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terça-feira, 29 de setembro de 2009

Dia do Tradutor ou da Secretária?

Um belo dia, lá para o ano de 382, o papa Dâmaso chegou à conclusão de que alguém precisava dar um jeito na Bíblia latina.

A Bíblia, como entendida pelos cristãos, é uma coletânea de textos escritos originalmente em hebraico e aramaico. O que os cristãos chamam Novo Testamento só nos resta em grego. Havia, desde o tempo de Alexandre Magno, uma tradução grega das escrituras judaicas, feita pela comunidade judaica de Alexandria, mas, à medida que o cristianismo se expandia para o ocidente e se perdia o conhecimento de grego, fazia-se necessária uma tradução em latim, que era a língua que a maioria entendia.

Na verdade, já existia um texto latino, ou, melhor dizendo, uma porção deles, mas nenhum muito confiável. Era necessário, então - entendia o papa - fazer uma tradução que prestasse ou, ao menos, revisar, organizar, uniformizar e consolidar o que havia.

O papa encarregou seu secretário de arrumar aquilo tudo. Já naquela época, tradução era considerada coisa de secretária, como você vê. O secretário do papa era um tal de Eusebius Sophronius Hieronymus. Sabia latim, que era o que se falava em Roma, sabia bem grego, como todo homem culto de seu tempo, e enganava bem em hebraico.

Sua vida agitadíssima, algo rocambolesca, terminou em 30 de setembro de 420. Intelectual cristão respeitado até pelos judeus, Jerônimo teve lá suas limitações e falhas, como todo tradutor que se preze. Não vou agora ficar apontando as falhas dele como tradutor. Nem que quisesse, poderia, porque entendo quase nada de latim, menos ainda de grego e absolutamente nada de hebraico e aramaico. O objetivo deste artigo era simplesmente lembrar por que dia 30 de setembro é dia da secretária e também dia do tradutor e desejar a todos nós um bom ano tradutório e - por que não dizer - secretarial.

Amanhã, não devo escrever aqui: pretendo ir à USP, ver a comemoração que vai por lá haver.

Obrigado pela visita e volte na quinta, que tem mais.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Música

Prometi escrever algo sobre tradução e música, mas está demorando mais do que eu queria. Mas vai sair, sim, e vão ser vários artigos.

Espero que você goste.


Desaforo!


É mais uma história de estudantes que de tradutores, mas serve. Quando minha mulher entrou na faculdade, já casada, era vítima da esnobação de algumas colegas que se vestiam melhor que ela, frequentavam restaurantes onde nós nem pensávamos entrar - e não perdiam a oportunidade de demonstrar sua vasta superioridade sobre a Vera.

Um dia, descobriram que tínhamos em casa praticamente toda a bibliografia do curso, e a cara coleção dos Clássicos Aguilar quase que completa, ainda por cima. Perguntaram, admiradas, à pobretona da classe onde ela conseguia dinheiro para comprar tudo aquilo. A Vera não era muito conversadeira nem muito ágil nas respostas, mas, naquele momento, teve um raro lampejo e se saiu com um "simples, não compro as roupas que vocês têm nem frequento os lugares aonde vocês vão." Voltou para casa de alma lavada.

Posteriormente, várias vezes essas mesmas "colegas" lhe pediram livros emprestados e a resposta era sempre a mesma: livro, marido e violão, não se empresta, cada um que tenha o seu. Granjeou muitas inimizades, claro. Mas não deixou que os outros a fizessem de boba.

Nunca fiz faculdade, mas me irrito com o tipo de "colega" que nunca tem dinheiro para comprar equipamento ou material de trabalho e vive pedindo a caridade alheia, mas para vestir roupas de griffe, viajar para o exterior, frequentar locais da moda, nunca lhe falta o dinheiro.

Para mim, está na mesma categoria do cliente que tem dinheiro para pagar uma boa agência de publicidade, uma gráfica de primeira, mas na hora da tradução, fica esmolando serviço a meia paga porque não tem mais verba.

Uma variante dessa gentalha é o preguiçoso que pede em lista ou Orkut ou o que seja a tradução de palavras que estão em qualquer dicionário. Pega o serviço mas quer que eu faça a pesquisa.

Não ajudo essa gente. Não sustento chupim. Só ajudo quem está fazendo sua parte.

sábado, 26 de setembro de 2009

Três Pensamentos

No Brasil, e em qualquer país do mundo, a maior parte das traduções não é feita para editoras.

No Brasil, e em qualquer país do mundo, a maior parte das traduções feitas para editoras não é de literatura.

No Brasil, e em qualquer país do mundo, a maior parte das taduções literárias feitas para editoras não é de grande literatura.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Ah, Esta nossa Profissão!

Escreve o Felipe:

Danilo, escrever no blog, para mim, é um começo de reação, no entanto não atinge muita gente. O que deveríamos fazer, então? Ir às ruas? Exigir a regulamentação da profissão? Essa questão, da regulamentação, pra mim é problemática, porque alguns tradutores não possuem diploma, não que seja um fator determinante, mas, ainda assim, como criar tais regras? Acho que o primeiro passo seria o reconhecimento da profissão, seguindo o exemplo contrário do que aconteceu com o jornalismo, e, também, a conscientização popular de que somos importantes para todos, tanto quanto um professor ou médico, para que assim possamos pensar em nos mexer definitivamente.

Manter contato com profissionais mais experientes, inclusive os mais bem-sucedidos é uma excelente maneira de agir e participar.

Você precisa, tão cedo quanto possível, decidir em que time você vai jogar: no time dos chorões, da turma que fica se lamentando que não dá, que não funciona, que não pode, que alguém precisa fazer alguma coisa, ou no time dos que aprenderam a dar conta do mercado. Porque existe um mercado, sim, e não é nem de longe tão ruim quanto se diz. Dá para viver de tradução, sim. Dá inclusive para viver muito decentemente. Nenhuma maravilha, não se fica milionário, mas vive-se bem e traduzir é muito bom. Creia-me, não é só traduzir poesia que dá prazer. A Kelli, que acho que nunca tinha visto um balanço antes de começar a trabalhar comigo, agora de diverte à grande burilando textos sobre finanças. E é muito bom, muito bom mesmo. Para quem gosta de traduzir, é claro.

Outro dia, tinha aqui no jornal um músico dizendo que "ser músico profissional é gostar de tocar Parabéns a Você pelo menos uma vez por dia, porque todo dia tem um aniversariante no salão e vem alguém pedir". E tocar Parabéns a Você todo dia é muito divertido. Aliás, cada dia você toca de um jeito diferente.

À medida que for apreendendo os macetes da vida profissional, compartilhe com os seus colegas. Compartilhe não os problemas, mas as soluções. É bom para você, é bom para a profissão. Veja este meu blogue: em vez da choradeira habitual em tantos lugares onde se fala de tradução, eu sou cheio das soluções, dos otimismos, das alternativas. Foi bom para muita gente, que aprendeu, aqui e alhures, uns tantos truquinhos comigo. Mas foi bem melhor para mim.

E continue comentando, Felipe. Blogue existe porque a turma comenta. Blogue sem comentário é pura masturbação mental.

Meu próximo artigo deve ser sobre música. Há tempos estou com vontade de escrever sobre música e tradução.


quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Classe desunida!

Já participei da direção de entidade de classe e sei como é complicado achar um denominador comum, uma causa que empolgue a categoria como um todo. Cada grupo está voltado para solução de seus problemas particulares, o que não é de admirar.

O pessoal que trabalha para as editoras, por exemplo, fica indignado com a história da remuneração que, segundo eles (mas não segundo as editoras) só inclui o serviço prestado, mas não os direitos autorais e fica surpreso de que a classe, como um todo não se revolte contra a situação. Gente como eu, por outro lado, se preocupa com os descontos por repetição e semelhança exigidos por grande parte das agências, problema momentoso para nós, mas ignorado pela maioria dos outros tradutores, muitos dos quais mal entendem do que estamos falando, porque nunca viu um "85% match", não sabe o que é nem tem a menor vontade de aprender, porque tem lá seus problemas a resolver. A turma da dublagem e legendagem deve ter também lá seus problemas, que desconheço.

Isso é normal. Cada um de nós procura resolver primeiro seus próprios problemas e os problemas do seu grupo, para depois pensar nos problemas do vizinho. Não me surpreende. O que me surpreende é a expectativa de que "alguém" faça alguma coisa e a reclamação de que "ninguém" faz nada. Na verdade, quem tem que fazer alguma coisa é aquela pessoa que você vê no espelho. Se cada um de nós, em vez de reclamar que "alguém" precisa fazer alguma coisa, começar a fazer alguma coisa, lucramos todos.

A pergunta que devemos fazer a nós próprios, todos os dias, antes de deitar, é: o que eu fiz pela minha profissão hoje? Não faz mal que seja somente pelo meu grupinho particular. Mas cada um de nós tem que fazer alguma coisa. "Alguém" tem que fazer alguma coisa e meu nome é "Alguém".

Já disse a mesma coisa outras vezes. Mas nunca é demais repetir.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Causo Relampo

E-mail de rapaz com curso superior na área de letras oferecendo serviços de revisão. Setenta palavras. Meia dúzia de erros de português. Ou não disseram para ele que ofertas de serviço de revisão devem estar impecavelmente de acordo com a norma pedagógica, ou o rapaz tem curso de letras mas não sabe escrever.

Por via das dúvidas, vou passar longe dele.

É Fato que… (Edição Extra)

Muitas são as pessoas que dizem saber uma língua estrangeira perfeitamente bem, mas pouquíssimas são as que conseguem. Por isso, a preferência é sempre pelo tradutor que traduz para seu próprio idioma. Está certo. Mas daí não se deve deduzir que escolher o "falante nativo" dá alguma segurança, porque, lá como cá, analfabetos demais há. Clique aqui e divirta-se. Está rodando o Twitter e é muito boa.



terça-feira, 22 de setembro de 2009

Causo Relampo

Um casinho relâmpago, só para não dizer que não postei nada hoje.

Rapaz pergunta se eu posso fazer uma revisão técnica de uma tradução dele e quanto cobraria pelo serviço. Cotei meu preço. Ficou furioso: "É mais do que eu vou ganhar pela tradução!"

Quem mandou cobrar pouco?

Tradutor reclama que ganha pouco e, quando subcontrata serviço para outro, acha que o outro deve cobrar menos ainda. Querem "preço especial para colega". Não faço e pronto. Minha posição: o cliente que quiser o meu serviço, tem que pagar o meu preço. Se eu fizer um "preço camarada" para um colega poder cobrar baixo e ainda ganhar algum, indiretamente estou vendendo o meu serviço ao cliente por preço baixo.

Faz sentido?

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Sociedades de Tradutores

Prometi voltar a falar sobre firmas para tradutores e sobre o problema do sócio. Legalmente, Deus sabe por que cargas d’água, firmas de tradutores e outros prestadores de serviço não podem ser individuais, tem de ser sociedades. Formar uma sociedade com outro tradutor é complexo, por mil motivos, mas o sócio não precisa ser tradutor, já que a profissão não é regulamentada. Meu sócio atual é meu filho, que entende pouco de inglês e menos de tradução. Pode ser qualquer pessoa de sua confiança e, para evitar problemas, esse sócio deve ter somente 1% das cotas e não receber pro-labore. Perfeitamente legal e facilita a vida.

Outro ponto a considerar é que contador detesta abrir sociedade simples, que é o tipo que o tradutor usa. Preferem abrir empresarial, que é mais simples, se me faço claro. Alguns sequer sabem constituir uma sociedade simples e procuram convencer os clientes a constituir uma sociedade empresarial. Um dos argumentos é o custo. Não resta dúvida que tanto as despesas (quer dizer, o que é necessário pagar em termos de taxas) como os honorários (o que se paga ao contador pelo seu trabalho) são muito mais altos no caso da sociedade simples.

Há muito pouco que o contador possa fazer, aí. As taxas não são estabelecidas por ele, ele só repassa do cartório ou da Junta Comercial para o cliente. No caso dos honorários, tem mesmo de haver uma diferença, porque o trabalho de constituir uma sociedade simples é maior. Mas a lei diz que é assim, que nós temos de ter uma sociedade simples e acabou.

Podemos dar mil jeitinhos. Sempre se pode.

Você pode trabalhar para agências que não peçam nota nem RPA nem nada. É ilegal, mas não deve faltar. Também, devem ser as que menos pagam. Tirando de lado a ilegalidade da operação, que constitui crime contra a ordem tributária, é de se pensar se economicamente vale a pena.

Você pode comprar nota fiscal na prefeitura, o que dá um trabalhão dos diabos e, caso você tenha serviço suficiente, representa uma perda de tempo que você gastaria melhor trabalhando. Ou emitir nota fiscal de autônomo, o que é perfeitamente possível e legal. O problema é que tanto a NF da prefeitura quanto a de autônomo são notas de pessoa física e não isentam o cliente do cumprimento de todas as normas atinentes à aquisição de serviço de pessoa física — que é exatamente aquilo que ele quer evitar ao pedir “Nota Fiscal, não RPA”. O cliente pode não perceber, o fiscal pode não percebe ou até fazer de conta que não percebe. Mas é ilegal e pode dar uma confusão das boas.

Por fim, se você trabalhar para o exterior, não precisa de nada dessas coisas — mas tem que declarar como rendimento da pessoa física e recolher imposto pelo carnê leão.

Moral da história, de um modo ou de outro, você paga imposto.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Tradutor não pode ter Empresa!

Escreve o Danilo Freire:
Às vezes alguém me pergunta sobre este assunto, notas fiscais, pessoa jurídica etc. Já li seu post mais de uma vez. E também já li aquilo que há em seu site, sobre ter chegado a hora de trabalhar. São textos simples e esclarecedores, só digo que talvez seria interessante se você dissesse que quando se refere à pessoa jurídica, está a falar da "sociedade simples", que pode adotar as formas de constituição das sociedades empresárias, mas que com estas não se confundem. Digo isso porque o tradutor iniciante ou mesmo alguém que não conheça a legislação sai por aí querendo abrir "empresa" e aí já viu…Nossa estimada profissão, segundo os intérpretes oficiais constitui atividade intelectual e, portanto, não pode constituir "empresa", pois o Código Civil veda expressamente.

Sim, xará, você tem toda a razão e, um dia, eu ia ter de enfrentar esse problema. É hoje! Leia e depois me corrija, se eu disser muita bobagem junta

A legislação brasileira antiga falava em sociedades comerciais (as que vendiam alguma coisa tangível) e sociedades civis (as que não vendiam nada de tangível, mas prestavam um serviço). Então, encanadores constituíam sociedades civis, quitandeiros constituíam sociedades comerciais. O novo Código Civil fala em sociedades simples e empresariais, que, mais ou menos, refletem os mesmos conceitos. Então, encanadores podem ter sociedades simples, quitandeiros formam sociedades empresariais.

Sociedades simples são registradas em cartório, sociedades comerciais são registradas na Junta Comercial. Sociedades simples recolhem ISS e por isso têm inscrição municipal; sociedades comerciais recolhem ICMS e, por isso, têm inscrição estadual. Quer dizer, está tudo interligado. Dá para ver, espero, que tradutores, como encanadores, devem constituir sociedades simples.

Até aqui, tudo muito simples, por assim dizer. Mas agora começam as confusões. O tal do Código diz, lá no Art. 983: A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092; a sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias.

Trocado em miúdo, isso significa que a sociedade simples pode ser constituída como sociedade simples propriamente dita, ou segundo outros tipos, inclusive a sociedade limitada, que é o tipo societário mais comum em todo o Brasil. Quer dizer, uma sociedade de tradutores será uma sociedade simples (portanto, não uma empresa) e o contador provavelmente vai sugerir que seja constituída como sociedade limitada, no que está muito certo, embora alguns contadores, raros, muito raros, prefiram constituir sociedades simples "subordinadas às normas que lhe são próprias". Faz sentido, mas é um modo muito confuso de dizer as coisas, sem dúvida.

Ah, e, antes que me esqueça, esses dois "simples" aí acima, nada têm que ver com o SIMPLES, que é o Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, instituído pela Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006. No SIMPLES, as sociedades simples de tradutores não entram, mesmo que sejam constituídas como sociedades simples, quer dizer "subordinadas às normas que lhe são próprias".

Ou seja, não é tão simples quanto parece.

Mas uma coisa fique clara: as sociedades de tradutores não são empresas. A gente até pode dizer isso coloquialmente, mas é errado. O que é certo é que uma sociedade simples tem CNPJ e, assim, pode emitir notas fiscais de pessoa jurídica - que é o que o cliente quer.

Como é que fica a história do outro sócio da sociedade? Amanhã falamos nisso.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Curso de Word para Tradutores - Val Ivonica

A grande maioria dos tradutores usa Word há anos, o dia todo — mas não sabe usar nem um centésimo do que o programa faz. Aí, então, chega nossa colega Val Ivonica e bola um curso de Word para Tradutores, com as coisinhas que todos nós deveríamos conhecer e a maioria desconhece.

O curso inclui

  • Configuração de página
  • Quebras de página e seção
  • Formatação de fontes, tabelas. parágrafos e tabulações
  • Cabeçalhos, rodapés e notas
  • Autocorreção
  • Símbolos
  • Índices
  • Ferramentas de revisão
A palestra será expositiva, mas laptops são bem-vindos para acompanhar a explicação.

Local: SBS, unidade Vila Mariana, Rua Madre Cabrini, 384 – Sobreloja.
Data: 26/09, às 9:00

Escreva para e-mail val.tradutora@gmail.com para obter mais informações, informando a versão do Word que usa e se pretende levar laptop. Não diga que eu não avisei.



TJ

Eu estava aqui, meio de bobeira e sem sono, resolvi dar uma olhada na nova edição do TJ. Sim, tem mais um artigo nosso (muito mais do Danilo do que meu, eu mal toquei nele), e vou dar o link daqui a pouco. O que me chamou a atenção foi outra coisa.

Alguém aí já ouviu falar de Pimpi Coggins? Eu, nunca, antes de hoje. Ela foi convidada a contar sua história de tradutora na 50ª edição do TJ. Comecei a ler, e escreve bem, a mulher. Mas, de repente, me senti relendo coisas. Vejam se vocês já leram algo parecido:

"Learning and investigating what different programs can do to improve our work shouldn't scare us. Believe it or not there are still some people who use the computer as a glorified typewriter, while others refuse to accept new technology. It took me three years to convince a very close friend of mine to buy Trados. Today, even though he doesn't use it to its full potential, he won't even translate a short sentence without it. Learning new things is not easy, but it is a necessity in our industry and keeps our mind from stagnation." (o Danilo tem uma história igualzinha, igualzinha, mas com Wordfast, se não estou enganada.)

"...the camaraderie among translators is vital to maintain your sanity. Knowing that if you have to work until the wee hours of the morning, Messenger will be by your side. To be able to reach a friend who will assist with a word or phrase, to know that there is always someone out there who is willing to extend a helping hand in the middle of the night. Priceless!"

"Other profiled translators before me have already mentioned the importance of becoming active in professional associations, and I could not agree more."

Algumas coisas aí me parecem puro Danilês. Outras, já ouvi de outros profissionais bem-sucedidos. Eles estão todos aí, entregando o ouro para nós, que estamos começando. Creio que são as três dicas que mais li até hoje para os iniciantes de tradução:

1. Conheça as tecnologias ao seu dispor. Estão aí para ajudar, aumentar seu rendimento, e consequentemente, seu ganho. Sim, custam caro. Mas quem quer ganhar mais deve estar disposto a gastar mais. Eu, por exemplo, fiz um empréstimo gigante, para as minhas possibilidades atuais, mas aproveitei a promoção do MemoQ (50% de desconto!) e ainda me dei um note, para poder trabalhar em minhas viagens.

2. Mostre-se. Não adianta resolver virar tradutor e não contar para ninguém. Vá a seminários, conferências, torne-se um membro de associações sempre que puder. Participe de fóruns na internet, ajude outros tradutores. Tudo isso é vitrine. Não pense que orkut e twitter são brincadeiras de adolescente, porque não são só isso. Tem muito trabalho rolando nessas redes sociais. Muito mesmo.

3. Mantenha contato com outros tradutores. A era da solidão se foi, acabou, e enquanto houver internet, ela não volta. Alguns vão te pedir ajuda, outros vão te ajudar, outros vão virar amigos de trocar receitas, nomes de médicos e dicas para acalmar filho de visita. Mas, quando bater aquela solidão, ou aqueles terrores de prazo curto, de branco, de não conseguir encontrar uma tradução decente, sempre vai ter alguém ali para ajudar. Isso dá um conforto que eu não consigo descrever.

Tem algumas outras, sempre repetidas, mas creio que a Pimpi falou das principais, aqui.

Não me esqueci: nosso artigo do TJ, sobre plágio, está dando o que falar.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Traduzir Shakespeare e Zé da Ilha.

Nosso colega e meu particular amigo Emilio Pacheco postou esta mensagem na comunidade Tradutores e Intérpretes BR no Orkut.

Fiquei feliz porque estou traduzindo um texto interessante e bem escrito, como há tempos não aparecia. É um texto elegante, em linguagem formal, mas claro e fácil. Aliás, acho que o melhor teste para saber se um texto é bem escrito é tentar traduzi-lo. O texto bem escrito, por mais erudito e complexo que seja, é sempre fácil de traduzir. Já o texto "pseudo" bem escrito é como aquele pedaço de carne que, numa primeira olhada, parece macio. Mas basta cortá-lo ou tentar digeri-lo para ver que está cheio de nervos. Tem muita gente por aí achando que escrever bem é tentar enrolar. E aí a gente sofre para mastigar os "nervos" da redação.

Comentar a mensagem, de tão clara que é, pode ser desnecessário, mas é difícil resistir, porque ainda existe tanta gente acreditando que a dificuldade de traduzir um texto é diretamente proporcional a seu valor artístico. É nada! Traduzir alta literatura é difícil, porque os caras escrevem bem demais: é metáfora de cá, conotação de lá, jogo de palavras mais adiante, um inferno. Por outro lado, traduzir texto mal escrito é outro inferno, porque os caras não conseguem escrever coisa com coisa. Outro inferno. Quer dizer, um inferno diferente, mas não menos infernal.

Existem duas abordagens básicas à tradução dos textos mal escritos. A primeira é gastar um tempão para tentar descobrir o que o autor teria dito se não fosse um analfabesta e tentar produzir um texto que não envergonhe - correndo o risco de interpretar mal alguma coisa e ficar com fama de tradutor picareta. A segunda é procurar traduzir com casca e tudo, o que nem sempre é fácil, porque reproduzir os erros em língua estrangeira é difícil - correndo o risco de ficar com fama de tradutor picareta.

Outro dia, a Kelli teve que encarar um texto que, ao que tudo indica, era uma tradução automática do chinês. Pelo pouco que sei, parece que a máquina que traduziu estava bem desregulada e quase que a Kelli desregula de uma vez por causa disso. Muitos de nossos teóricos e acadêmicos se recusam a analisar esse tipo de dificuldade, porque o conteúdo do texto carecia de qualidade artística, o que demonstra o grau de nefelibatismo vigente neste nosso mundo tradutório.

Mas, para não prolongar a conversa até o dia do juízo final, traduzir Shakespeare é difícil porque ele escreve tão bem e traduzir Zé da Ilha é difícil porque ele escreve tão mal. Sorte do Emilio que pegou um texto redondinho para traduzir.

domingo, 13 de setembro de 2009

Agências: Cada Cabeça, uma Conta.

Para encerrar esta conversa sobre agências (que vai voltar daqui a algum tempo, porque sempre é assunto bom), em vez de ficar fazendo aqueles discursos apaixonados contra as agências, acho melhor pensar com mais objetividade. Vamos tentar?

Quem já trabalhou numa empresa com organização razoável, sabe que a necessidade de decidir entre comprar algum produto ou serviço de terceiros e fazer em casa mesmo está sempre presente. É o que hoje se chama terceirizar ou não. Há modas. Já foi moda fazer tudo internamente e comprar o menos possível. Depois veio a moda de se concentrar na vocação da empresa e terceirizar o restante. Qualquer que fosse a moda no momento, sempre houve quem estivesse na contramão.

Nós, também, somos empresas e temos de tomar essa decisão o tempo todo. Temos colegas que se trancam no escritório, traduzindo o dia inteiro, respondem e-mails uma vez por dia e jamais atendem telefone, tendo para isso uma secretária-recepcionista, que também faz outros serviços administrativos, para poderem se concentrar na tradução, que o que eles sabem fazer. Outros preferem tomar conta de tudo sozinhos. Ambos fizeram contas e um chegou à conclusão de que valia a pena pagar a secretária, para traduzir mais; o outro chegou à conclusão de que era melhor fazer tudo sozinho e embolsar o dinheiro. O mesmo com mil outras coisas.

Da mesma forma, temos colegas que, para "não pagar a agência", vão atrás de clientes diretos. Temos outros que acham isso uma chatice e preferem se concentrar em traduzir, deixando essas tarefas para as agências. Ambos fizeram as contas, ambos acharam melhor assim. O mesmo acontece com as empresas que preferem contratar tradutores diretamente ou terceirizar. Cada cabeça, uma conta.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A História não Grudou

Falando da má conta em que as agências costumam ter os tradutores, falei da acusação de ganância, que me parece injusta. Agora, falo de uma acusação justa: a de que muitos tradutores são bichos roleiros. E são mesmo. Deixa contar um caso para você. Não é o único, mas é um de que me veio à cabeça agora.

Recebemos, eu e uma colega, uma encomenda para um feriadão. A encomenda veio do exterior e o cliente não tinha a mais remota ideia do que acontecia aqui. Ela aceitou entregar a tradução na quarta de noite, eu aceitei revisar durante o feriado. Entrega direta para mim, na noite da véspera do feriado, com cópia para o cliente.

No dia da entrega, nada. No dia seguinte, cliente me escreve perguntando se tinha recebido. Não, não tinha. Prazo apertado, essas coisas, que você já conhece. Cliente liga da Europa para a casa da tradutora, ninguém atende. Começou, então, um diálogo surrealista por e-mail. Vou resumir, aqui.

A moça jurou que tinha mandado, na hora prometida. Se o serviço não tinha chegado nem ao cliente nem a mim, era por algum problema de internet, pelo qual ela não podia se responsabilizar. Só podia mandar de novo quando terminasse o feriadão, no domingo, porque o arquivo estava no computador doméstico, e ela estava num hotel, a 400 km de SP. Não podia re-enviar a mensagem porque tinha sido mandada de uma conta de gmail cuja senha não lembrava e que estava anotada em casa. Quer dizer, não dava de jeito algum.

Mandou no domingo de noite, faltava um pedaço. Avisei, respondeu horas depois, pedindo desculpas, dizendo que não entendia por que o arquivo tinha ficado incompleto, enviando agora o arquivo inteiro. Arquivo cheio de erros e problemas, serviço picaretado a mais não poder.

Jamais o cliente e eu vamos saber ao certo o que aconteceu. Temos nossas suspeitas. Na história da moça nenhum de nós dois acreditou — nem você está acreditando agora. A história era perfeita, totalmente plausível, não havia como provar que ela estivesse mentindo, mas não grudava. Simplesmente, não grudava.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Mais agências, ainda

Outro dia, mencionei que muitas agências não têm uma opinião muito boa dos tradutores. É verdade. Às vezes, concordo com elas; outras vezes, não.

Há tempos, a dona de uma agência se queixava do que ela chamava a ganância dos tradutores. - Hoje em dia dizia ela - todos querem ganhar X por lauda. Como é que eu posso pagar tanto, se o máximo que eu consigo cobrar é Y, porque é isso o que os outros cobram?

Como ela pode pagar tanto por lauda, eu não sei, nem é problema meu: não me meto com a vida alheia. O meu problema é como é que eu vou conseguir pagar a conta do supermercado e, com menos de X por lauda, eu não consigo.

Lembra da minha mãe, que achava que os outros tinham de cobrar dela o que ela queria pagar e que era uma grande cachorrada deixar de pintar a casa dela por dez, para ir pintar a casa dos outros por quinze.

E, por favor, pare de dizer que você cobra no máximo Y, porque isso é o que os outros cobram. Pare de jogar a culpa nos outros, porque, neste mesmo momento, tem outra dona de agência dizendo que também não pode cobrar mais do que Y (e, portanto, não pode pagar X) por causa "dos outros". Você é a outra dos outros, sempre foi e nunca vai deixar de ser. Faça alguma coisa, não espere que 'os outros" façam. Não me pergunte o que os tradutores estão fazendo: todo tradutor que diz, "não trabalho por Z, meu mínimo é X", já está fazendo alguma coisa. E quem está agindo assim, está conseguindo viver melhor, o que é direito de todos.

Mas, muitas vezes, lamentavelmente, a agência reclama dos tradutores com toda razão. Amanhã, falo disso.

Recado para SK

Um dos problemas de ter um blogue é que a gente nunca sabe se os comentários recebidos e assinados são verdadeiros ou falsos. Recebi um, de um colega cujas iniciais são SK, me contando uma história ao mesmo tempo perfeitamente crível e muito triste. A mensagem, por tudo quanto sei, me parece absolutamente autêntica. Mas, mesmo assim, prefiro, por agora, me referir ao comentarista pelas iniciais.

O problema SK é que o que você conta é o que você viu e, se eu publicar sua mensagem corro o risco de ser contestado judicialmente. Se for, não tendo provas, não tenho como me defender e vou ser obrigado a publicar uma retratação, como alguns colegas já foram, em outras ocasiões e isso vai ser muito ruim para a nossa causa.

Mas a informação que você tem é boa, muito boa. O problema é que fica a tua palavra contra a do outro e acho difícil você conseguir provar, embora eu acredite em você. A turma joga pesado, SK, talvez mais pesado do que você tema.

Posso dar uma sugestão? Converse com seu advogado, mostre uma minuta de artigo para seu blogue e veja o que ele diz. Aprovada a minuta, publique no seu blogue e me avise, que eu comento e ponho um link aqui. Assim, divulgam-se o fato e o seu blogue, também.

A raiva pode ser muita, mas todo o cuidado é pouco.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Você trabalhou no feriado?

Você trabalhou no feriadão? Todo mundo de papo pro ar e você, aí, malhando no computador? Muita gente não se importa de trabalhar nos fins de semana e feriados. Eu sou um deles, porque faço parte do MSP (Movimento dos Sem Programa). Mas outros sofrem muito.

Trabalhar em feriado é, em parte, o preço pago por tantas vezes sairmos no "horário de expediente", quando os outros estão trabalhando; às vezes, o preço pago pela nossa própria desorganização; outras vezes, o preço de não saber dizer "não".

Se você trabalhou no feriado, seria bom ver por quê. Se trabalhou porque queria ou por falta de coisa melhor que fazer, tudo bem. Se trabalhou por não saber dizer "não", saiba que padece de uma grave doença endêmica entre os tradutores. Um dos meus bordões neste blogue é que precisamos aprender a dizer "não", educadamente, sem bronca, sem explicações. Se você não está a fim de fazer o serviço, não precisa explicar que é porque tem que almoçar com a sogra e, principalmente, não precisa dizer que tem que almoçar com a sogra se, na verdade, quer aproveitar para passar o fim de semana na praia. Se você trabalha por conta própria, como eu, só tem a obrigação de cumprir o que prometeu ao cliente e não deve satisfações a mais ninguém.

Por outro lado, se você tiver trabalhado no fim de semana por ter sido indisciplinado durante o resto da semana, acho que está na hora de aprender a se disciplinar - ou, ao menos, não se queixar.

domingo, 6 de setembro de 2009

Nota da Martin Claret?

Está circulando pela Internet um texto curioso. Já recebi cópias enviadas por mais de um colega. Não sei se é autêntico. Estava pensando em deixar este comentário para quarta, para ter tempo de conferir se é espúrio ou não. Entretanto, o interesse do texto é o mesmo, quer tenha sido enviado pela Editora Martin Claret, quer seja uma contrafação. Vamos a ele.

Prezados amigos,

Tendo em vista matéria publicada recentemente em jornal desta capital, com denúncias de plágio envolvendo a Martin Claret e outras editoras, vimos esclarecer que, no passado, tivemos a infelicidade de contratar alguns profissionais da área de tradução que não se mostraram à altura do trabalho. A esse fato, acresce o interesse de parte da concorrência em nos alijar do mercado editorial, divulgando notícias desmedidas e distorcidas, sem jamais falar também das medidas corretivas já tomadas por esta editora. Estamos processando judicialmente os responsáveis por essa campanha contra a Martin Claret.

De resto, garantimos que estamos dirigindo todos os nossos esforços para corrigir eventuais erros cometidos no passado, bem como para garantir aos nossos leitores livros de qualidade, no mesmo nível das melhores editoras do país.

Atenciosamente,

"Um líder só cumpre sua função quando compartilha. Os sucessos são sempre do grupo"

Uriel Fernandes
Vamos, primeiro, presumir que a nota seja autêntica, quer dizer, que tenha, de fato, sido escrita e publicada pela Martin Claret.

É fato que a Martin Claret tem sido muito citada, pela imprensa e pelo blogue da Denise Bottmann, por acusações de plágio, acusações que chegaram até à Wikipedia, onde, hoje, dia 6 de setembro de 2009, está escrito:
Acusação de Plágio: Há anos a editora vem sofrendo diversas acusações de plágio provenientes de diversas traduções. Em 2000, ela respondeu a uma intimação judicial da Companhia das Letras, reconhecendo posteriormente ter usado uma parte das traduções de Modesto Carone para três novelas de Franz Kafka (1883-1924): "A Metamorfose", "Um Artista da Fome" e "Carta ao Pai". Já em 2007, por sua vez, a obra A República, de Platão, tinha a tradução assinada por Pietro Nassetti, mas na verdade o texto é uma adaptação com pequenas mudanças da tradução de Maria Helena da Rocha Pereira, uma das maiores especialistas portuguesas em Grécia Antiga. O editor Martin Claret, dono da Editora Martin Claret, admitiu que "sua" edição de A República, de Platão, é plágio da edição da Fundação Calouste Gulbenkian. Há ainda a suspeita de que muitos outros livros da editora usem traduções plagiadas, já que poucos e desconhecidos nomes, como por exemplo o de Alex Marins e Jean Melville, assinam variados títulos publicados por ela. Pietro Nassetti teria traduzido Shakespeare, Maquiavel,Descartes, Rousseau, Voltaire, Schopenhauer, Balzac, Poe e outros.
A Wikipedia é dinâmica e, se você clicar no link, pode encontrar outro texto. Mas o que está acima é o que eu encontrei.

Voltando à nota, não entendi o "esclarecimento". O que querem dizer com "a infelicidade de contratar alguns profissionais da área de tradução que não se mostraram à altura do trabalho"? Que pagaram tradutor para fazer o serviço e ele copiou de outrem e apresentou o serviço como seu? Se essa interpretação está correta, a editora foi lograda e tem todo o direito de espernear. Devem ter o nome, endereço e CPF de Pietro Nassetti creditado por traduções de Marx, Descartes, Rousseau, Nietzsche, Weber, Shakespeare, Kafka, Platão, Maupassant, Dostoyevsky, Goethe e Sun-Tzu e devem pegar no pé dele, com gosto, como devem pegar no pé de todos os outros que agiram dessa forma.

Também deveriam pegar no pé do pessoal interno que não se deu conta de que era muita banana por um tostão o mesmo sujeito traduzir tanta coisa de tanta gente - talvez até em tão pouco tempo. Esse tal de Pietro Nasseti, como outros de quem a Claret aparentemente alega, na nota, ter sido vítima, é uma vergonha para a profissão e, como tradutor, gostaria de ver seu nome como réu de algum processo, sei lá por que alegação, que não sou advogado. Mas que dá raiva, dá, o sujeito cobrar por ter apresentado ao cliente uma tradução furtada a alguém mais.

Não sei quem estaria interessado em alijar a MC do mercado. Digo que eu não estou. O catálogo deles está cheio de coisas interessantes, como a Ilíada na tradução extraordinária de Odorico Mendes (não que tenha sido atribuída a ele, mas é disso mesmo que a nota fala e que eles estão procurando corrigir) e seria uma pena vê-la fora do mercado.

Por fim, uma queixa amarga, da falta de menção das medidas corretivas já tomadas. Sim, isso é mau. Quem divulgou o erro tem que divulgar a correção. E eu teria imenso prazer em divulgar as medidas corretivas tomadas pela MC aqui e em qualquer outro lugar onde eu possa escrever, desde que soubesse quais são. A nota, lamentavelmente, cala tanto sobre essas medidas quanto calam os concorrentes de que se queixa.

Seria também interessante que a MC divulgasse os nomes das pessoas a quem está processando. Espero que sejam os cachorros grandes, a parte da concorrência interessada em alijar a editora do mercado editorial, e não só os tradutores e jornalistas que divulgaram os casos de plágio que a própria MC agora indiretamente reconhece. Esses deveriam receber da MC uma nota de agradecimento, porque todo aquele que avisa que eu fui logrado (como a MC afirma que foi) é meu amigo e merece meu agradecimento. Aliás, ainda que mal pergunte, a MC está processando os tradutores que a lograram? Quer dizer, a gente processa o criminoso, não o que grita "pega ladrão!" Ou estou enganado?

Mas custa acreditar que a nota seja verdadeira. Algo, aqui nas mais profundas e obscuras brenhas do meu bestunto, me diz que é uma falsificação. Que a MC foi, mais uma vez, vítima de gente "do mal". Nesse caso, hipoteco a eles toda a minha solidariedade. Publicar plágios é errado, mas falsificar declarações é igualmente errado e erradíssimo está quem queira combater um erro com outro.

Na hora em que descobrir o que eles estão fazendo para resolver o problema, publico aqui tudo direitinho.

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Este artigo já tinha sido publicado quando um bom amigo me ensinou que este link sempre levará ao texto que copiei, mesmo que a Wiki seja modificada. Não estou nem de longe sugerindo que a Martin Claret vá fazer a safadeza de apagar a crítica que está lá há muito tempo. Mas sabe-se lá, é chato citar um troço, depois vai alguém lá e diz "está diferente, o Danilo mentiu".


sábado, 5 de setembro de 2009

Ferramentas e Estilo

A Simone escreve:

Estava lendo um de seus posts sobre tradução, sobre alguns tradutores que mantêm o estilo próprio, não o do autor, deixando todos os textos com a mesma "cara", e pensei nas ferramentas de tradução.Você acha que, na tradução literária, com o uso de uma memória de tradução, esse problema poderia ser intensificado?

Quem é bom fica melhor com as ferramentas de tradução (Wordfast, Trados, MemoQ etc.). Quem é ruim, fica pior ainda. Quer dizer, o uso de ferramentas de tradução vai impor o estilo exclusivamente se o tradutor já tem essa tendência maligna. Elas, sozinhas, não fazem mal a ninguém.

Mais Agências

Deixa voltar às agências, sempre um bom assunto, e continuar meu artigo anterior.

O nosso mercado é altamente pulverizado: há milhares e milhares de tradutores, cada um com suas especialidades, como há milhares e milhares de clientes, cada um deles com suas necessidades. Em um mercado como esse, é normal o aparecimento de intermediários. Há bons e maus intermediários e intermediação, como todo serviço, tem um preço, que os usuários podem achar vantajoso ou não.

Os serviços prestados pelas agências também variam muito. Para citar dois exemplos recentes e extremos que aconteceram comigo, uma empresa canadense precisava de alguém que fizesse tradução financeira do inglês para o português do Brasil. Não tinham a mais leve ideia de onde encontrar a pessoa adequada. Então, ligaram para uma agência, que oferecia traduções para mil e uma línguas.

A agência era pequena e não conheciam ninguém que pudesse fazer o serviço, mas a dona tinha um gordo caderninho de endereços, que vem cevando há anos, e, pergunta-que-te-pergunta, chegou a mim. Como o cliente não tinha o caderninho de endereços e o serviço era pequeno demais para justificar virar o mundo de pernas para o ar para achar um tradutor, o serviço saiu mais barato que se ele investido o tempo necessário para achar quem fizesse. Aliás, a agência me pagou bem, porque eu conheço aquela palavrinha mágica que nos faz ganhar melhor e venho aplicando há muitos anos.

Segundo caso: uma enorme financeira precisa, periodicamente, de documentos traduzidos para alemão, chinês, espanhol, francês, grego, holandês, italiano, japonês, norueguês, português, sueco e tcheco. Os documentos têm coisa de 120.000 palavras e precisam passar por editoração eletrônica nas respectivas línguas, o que está longe de ser fácil. Para essa empresa, montar um departamento de traduções para tocar essa tarefa durante um mês louco e ficar onze meses sem fazer nada, é loucura. Procuram uma agência, que tem pessoal especializado e cuida do serviço com tranquilidade. Claro, cobram, e cobram alto, porque é uma trabalheira infernal. Mas não pensem que o cliente final não fez as suas continhas antes de terceirizar a tarefa.

Ainda volto ao assunto. Bom feriado.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Wikipedia e a tradução

Alguém aí já usou a Wikipedia para traduzir? Não? Pois eu aconselho.

Eu sei que a primeira coisa que vão dizer é que a Wiki não é confiável. Bom, eu acredito que ela é tão confiável quanto qualquer enciclopédia; se o meio virtual aceita qualquer coisa, o papel também. Tive uma professora na faculdade que simplesmente não aceitava informações tiradas da internet, em pleno século XXI! Nunca entendi quem acha que uma coisa é mais confiável que a outra só porque está no papel. Com isso, não quero dizer que toda informação lá seja correta, mas sim que há de se ter senso crítico para qualquer coisa que se leia.

Voltando ao tema: a Wiki ajuda bastante, principalmente com versões. Acho que a grande sacada é que lá não vai ser tão comum haver termos que não se usam, como os dicionários têm. Então eu faço assim: se, por exemplo, estou vertendo um texto para o inglês, procuro o termo que eu quero em português. Quando estou no artigo que eu procurava, olho na coluna do lado esquerdo. Geralmente, tem uma lista de idiomas ali, que varia conforme o artigo. Se tiver em inglês, ótimo, é só clicar ali que eu vou parar no artigo sobre a mesma coisa, mas em inglês. Às vezes isso não é possível, porque ou não tem o artigo em português ou não tem em inglês. Aí é procurar outras fontes, claro. Outras vezes, o termo que se quer não tem um artigo próprio, mas pode aparecer em artigos relacionados; vale a pena dar uma pesquisada.

Em tempo: não estou dizendo que a Wikipedia deva ser sua primeira alternativa, apenas que é mais uma.

Cliente Desiste de Agências

O blogue andou meio parado, mas não abandonado. Às vezes, fico me perguntando como é que o jornalista profissional consegue escrever matéria nova todo dia, porque tem dia que, por mais que eu explore as brenhas do meu bestunto, não aparece nada que me dê vontade de explorar aqui. Depois, num dia, podem aparecer vinte coisas magníficas, com ideias mil. Outro dia, até que aparece uma ideia, mas o sufoco do serviço não permite desenvolver.

Hoje, a ver se falo de um comentário de minha amiga Dayse Batista na trad-prt, uma lista na qual fui já muito ativo e a qual hoje só assisto de camarote. A Dayse conta que um cliente dela está deixando de lado as agências, para tratar com tradutores diretamente.

Tradutor odeia agência e as agências (não contem para ninguém), de modo geral, não tem boa opinião dos tradutores. Para falar a verdade, acho que ambos têm seu tanto de razão, mas isso é outra conversa.

Tradutor tende a ver agência como um mero intermediário indesejável, que cobra demais, paga de menos (Por que “demais” é junto e “de menos” é separado? Ou será que estou errado? Coisa mais esquisita!) e não faz nada. Mas onde o mercado é muito pulverizado, como o nosso, sempre surgem intermediários. É o intermediário que dá liquidez ao mercado. Se você trabalhar com meia dúzia de boas agências, vai ter uma vida mais calma e tranquila do que com meia dúzia de bons clientes diretos.

O problema está em encontrar “boas” agências, porque o primarismo empresarial da maioria delas é chocante, como, aliás, o primarismo empresarial da maioria das editoras. Um amigo meu, gerente de uma editora, foi fazer curso de administração e fez um TCC sobre a empresa em que trabalhava, metendo o pau de rijo no atraso deles. Ainda bem que o dono, que acha tudo isso de administração uma bobajada muito grande, recebeu uma cópia do trabalho mas nem leu. Se tivesse lido, o rapaz teria perdido o emprego.

Mas me perdi no meu próprio artigo. Amanhã volto e talvez consiga dizer o que quero, que é importante.