Mudamos para www.tradutorprofissional.com

domingo, 31 de agosto de 2008

Você traduziria um filme pornô?

Meu primeiro encontro com cinematografia pornográfica se deu lá pelos 13 anos. No meu tempo, para a minha idade, o maior escritor do Brasil era Carlos Zéfiro e fiquei todo satisfeito quando um colega mais velho me convidou para uma sessão particular de filminhos. Foi num domingo de manhã, numa sala discreta do então Ginásio Estadual "Professor Ascendino Reis", que, na época, ainda funcionava de favor nas dependências do Grupo Escolar "Visconde de Congonhas do Campo", que ainda está no mesmo prédio, na rua Tuiuti, esquina Padre Estêvão Pernet, que se chamava Rua do Ouro, na época. A projeção estava a cargo do zelador do colégio, que tinha chaves de todas as portas e salas e nos abriu o colégio no domingo. Fui, digamos, uma experiência estética e tanto.


A sessão saudade aí acima foi motivada pela pergunta de um colega no Orkut, que queria saber se nós traduziríamos filmes eróticos, que trafegou por vários campos inclusive pela diferença entre erótico e pornográfico.


Antes de discutir o problema ético, gostaria de abordar o problema técnico: nunca traduzi filme algum, muito menos eróticos ou pornográficos, mas não creio que seja tecnicamente fácil. Todo tipo de tradução tem sua dificuldade específica e, para os filmes eróticos/pornográficos, como para todos os outros, deve haver bons e maus tradutores e más traduções. É claro que a audiência não está muito interessada na tradução, mas isso não isenta o tradutor da obrigação de caprichar.


Depois vem a história da oposição entre erótico e pornográfico, que me parece importantíssima, porque conduz a uma reflexão mais ampla. Não existe uma linha divisória clara entre erótico e pornográfico. Os extremos de cada gênero são facilmente identificáveis. O filminho que eu vi no colégio era decididamente pornográfico, mas existe muita coisa que fica, assim, com um pé de cada lado da divisa. É uma gradação contínua, que vai do mais vil pornográfico até a mais aguada comediazinha de família, passando pelos filmes meramente picantes, o que quer que isso signifique. E isso sem pensar nos documentários e filmes de treinamento, por exemplo.


Do ponto de vista ético, temos um quadro ainda mais interessante. O jovem colega que fez a pergunta diz que estuda em uma Universidade Cristã e que esse tipo de indagação é normal por lá. Sem dúvida, digo eu, que sou agnóstico. O que é anormal é alguém pensar que preocupações éticas são peculiares a estabelecimentos religiosos. Agnósticos e ateus têm tremendas preocupações éticas, talvez mais pesadas ainda que as enfrentadas pelos religiosos, porque entre agnósticos e ateus, não recorremos a fonte nenhuma que não a nossa consciência para resolver esses problemas. Quer dizer, não transferimos a responsabilidade para o pastor que conduz a grei ou para um livro sagrado. Ser agnóstico é muito complicado. Ser ateu também deve ser.


Mas a pergunta é, eu, Danilo Nogueira, traduziria? Acho que sim, sem maiores problemas. Provavelmente, ia enjoar no segundo e recusar o terceiro, mas isso não teria nada que ver com ética. Digo mais, acho que há filmes muito piores que os do cinema erótico/pornográfico, filmes de uma violência ímpar, que banalizam o mal e me parecem muito mais danosos que qualquer cena de sexo explícito.


Entretanto, cada caso é um caso e há certas coisas que eu recusaria. Ouvi dizer que há filmes com estupros e isso, para mim, não é erotismo nem pornografia: é violência e crime. Também é crime a pedofilia e, mesmo que não fosse, meu estômago não iria aceitar. Não se pode generalizar.

Agora, uma pergunta final às pessoas religiosas e que levam sua religião a sério. Imagine a seguinte situação: você recebe um filme para legendar, começa a rodar o filme e fica revoltado: a primeira cena é uma criança sendo estuprada. Contendo o ódio, nojo e revolta, você telefona para a polícia e denuncia. Certo? Meia hora depois, liga um membro da sua igreja e diz estamos montando um comitê de ação sobre pedofilia e precisamos legendar um filme para uso do comitê. Vou avisando que é brabo. Você topa? Ao examinar o filme, você vê que é exatamente o mesmo que você tinha recebido pouco tempo antes. E aí, o que você faz?


terça-feira, 26 de agosto de 2008

Você deu a descarga?

Quando eu era criança, a minha mãe sempre perguntava, cada vez que eu saia do banheiro, se eu tinha dado a descarga. Ela sabia, claro: a descarga era barulhenta e, quando eu dava, ela ouvia.

Eu me irritava, como é normal, mas voltava e dava a descarga.


A bem dizer, não é tanto sacrifício dar a descarga ao entrar no banheiro e muita gente faz isso automaticamente, mesmo que o banheiro acabe de ser limpo e esteja cheiroso demais da conta. Nesses casos, não seria necessário dar a descarga, mas adquirir o hábito de dar a descarga ao sair é essencial.


O equivalente a dar a descarga quando se fala em tradução é passar o corretor ortográfico. É a última coisa que se faz, antes de mandar o serviço ao cliente, mesmo que tenha sido passado antes. Temos uma colega, cujo trabalho me cabe revisar, que não passa revisor ortográfico. Talvez pense que está abaixo da dignidade dela, não sei. Mas não passa e pronto. Custa muito pouco para mim passar de novo, antes de começar a revisão e, de modo geral, passo nos textos a revisar independentemente de quem tenha feito a tradução.


Mas abrir um texto para revisar e ver aquela profusão de serpentes encarnadas que o Word agrega ao texto, para indicar as cacas do tradutor e me avisar que preciso dar a descarga, é tão desagradável quanto entrar no banheiro e ver as cacas que o usuário anterior me deixou de presente.


Pergunta: se eu vou revisar mesmo, por que raio passar o corretor ortográfico? Fácil: porque muitas vezes, à medida que vou revisando, uso os comandos de busca e substituição e esses comandos falham lamentavelmente quando a mesma palavra foi escrita de cinco maneiras diferentes. Então, toca a mim dar a descarga antes de começar.


Então dou a descarga. Fazer o quê? Mas xingo.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Treinamento Wordfast

Dia 30 de agosto, via Aulavox, tem treinamento a distância, Introdução ao Wordfast. Um curso fundamental para quem quer usar esta ferramenta que deveria fazer parte do arsenal de qualquer tradutor profissional, exceto dos que trabalham exclusivamente com audiovisuais. Para maiores informações, clique aqui.


As matrículas se encerram na quinta-feira, para permitir a distribuição de informações prévias na sexta. Ao fazer o pagamento, ou se tiver alguma dúvida, por favor, me avise pelo danilo.tradutor@gmail.com.

Agradeço a quem divulgar o curso e peço desculpas a quem receber o mesmo aviso mais de uma vez.

Programas de memória de tradução

Across, OmegaT, MemoQ, Wordfast, Trados


(Clique nos links para ser levado à página do programa na Web)

O Across e o OmegaT são ferramentas de tradução grátis. O Across é uma ferramenta comercial, que a empresa distribui grátis para os interessados, esperando ganhar dinheiro de outras formas. O OmegaT é totalmente grátis e desenvolvido por voluntários e foi pensado para Linux, embora funcione com qualquer sistema operacional.

Ainda não pode testar nenhum dos dois. Como a maioria de vocês sabe, nestes últimos meses, passei uns momentos difíceis e deixei de me atualizar em várias coisas. Por isso, vou fazer uma observação muito primária, aqui, sobre os dois.

O OmegaT, para mim, tem duas limitações fundamentais: não trabalha com o formato Trados, que é padrão do mercado, e nem aceita arquivos preparados no MSOffice. Para mim, são falhas essenciais. Meus clientes me mandam arquivos pré-segmentados usando trados e exigem esse mesmo tipo de arquivo de volta. Eu processo esses arquivos no Wordfast, ou no DVX, poderia até processar no MemoQ, que ainda não tenho, mas não poderia processar no OmegaT. Além disso, os arquivos MSWord, de longe os mais comuns no nosso serviço, têm de ser abertos no Open Office e salvos como arquivos Open Office para serem traduzidos. Depois, o arquivo traduzido precisa ser aberto de novo no Open Office e exportador como Word. Por fim, o arquivo precisa ser aberto no Word para ver se tudo deu certo. Desculpe, mas é muito exporta-que-te-exporta para meu gosto.

O Across eu mal testei, mas por algum motivo, parece que não está pegando. Isso é mau, porque parece ser um programa interessante.

O que parece ter um futuro interessante é o MemoQ, que é pago, mas está se desenvolvendo com uma rapidez única. Pegou o conceito do DV3 onde o Emilio Benito deixou e está seguindo o que me parece ser o bom caminho.

O Wordfast, agora tem um Beta do Wordfast6, em Java, portanto para se livrar da servidão ao Word for Windows, o que não deixa de ser uma ótima novidade. Mas beta é beta e ainda está cheio de arestas. Mesmo que você tenha o link para baixar, resista à tentação: é coisa para quem não estremece com problemas.

O Trados, cada vez mais arrogante, nem distribui mais demos, dizem que todos já conhecem a qualidade do produto. Acho o Trados muito ruim, muito ruim mesmo. E o gestor de terminologia deles, o famigerado MultiTerm, é tão ruim que a grande maioria dos usuários de Trados abandonou. Qualquer um dos outros programas lida melhor com glossários do que o Trados. Mas o modelo de negócios deles é genial: convenceram os gerentes de projeto das grandes agências de que é o melhor da praça – e até o único existente – de modo que para muitas agências, você só existe se souber lidar com arquivos segmentados à moda do Trados. Mas muitos de nós recebem o serviço segmentado à moda do Trados e processa em outro programa. Eu, particularmente, processo em Wordfast.

Para quem ainda não sabe, esses programas não traduzem nada, mas dão uma grande ajuda ao tradutor.

Dicionário Jurídico de Maria Chaves de Mello

Dia 26/08/08 vai ser lançada a nova edição do Dicionário Jurídico da Dra. Maria Chaves de Mello, que, ao que me indica a autora em gentil mensagem particular, passou por uma grande reformulação e ganhou mais 4.00 vocábulos.

Vai ser lançado na Casa das Caldeiras, Francisco Matarazzo 2000, às 19 horas. Espero estar lá, para conhecer a autora pessoalmente e pegar meu exemplar.

Não é de hoje que os mais experientes afirmam que é este o melhor dicionário jurídico da praça, embora não seja o mais famoso. Se você se interessa por tradução jurídica e tem "o outro", saiba que está enganado, o MCM é bem melhor. E eu já dizia isso antes de a autora me cobrir de gentilezas.

Vamos ver o que nos reserva a nova edição.

Morreu um dragão

Fiquei vários dias sem postar nada. Um serviço endiabrado me deixou quase maluco. Uma falha minha, que um desses dias narro aqui. Hoje, não dá. Tenho uma porção de pequenas notícias que quero dar a você. Não sei quantas vou poder dar hoje, porque já sinto outro dragão bafando no meu cangote. Vamos ver.

domingo, 17 de agosto de 2008

Como escolher entre duas traduções: (versão revista)

O texto abaixo, com uma modificação na primeira questão, foi publicado aqui. Causou algum impacto, principalmente o Ponto 3, com comentários públicos e particulares.

Você já se viu em dificuldade para escolher entre duas traduções possíveis para a mesma frase? O meu sistema de escolha é este:

  1. Dentre duas traduções, prefira a que mais precisamente refletir a mensagem do original.
  2. Dentre duas traduções que satisfaçam a condição anterior, prefira a que estiver menos aberta a falsas interpretações.
  3. Dentre duas traduções que satisfaçam as condições anteriores, prefira a que for mais correta gramaticalmente.
  4. Dentre duas traduções que satisfaçam as condições anteriores, prefira a que melhor refletir a forma do original.
  5. Dentre duas traduções que satisfaçam as condições anteriores, prefira a que melhor fluir na língua de chegada.
  6. Dentre duas traduções que satisfaçam as condições anteriores, prefira a que usar o vocabulário mais conhecido.
  7. Dentre duas traduções que satisfaçam as condições anteriores, prefira a mais breve.


Mas note que as questões devem ser propostas em seqüência; não vale simplesmente escolher a mais breve se não satisfizer os seis critérios anteriores.

Espero que você goste e comente.


Mantenho o que disse. A única alteração que fiz no texto, foi trocar sentido por mensagem, no Ponto 1, porque mensagem me pareceu mais amplo e, no caso, mais preciso. O Ponto 3, o mais controverso, está lá.

Vamos ver se consigo me explicar melhor: o original (sei, falar de original é politicamente incorreto, a Dra Rosemary e tal, mas eu sou um velho ranheta e chamo o original de original e pronto: ler o blog é de graça, não reclamem, por favor, a cavalo dados não se olham os dentes) tem uma mensagem e é nossa obrigação primordial transmitir essa mensagem ao leitor.

  1. Qualquer tradução que transmita uma mensagem diferente daquela do original deve ser descartada de imediato.
  2. Se duas traduções transmitirem a mensagem do original, porém uma delas der margem a dupla interpretação, deve ser imediatamente descartada. De acordo com a lei de Murphy, você pode ter certeza de que vai ser mal interpretada e, portanto, lá se vai o Ponto 1 para o beleléu (velho usa umas palavras esquisitas, sei disso).
  3. Lá vem, então, o Ponto 3, o controverso. A chave para entender o Ponto é o mais. A recomendação nasceu no dia em que um revisor trocou uma frase minha por outra mais correta, mas que distorcia a mensagem do original. A minha redação não estava incorreta, mas o revisor optou por emendar por uma que era mais correta.

Felizmente, peguei a besteira do revisor a tempo e vetei. Mas ao vetar a emenda, me dei conta de que o revisor tinha dado à frase uma interpretação daquela que eu pretendia, o que significa que eu tinha violado o ponto 2. Então, reformulei a frase de uma forma menos dúbia e ficamos todos felizes.

Note que as recomendações são hierárquicas: aplica-se uma depois da outra, nessa seqüência.

Mas também este artiguinho dominical possa servir para lembrar que dia 21 de agosto temos uma Oficina de Procedimentos e Técnicas de Tradução de e dia 30 mais uma Introdução ao Wordfast. As Oficinas de Procedimentos e Técnicas de Tradução não se repetem nem são seqüenciais, quer dizer, se você fez uma pode fazer a seguinte, se não fez nenhuma, sempre pode começar agora.



sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Digitalização de imagens

Uma colega perguntou como cobrar uma tradução de PowerPoint em que ela teria de fazer também a digitalização de fotos e formatar o texto. Minha resposta está na comunidade do Orkut, que muita gente aqui não lê. Então, vem para cá também, algo modificada, para se ajustar ao blog.

Trocada em miúdos, a história é a seguinte: digitalização e formatação consomem tempo e são habilidades que nem todos nós temos. Nada de excepcional, nada de anormal e conheço gente que adora fazer isso e são bons filhos, bons pais, bons esposos, bons cidadãos e até tementes a Deus. Mas não tem nada que ver com tradução.

É mais ou menos como fazer empadinhas. Digamos que o cliente vá promover um encontro e peça a você para traduzir uma apresentação e para levar 5 dúzias de empadinhas para o lanche da turma. Nada contra. Mas traduzir é uma coisa, fazer empadinha é outra e devem ser cobrados separadamente. O cliente espera as empadinhas como brinde, cobradas, digamos, a um precinho camarada.

Se você é boa de digitalização e formatação em Powerpoint, faça um ou dois em casa, para teste, veja quanto tempo toma, calcule quantas horas vai levar para fazer o serviço todo, adicione 50% e cobre o que você teria ganho traduzindo esse tanto.

Por que agregar 50%? Porque 11 entre 10 tradutores novatos tendem a ser muito otimistas quanto ao tempo que leva para fazer esses troços. Esta informação foi retirada diretamente do Grande Livro dos Smurfs. Juro. Também, 11 entre cada 10 tradutores que lêem este conselho não o acatam e depois se arrependem.

Faz parte da vida.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Reunião na Sala 7 - sempre grátis, sempre a distância

Só para lembrar que dia 16 tem Reunião na Sala 7.

O tema é "Há Futuro para Nossa Profissão?"

Apareça por lá. O futuro a Deus pertence, mas a gente sempre pode especular sobre os caminhos da nossa profissão. Dessas especulações acabamos tirando boas idéias para nosso desenvolvimento profissional.

A Reunião na Sala 7 é um evento direcionado para tradutores e estudantes de tradução onde se discutem questões profissionais, como preços e relacionamento com clientes. Todos podem participar pelo chat e o apresentador dá respostas às questões levantadas.

O evento é absolutamente grátis e todos são bem-vindos, inclusive iniciantes e estudantes.

Para participar, você precisa de uma boa conexão com a Internet e alto-falantes ou fones de ouvido. Não precisa microfone. Para se manifestar, você vai usar o chat.

Data: 16 de agosto de 2008
Horário: 14h às 16h
Carga horária: 2 horas
Investimento: gratuito.


Mais informações aqui

sábado, 9 de agosto de 2008

ABC - Associação Brasileira dos Coitadinhos II

Uma notinha curta, hoje, para evitar mal-entendidos e porque estou com um problema de serviço;

A Meg postou um comentário assim:

Pode parecer fútil, mas boa parte dos makeover shows da tevê (realities que dão um banho de loja nas pessoas como Esquadrão da Moda e Queer Eye, nas TVs a cabo) costuma pregar isso:

Você deve parecer o que você quer ser. Você deve parecer adulto, profissional, sexy, feliz, o que você quiser.

Você é bem-sucedido se você parece bem-sucedido. Você se sente bem-sucedido e fica mais confiante, e consegue vender seu pescado a preço de bacalhau norueguês.

Pode parecer fútil, mas depois que eu comecei a fazer Letras vestida como se estivesse no Mestrado, todos os professores me dão mais voz autorizada.

O comentário é absolutamente pertinente e correto, embora talvez a Meg não tenha se dado conta de que cuidar um pouco mais da aparência pessoal também fez com que ela se sentisse mais segura, o que deve ter causado boa impressão aos professores. Pode haver quem não entenda o comentário, entretanto e, por isso, volto à questão.

Se, como eu, você trabalha em casa e jamais vai ver um cliente pessoalmente, o modo como se veste tem menos importância. Mas tem que investir na profissão: um bom computador, uma boa conexão com Internet, programas de qualidade, coisa assim. Você tem que investir na profissão antes de começar a tirar proveito dela.

De vez em quando a gente vê alguém dizendo recebi uma oferta, tive de recusar, querem uma porção de coisas, nota fiscal, memória de tradução, gente, eu não tenho nada disso! Meu computador nem agüenta essas coisas, pobrezinho! Isso é para quem tem muito serviço. Ao contrário: muito serviço é para quem tem tudo isso.

Já devo ter dito aqui, mas vale a pena repetir: uma colega uma vez disse: você tem essa máquina de escrever eletrônica porque já tem seu lugar ao sol. Ao contrário, eu conquistei um lugar mais ao sol porque abri mão de muita coisa para comprar uma máquina de escrever eletrônica, que, na época, era a última novidade.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

ABC - Associação Brasileira dos Coitadinhos

A história é velha, velha dos tempos anteriores à Internet, quando a gente só tinha clientes na cidade onde morava e ia ao escritório dos clientes, para pegar e levar serviço. Então, nesses tempos, no fim de uma reunião da ABRATES ou do SINTRA, não sei, ficou a famosa rodinha conversando abobrinha na porta do prédio.

Como tantas vezes acontece, estava boa parte do pessoal se queixando que no Brasil, isto e que de uns tempos para cá, aquilo. A exceção era um colega bem vestido, de bem com a vida e satisfeito com seu sucesso profissional. No outro extremo estava um dos grandes coitadinhos do grupo, sempre com pouco serviço, mal pago, uma clientela que, além de pouca, era carrasca. Esse infeliz perguntou ao bem-sucedido, com um laivo de ironia, como é que eu faço para ser um tradutor bem-sucedido, como você?

É curioso como tanta gente trata com ironia e sarcasmo os que tiveram sucesso. Como se ser um fracassado fosse grande mérito. Americano usa looser (fracassado) como insulto, aqui parece que é bonito fracassar. Coitado, não tem sorte na vida.

Mas estou fugindo da história. Então o colega perguntou como ser bem-sucedido e tal. E o outro, que nasceu sem papas na língua, rebateu de primeira: comece tomando um banho. A rodinha se desfez, constrangida. Esperava-se algo menos duro, algo mais piedoso. Mas o fato é que o fracassado, o coitadinho, de fato não tomava o mais leve cuidado com a aparência pessoal e aparecia no escritório dos clientes como se tivesse dormindo na sarjeta. Claro, só conseguia pagamento de sarjeta. Era o moço das traduções. Só faltava lhe entregarem uma quentinha requentada para saciar a aparente fome. Se fizesse um esforço para parecer menos "mindingo" ganharia muito.

Mas o Fracassado não queria investir nada na profissão. Para que investir, se o ele ganhava tão pouco? Investir era para os outros, que tinham bons clientes, clientes que pagavam bem e mandavam bastante serviço. Nunca lhe ocorreria que era exatamente o contrário: que os que se saiam bem eram os que investiam, e investiam pesado, nas suas carreiras.

Hoje, raramente se vai pessoalmente ao cliente e se você prefere tomar banho somente no dia do seu aniversário, direito seu, o banho tornou-se irrelevante. Mas aprenda a investir em você próprio e na sua carreira, porque do céu não vai cair serviço.

Obrigado pela visita, deixe seu comentátio e volte amanhã

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Mais de 100.000 visitantes!

A noite passada, o contador do Sitemeter, aí em baixo, mostrou que o blog ultrapassou a marca dos 100.000 visitantes desde 2 de maio de 2007, quando foi instalado.

Essa informação precisa ser vista com uma boa pitada de sal. Primeiro, que o blog existe desde 5 de novembro de 2005, querendo dizer que um bocado de gente deve ter vindo aqui nos primeiros sete meses de sua vida e essas visitas não entraram na conta. Por outro lado, o próprio Sitemeter me diz o que a grande maioria dos visitantes vem procurar um programa de tradução grátis, não informações sobre a profissão de traduzir.

O que me deixa satisfeito é que o tempo médio de permanência no blog tem aumentado: quer dizer, a parcela de gente que abre, olha e diz perdi meu tempo, aqui não há nada para mim e vai embora em menos de meio minuto caiu e a parcela do pessoal que fica girado de artigo em artigo está aumentando.

Durante os dois anos e meio de vida do blog, houve desde épocas em que eu postava artigos todo dia até semanas inteiras sem uma postagem, devidas à deterioração da saúde da minha mulher, que exigia cada vez mais cuidados de minha parte. Depois do falecimento dela, retomei a empreitada, até como terapia, e estou voltando a postar quase todo dia. Muitas vezes, falta assunto; outras vezes, o que falta é tempo. O que não falta é o prazer de postar.

A nova marca a atingir é a de 500 artigos postados. Até agora, contanto este artiguinho, já foram 420.

Obrigado pela visita e volte sempre. Não se esqueça de que, lá em cima, há uma caixinha "PESQUISAR BLOG", que permite achar comentários sobre mil assuntos de interesse do tradutor. Aproveite e não se esqueça também de dar uma olhada aí do lado, onde constam os eventos Aulavox, que são sempre a distância.

Uma informação final: nem o Sitemeter nem nenhum outro componente deste blog me permite saber quem é o visitante. Deve haver algum modo de fazer isso, mas não é coisa que eu queira aprender ou aplicar. Aqui, sua identidade e privacidade são plenamente preservadas.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Fidelidade

Fidelidade parece que anda fora de moda. E não é só a conjugal ou a partidária: e a tradutória também. Mas aqui se fala de tradução, não de casamentos e política, então vou falar de fidelidade tradutória.

Que me perdoem os teóricos da moda, mas eu acho fidelidade essencial. Meus clientes também acham, o que me parece mais importante ainda, porque são eles que me pagam. Então, me vem aquele colega versado em algumas teorias modernosas que andam por aí, à solta, e, com um risinho sarcástico, me informa, como se eu não soubesse ainda, que a fidelidade tradutória é impossível, que a voz do tradutor se faz sempre ouvir, queiramos ou não.

Não me resta dúvida que a fidelidade é impossível e que a voz do tradutor sempre se faz ouvir, queiramos ou não. Mas o fato é que o leitor que saber o que o autor do original quis dizer, não aquilo que você ou eu achamos que ele deveria ter dito. É isso o que o cliente e o leitor espera de nós: fidelidade ao original. E, se você aceita o encargo de traduzir alguma coisa e mete lá o seu bedelho mais do que o estritamente inevitável, fazendo com que a tradução. reflita mais o que você pensa do que o que pensava o autor, está entregando bugalhos ao cliente, em vez de os alhos combinados.

É meio como dar um recado. A pessoa diz - Danilo, por favor, diz ao Brederodes Funfas que não posso ir no sábado - e eu, ao encontrar o meu amigo Funfas, digo - A Melanésia pediu para avisar que vai no sábado, sem falta - porque a mim parece que a Melanésia faria bem em ir.

Sim, sim, mas é impossível ser fiel, diz lá o meu amigo. Sei disso. Mas digo que em sendo impossível ser totalmente fiel, há que ser tão fiel quanto possível. Quer dizer, isso de ser impossível ser infiel não quer dizer que agora é samba.

Ah, também sei que falar em original e tradução está fora de moda em certos círculos. Mas eu falo em original e tradução sem dó nem piedade. Não passo de um velho reacionário.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Era uma vez um velhinho

Há séculos, prometi a um cliente que se o número de caracteres minha tradução excedesse o original em mais de 5%, o serviço era grátis. O cliente topou, todo satisfeito, embora meu preço fosse salgado, porque sabia - e sabia porque sabia - que uma tradução do inglês para o português sempre é ao menos 30% mais longa que o original e que, como os manuais que ele queria tinham de ter a mesma diagramação em português, espanhol e inglês, os manuais latinos sempre eram compostos em corpo menor do que os originais em inglês.

Minha tradução final ficou, de fato, mais longa que o inglês - mas a diferença era inferior aos 5% de tolerância.

Como consegui isso, se todos nós sabemos que muitas vezes o português exige construções mais longas que o inglês? O que escapa à maioria dos tradutores é que, em outras tantas vezes, o português aceita, com elegância, construções mais breves do que o inglês. Nesses casos, lamentavelmente, a maioria de nós simplesmente ignora a possibilidade de ser mais conciso e acompanha a sintaxe inglesa. Um bom exemplo é a quantidade excessiva de pronomes retos e oblíquos encontrada em textos traduzidos do inglês.

Mas quem colocou a questão em perspectiva foi mesmo o Millôr Fernandes, que um dia comparou
Once upon a time there was a little old man.
com
Era uma vez um velhinho.
Agora, por favor, dê uma olhada aqui.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O tradutor, o escritor e o ator

Para traduzir bem, é necessário saber escrever bem.

Verdade, mas dessa afirmação, costuma-se tirar a idéia errônea de que os melhores tradutores hão de ser os bons escritores: fulano escreve muito bem, logo, tem de ser um excelente tradutor. Peço vênia para discordar. Escritores e tradutores têm perfis diferentes, da mesma forma que tradutores e professores. O bem-escrever do tradutor difere do bem-escrever do escritor. O escritor escreve o que lhe vai pela alma, o tradutor escreve o que vai pela alma alheia - são coisas diferentes.

Temos um colega que passa por bom tradutor e que, a meu ver, tem muito que aprender e talvez nem tenha cura: tudo o que sai da mão dele tem o mesmo estilo (a saber, o dele próprio), independentemente de quem o tenha escrito.

Tradutor tem que ser como ator: numa peça é um feirante gritão, na outra um aristocrata fanfarrão, na terceira é um bandido ameaçador e nas três parece autêntico, por mais que, ele próprio, seja quieto e retraído.

Lembra aquela história do dia em que convidaram Jânio Quadros para fazer uma ponta numa novela. Fez, claro, papel de Jânio Quadros, porque outro não sabia fazer. Quer dizer, não era ator, só sabia ser ele próprio e nada mais.

Agora, por favor, dê uma olhada aqui:

domingo, 3 de agosto de 2008

Quanto representam as editoras no mercado de tradução brasileiro?

A pergunta vem da Denise Bottmann, aí em baixo, em um comentário sobre minha afirmação de que as editoras representam coisa de 5%, se tanto, do nosso mercado, se tanto.

A ver se me explico melhor agora.

Não existe dimensionamento preciso de nosso mercado. Por isso o se tanto. Há algumas observações empíricas de gente que se tem por bem informada.

Ninguém sabe quantos livros são traduzidos no Brasil e, mesmo que soubesse, não ia resolver, porque o que conta, do ponto de vista do volume de serviço, é o número de palavras (ou laudas, se quiserem), não o número de títulos. Também ninguém sabe quantos filmes são traduzidos para o setor cinema-TV-DVD nem muito menos quantos são traduzidos para o setor de publicidade e treinamento e nunca aparecem nas emissoras de TV, locadoras ou cinemas.

O mercado de juramentada é igualmente complicado: é fácil saber quantos TPICs há, mas é segredo de polichinelo que muito da tradução juramentada é e sempre foi feito por gente que não é TPIC. A quantidade de traduções juramentadas feita para atender às exigências da lei das licitações, por exemplo, é enorme e uma grande parte delas vai diretamente do tradutor para o lixo, porque ninguém vai ler mesmo. Mas são feitas e quem faz é remunerado.

Mas esses setores são a ponta do iceberg.

Muitos profissionais trabalham quietinhos em suas casas, para empresas comerciais industriais e para agências, no Brasil e no exterior. Eu sou um deles. Há cerca de 35 anos não aparece um trabalho meu assinado e, nesse período, traduzi milhões de palavras. Faça a conta: digamos que eu traduza só duas mil palavras por dia, que trabalhe somente 300 dias por ano. Multiplica isso por 35 e vê o que dá. Sou mais a regra que a exceção.

O setor de localização tem uma verdadeira usina de tradução. Os manuais, menus e telas de ajuda de todos os programas hoje vêm em português e isso representa uma montoeira de trabalho de tradução.

Muitas firmas e empresas, nos setores de auditoria, engenharia, advocacia, manufatura, têm suas equipes internas e ainda subcontratam gente de fora para os picos de serviço.

Existe uma fímbria do mercado, de tradutores eventuais (muitos deles exercendo também o magistério) trabalhando para clientes eventuais, que nunca foi nem vai poder ser quantificada. Uma miríade de pequenos fornecedores atendendo clientes com pequeno volume de serviço. Ainda a semana passada, uma sobrinha professora numa franquia de escolas de inglês da grande São Paulo me disse que várias de suas colegas ensinam em empresas e acabam pegando traduções que assumindo uma participação cada vez maior em sua renda.

Fora o que se faz, no meio acadêmico, para pessoas físicas.

Para não esticar este comentário por mais duzentas laudas, gostaria de lembrar que o grosso do mercado é de traduções do inglês, seguido pelo espanhol e, mais de longe pelo francês, alemão e italiano. Mas há os mercados para tradução de outras línguas (chinês, japonês, russo, grego, árabe e o que mais seja) de que as editoras praticamente não participam. E existe também o importante mercado de "versões", ou seja, tradução para línguas estrangeiras, de que as editoras praticamente não participam.

Quem participa das listas Trad-prt, Tradutores, Trad-livros, Profissaotradutor e da Comunidade 50302 do Orkut nota quanta gente há ativa que está fora do setor editorial. Na Litterati, evidentemente, é o contrário: é quase que só pessoal de editora. Mas a Litterati é uma lista especializada.

É por isso que alguns colegas chegaram à conclusão de que o volume de trabalho representado pelo setor editoria é exíguo, em torno lá dos seus 5%, a despeito de sua grande importância para a cultura. Aliás, o fenômeno não é exclusivamente brasileiro. Muito pelo contrário, até que aqui as editoras representam muito para nós tradutores. Em países como EUA e RU, sua presença é comparativamente menor e há inúmeros países onde se faz muita tradução sem que jamais alguma seja publicada em livro.

Antes que me esqueça com volume, quero dizer quantidade de palavras, caracteres ou laudas oferecidos à tradução, não número de clientes.

Agora, por favor, dê uma olhada aqui.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

O que é necessário para ser tradutor profissional

Escreve a Adriane

Minhas línguas são o Português e o Espanhol. Quero muito de ser Tradutora. E necessito saber como funciona.... Como é valida uma tradução, já seja ela literária, legal, técnica, comercial, etc?

Em resumo preciso de um diploma? Sendo assim, que estudo, onde estudo? Existe Especialização ou Pós Graduação para Tradutor? Que necessito para me registrar? Como e onde me registro? Diferença de Tradutor Juramentado. Onde posso trabalhar? Serve em outros países?

Adriane,

Não é necessário diploma de nada para trabalhar como tradutora em país algum do mundo, mas fazer faculdade, direitinho, na faculdade mesmo, em vez de no boteco da esquina, ajuda muito, por mais que você fale português e espanhol bem e mesmo que, oficialmente, seu diploma não seja reconhecido no país onde você morar. A exceção são as traduções juramentadas, que somente podem ser feitas por TPIC (na caixa "pesquisar blog", aí em cima, escreva TPIC e dê Enter para descobrir que bicho é esse). Existem mil cursos para tradutores em diversos níveis. Você deve procurar nas instituições de ensino superior da região em que mora.

Registro como tradutor não existe (salvo se você for TPIC). Mas você vai ter de se registrar como profissional autônoma na prefeitura de sua cidade e no INSS ou então constituir uma empresa. Mas isso é coisa para conversar com um contador, não comigo.

Nossa profissão é globalizada e a maioria de nós trabalha na Internet. Eu, por exemplo, tiro cerca de 90% de minha renda de clientes de fora do Brasil.

Oficinas de Procedimentos e Técnicas de Tradução

Se você clicar aí do lado, onde tem um texto rolando, onde aparecem os cursos via Aulavox, vai encontrar Procedimentos e Técnicas de Tradução - Inglês>Português


Estas Oficinas de PTT são um projeto antigo. Há tempos venho fazendo palestras e experiências com técnicas de tradução e, inclusive, já até montei uma experimental por correspondência. Agora, creio que chegou o momento de fazer via Aulavox.


A gente vive dizendo que saber inglês é uma coisa, traduzir é outra. Pura verdade. Mas como é que se traduz? Uma pergunta que muitos fazem e poucos respondem. Pois é. Tradução não é ciência exata e, por isso, não dá para reduzir a uma série de algoritmos e fórmulas. Antes assim, porque se desse, o Babelfish já traduziria melhor que qualquer um de nós.


Então, na Oficina de PTT você vai fazer uma série de exercícios, que tratam de problemas clássicos de tradução e mostram caminhos que muitos de nós nunca tínhamos notado. Seu trabalho vai ser comentado imediatamente e você vai receber informações úteis sobre mil coisinhas relacionadas com tradução. O evento é altamente interativo, com discussões entre os participantes e com o instrutor.


Mas tenho de falar um pouco sobre o que NÃO vamos fazer:


  • Não vou dar listas de falsos cognatos: para isso, tem o Guia Prático da Tradução Inglesa do Agenor Soares dos Santos.
  • Não vou dar listas de termos difíceis de traduzir: para isso, tem o Vocabulando, da Isa Mara Lando.
  • Não vou dar listas de expressões idiomáticas: para isso há mil livros excelentes na praça.
  • Não vou dar listas de erros dos outros. Pode ser muito divertido, mas não acho que adiante coisa alguma.


Quer dizer, vamos falar de procedimentos e técnicas de tradução.


Pretendo apresentar a OPTT várias vezes, cada uma delas com conteúdo diferente. Os participantes recebem uma apostila e, se quiserem, um certificado.


Ah, tinha esquecido: uma boa idéia é fazer junto com algum colega. Duas pessoas no mesmo computador pagam uma só matrícula e o aproveitamento – se ambas tiverem nível de conhecimento semelhante – é até melhor. Mas esse é o limite. E emitimos no máximo dois certificados por computador ativo durante a Oficina.