sei! Já fiz tanta besteira! Mas esse medinho me faz mais cuidadoso. O pior inimigo do veterano é o excesso de autoconfiança: já traduziu mais de 50.000 laudas na vida, é só mais uma, entra em piloto automático e vai sapecando uma frase atrás da outra, cheio de confiança na sua experiência e continua dizendo as mesmas bobagens que dizia há vinte anos. Perdeu o medo, perdeu a autocrítica.

Quer dizer, se isso te consola, minha amiga, pior que o medo é a falta de medo.

Volte amanhã, que tem mais. Se gostou deste blog, divulgue. Se não gostou, escreva dizendo o que achou errado, que paulada também é cultura. Aproveite para dar uma olhada nos cursos a distância via Aulavox. Sábado que vem, tem Trados. Não deixe para a última hora. Só pdoemos receber inscrições até quinta-feira, por motivos operacionais.





quinta-feira, 17 de maio de 2007

Oferta de trabalho editora

Hoje, me apareceu esta proposta na caixa postal:

Caros tradutores,

XXXXX, editora de livros de informática, deseja realizar pequeno teste com tradutores de inglês-espanhol para futuro projeto freelancer.

* É necessário experiência em tradução de textos técnicos
* Representamos diversas editoras internacionais, tais como: YYYYYY
* Oferecemos prazos de 40 a 60 dias para realização dos trabalhos
* Pagamento por página do livro original em inglês
* Preço pr página: R$4,50 a R$5,00
* Trabalho freelancer por contrato
* Teste de apenas 2 páginas
* Somente tradutores inglês-espanhol

Mascarei o nome das editoras, mas muitos de vocês devem ter recebido a mesma mensagem. Pedem tradutores inglês>espanhol, quer dizer que estou fora, mas sempre dá para fazer um comentário.

Sugerem que a gente visite o site deles e baixe um capítulo de um livro, para ver como é a página e tal. Baixei um capítulo do livro sobre o Vista, para poder quantificar: Eram 8 páginas, 1385 palavras. Média arredondada, então, de 175 palavras por página. Preço entre R$ 4,50 e 5,00 quer dizer que, na hora H, são R$ 4,50. A R$4,50 por 175 palavras, temos 0,026 por palavra. Se você pensar que tem de traduzir e revisar o que traduziu, um dia de trabalho honesto vai te dar 4.000 palavras. A gente é capaz de traduzir bem mais que isso num dia, mas, se tiver de revisar, um dia pelo outro, 4.000 é uma boa produção. Um total de 4.000 palavras a R$0,o26 por palavra dá R$ 104,00 por dia. Digamos que você trabalhe para esses caras 24 dias por mês. Dá um pouco menos de R$ 2.500 por mês, bruto. Sem FGTS, sem INSS, sem convênio, sem férias, sem 13º. Com você tendo que comprar todo o equipamento de seu bolso e ainda pagar INSS, contador e mais o raio que os parta.

Alguém, por favor, me diga que minha conta está errada.

Observação feita posteriormente: me escreve o LHK, tradutor competente e amigo sincero, mostrando que a conta não estava errada, mas a transcrição dos resultados estava. Leia o comentário dele abaixo.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Madame d'Anjou responde: vale a pena se inscrever nos locais que prometem serviço a tradutores a troco de uma anuidade?

Há, na Web, vários locais que prometem serviço para tradutores a troco de uma anuidade. Como entrar no mercado de tradução está longe de ser coisa fácil, parecem ser um excelente investimento. Não é bem assim. Pode até ser, dependendo da sorte de cada um. Mas está longe de ser uma garantia de um futuro brilhante.

A maioria dos solicitantes é de agências que fazem leilão: quem cobra menos, leva. E, muitas delas, esperam pagar três centavos de dólar por palavra ou até menos, porque conhecem "Brazilian prices". E tem, tem mesmo, que eu já vi, a turma que diz "my price is your price", o que mais ou menos significa "o senhor paga quanto quer". E competir com esse tipo de mendigo é impossível.


Com o dólar a menos de dois reais, três centavos não é grande coisa. Pode até ser mais do que se consegue no Brasil, à primeira vista. Por outro lado, se você levar em conta que lá fora se demora mais de um mês para pagar e receber dinheiro de fora custa caro e pode ser muito difícil, acaba valendo muito pouco. E tem, também, o risco de nem receber.


Tem havido muitas queixas de agências trapaceiras nesses lugares, gente que demora para pagar, cria caso e, muitas vezes, some de vez. Muitas dessas agências são pequenas empresas, mais aventuras que empresas, realmente, gente que aparece e desaparece sem deixar vestígios. Um ambiente muito perigoso, realmente. Jamais conceda muito crédito a um cliente desconhecido. Conheço gente que prestou serviços de cinco mil dólares a agências desconhecidas e acabaram a ver navios.


Também conheço gente que deu sorte: pegou alguma coisa no ProZ e vem vivendo modesta mais honestamente do que ganha por ali. Quer dizer, o resultado é imprevisível.


Pode até ser um investimento razoável, desde que você não fique esperando maravilhas e tome cuidado com os serviços que aceita. Antes de aceitar qualquer serviço, veja de que modo o cliente paga. Uma boa coisa a fazer é, também, e gastar um pouco a mais e se inscrever na lista TCR http://www.tcrlist.com/ , uma excelente fonte de informações sobre agências caloteiras. Há outras, mas essa, talvez até por ser paga, é a mais movimentada. A listinha auxiliar, na qual os participantes são inscritos, é uma excelente fonte de fofocas úteis sobre o mundo e o submundo da tradução. Tem lá uns caras paranóicos e intolerantes demais para o meu gosto, o que significa que tudo o que lá se diz deve digerido com muito cuidado.


Neste nosso mercado completamente desengonçado, é tudo um jogo e às vezes, um jogo perigoso.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

As agências e os descontos por repetição (continuação)

A turma se irrita com a história dos descontos por repetição. Mas tem lá sua a razão – e até algumas vantagens indiretas de que falo mais tarde. Cada vez mais a gente traduz atualizações de documentos ou documentos cheios de repetições. Ter de pagar o tradutor vinte vezes para traduzir vinte vezes a mesma coisa quando o programa de memória de tradução saca as repetições automaticamente da memória, sem esforço algum, é, realmente, dose.

Para explicar o problema, gosto de contar a história do eletricista. Você constrói uma casa, contrata um eletricista para a instalação toda. O cara faz, você paga. Dois anos depois, você faz o puxadinho e chama o eletricista para fazer umas extensões. Imagine se ele dissesse "desculpe, tem que fazer tudo de novo." Pimenta nos olhos dos outros, é colírio, como todos sabemos.

Esses reaproveitamentos sempre existiram. Antigamente, era na tesoura e cola. Agora é na base da memória de tradução. Tem suas vantagens: mil vezes traduzir usando memória de tradução do que enfrentar aquela meleca xerox de texto em inglês recortado e misturado com texto em português, cheios de riscos que me mandavam antigamente. E um dos meus clientes agora se converteu à memória de tradução. Antes, me mandava arquivos pdf imagem cheios de rabiscos. Agora manda um rtf maneiro pré-traduzido. Aleluia!

As agências não pagam ao tradutor as repetições do que for encontrado na memória delas. Por isso, o tradutor passa batido e nem olha o que está escrito. Mas o revisor é pago e deve corrigir os eventuais erros. Passa erro? Sim, passa, mas isso é falha do tradutor anterior, certo?

Agora, com licença, chega por hoje. Amanhã tem mais. Sábado tem Wordfast avançado.

domingo, 13 de maio de 2007

As agências e os descontos por repetição

Ontem, no curso de Wordfast a distância, apareceu a questão dos descontos por repetição, que as agências impõem. Curioso como o assunto é mal conhecido e mal entendido por tantos tradutores. Por ser tão mal comhecido, vou ter de tratar em vários artigos, que, como de hábito, vão se estender por uma semana ou mais, entremeados com outros assuntos. Há que ter paciência.

Vamos ver um exemplo prático.

{0>This has already been translated and is in our database<}100{>Isto já foi traduzido e está em nossa base de dados<0}

{0>This is very similar to something we already have<}88{>Isto é quase igual a algo que já temos<0}

{0>This is entirely new<}0{>This is entirely new:<0}

Cada uma dessas frases é o que se chama um segmento. No arquivo pré-traduzido, o início de segmento é assinalado por {0>, a transição de original para tradução é assinalada por <}0{> e ofim do segmento por <0}.

O primeiro segmento já tinha sido traduzido antes, já estava na base de dados da agência e, por isso, aparece em verde. O cliente espera que você nem olhe e vá em frente. Por isso, também não paga.

O segundo segmento é semelhante a algu que já tinha sido traduzido antes, mas não igual. Por isso, aparece em numa cor estranha, que você pode chamar de verde amostardado ou de cor de burro quando foge, tanto faz. Isso significa que já havia na base de dados, traduzida por alguém, talvez você próprio, um segmento bem parecido com esse e, portanto, é bom aproveitar a tradução. Às vezes, a diferença que existe entre o segmento que havia na base da agência e o que aparece nesse texto não afeta a tradução. Por exemplo, o segmento anterior pode ter "don't" ao passo que o atual tem "do not". Nesses casos, você confere e nem precisa alterar nada. No caso que eu apontei aí em cima, a diferença é mínima, mas você pode querer trocar por Isto é muito parecido com algo que já temos. Nesses casos, a agência paga menos do que pagaria pela frase inteira.

No terceiro caso, a agência não tinha nada na base e, portanto, no lugar da frase traduzida, o Trados repete a frase em inglês, em preto. Você traduz e recebe o valor integral.

Um arquivo desse tipo pode ser processado pelo Trados, mas eu sempre processo em Wordfast, que acho mais eficiente. Pode também ser processado por diversos outros programas. Ou atá a unha. Nada impede que você abra em MSWord, e meramente vá fazendo os ajustes necessários – mas não é um método que eu recomende. Qualquer programa de memória de tradução torna a tarefa mais simples e agradável, de mil maneiras que não vou explicar agora. Aliás, o Wordfast também prepara esses arquivos com toda a facilidade.

Por hoje é só. Volte amanhã, que tem mais. Amanhã, vamos ver como as agências calculam o valor a pagar por um serviço como mostrado acima.

Se você já sabe usar Wordfast mas usa só os recursos básicos, talvez queira se juntar à turma que vai ver configurações avançadas no sábado que vem.

sexta-feira, 11 de maio de 2007

A importância de caprichar

A colega ficou muito zangada comigo e acho que até hoje não me perdoou. No meio de uma troca de mensagens, contradizendo algo que eu tinha dito, não me lembro o quê, irritadíssima ela disse que caprichar na tradução é para quem é bem pago, para quem atende clientes particulares, não para quem, como ela, "geme no tronco" (palavras dela) com as agências e editoras que pagam uma miséria.

Acho que a colega está totalmente errada. Eu sempre cobro o máximo que posso, independentemente do tipo de serviço e faço o melhor que consigo, independentemente do preço. Não estou dizendo que jamais erre nem mesmo que todos meus serviços são ruins. Já fiz muita bobagem na vida e espero fazer muito mais. Mas não se preocupar com qualidade porque o preço é baixo é má política. Má política porque são os que trabalham melhor os procurados para os serviços mais bem pagos. Quem examina um serviço não quer saber se você foi bem ou mal paga para traduzir: se o serviço está mal feito, está mal feito e pronto.

Quer dizer, antes de pegar um serviço bem pago, você precisa provar que é capaz de fazer um serviço bem-feito.

Obrigado pela visita e volte amanhã, que tem mais. Antes de ir embora, dê uma clicadinha aqui, para ver os cursos a distância Aulavox. O Wordfast de amanhã já está lotado. A semana que vem tem Pandora's Box e outras configurações avançadas, para quem já está firme no básico.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Monografia sobre Simultânea

Antonio Ayrton Simões Farias, intérprete de conferências mais conhecido como "Ayrton Farias" coloca à nossa disposição sua tese, O Mercado Brasileiro de Interpretação de Conferências e seu Ambiente de Negócios.

Trechinho:

"Muitas tendências passam a ser vistas com mais clareza, quanto às diferentes características avaliadas. Muitas delas já empiricamente esperadas como, por exemplo: o Gráfico 15 mostra que há mais mulheres que homens atuando como intérpretes de conferências (56% x 44%); o Gráfico 10 mostra que a maioria é formada por autônomos (94%). Porém, o dado mais significativo que mostra uma dimensão relativa da quantidade real de intérpretes de conferências está no Gráfico 8 – Relação Institucional dos Intérpretes no Brasil, que indica que 90% dos que responderam não estão vinculados às associações pioneiras (AIIC / APIC). Pela combinação dos dados reais referentes ao número de intérpretes filiados à APIC/AIIC e aplicando-se as porcentagens encontradas neste estudo, estima-se, por extrapolação, que existam aproximadamente 1000 intérpretes de conferências em todo o Brasil atualmente, 900 dos quais não estão filiados às associações supracitadas."

Dada a falta de dados sobre o mercado, uma fonte extraordinária de informações. É baixar e ler.

Cadernos de Tradução - UFSC

Os Cadernos de Tradução da UFSC são uma mina de informações para nós todos. Agora, a partir do sétimo, podem ser lidos online ou baixados em pdf.

Uma grande iniciativa, dada não só a riqueza de informações dos Cadernos, mas também a proverbial dificuldade de adquirir textos acadêmicos, que, geralmente, só se consegue comprar mediante um processo complexo e complicado, para dizer pouco que costuma desencorajar todos os que, como eu, não têm afiliações acadêmicas.

Leia e divulgue.

A importância do registro

Outro dia, me pediram para revisar uma tradução de um diálogo para ser lido em voz alta. Diálogos para serem lidos "mentalmente" como acontece nos contos, são uma coisa. Diálogos para serem lidos em voz alta, como num comercial de rádio ou TV são outra coisa, bem diferente.

Já te recomendaram ler as traduções em voz alta, para ver se fluem bem? Nem sempre é possível, principalmente quando o trabalho é longo, mas é um bom procedimento. Você lê, em voz alta (vão pensar que você é doida, mas tudo bem, faz parte) e, à medida que vai lendo, vai notando que certas construções são horríveis. O risco é, ao emendar as coisas esquisitas que a gente esceve numa tradução é necessário tomar cuidado para não começar a escrever coisas lindas, mas que não têm nada que ver com o original: tradutor está sempre entre Cila e Caribde.

Mas, se ler tradução em voz alta é útil, quando se trata de diálogo para ser lido, como é o dos comerciais de rádio e TV, é quase indispensável. E precisa ser realista, lembrar como é que, realmente, a gente fala. E criar um estilo que, ao mesmo tempo, seja gramaticalmente correto, para que não venham dizer que você é analfabeta, e seja natural. Por exemplo:

Criança: Mamãe, posso ter um novo (nome do produto)?
Mãe: Sim, querida, você o terá amanhã!

... por mais correto que esteja, é um absurdo. Já pensou, ligar a TV e ouvir uma coisa dessas? Você ia achar totalemente artificial, certo? Ninguém fala assim.

Até amanhã, que tem mais. Aproveite para dar uma olhada nos cursos Texto&Contexto / Aulavox para tradutores. Sábado da semana que vem tem um sobre Wordfast avançado.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Madame d'Anjou responde a Marcello Marcelino: que curso fazer?

O Marcello, em um comentário aí em baixo, pergunta: Nesse post, você comenta que "fazer um curso de tradução para quem quer ser tradutor" é mais importante que um curso de licenciatura em Letras. Pois bem, não pensava por ai. Quando você menciona curso de tradução, você diz respeito a curso livres tambem? Como o da Alumni de Sao Paulo, e do DBB no Rio? Acho que talvez, com sua resposta, muita gente ira se beneficiar.

Marcello, o que eu disse é que, se você está na entrada da faculdade e tem duas portas pela frente, uma dizendo "licenciatura", a outra dizendo "bacharel tradutor/intérprete", e quer ser tradutor, não faz sentido entrar na porta onde diz "licenciatura" e, evidentemente, se seu sonho é ser professor, não deve entrar pelo portão onde diz "bacharel: tradutor/intérprete". Até aqui, creio, estamos todos de acordo, certo?

Agora, temos duas coisas mais a pensar, com a sua pergunta:
  • Primeiro, que faculdades e cursos livres há de todas os quilates e, independentemente do caminho que você seguir, há que escolher uma boa escola. Não tenho condições de, daqui de meu mocho no meu canto onde fico observando o movimento com meus olhos vesgos, dizer se este ou aquele curso (livre ou não) é bom ou mau.

  • Segundo, que há muito de subjetivo nessa coisa toda. O curso que para você é uma maravilha, pode não funcionar para o seu vizinho, que é um sujeito e tanto, mas diferente de você. Quer dizer, não posso afirmar que você ou o seu vizinho devam fazer este ou aquele curso. O que eu posso afirmar e reafirmar é que não entendo como alguém que diz que quer ir à praia se ponha a subir a serra para ir a Campos do Jordão.

A Stella, os galegos e eu

A Stella me lembra que na Espanha se fala também galego. Sim, de fato, falha minha. De qualquer modo, o artigo nem pretendia ser completo: somente uma série de exemplos.

Mas o pior é que minha família é de Goyan e eu ouvia galego o tempo todo em criança. Foi no curso secundário que aprendi que galego e português têm um tronco comum e se separaram por motivos políticos. Fiquei todo feliz de ler Martin Codax e mais umas quantas coisas.

A questão das línguas na Espanha é interessantíssima, mas não é hoje que vou escrever sobre ela. Aliás, nem tenho competência para tanto. Então, é melhor ficar calado.

terça-feira, 8 de maio de 2007

Madame d'Anjou responde: em que país há mais tradutores

Futuros jornalistas, às vezes, fazem perguntas ainda mais difíceis que os jornalistas profissionais. Já dei mais de uma entrevista e jamais me perguntaram onde havia a maior concentração de tradutores de todo o mundo. Tinha que ser uma estudante de jornalismo do UNASP, para vir com essa. Vamos ver o que posso responder.

Em primeiro lugar, não sei. Ninguém sabe. Em termos absolutos, certamente há de ser na China. Com o tanto de gente que tem naquela terra, é lá que tem o mais de tudo: tradutor, lutador de box, comedor de cachorro quente, sanfoneiro, o que você quiser. Mas, como proporção da população, não acho que alguém saiba. Entre outras coisas, muita gente combina, ainda, tradução com outras profissões e aparece nos dados oficiais como, digamos, professor.

Em muitos países a lei obriga a tradução de enormes quantidades de documentos, porque não há uma língua claramente majoritária como no Brasil. Os exemplos mais famosos são o Canadá, onde tudo se faz em inglês e francês e, por isso, a tradução atingiu um estágio de desenvolvimento avançadíssimo. Na mesma situação há a Bélgica (francês e flamengo), Espanha (espanhol, catalão e basco, onde os catalães fazem uma trabalho especialíssimo), Suíça (alemão, francês, italiano) Finlândia (finlandês e sueco), Irlanda (irlandês e inglês), Gales (inglês e galês). Em outros países, existe alguma proteção para minorias (dinamarqueses em Flensburg, Alemanha), mas não é um dilúvio de traduções, como no Canadá.

Em outros países as grandes massas de imigrantes obrigam a existência de grupos importantes de tradutores e intérpretes. Nos EUA, para citar o exemplo mais conhecido, há enormes comunidades que falam exclusivamente espanhol e, por exemplo, muita gente em Nova York que se expressa quase que exclusivamente em Crioulo Haitiano. Essa gente precisa de intérpretes em hospitais e na polícia, por exemplo.

Em alguns países, a economia também exige tradutores aos montes. Na Suíça, além dos tradutores "para uso interno", como é um país de banqueiros internacionais, há um batalhão de tradutores traduzindo de e para línguas que praticamente ninguém fala no próprio país. Como a tradução é uma profissão globalizada, muito disso é subcontratado. Por exemplo, há vários tradutores brasileiros, residentes e domiciliados no Brasil, traduzindo para o português, para atender clientes sediados na Suíça, Estados Unidos e Reino Unido.

Além disso, tem as grandes entidades supranacionais, como a União Européia, que emprega uma enormidade de tradutores, porque tudo é traduzido para todas as línguas da comunidade. A situação é tão grave, que se viram obrigados a violar duas regras clássicas da tradução: a regra de que só se traduz para a própria língua e a regra de que só se traduz do original, nunca de uma língua intermediária. Por exemplo, um documento produzido em lituano precisa ser traduzido para todas as outras línguas da comunidade, inclusive para o grego. Teoricamente, deveria ser entregue a um grego que traduzisse do lituano. Como não deve haver nenhum grego que possa traduzir do lituano, então, traduz-se de um documento intermediário em inglês. Mas aí há outro problema: essa documento deveria ser traduzido por alguém cuja língua materna fosse inglês, mas há pouquíssimos tradutores cuja língua materna seja inglês e que possam traduzir do lituano. Então, o documento é traduzido do lituano para o inglês por um lituano, revisto por um falante nativo do inglês e, em seguida, traduzido para o grego por um grego.


Amanhã tem mais. Por hoje chega.

Madame d'Anjou responde: que curso fazer?

Uma estudante deixou um recado para mim no Orkut. Está fazendo licenciatura em letras, mas seu sonho é traduzir livros e filmes. Deve continuar a licenciatura ou transferir-se para um bacharelado em tradução?

Em primeiro lugar, se você quer ser tradutora, acho que deveria fazer um curso de tradução. Para mim, fazer um curso de licenciatura quando se quer ser tradutora é algo como estudar engenharia quando o que se quer é ser médico. Ou ir para Campos do Jordão quando se quer ir para a praia.

Além do fato de que, lá pelas tantas, você começa a estudar didática e coisas que tais, o que pode ser muito interessante para o professor, mas não tem nada que ver com tradução, além do fato de que vai perder as aulas de teoria e prática de tradução, o que é óbvio, eu ainda me pergunto se o que se tem de ensinar em inglês e português para o futuro professor é exatamente o que convém ao futuro tradutor.

Por outro lado, a futura colega quer se dedicar à famosa dupla livros & filmes. Parece que todos querem. Isso cria uma fila enorme na fila das editoras e das empresas e nas empresas que trabalham com dublagem e legendagem. Simplesmente, não há serviço para tanta gente.

Por outro lado, há muita coisa, mas muita mesmo, a traduzir fora desse círculo. Conheço inúmeros tradutores felizes, satisfeitos, realizados, que jamais traduziram um filme ou um livro na vida. A tradução e a satisfação de traduzir transcendem, e transcende em muito, o binômio literatura e cinema. Aliás, eu me divirto enormemente com o que faço, não traduzo um livro há mais de 30 anos e nunca traduzi um filme. E mesmo os livros, o que traduzi foi tudo coisa técnica. Só traduzi literatura uma vez na vida, o soneto 71 de Shakespeare. Mas não foi nada de profissional, foi algo feito assim, uma tradução improvisada, oral, de livro aberto, para impressionar uma mulher bonita.





segunda-feira, 7 de maio de 2007

O poder da negativa pura e simples

Um cliente, digamos, dono da XPTO Ltda. pediu a um colega nosso que prestasse um serviço "sem custo para a XPTO".

O colega ficou indignado. Ficou indignado, porque conhece o cliente pessoalmente, sabe que é endinheirado, sabe que freqüenta lugares caros, sabe que poderia pagar aquela tradução e muito mais. Mas, para mim, esses fatos não têm a mais remota importância. O que importa, no meu ver é que a XPTO é uma Sociedade Limitada, portanto, de acordo com o Código Civil, foi constituída com objetivo de dar lucro para seus sócios. Se fosse a Sociedade de São Vicente de Paulo, ainda vá lá, porque é uma entidade beneficente. Mas a XPTO Ltda. não é beneficente, então, não me venha pedir descontos nem gratuidades. Se o dono freqüenta lugares caros ou é um eremita não me faz a mais remota diferença. Se eu estou ou não em boa situação financeira, importa menos ainda. Importa que a XPTO Ltda. é uma sociedade com fins lucrativos, portanto, não ganha desconto.

O que dizer para uma sociedade com fins lucrativos que pergunta se posso lhes prestar um serviço grátis?

Sempre fico surpreso com essa pergunta. A resposta é "não" e pronto. Há certas coisas que nem exigem nem merecem explicação. A maioria de nós tem dificuldade para negar e se sente na obrigação de explicar, desculpar-se, essas coisas. Eu não explico nem me desculpo. Digo que "não" e acabou. Às vezes, simplesmente faço de conta que não ouvi a proposta e meramente digo que o preço é X. Não digo "o menos que posso cobrar é X". Digo "para esse serviço, o preço é X, aguardo sua decisão".

Às vezes, quando se trata de um cliente que me mande montanhas de serviço, posso deixar de cobrar um minisservicinho, muitas vezes para evitar a chatice de faturar uma quirera, ou como pequena cortesia. Mas a iniciativa é minha.

Ah, não venha me dizer que é um "bom cliente". Cliente bom por definição, não pede desconto nem muito menos trabalho grátis.

Obrigado pela visita e volte amanhã, que tem mais. Não se esqueça de dar uma olhadinha aqui para se informar sobre o curso de Wordfast no sábado. Como o curso é a distância, você pode fazer, não importa onde more.

Há algum tipo de problema com o link para o áudio da Sala 7. Provavelmente ainda hoje posto.

domingo, 6 de maio de 2007

A reunião de ontem

Ontem, tivemos a tal da Reunião na Sala 7. Mais de 60 participantes, o que não me pareceu de todo mau. Estou, aos poucos, aperfeiçoando a técnica e, com o tempo, pretendo trazer convidados, para não ficar só eu bancando o oráculo dos deuses da tradução. Mais um pouco, e vai ser implantado um formato novo. A ver se dá certo.

Uma das coisas boas é ver o quanto a turma troca informações via chat. Um agradecimento especial aos colegas que iam suplementando o que eu dizia com links e outras informações úteis. Quer dizer, funciona como uma palestra coletiva. Dá gosto ver alguém perguntar o que raio é o SINTRA e ver que alguém imediatamente escreve Sindicato Nacional dos Tradutores e um link para o site, permitindo que eu continue com o que ia dizendo e me livrando da necessidade de ficar digitando links. Às vezes, coisas que eu próprio não sei, como informações úteis para quem traduz línguas que não o inglês. A isso se chama civilização.

Um colega gravou a palestra e vai deixar a gravação disponível para nós. Estou esperando que ele me envie a URL para poder compartilhar com vocês. As transparências estão aqui, onde ficarão até 13/05/2007. A senha é Senha: E488A7EA .

Numa das listas de discussão, um colega disse que eu um dia ia falar de Wordfast nessas reuniões. Desculpe, não vou. Para mim, são setores separados: a Reunião na Sala 7 é sempre grátis e nela se discutem exclusivamente coisas relacionadas com a profissão de traduzir, com a tradução enquanto meio de vida. Dinheiro, preços, laudas, clientes, essas coisas. Nessas reuniões, eu jamais fazço publicidade dos cursos. Acho um horror a turma que convida para um evento grátis e passa metade do tempo tentando te cutucar para fazer um curso pago. Sou tão estrito com isso que me sinto mal até de dizer que acho ferramentas de memória de tradução essenciais para o tradutor de hoje. Digo isso aqui no blog. Aqui eu digo o que bem entendo.

Os cursos de Trados, Wordfast e as Oficinas de Tradução são eventos pagos. São o que eu tenho para vender e, como dizia a Cacilda Becker, não me peçam para dar de graça a única coisa que tenho para vender.

Por hoje chega. Amanhã tem mais. Se você nunca esteve numa Reunião na Sala 7, procure não perder a próxima. A troca de experiências é muito interessante e a gente conhece muitos colegas.

sábado, 5 de maio de 2007

A reforma ortográfica

Entre 15 de dezembro e carnaval, parece que o país pára e os jornais ficam sem o que dizer. Se tirarem edições inteiras só com anúncios, perdem os leitores e, por isso, ficam doidos à procura de material para publicar. Publicam, então, o que muitos chamam "calhaus", quer dizer, matérias que tanto faz publicar hoje como publicar amanhã como não publicar nunca.

Um dos calhaus mais queridos é a "reforma que unificaria a ortografia do português em todos os países onde é língua oficial". Reaparece todo ano. Com a Internet, sempre tem alguém que copia e repassa a notícia a todos os conhecidos e, mesmo fora da época da falta de notícias, de vez em quando alguém reencontra a notícia e inicia um novo ciclo de divulgação.

Recentemente, recebi, mais uma vez, a informação de que a reforma ortográfica, propugnada pelo Antonio Houaiss ia ser implantada. Faz já oito anos ou mais que "está para ser implantada". Isto é como a história da profissão de tradutor, que "está para ser regulamentada" desde que eu comecei a traduzir, em 1970.

Dizem que a reforma ortográfica era o grande sonho do Houaiss. As más línguas, entre as quais não me incluo, graças a Deus e São a Jerônimo, dizem que o grande sonho dele era realmente mudar a ortografia para vender dicionário novo para todo mundo e que a unificação era mero pretexto.

Não me parece que essa tal de reforma vá sair logo. Muito menos me parece que vá fortalcer o bloco lusófono. O menor dos obstáculos às trocas culturais entre os países lusófonos me parece ser o da ortografia.

De qualquer maneira, sugiro que você não se empolgue muito com essas coisas. Quando vier a tal da reforma, virá. Aí, a gente se vira e aprende qual é.

Obrigado por ter vindo e volte de novo amanhã, quando falamos de novo de tradução propriamente dita, para ir variando um pouco os assuntos.

Acho que ainda dá tempo de você participar da Reunião na Sala 7, hoje, sábado, às 14 horas de Brasília. Todos são bem-vindos e não fazemos coleta. Procure chegar uns quinze minutos antes, para pegar lugar bom.

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Os subterrâneos da tradução

A grande empresa lá no exterior precisa de serviços de tradução para o Brasil. Provavelmente nem sabem que língua se fala aqui. Abre as Páginas Amarelas, pega uma agência que diz "todas as línguas". Faz contato e pergunta aos carinhas se eles fazem tradução para o Brasil. Fazem, claro. Até para Marte, se for o caso.

A agência pode ter, como muitas têm, seus tradutores brasileiros de confiança. Mas pode também não ter, ou porque nunca precisou, ou por opção. A regra, lá fora, é, como eu já disse aqui várias vezes, cada um traduz para sua própria língua. Como corolário dessa regra, é comum uma agência americana processar traduções para o inglês contatando diretamente americanos, muitos dos quais moram nos EUA; quando a tradução é do inglês para outra língua, digamos, para o português do Brasil, entretanto, muitas vezes simplesmente subcontratam agências brasileiras. Isso não se dá exclusivamente com inglês > português: acontece com mil combinações. Dou este exemplo porque é o mais comum entre nós.

Há muitas agências e criptoagências brasileiras que vivem exclusiva ou quase exclusivamente desses repasses: pegam serviço de agências americanas e distribuem o serviço entre seus tradutores locais. Já foi um excelente negócio, quando o dólar estava batendo em quatro reais. Dava para tirar uma boa lasca para a agência e ainda pagar bem o tradutor. Hoje, com o dólar sentando em dois, já não é tão grande coisa e muitas dessas "agências de repasses" tiveram de reduzir a paga de seus tradutores.

O pior é que muita gente, muita gente mesmo, pega tradução de agência e redistribui a colegas, achando-se, também, no direito de tirar sua lasquinha, virando criptoagências. Nem duvido que os que recebem estes serviços ainda repassem a outros, também tirando sua lasquinha. Uma lasquinha de muito pouco é quase nada. Muitos quase-nadas fazem alguma coisa e tem gente que ganha umas boas quireras com as fatiazinhas que tira de traduções que repassa a colegas menos bem-relacionados no mundo das traduções.

No fim das contas, nesses casos, que faz a tradução fica com muito pouco, quase nada: a maior parte do dinheiro fica pelo caminho: de lasquinha em lasquiha, a paga vira uma migalha.

A agência que pegou o serviço lá fora está, por assim dizer, no andar térreo ("rés-do-chão" em Portugal, "primeiro andar" em alguns outros pontos do Brasil) e o tradutor está no terceiro ou quarto subsolo, virando toupeira de tanto não ver o sol.

Eu jamais repasso traduções. Se não posso fazer, procuro indicar um colega e pronto. Quer dizer, não estou nessa brincadeira. Mas muita gente está. Se você está atualmente trabalhando no quarto subsolo e ganhando a miséria das misérias, as migalhas que sobram da mesa dos outros, não se desanime. Aproveite para aprender. A escola do quarto subsolo é magnífica. A gente aprende a consertar relógio calçando luva de box. Com o tempo, você sobe para o terceiro, segundo e primeiro subsolos e, talvez até para o céu aberto.

Se acha que está sendo explorado (como eu acho que está), lute para subir e, quando vencer, não faça aquilo que você tanto condenou quando estava lá no fundo, nos subterrâneos da tradução.



... e, antes que me esqueça, amanhã tem Reunião na Sala 7, grátis.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Pausa para nossos comerciais

Dia 12 de maio, às 14h, mais uma Introdução ao Wordfast. Para quem não sabe, o Wordfast é um programa de auxílio à tradução. Na minha opinião, é o mais prático e simples de todos, além de ser extremamente barato, em relação à concorrência. A "Introdução" é dada a distância. Quer dizer, não importa onde você esteja, se tiver uma conexão com a Internet e se seu computador tiver placa de som e altofalantes, Windows e InternetExplorer, você pode participar.

Em quatro horas, você aprende o básico do básico, o essencial para começar a trabalhar com Wordfast, desde como baixar o programa da web e instalar no secu computador (exige MSOffice), até como criar memórias e glossários e fazer traduções. Longe de ser tudo, mas o suficiente para "pegar no tranco",

O Wordfast é um programa de ajuda ao tradutor, funciona com qualquer língua que se escreva da esquerda para a direita. O Wordfast não traduz, mas ajuda a traduzir. Quer dizer, se você não sabe uma palavra de russo, não adianta querer tentar traduzir russo com o WF.

Finalmente, sempre é bom lembrar que não vendo WF nem tenho comissão nas vendas.

Para preços do treinamento e outras informações, veja aqui

Até amanhã.
Outro dia falei aqui sobre as regras oficiais que regem o uso do português no Brasil e afirmei que há uma série de "regras" que não são oficiais, algumas delas melhores que as outras. Vamos exemplificar?

Você já ouvio dizer que não se usa vírgula antes de etc., porque isto e aquilo e aquele outro? Pois bem, essa é uma "regra" muito divertida. Se você abrir as regras de ortografia oficiais, vai ver que o etc. aparece 146 vezes e, em 145 delas, vem precedido de vírgula. Uma vez, no fim da regra 12, não vem precedido de pontuação, mas acho que é erro de digitação, porque nas outras fontes que consultei, vinha precedido de ponto-e-vírgula.

Quer dizer, ou a tal da regra não existe, ou nas edições todas das regras oficiais da nossa ortografia é violada sem dó nem piedade. Aliás, se você baixar o Manual de Estilo da Presidência da República, vai ver que a situação é idêntica: antes de etc, ou vem vírgula ou ponto-e-vírgula. O Manual de Estilo da Presidência, como todos os manuais de estilo, não é autoridade para nada, embora se suponha que esteja escrito corretamente.

Mas não faltam "regras-fantasma", como essa. Ainda volto ao assunto. Por hoje, chega. Volte amanhã, que tem mais.

Não se esqueça da Reunião na Sala 7, grátis, como sempre.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Duzentos!

Este é o duocentésimo artigo que posto aqui.

Este troço vai longe. Dá algum trabalho, principalmente quando os clientes se unem todos para pedir serviço no mesmo dia, e no fim da noite estou cansado demais para juntar um artiguinho, pequeno que seja. Mas é muito interessante e gratificante. Dá gosto receber os comentários, dá gosto de receber as mensagens para a "Madame d'Anjou". Dá gosto saber que estas coisaradas que escrevo têm utilidade para alguém. Enfim, dá gosto e pronto.

Já não sei mais quantos visitantes o blog tem por dia: O GoogleAnalytics não está mais dando informação alguma e vou procurar outro serviço. Mas, na última vez que tive informações, eram 150 visitas por dia, cerca de metade delas de reincidentes. Nada mal para um blog feio, que não oferece prêmios nem tem foto de mulher pelada.

Pouco ou muito, é quem quer ler essas coisas que eu escrevo.

Lembro que sábado tem Reunião na Sala 7. Grátis, como de sempre. Estou testando o equipamento todos os dias, para não dar o vexame que dei na última, quando ficou um monte de gente na mão. Quero ter certeza de que, desta e das próximas vezes, vai dar tudo certo. Reza brava, turma, e obrigado a todos pelo apoio. Vamos em frente. Este mundo está cheio de coisas para traduzir.

Que dicionário usar?

Outro dia, numa das listas de discussão, a turma começou a falar do Black's. Se você não mexe com jurídica em inglês, talvez nem saiba o que é o Black's, mas não faz mal, não vou falar especificamente dele, mas fazer uns comentários gerais sobre esses nossos amigos (às vezes "amigos", entre aspas, mas isso é outra coisas), os dicionários.

O Black's é um dicionário jurídico só em inglês. Famoso, um clássico. Até a sexta edição, era uma mixórdia. Na sétima, pegaram um lexicógrafo profissional e ele botou ordem no galinheiro, fazendo daquela meleca um grande dicionário. Mas havia um colega lá na lista que tinha conversado com um advogado americano e esse advogado americano não tinha dado informações muito boas sobre o Black's e dizia que muito do que lá havia só sen entendia na Lousiana, onde, para quem não sabe, vige um direito todo diferente do que se aplica no resto dos EUA.

O problema não está no Black's, mas nos tradutores. A turma acha que, como está no Black's, está certo e, se está certo, pode ser usado. Pode, mas não deve, eis a questão. O Black's, como todo grande dicionário, tem praticamente tudo, inclusive uma grande quantidade de palavras que poucos usam ou nem se usam mais. Palavras que estão lá justamente porque a maioria desconhece o seu sentido e, por isso, vai procurar lá. Como a maioria de nós faz com o Aurélio ou com o Houaiss. Usar uma palavra em inglês somente por estar no Black's é tão errado quanto usar uma palavra em português porque a encontrou no Houaiss.

Quer dizer, para a língua de chegada, é preferível procurar termos primeiro em dicionários de menor porte, de preferência os para aprendizes ("advanced learners", em inglês) que têm tudo o que o nativo normal conhece. Não se usa, numa tradução, uma palavra exclusivamente porque foi encontrada no Oxford English Dictionary.

Se você traduz jurídico para o inglês (o que exige muita coragem e um pouco de falta de juízo), além do Black's "para conferir", compre pelo menos um dicionário menor, o Giffis, da Barrons, ou os da Collins e da Oxford University Press, ambos em formato de bolso, e só saia desses se não tiver opção.

Por outro lado, para a língua de partida, o que você quer é o maior dicionário que encontrar: lá se sabe se o autor usou algum termo numa acepção rara e antiquada. Quer dizer, dicionários para compreensão e para produção de texto são coisas diferentes.

Por fim, peço vênia para lembrar que sábado vai ter a Reunião na Sala 7 de verdade. A última, acabou não saindo porque deu mico geral no meu sistema. Mas foi consertado e agora tem que dar certo. Estou testando todos os dias, para evitar a repetição do vexame.

Amanhã tem mais. Até. Se gostou do blog, divulgue entre os colegas. Se não gostou, escreva um comentário descendo a lenha.