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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Aniversário

Como a Kelli informou aqui, dia 29 foi meu aniversário. Estou escrevendo este artiguinho mais como agradecimento às dezenas de mensagens e tuites que recebi e a que não posso responder individualmente. Falta-me criatividade para dar respostas individualizadas a cada uma delas e me repugna dar uma resposta enlatada. Por algum motivo, acho menos antipático postar aqui no blogue, que, de certa maneira, é a maneira como eu falo com todos os meus amigos que sabem ler português ao mesmo tempo. Os que não sabem português nem notaram a data e, portanto, fica por isso mesmo.

Aniversários são marcos artificiais, salvo raras exceções, como o décimo-oitavo, que marca a maioridade, e a diferença entre o Danilo de 27 de dezembro e o de 29 do mesmo mês é quase zero. Mas gente aproveita esses marcos para fazer um balanço e alguns planos.

Dizer que me sinto como se tivesse vinte anos seria deslavada mentira. Minha capacidade de trabalho diminuiu: traduzir cinco mil palavras num dia já é bem mais difícil do que antes, embora ainda não impossível. Estou também muito gordo, resultado de um processo que se iniciou com a doença da Vera e ainda não se encerrou de todo. Ao menos, estou fazendo hidroginástica e voltando às caminhadas. A ver se, assim, me recupero fisicamente.

Não tenho a intenção de virar um daqueles velhinhos lindos e sensuais que a gente vê no cinema, TV e imprensa, porque esses são fabricados a força de maquiagem e Photoshop (para não dizer bisturi e botox) e eu sou de carne e osso e quero continuar assim. Mas também quero captar toda a energia possível, porque tenho a felicidade de, aos 67 anos, estar cheio de planos, expectativas e esperanças. Viver é isso: é ter algo para fazer amanhã. E não me falta o que fazer. Este último ano não foi tão produtivo quanto eu queria — nenhum é — mas a Kelli e eu estamos trabalhando em algumas coisas interessantes e os próximos doze meses devem nos trazer algumas realizações.

Se você me mandou uma mensagem de feliz aniversário, mesmo que atrasada, saiba que fiquei muito feliz com ela. A Internet me deu muitos amigos, alguns muito próximos (mesmo a Kelli é descoberta internética) e esses amigos têm sido uma grande fonte de satisfação e encorajamento. Obrigado a você por ser um deles.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Feliz aniversário, vovô Smurf!

Que que eu posso falar de uma pessoa que me abre tantas portas, que me enche de livros e pfds e dicionários e glossários para consulta, sem exigir nada em troca? Que tem paciência com meus desabafos e me dá conselhos aos montes?

Só posso dizer muito obrigada, desejar um feliz aniversário e que a data se repita muitas vezes. E panquecas dia 16!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

TPIC no RS - Capítulo 2

Por gentileza do nosso colega Guilheme da Silva Braga, nosso correspondente eventual para o extremo sul e circunjacências, tenho o prazer de informar que uma turminha lá do RS entrou em contato com o Ouvidor da JUCERGS para pedir uma correção do edital do concurso. E não é que corrigiram rapidinho!? Não, desculpe, gaúcho não faz nada rapidinho: lá as coisas saem ligeirinho. O edital corrigido está aqui.

Além de agradecer ao Guilherme pela cortesia de me dar o aviso, é hora de aplaudir a JUCERGS, que fez as coisas civilizadamente. Se todos fossem assim, este seria um mundo melhor.

Pretendemos, Kelli e eu, ir a Porto Alegre em março, para o tal do congresso da ABRATES. Quem sabe, vamos ter a possibilidade de cumprimentar os aprovados.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

TPIC no RS

Deu uma epidemia de concurso para Tradutor Público e Intérprete Comercial. Começou com Minas Gerais, depois veio Santa Catarina, Rio de Janeiro e, agora, Rio Grande do Sul. O edital está aqui, caso interesse.

Isso é muito bom. Deveria haver mais concursos para TPIC. Muitos TPICs ficam zangados quando eu digo isso, argumentando que se houver mais concursos e nomeações, cai o volume de serviço. Não é isso, evidentemente, o que diziam antes de ser nomeados, época em que defendiam, com unhas e dentes, a "abertura da porteira" — o que mostra que o conceito de verdade pode depender em grande parte do lado do muro em que você está.

A afirmação me parece errada, de qualquer modo, porque o objetivo do concurso é atender melhor o público, não garantir serviço para ninguém. Uma colega minha, partiu para a distorção "então, vamos aprovar qualquer um…". Não, eu não disse "aprovar qualquer um": o concurso tem que ser rigoroso, para que o público seja bem atendido. 


De qualquer maneira, o campo está cheio de "quaisquer uns" que trabalham como terceirizados para TPICs, simplesmente porque se sujeitaram a receber o que lhes ofereceram. O problema está na terceirização indiscriminada, não no excesso de TPICs. Aliás, desconfio que exista até quarteirização e qunteirização nessa história — mas isso é só um desconfiar, porque não tenho nem provas nem indícios.

Mas, voltando ao RS, o edital tem uns aspectos interessantes. O primeiro, entre os que eu vi, está em II.A.h, onde se exige:

- licenciatura em letras, com especialização para o idioma para o qual se inscrever ou

- certificado de proficiência e formação em língua estrangeira no idioma para o qual se inscrever

É uma inovação. Nunca vi isso. Nem sei se é legal porque parece que não está nas leis que regem o ofício de TPIC, mas isso é coisa para advogado responder. Tradicionalmente, o exame é aberto e presta quem for cidadão brasileiro, residente no estado e mais umas coisinhas. Nunca se exigiu diploma de nada. Alguns dos melhores TPICs em SP são advogados que nunca fizeram curso de letras e, ao menos uma das melhores TPICs que conheço, jamais fez faculdade de coisa nenhuma.

Mas, tudo bem, exigir um diploma específico até que tem lá sua lógica, numa época como a nossa, de altas especializações. Agora, ainda que mal pergunte, por que licenciatura e não bacharelado? O TPIC não vai ensinar coisa alguma, ou vai? Para que precisa ser licenciado? Além disso, se é para pedir diploma, porque então não restringir a quem tenha especificamente diploma de letras tradutor?

E essa história do certificado de proficiência e formação em língua estrangeira, eu não entendi muito bem. Se você entendeu, por favor, poste um comentário me explicando.

Também fui dar uma olhada na empresa que vai conduzir o concurso: Hilda Ferreira de Moura ME, que aparece numerosas vezes no Google, algumas como localizada em Campo Grande, MS outras como localizada em Surubim PE. Está conduzindo concursos aos quilos por aí. Estranho que uma ME possa encarar tanto concurso junto. Deve estar cobrando uma ninharia e, por isso, ganhando todas as licitações. Será que tem gabarito para enfrentar um concurso para TPIC?

Sempre é bom lembrar que não sou TPIC nem nunca prestei concurso nem em SP nem em outro qualquer estado nem sou terceirizado de qualquer TPIC que se possa imaginar.

(Confesso que detesto essa história de "festas" e estou doido para que chegue janeiro e voltemos à vida normal.)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Lo de siempre

http://www.tradutorprofissional.com/2006/12/mensagem-de-natal-e-ano-novo.html

(O título original estava errado. Corrigi, depois de lembrado pelo comentário abaixo, mais por cortesia aos hispanófonos do que para "mostrar que sei espanhol", porque não sei mesmo.)

Oficinas de Tradução com Lia Wyler - aprenda com quem sabe

O grande problema da Lia é que ela se tornou famosa por traduzir Harry Potter. Não há nada de errado em traduzir Harry Potter e, particularmente, acho que foi uma tarefa extremamente difícil, desempenhada com brilho. O problema é que a Lia é muito mais que a tradutora de Harry Potter e pouca gente se dá conta disso. Pouca gente tem uma experiência tradutória mais ampla do que ela, que traduziu desde livros sobre esoterismo até material sobre petróleo, passando por literatura de todos os tipos.

Conheço a Lia há muitos anos e estive em uma palestra dela na USP o ano que agora se encerra e me deliciei com o modo simples, direto e divertido como ela trata até os problemas mais cabeludos da tradução. Valeu a pena.

É um pouco de sua vasta experiência que ela vai compartilhar agora, de novo, em suas oficinas de tradução. Para mais informações, dê uma clicadinha aqui, que é o ciberlar dela.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

E você?

Nós dois fizemos nossos depoimentos e parece que muitos gostaram. E agora, por que você não faz o seu depoimento? Como foi que "virou" profissional da tradução? Conte para nós.

E virei tradutora...

Eu costumo medir um pouco o conteúdo, mas adoro falar de mim mesma. Entrei no mundo das Letras por acaso, talvez por destino, se alguém acreditar nisso. A primeira vez em que passou pela minha cabeça ser tradutora foi aos 15 anos, quando traduzia umas músicas. A ideia passou logo, e pensei em jornalismo e arquitetura, entre muitas outras coisas. A arquitetura ganhou. Fui fazer cursinho para prestar a Fuvest e estudar na USP.

No meio daquele ano, 2001, eu estava sem um tostão furado no bolso e a diretora da escola onde eu estudava inglês me chamou para dar aula para as crianças. Deixei de assistir muita aula de gramática no cursinho para dar essas aulas. Depois apareceram outras turmas e fui gostando, gostando, mas não me passava pela cabeça mudar a minha opção de curso universitário. Passava pela cabeça da minha mãe e da minha chefe, no entanto, e logo começou a pressão para eu prestar letras. Fiz a minha inscrição só para me poupar dos discursos. No meio do caminho, comecei a mudar de idéia e ficar indecisa. Prestei os dois vestibulares e estava rezando – naquela época eu ainda rezava – para passar em um só e não ter que decidir. Passei em Letras, fui fazer e me apaixonei. Não duvido que tivesse gostado da mesma maneira de arquitetura, mas duvido que me desse bem como me dei em letras.

Fui levando o curso e dando minhas aulas. Tinha dia de chegar mais de meia noite em casa e ter aula no dia seguinte às sete e meia, e não é nenhum segredo que eu odeio muito acordar cedo. Terminei o curso em 2006 e comecei no Yázigi em 2007, onde fiquei até setembro de 2008. Durante esses sete anos, traduzi uma coisinha aqui e outra ali, em geral artigos acadêmicos. Foi a época em que levei meu único calote, também. Se eu tivesse conhecido o pessoal da comunidade Tradutores/Intérpretes BR antes, não teria levado nenhum. E foi participando da comunidade que a minha vida mudou.

Muita gente acha que Orkut é brincadeira, que só em um bando de adolescente IxCrEvEnDuUu aXxIm. Não é verdade. Na comunidade de tradutores, conheci muita gente, fiz minha rede de contatos, comecei a trabalhar mais seriamente com tradução. Não fosse por aquele espaço, eu nunca teria criado uma postura profissional como a que tenho hoje. E ainda estaria dando aula de inglês e ensinando verbo to be. Foi nessa comunidade que conheci o Danilo, e foi pelas coisas que eu escrevia lá que ele me chamou para trabalharmos juntos. Na mesma época, minha mãe ficou doente e precisei parar com as aulas para poder cuidar dela. Foi um susto para o Danilo, mas tudo acabou dando certo.

A partir daí, as coisas evoluíram muito rapidamente. Foi um salto até eu estar me sustentando e tirando o suficiente para montar a minha casa, em fevereiro. Mas foi um salto para dentro do desconhecido, também. E deu (dá) trabalho, bastante. Pegar o jeito de traduzir, lidar com CATs, com clientes, com prazos, com ter trabalho num dia e no outro não, com lazer, com estudar (pelo menos um pouco) e com família não é fácil e não foi só uma vez em que achei que não ia dar conta de tudo. E não dou mesmo. Não é todo dia que consigo ler alguma coisa, não é todo dia que consigo cozinhar ou cuidar da minha casa ou passear com a minha cachorra ou ir para a academia. De verdade? Teve dias em que nem tempo para dormir eu tive, em 2009. E que, quando finalmente eu tinha tempo para dormir, eram 7 da manhã e o vizinho estava fazendo barulho com a furadeira. Para “equilibrar”, também não foi em todo momento que eu tive serviço (e, consequentemente, dinheiro). Além disso, estou investindo grande parte do que recebo – ia dizer do que sobra, mas se tem uma coisa que nunca sobra é dinheiro – em equipamentos, softwares, livros e dicionários.

Mas tudo isso está longe de ser uma reclamação. A verdade é que, enquanto eu ainda era professora, eu não conseguia me imaginar daqui a 20 anos, por exemplo. Não me passava pela cabeça de que eu poderia viver no futuro, só sabia que não seria de dar aula. Hoje eu consigo me ver velhinha e traduzindo alguma coisa completamente escandalosa, deliciada com o choque que as pessoas sentem com uma velhinha boca suja.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Por que sou tradutor?


Outro dia, a Kelli e eu estávamos discutindo uma série de mensagens em diversos fóruns cujos autores pareciam ansiosos por fazer qualquer outra coisa que não fosse traduzir. Então, resolvemos escrever dois artigos, um ela e o outro eu, falando um pouco da relação entre nós e a profissão de traduzir. O primeiro, o meu, vai aqui. Espero que gostem e comentem. O da Kelli já está escrito e aparece amanhã.

Não gosto de falar de mim próprio. Tive uma vida difícil e complicada, cheia de episódios amargos, muitos dos quais prefiro esquecer e outros tantos de que prefiro não lembrar. Mas hoje, vou abrir uma exceção.

Em meados de 1970, estava na miséria. Um conjunto muito complexo de fatores me tinha levado a montar uma franquia Fisk em Porto Alegre, empreendimento para o qual eu não estava preparado nem financeira nem profissionalmente. Na Fisk São Paulo (onde trabalhei depois de trabalhar no Yázigi), tinha feito uma carreira meteórica, passando em menos de um ano de professor dos iniciantes a algo que, talvez, hoje, chamássemos coordenador pedagógico ou o que seja. Como ia casar e estava, por motivos particulares, ansioso por sair de São Paulo, cismei de abrir a franquia em Porto Alegre.

Foi um fracasso medonho. Nada de errado com Porto Alegre nem com a Fisk: o problema era que sou um péssimo administrador e a Vera não era muito melhor. Passamos fome, até. Voltei, arrasado física, financeira e moralmente, em julho de 1970, para morar de favor na casa do sogro, a última das humilhações. Verdade se diga que meu sogro me recebeu com uma generosidade de que até hoje me lembro com gratidão, mas o que eu queria era morar com a minha mulher no meu canto, não na casa dele.

Voltei a ensinar, na própria FISK. Dei um duro danado. Ainda hoje sou meio elétrico, imagine o que eu era com menos de trinta anos de idade. Lá para novembro de 1970, a Fisk me ofereceu "fazer umas traduções" na Arthur Andersen, que, na época, era uma respeitadíssima firma de auditoria. Vinte horas por semana, sem janela, com 50% de bonificação porque eram "aulas externas". Um dinheirão, como pode confirmar qualquer um que pene ensinando inglês em cursos livres.

Não sabia o que era auditoria. Mal sabia o que era contabilidade. Tinha feito uma que outra tradução, mas a experiência era mínima, embora em minha Carteira Profissional conste um registro como tradutor datado de 9 de janeiro de 1963.

Aprendi pelo velho método de cair na piscina e ficar me esbatendo como um doido, até descobrir como se faz para nadar. Mas estava me divertindo aos montes. Era (e é) uma festa ser tradutor e, a cada dia que passava, eu me divertia mais.

Depois de uns dias, passou o chefão da firma na minha sala e me perguntou se eu aceitaria um emprego lá. Pedi demissão da Fisk, nunca mais dei aula de inglês na vida. Tinha sido mordido pelo bichinho da tradução: não tinha volta.

Dia 1º de dezembro de 1970, fui admitido como empregado. Como o emprego era de meio período, fui procurar uma editora, para trabalhar o resto do dia. Usando meu emprego como trampolim, comecei a traduzir para a Editora Atlas. Detestei a Arthur Andersen. Por mil motivos, não me ajustei à firma e, em 17 de dezembro do ano seguinte, saí, por vontade própria. Nunca mais tive um emprego na vida.

Desde aquele tempo, jamais houve um dia em que eu quisesse mudar de profissão. Tive bons e maus momentos, tive um momento de dar curso de Word para um cliente; duas vezes, imbecilmente, me prendi demais a um cliente só e me danei quando ele arranjou outro tradutor; tive outros problemas, como um contrato sem cláusula de correção monetária em tempos de alta inflação. Mas nunca pensei em abandonar a profissão.

Lutei muito, estudei muito, investi muito: o que eu tenho e o que eu sei, pouco ou muito, ganhei na base do sangue, suor e lágrimas. Mas este é o meu lugar. Agora, beirando os 67 anos e já recebendo aposentadoria, acho que fiz bem. Sou feliz como tradutor.

Tenho pena, muita pena, dos que traduzem porque não têm alternativa; dos que estão rezando para aparecer alguma coisa por aí que os libere do traduzir; dos que vivem das lembranças de um passado dourado, em que tinham outra profissão, que consideravam mais nobre, e que não perdem uma oportunidade para lembrar; dos que não investem na profissão, porque não têm fé nem nela nem muito menos em si próprios.
Deve ser muito ruim viver desse jeito.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Edição Extra - Ministério da Justiça quer Multar SINTRA

Gente, embolou o meio de campo! Segundo notícia publicada no G1, o Ministério da Justiça quer multar o SNTRA por causa da tal tabela de preços. A multa seria algo entre  R$ 6 mil a R$ 6 milhões. Espero que não multem. O pobre do SINTRA nem pode pensar em pagar uma multa dessas.





segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Carta aberta ao SINTRA

À colega
Elizabeth Lélia Thompson
Presidente do SINTRA — Sindicato Nacional dos Tradutores

Prezada colega,

Repassaram-me ontem a mensagem eletrônica reproduzida ao final deste texto, que pretensamente é de sua autoria. Se não for, por favor, me desculpe, mas tem toda a aparência de ser. Achei que o assunto é tão relevante que merecia uma "carta aberta", que vai aqui.

As informações contidas na página de Valores Praticados do SINTRA, na sua forma, talvez violem alguma disposição de algum diploma legal, mas é impossivel acreditar que, no seu conteúdo, configurem formação de cartel e espero que as autoridades percebam o fato. A última coisa de que necessitamos agora é uma encrenca com a lei.

Não creio que formação de cartel seja delito que se anuncie aos quatro ventos, como o SINTRA faz há anos com os valores praticados. Só a publicidade dada aos Preços Praticados, a meu ver, já faz muito por descaracterizar o delito. Cartel é coisa que se organiza ao pé do ouvido e por meias palavras, preferivelmente sem sombra de documentação.

Cartel também é coisa de pequenos grupos com forte organização: carteis, oligopólios e oligopsônios são lobos da mesma alcateia. Mas somos milhares de tradutores, muitos simples biqueiros, que fazem da tradução uma fonte de renda subsidiária; outros tantos são "tradutores transitórios", gente que "pega" uma tradução, mas depois "arranja um emprego" e nunca mais volta a traduzir nada; — fora os que traduzem "por amor" e aceitam ganhar nada ou quase nada, porque têm outra fonte de renda que lhes garante o sustento, estes, normalmente, gente do mundo acadêmico.

Além disso, como há muito mais gente querendo traduzir (ou achando que quer) do que serviço de tradução disponível, o mercado é dominado pelos compradores e todo tradutor que esteja no mercado há mais que uns poucos meses já ouviu o famoso "não falta quem faça por bem menos que isso". Fazer cartel em mercado dominado pelos compradores é impossível por definição.

Os tais Preços Praticados são, na verdade, mais um ideal, aquilo que gostaríamos de receber, do que uma realidade. Poucos conseguem chegar lá. Eu consigo sem grandes esforços, mas tenho 40 anos de tarimba e sou um especialista numa área que sabidamente paga bem.

Temos ainda de lembrar que muito — caso não a maior parte — do serviço que roda por aí é intermediado por agências e muitas das agências brasileiras ou cobram de seus clientes os Preços Praticados do SINTRA ou até oferecem algum desconto como incentivo. Sabe, aquela história do "estou te cobrando 10% menos que a Tabela do Sindicato". Como repassam o serviço ao tradutor final, necessariamente ficam com uma parte do pagamento como ressarcimento de suas despesas e lucro e, por menos que retivessem, não poderiam jamais pagar ao tradutor propriamente dito o tal do Preço Praticado.

Outras agências vivem de repasses de agências estrangeiras, por exemplo, de agências dos EUA que tomam enormes serviços a serem traduzidos para várias línguas e retalham o trabalho entre várias agências de outros países, inclusive Brasil. Atualmente, com o real nas alturas, os preços praticados no exterior são inferiores aos praticados aqui. Nem que quisessem, essas agências poderiam praticar os preços preconizados pelo SINTRA.

O caso das editoras, que representam uma parte muito visível porém menor do nosso mercado é interessante: embora algumas editoras de elite estejam se aproximando lentamente dos Preços Praticados (Haleluia!), a maioria está bem longe deles.

Realmente, ver cartel aí, exige um grande esforço de imaginação.

Não sei se ajudei alguma coisa ou se piorei a situação.

Danilo Nogueira

A mensagem pretensamente do SINTRA é esta:
Caros colegas,
O Sintra está sendo investigado por possível formação de cartel, pela divulgação da nossa lista de valores de referência.
A Secretaria de Defesa Economica abriu um processo administrativo acusando-nos disto. Estamos na fase do final da instrutoria do processo e na segunda feira mandaremos as alegações finais (de defesa), para corroborar ainda mais que o Sindicato publica sim uma lista de preços, mas que esta lista de preços não é impositiva nem para os filiados nem para as empresas que contratam tradutores, solicito a ajuda de todos vcs que nos mandem emails dizendo que vocês usam a lista apenas como base mas que a palavra final, o acordo, é feito entre vcs e a empresa que contrata o serviço.
Queremos anexar os e-mails como prova que o Sindicato não impõe os preços apenas os sugere.
Obrigada a todos pela ajuda
Elizabeth

sábado, 12 de dezembro de 2009

Você decide – traduzir ou não traduzir? final

Um pedido de desculpas: o blogue andou meio abandonado, esta semana, por motivos que qualquer tradutor pode adivinhar. Agora, ao trabalho!

Hoje vou encerrar o "Você Decide: o Repasse", para depois ir aos outros pendentes.

Em resumo, para mim, do ponto de vista ético, tudo gira em torno do que a repassante disse ao cliente final. Se disse que ia fazer o serviço, se apesentou seu CV e sua experiência, mas repassou o serviço, estava errada. Se deixou claro que não ia fazer mas ia procurar quem fizesse, não vejo nada de errado, embora eu próprio jamais repasse inglês e só de raro em raro repasso algo em alguma outra língua.

A porcentagem que a repassante reteve também não me preocupa em nada. Aliás, prefiro não saber. Eu quero saber quanto é que eu vou receber. Por exemplo, R$ 0,05 por palavra é pouco para mim, quer o repassante esteja retendo muito, pouco ou nada. E R$ 0,50 por palavra é bastante (agora, dezembro de 2009), também sem entrar no cômputo o que quer que o repassante tenha retido: simplesmente não vem ao caso.

O José Henrique Lammensdorf nos lembra que, em muitas situações existe o repasse do repasse do repasse e analisa as consequências. É verdade. Cada um que repassa, fica com uma fatia do pagamento e quando chega na mão do tradutor no "terceiro subsolo", o que sobra é muito pouco. Mas essa observação mais complementa do que invalida o que eu disse acima.

A tradutora Alfa, que estava no fim da linha fez bem em devolver o trabalho depois de aceito? A bem dizer, nem entendi direito se ela recusou porque ia receber só um terço do valor total ou se era por ser um repasse. Em ambos os casos, não me parece que tenha havido razão para recusa, salvo se tivesse chegado ao conhecimento dela que a repassante tinha se comprometido a fazer o serviço pessoalmente. Nesse caso, sim, existe a cumplicidade com uma mentira e isso não é bom. Mas, ao que eu tenha entendido, a posição da repassante jamais ficou clara.

De resto, se o pagamento era pouco, era pouco com ou sem repasse.

Acho que agora, podemos dar o assunto por encerrado. Amanhã, tem mais.

E muito obrigado a todos os que comentaram. Blogue sem comentário não tem graça.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O que é traduzir?

Estou com pouquíssimo tempo para escrever aqui hoje, mas não quero perder a chance de divulgar um brilhante comentário do nosso colega Renato Motta: traduzir é pisar em ovos.


Ia comentar, mas é supérfluo.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Edição Extra: nota de falecimento — Yvan Cloutier

Perdemos Yvan Cloutier.Vai fazer falta. Há tempos ele pediu que alguém o ajudasse na tarefa de conduzir a lista Eurêka, um tesouro de informações sobre terminologia. Agora, visto na perspectiva que só a distância confere, me parece que ele sabia que estava doente e que tinha pouco tempo de vida. Morreu de infarto, o que significa que deve ter sofrido pouco. Menos mal.

Trabalhava no Gabinete de Terminologia do governo de Québec, que faz parte de um pequeno grupo de líderes na área. Não posso dizer que tivéssemos sido amigos: escrevi um par de vezes na lista dele e ele sempre respondeu, atencioso, mas foi só. Era somente mais um de seus admiradores, embora soubesse muito pouco sobre ele. O que esse homem achava na Internet não era normal e os arquivos da lista Eurêka ainda por um bom tempo vão servir de orientação para nós. Vai o homem, fica sua obra.

Começou mal, a semana.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Se você pensa que é só tradutor brasileiro que sofre

Veja este filminho sobre o pessoal que faz legendagem para surdos e deficientes visuais na França e suas dificuldades.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

ABC de memórias de tradução

Traduzir, hoje, é muito mais fácil que no passado, não só pela inesgotável fonte de informações e contatos que é a Internet, mas também por causa das CAT tools. E o que faz esse trem de nome esquisito?

Computer-aided translation tools, ou seja, ferramentas que auxiliam a tradução no computador, são frequentemente confundidas com tradutores automáticos. Um erro comum, mas as duas coisas não poderiam ser mais diferentes. Um tradutor automático traduz para você, sozinho. Pode não ficar uma maravilha – e não fica mesmo, pelo menos por enquanto – mas ele traduz. Uma CAT tool não faz nada sozinha, nada. Para o tradutor iniciante, muitas vezes ela chega até a atrapalhar, mas compensa como investimento futuro. Como não se passa uma semana sem que o Danilo e eu recebamos perguntas sobre as tais memórias de tradução, tive a ideia de desenvolver um ABC, que vai ainda aumentar muito e que vai ser parte de uma surpresa que estamos preparando.

Uma das principais atrações dessas ferramentas é a TM (translation memory). TM é o arquivo onde a ferramenta armazena todas as suas traduções, segmento por segmento, junto com o original. Segmento é um trecho pequeno do texto, em geral uma frase. Em novas traduções, a CAT tool consulta esse arquivo e, se a frase a ser traduzida estiver lá, ou for parecida com a que está lá, maravilha: ela sugere a tradução, você revisa e complementa se for necessário, e não precisa traduzir de novo. Com isso, dá para perceber que uma TM bem recheada, principalmente para quem trabalha com textos repetitivos, é uma ajuda imensa e aumenta muito a produtividade. Mas, quando a gente começa a usar uma dessas ferramentas, a TM está vazia e não ajuda em nada.

Outro grande trunfo é o glossário. Aqui, também, os iniciantes estão em desvantagem, porque precisam começar seus glossários do zero, e isso toma um tempo enorme (eu, pelo menos, acho que sim). Mas existem duas vantagens que, a meu ver, compensam o esforço: não precisar digitar várias vezes a mesma sequência repetida, nem palavras comuns na língua, e não precisar refazer uma pesquisa complicada sobre determinado termo que rendeu aquela solução fantástica e que, depois, você corre o risco de não lembrar.

Existem vários softwares de auxílio à tradução, para todos os gostos e bolsos – tem inclusive alguns grátis. O mais conhecido e pedido é o Trados, que eu nunca vi na frente. Creio que, hoje, o grande concorrente é o MemoQ, que eu uso e é uma gracinha. Faz coisas incríveis, mas é caro, custando cerca de 2 mil reais, conforme o câmbio. Comprei o meu em uma promoção de 50% de desconto. Dos pagos, o mais acessível é realmente o Wordfast, que ainda tem desconto para o Brasil (e outros países). Ainda que caros, eu acredito que compensa. Além de aumentarem a produtividade, e consequentemente o lucro, ainda me permitem fazer coisas que, sem eles, eu não poderia fazer, e perderia o dinheiro, quando não o cliente.

Alguns desses programas, como o Wordfast, podem trabalhar em conjunto com o Google Translate. Ajuda em algumas ocasiões, atrapalha em outras, quando revisar a sugestão do Google dá mais trabalho que traduzir sozinho. Mas acredito que dê pra perceber que isso é só mais um detalhe, não a principal função desses nossos amiguinhos.

Aprender a usar as ferramentas de tradução não é tarefa óbvia. Tem gente que tem mais facilidade, e vai sozinho, com o manual, numa boa. Eu lembro que, da primeira vez que vi o Wordfast na minha frente, eu lia, relia e trelia o manual e não entendia nada do que aquilo tudo queria dizer. No meu caso, perguntar aqui e ali resolveu. A apostila aí do lado (que na época era só do Danilo) também me ajudou demais da conta. Mas tem gente que precisa de cursos. Tem alguns tradutores que ainda dão curso de Wordfast. O pessoal da Kilgray, desenvolvedores do MemoQ, faz vários Webinars – apresentações de uma hora – por mês, mas em inglês, alemão e talvez alguma outra língua que eu não lembro agora. Já assisti o básico umas duas ou três vezes e sempre aprendo algo novo.

De tudo isso, só concluo uma coisa: só não se atualiza quem não quer.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Edição Extra Extra: Martin Claret X Denise Bottmann


Do blogue da Denise Bottmann:

No dia 03/11 o Juiz de Direito da comarca de Registro rejeitou a queixa-crime proposta por Martin Claret, em sentença publicada no Diário Oficial do Estado, por considerá-la sem justa causa. Decorrido o prazo para recurso sem manifestação do proponente. 



Se você não entendeu direito, a Martin Claret ingressou em juízo contra a Denise. Houve uma audiência de conciliação,  em que a Denise se negou a retratar-se. Posteriormente, o juiz rejeitou a queixa, quer dizer, concluiu que a Denise não tinha cometido crime algum. Dessa rejeição, cabia à Martin Claret o direito de apelar e, para isso, tinham um prazo. Optaram por não apelar, que também é direito deles. Como não apelaram no prazo, não podem apelar mais.


Nossos parabéns à Denise e ao seu advogado. Por outro lado, do fundo do coração, esperamos que a Martin Claret e as outras editoras envolvidas no escândalo dos plágios de tradução passem a agir direito.


Denise, um abraço e tome uma boa garrafa de vinho tinto hoje. Você merece.


O blogue da Denise está aqui. Clique para visitar e deixar um recadinho a ela. Ela merece.



















Edição extra: O Renato, a Época e o tradutor

Nosso colega Renato Motta notou que a revista Época tinha deixado de publicar o nome de quem traduziu um determinado livro. Achou injusto - como achamos todos nós - e achou que algo precisava ser feito. Tendo chegado a essa conclusão, decidiu que caberia a ele agir. Quer dizer, não caiu naquela esparrela de começar a esbravejar que "alguém tem que fazer alguma coisa".

Pensou lá com seus botões e concluiu que a melhor coisa a fazer era escrever à revista. Outros teriam começado uma campanha absolutamente inócua do tipo "Não compre a Época: ela não dá valor ao tradutor". O Renato achou que a primeira coisa a fazer era escreve uma mensagem — e escreveu o que você pode ler aqui abaixo.
Na edição de 30 de novembro de 2009, a revista Época apresentou uma interessante reportagem sobre o livro Nossa Escolha, escrito pelo ex-presidente norte-americano Al Gore. A matéria é um trecho muito bem traduzido de um livro que será lançado em dezembro, mas o editor se esqueceu de informar o nome da pessoa que fez a tradução da obra.
Curiosamente, o fotógrafo cuja imagem ilustra o artigo, Jeff Riedel, foi devidamente creditado. O editor da matéria sabe que uma foto não surge do nada. Uma foto sempre tem um profissional por trás dela; um profissional que enquadrou o objeto de interesse da lente, ajustou o foco, preparou a iluminação e editou o material antes de ele ser publicado.
Infelizmente, esse mesmo editor não percebeu que a tradução de um texto também não surge do nada. Toda tradução sempre tem um profissional dedicado por trás dela; um profissional que fez a transcrição das palavras originais - do inglês ou de outra língua - para a nossa; um profissional que re-escreveu o texto em nosso lindo idioma para que ele pudesse ser saboreado pelos leitores da revista Época, e também ajustou as frases, preparou a iluminação, revisou tudo e editou o material antes de ele ser publicado.
Peço à direção da revista Época que alerte os seus editores para o fato de que as traduções devem SEMPRE ser creditadas, pois é isso que merece o profissional que a realizou, o mesmo merece o leitor da publicação e assim determinam as leis éticas da nossa sociedade.
Obrigado.
Renato Motta
É uma mensagem educada, nada daquela oratória altíssona, grandíloqua e sesquipedal, carregada de ironias e generalizações acusatórias, do tipo "a autoproclamada grande imprensa que se diz democrática…", nada de insultos. Aponta uma falha, demonstra que é uma falha pela comparação com o caso do fotógrafo, creditado pelo seu trabalho, e pede uma correção, sem criar confrontações.

Achando bom pedir um pouco de pressão por parte dos colegas, postou a mensagem aqui , onde deve ter sido lida por várias centenas de colegas, vários  dos quais escreveram à revista. No fim da tarde, a Época já estava se desculpando e dizendo que vai publicar uma errata.

Vitória para nossa categoria? Por certo! De parabéns o Renato pela ação e a revista Época pela reação. Mas é bom lembrar que foi também uma vitória da civilização. Porque o Renato, antes de agir como tradutor, agiu como homem civilizado e a Época, ao reconhecer o erro, retratar-se e prometer solução, também agiu civilizadamente.

Agora, olho vivo para ver se não recaem em tentação - e fica o exemplo. Se você for membro da comunidade do Orkut, deixe lá o seu abraço ao Renato. Se não for, deixe um abraço no perfil dele - ele de certo merece nossa gratidão.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O exemplo vem de onde?

Minha amiga Ana Luiza Iaria irritada por ter visto "facilidades de recreação" no prospecto de um hotel, redigido originalmente em português. Mas, pense bem, se nas listas dos tradutores um diz que pegou "um job" e o outro diz que fez um "freela", quem somos nós para reclamar, ainda que mal pergunte?