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segunda-feira, 31 de março de 2008

Reunião na Sala 7, evento a distância, grátis

Dia 5 de abril, às 14 horas, tem Reunião na Sala 7, um evento grátis e a distância do qual você pode participar desde que tenha acesso à Internet e um par de alto-falantes em seu computador. Para mais informações, clique aqui.

O tema desta reunião vai ser E os nossos preços, como ficam? Todos os tradutores e pretendentes a tradutor são bem-vindos. Agradeço qualquer tipo de divulgação que você possa fazer do evento.

A Reunião só é possível por uma gentileza Aulvox, que permite usar seu sistema gratuitamente para o evento.

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

Na história que contei sobre transcrição de fitas do Jaques Cousteau, esqueci de um detalhe importante: transcrever fitas (ou degravar, como se diz na polícia) é uma coisa, traduzir é outra. Alguns tradutores são hábeis transcritores, da mesma forma que alguns tradutores são excelentes professores, intérpretes ou trombonistas. Alguns profissionais conseguem traduzir diretamente da fita gravada, sem ter que primeiro transcrever. Mas uma coisa nada tem que ver com a outra e, depois da minha experiência traumática narrada acima, só aceito para traduzir o que vier escritinho. Se vier em áudio, recuso. Parafraseando Paulo (Cor I, 7:9), porque é melhor recusar do que ferrar-se.

O cliente, meio que sem saber sabendo, como diria o Chaves, faz de conta que é um serviço só, e é bem capaz de até tentar convencer a gente que é até mais fácil ir ouvindo e "já" ir traduzindo do que traduzir de um texto. Para conseguir um desconto, qualquer argumento é válido. Mas o fato é que transcrever, mesmo para o transcritor competente, toma muito tempo, principalmente quando a gravação foi feita por gente incompetente usando equipamento inadequado – o que é mais comum do que se teme.

Também é comum o cliente mencionar que a palestra foi de improviso e que precisa de uma revisãozinha. "Revisãozinha" já é outro serviço e precisa ser cobrado separadamente.

Fez, cobra. Se não é para cobrar, também não é para fazer e ponto final.

sexta-feira, 28 de março de 2008

O dia em que eu virei doente contagioso

Tradutor velho tem muitas histórias. Esta me foi lembrada por um caso longo e complicado que ainda preciso trabalhar um pouco para publicar, porque é longo e complicado. Fica então este aqui de aperitivo.

Houve uma época em que eu traduzia muitos relatórios para o inglês. Meus maiores clientes eram as firmas de auditoria e traduzi acho que uns bons mil balanços na vida. Uma vez, um dos clientes, uma estatal, me pediu para traduzir, além das demonstrações contábeis propriamente ditas, o relatório da diretoria. Depois de eu ter aceito, disse assim, meio como se não tivesse importância, Essa parte você vai pegar no cliente e cobra dele. Tocou uma sirene no meu bestunto, acompanhada de luzes vermelhas piscando loucamente, mas não tive jeito de recusar. Hoje, recusaria. Mas os tempos são outros e eu também.

Fui lá, no escritório do cliente. Recebido com mil formalidades e cortesias, pediram uma proposta. Isso foi antes da lei das licitações e as coisas eram menos formalizadas. Fiz em casa uma proposta e levei para eles. Pagamento em sete dias. Aprovaram quase sem ler. Mau sinal.

O texto era uma coisa de doidos. Não era muito técnico, disse lá o meu contato. Sempre que disserem não é muito técnico, fuja, fuja correndo: significa que é um emaranhado de pensamentos confusos saídos de mentes alucinadas. Aquele não era a exceção. Não tinha pé nem cabeça e ninguém se importava muito porque ninguém ia ler mesmo. O relatório da diretoria era uma obrigação legal e, para muitas empresas, se resumia a quatro linhas de coisa nenhuma. Mas grandes empresas escreviam grandes relatórios, com fotos maravilhosas e textos horrorosos. Mas, como eu disse, ninguém se importava, porque ninguém lia mesmo: liam-se as demonstrações contábeis e as notas, o relatório da diretoria era só para enfeitar.

Ninguém lia, ninguém lia, mas eu tinha que ler. Que ler e entender. Entender e botar em inglês. E inglês bonito, ainda por cima. Passei dias na exegese daquele lero-lero e, finalmente, entreguei o serviço e a fatura, que foi, na minha frente, aprovada por alguém lá que aprovava faturas. Nos dias seguintes, mais uma vintena de sandeus leu o texto, cada uma fazendo alterações mais estranhas do que as outras, até que o texto perdeu não só a relação que tinha com o original como qualquer sentido que tivesse inicialmente. Mas isso não era da minha conta. A minha parte, eu tinha feito, a odisséia tinha terminado.

Terminado, nada. Nem tinha começado. Uma vez que você preste um serviço para uma empresa dessas e entregue sua fatura, vira doente contagioso. Todas aquelas pessoas formais e simpáticas que falavam com você horas sobre tudo ou sobre nada, repentinamente somem do mundo. Ninguém te diz mais nada. Parecia que eu tinha o corpo e – até a voz, porque nem ao telefone falavam comigo – recoberto de feridas purulentas.

Quatro meses depois, recebi uma carta avisando que poderia retirar meu cheque num certo dia numa certa hora num certo local – era no tempo do pagamento em cheque, ainda.

Fui lá. Meu São Jerônimo! Vai para o sétimo andar, pega um papel que carimba no décimo, desce para o térreo onde troca por uma ficha que leva ao oitavo. Fila para entrar na fila de quem precisa entrar na fila. Mais de duas horas para pegar o raio do cheque. Voltei para casa, passei no banco, depositei. Pelo menos, tinha fundos. Já é alguma coisa.

Mas nunca mais prestei serviço ao poder público.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Ninguém é de ferro

A gente precisa se distrarir um pouco. Se você tem curiosidade pelo som de alguma língua que nunca ouviu, clique aqui. O locutor de português para o Brasil tem sotaque, as a pronuncia é boa. A locutora brasileira é melhor. Os outros não posso julgar. Mas não perca o latim.

Não baixei o programa nem estou recomendando que alguém baixe.

Concurso para TPIC ("Tradutor Juramentado")

A Junta Comercial do Estado de Minas Gerais está promovendo concurso para Tradutor Público e Intérprete Comercial, vulgo "Tradutor Juramentado". O edital está aqui. Leitura interessante principalmente para quem imagina que vai prestar o concurso, ser aprovado e viver de papo para o ar até o fim dos tempos.

Existe, também, um documento tragicômico sobre o mesmo assunto, que você encontra aqui. Além das sevícias à lógica e a língua portuguesa, ainda criaram a língua libanesa.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Eu e o Venuti

Escreve o colega (e eu resumi barbaramente):

…entretanto, sendo também admirador e estudioso da obra de Lawrence Venuti, fico bastante chateado, diria mesmo triste, quando leio você utilizando expressões como "isso o livrinho do Venuti não ensina".

Realmente esse autor não oferece esse tipo de orientação, mas simplesmente não é esse o objetivo do trabalho dele.

Concordo com a falta de formação para tradutores voltada realmente para a atuação profissional mas também dou muita importância à formação acadêmica em tradução, que acredito proporcionar um valioso suporte no processo tradutório, e também à pesquisa na área. Não gosto de ver a formação e a atuação profissional se apresentando como processos opostos e quase antagônicos.

A mensagem veio assinada, além de ser correta, educada e identificável. Mas o autor parece preferir o anonimato, dado um trechinho que omiti. Por isso, cito aqui, com alguns cortes, sem lhe mencionar o nome. Minha resposta, nos parágrafos que seguem.

Felizmente, não vejo diferença alguma entre sua posição e a minha. Eu digo que isto e aquilo o Venuti não ensina e você concorda. Eu jamais disse que formação acadêmica carece de importância, mesmo porque, por carecer dela, sei que valor tem, talvez mais do que os que fizeram um bom curso superior. E veja que aqui, na Aulavox e onde eu esteja, sempre digo que há vários caminhos que levam à tradução e que o melhor deles, hoje, é uma boa faculdade.

Também sei que o objetivo do livro dele não é ensinar a lidar com o mercado nem nada disso. Nem acho que ele devesse abordar esse assunto, de que provavelmente ele tem pouco ou nenhum conhecimento.

Você afirma que reconhece a importância dos assuntos de que trato aqui no blog, em alguns pontos de sua mensagem que omiti e diz que concorda que falta formação para tradutores voltada realmente para a atuação profissional, que é uma das minhas bandeiras.

Você não gosta de ver formação e a atuação profissional se apresentando como processos opostos e quase antagônicos e este é mais um ponto onde concordamos: formação acadêmica e, digamos, capacitação profissional, são complementares, duas faces do sucesso profissional.

A dificuldade está em que você aparentemente imagina que ao dizer que algo não se encontra no livro do Venuti eu estou criticando o Venuti (ou o Mounin, que era a moda há alguns anos, ou o Catford, que fio moda antes ainda ou quem quer que seja). Não, não é isso. Estou usando "Venuti" aqui como um símbolo do estudo teórico da tradução e, quando digo que "não está no livrinho do Venuti" estou ironizando não o Venuti, mas aquelas pessoas que julgam o estudo teórico da tradução suficiente e que tudo o mais cada um que aprenda como melhor puder, porque isso não é obrigação de faculdade ensinar.

Por exemplo, ainda continuo achando um absurdo num curso de graduação não se ensinar a usar ferramentas informáticas de auxílio à tradução, porque a primeira coisa que se pergunta a um candidato a tradutor, em pelo menos 50% dos casos, é se sabe usar memória de tradução. Para mim, essas ferramentas fazem tanto parte da vida do tradutor como o estetoscópio faz parte da vida do médico. E o médico aprende a auscultar o paciente na faculdade, não "na prática".

Quer dizer, nada contra o Venuti, mas é preciso ir além dele. Há muita coisa importante, indispensável mesmo, que o livrinho dele não diz.

Termino agradecendo a mensagem. É sempre bom o diálogo com os leitores. A gente escreve, escreve, esceve e são os comentários que nos fazem crer que alguém leu, que não escrevemos em vão, que não falamos no deserto.


terça-feira, 25 de março de 2008

transcrição de fitas

Pediram para você tirar umas fitas, quer dizer, o cliente gravou alguma coisa, uma aula, uma palestra, um discurso, uma discussão e quer que você transcreva as fitas gravadas para ele? Quer um orçamento?

Então deixa eu contar uma história que aconteceu comigo, quando eu tinha uns oito ou nove anos de experiência e pensava que sabia tudo. Hoje tenho 37 de profissão, sei que não sei nada e, mesmo sobre isso, tenho lá minhas dúvidas. Mas vamos à história: e apareceu pela frente um vizinho que tinha uma palestra do Jacques Cousteau, feita em inglês, gravada em cassete e queria que eu traduzisse. Pediu um orçamento.

Todo cioso dos meus conhecimentos, pedi para ouvir a fita. Meio capenga, mas dava para ouvir. Ouvi cinco minutos, atentamente. O Cousteu falava inglês com forte sotaque, mas vagarosamente e com pronúncia muito clara. Bico, pensei eu.

Mas logo me dei conta de que, para transcrever uma hora de palestra, ia precisar mais que uma hora. Imaginei três. Três é uma espécie de número mágico. Uma hora de palestra, três horas de trabalho. Ótimo.

Em três horas, traduzia umas oito laudas da editora para que trabalhava (laudas daquela época, não de hoje). Cobrei o equivalente a dez laudas, para ter uma folga. O vizinho achou uma loucura, tudo aquilo por uma simples palestra de uma hora. Se fosse em francês, que o vizinho falava fluentemente, ele próprio faria numa tarde. Mas era inglês. Fiz pé firme, ele aceitou.

Foi uma tragédia. A gravação era horrível, o homem era chato. A platéia, que tinha começado em silêncio começou a ficar inquieta. Depois de meia hora, viraram a fita sem pedir para o homem calar a boca e perdi um pedaço da palestra. Lá pelas tantas, ele começou a se cansar da chatice da própria palestra e a mastigar a pronúncia.

Perto do fim, deu uma lista do equipamento usado numa certa expedição e foi aí que o bicho pegou. Numa conversa com meu vizinho, que tinha estado presente, soube que naquele momento o Cousteau pescou um papelucho do bolso e leu inteiro em coisa de segundos, sem parar pra tomar fôlego. E eu a adivinhar o que raio era o xpaltogrpherwis398 - lthamcuwmu - raio - que - os - parta - a - todos - os - palestrantes.

De tanto ir e vir, meu gravador cassete quase morre, o pobrezinho. Moral da história, o que recebi mal pagou a conta da aspirina.

Numa conversa sobre esse assunto, nossa colega Ana Julia Perrotti-Garcia disse que, pela experiência dela, cada minuto de fita em inglês exige 5 a 10 minutos para digitar em português. E ela é experiente na área. Então, eu deveria ter cobrado entre 5 e 10 horas de trabalho. Mas agrega, sabiamente, que é necessário botar mais uns 25% para repouso, porque ninguém agüenta transcrever 10 horas sem parar. Daí que deveriam ser 12,5 horas. Agora, quanto você ganha traduzindo durante 12 horas? É isso o que você deveria cobrar para traduzir uma hora de fita. No mínimo, porque é serviço de matar.

O cliente vai achar um roubo e talvez não queira o serviço, saia batendo os pés, soltando fogo pela goela e fumo pelas ventas, em busca de alguém que faça algo mais em conta. Gastaram uma fortuna para promover a conferência, na hora de pagar você, não tem dinheiro, entendeu? Esqueceram de botar você no orçamento, não tem verba e é você quem tem que pagar pelo esqueciment de quem orçou os custos.

É até possível que encontrem alguém inexperiente que diga, nossa, que horror, a gente tem que cobrar o preço justo, é ou não é? e faça por bem menos. Mas isso faz parte da vida. Como também faz o você não acreditar na Ana Julia nem em mim, cobrar um preço camarada por um serviço desses e depois se arrepender. Mas eu ao menos avisei. E a Ana Julia contribui com os dados objetivos.

Ah, e tem mais, para fazer uma transcrição sem enlouquecer, precisa ter o equipamento certo. Mas acho que disso vou ter que falar outro dia, porque por hoje é só.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Escreveu a Aleksandra

Então, me escreveu a Aleksandra, pedindo umas informações. Respondi diretamente, o que não é meu costume: mensagens pedindo informações respondo via blog. As razões são muitas e nenhuma delas importa agora, mas a Aleksandra eu respondi em particular, porque uma resposta pública poderia estragar o projeto que ela tinha em mente, que é bonito e para o qual eu lhe desejo muito sucesso.

A mensagem dela era muito bem escrita, talvez um pouco formal, o que se justificava por estar escrevendo a um estranho. Já na segunda mensagem estava mais solta, num português coloquial, mas ainda perfeitamente correto, o que não é realização pequena. Talvez não fosse grande coisa, se ela fosse brasileira. Ela não diz onde nasceu e passou a "mais tenra infância", mas informa que morou no Brasil desde 1991 ate 1999, dos 12 aos 20 anos, e hoje mora na Sérvia.

Tem muita gente que morou no Brasil a vida inteira e não escreve coisa com coisa. O fato de que ela aproveitou os oito anos que morou aqui para aprender português direito é mérito exclusivo dela. Eu sempre falo em virtù e fortuna e é hora de falar de novo: fortuna é passar a adolescência no Brasil, virtù é aproveitar para aprender português.

A Aleksandra é tradutora na Sérvia. A mãe também é, o que prova que filha de peixa é peixinha. Gente, vocês já pensaram o que é ser tradutor de português na Sérvia? Não é que sérvio seja mais ou menos difícil que as outras línguas – para os falantes nativos. Sou da turma da Rainha Vitória, que uma vez disse alemão tem fama de tão difícil, mas os alemãezinhos falam alemão desde bem pequenininhos. O problema é o material de trabalho: mesmo a turma do inglês, a mais privilegiada, pena por falta de material e, muitas vezes, tem de passear pelo espanhol para achar uma solução que preste. Agora, imaginem a turma do sérvio (ou do búlgaro, romeno, japonês, turcomano, venusiano medieval, sei lá, tem línguas a dar com pau neste mundo)! E também não dá para se especializar. O que cair na rede é peixe. Não deve haver tantos tradutores de português em Belgrado que se possa dizer desculpe, mas medicina eu não faça, fala com o fulano, que ele é fera nessas coisas. E nem tanto trabalho que possam se dar ao luxo de esnobar.

Quer dizer esse pessoal não deve penar pouco: um exemplo para os chorões que vivem reclamando de falta de material.

domingo, 23 de março de 2008

Quem pariu Mateus que o embale

É comum a turma reclamar das comissões das agências, dizendo que a agência retêm uma porcentagem exagerada do preço cobrado do cliente final. A conclusão final costuma ser de que a comissão máxima justa ficaria em torno de 25% do total.

Uma vez, perguntei a um colega de onde ele tinha tirado esse número, esses 25%. Indignado, fez primeiro um discurso inflamado contra o que ele chamava minha defesa das agências (tradutor gosta muito de fazer discurso inflamado, principalmente por correio eletrônico, nos diversos fóruns de tradutores que por aí há). Logo eu, que jamais repasso trabalho para ninguém, por que raio estaria defendendo as agências? Mas, feito o discurso, o colega me perguntou se era justo nós ficarmos com três centavos por palavra, enquanto a agência ficava com nove.

Se é justo a agência ficar com nove, não sei. Não pago as contas deles, não sei que encargos têm, não é da minha conta. Não me interessa a vida dos outros. Para mim, chega a minha.

Um amigo dono de agência me fez uma conta onde mostrava que se retivesse menos de 75% do valor cobrado do cliente, não ia dar conta de seus gastos. Pode ser e pode não ser, não me interessa. Ele quis ter uma agência e quem pariu Mateus que o embale. Meu problema é o Mateus que eu pari, ou seja a tradução.

E sei que três centavos por palavra, e mesmo cinco ou oito, para o tradutor são uma quantia irrisória, lembrando que pagamos equipamento do nosso bolso, temos impostos e não temos férias, 13º e mais nenhuma das mordomias de quem tem vínculo empregatício, ou seja, a famosa carteira assinada. Isso sim, é da minha conta.

O que você ganha traduzindo deve ser suficiente para se sustentar e pagar pelo menos parte das despesas de sustento dos filhos. Com três centavos por palavra, só dá para fazer isso trabalhando o dia todo sete dias por semana. Caso contrário, você pode dar uma contribuiçãozinha, mas não paga a sua parte.

Conheci uma senhora que traduzia para uma editora e, a bem dizer, pagava para traduzir: considerando que a empregada ganhava férias, 13º e o que mais seja, o que a tradutora ganhava não pagava a empregada. Quer dizer, do ponto de vista econômico, dava mais vantagem demitir a empregada e assumir a casa. Não que ela quisesse, mas isso é outra conversa. De um modo ou de outro, não cabe pagar para trabalhar.

Então, repito o conselho: procure clientes adoidado e vá fazendo uma listinha deles classificada por valor pago. A cada vez que o pé-de-lista, quer dizer, o que menos paga, oferecer um serviço, diga educadamente gostaria de pegar, mas por esse preço é impossível, todos os meus clientes pagam mais que isso. Vai ver como funciona. Não peça aumento, não pergunte se dá para esticar: simplesmente diga que todos os outros estão pagando mais e você não pode aceitar por aquele preço.

Como é que a agência ou editora vai fazer para pagar mais a você? Não sei, não é da minha conta. Quem pariu Mateus que o embale.

Agora, clique aqui, pode interessar a você. Grátis.

sábado, 22 de março de 2008

Você tem direito de viver melhor

Nossa colega Beta acaba de entregar à Editora Alfa sua mais recente tradução. Junto, uma mensagem dizendo que para o próximo livro, o preço ia ser outro. Recebeu uma resposta do seu contato na editora, dizendo que de ordem da Grande Manda-Chuva Geral, não se mandava mais tradução para ela: há mais tradutores na praça, dispostos a trabalhar por preços razoáveis.

Acontece que a Editora Alfa anda meio que atrapalhada com essa coisa de tradução. Vivem de traduções, porque a produção de livros originais na especialidade deles é pequena. Então, é traduzir ou fechar a barraca. Mas não querem aumentar as taxas. Querem continuar a pagar o que pagam há anos, que sempre foi muito pouco e, com a inflação, virou quase nada.

Porque ainda há inflação. Menos do que no tempo do Sarney, mas há, sim. Então, periodicamente, temos que aumentar os preços. Aumentar para ficar no mesmo lugar, diga-se de passagem. Porque, sem aumentar, ganhamos cada vez menos.

Todos os trabalhadores têm aumentos periódicos, menos o tradutor. A corrida de táxi aumenta todo ano. Nós, espera-se que fiquemos sempre "na taxa", porque a taxa é X e acabou a história. E, nos últimos tempos, ternho recebido circulares de agências que querem reduzir a paga!

Os clientes – não só as editoras – fingem grande surpresa quando falamos em aumento. Alegam mil razões para não conceder o aumento (eles próprios não dispensam o aumentinho deles, claro, mas isso é outra coisa).

Não adianta pedir aumento: não vão dar. Você tem que se autoconceder aumento e comunicar ao cliente: não é mais possível traduzir a X por lauda; o próximo serviço será cobrado a Y por lauda, mantidas as mesmas características de hoje (antes que venha o esperto e duplique o tamanho da lauda para compensar um aumento de 10% na taxa).

E a Beta achou que estava na hora de declarar aumento. Declarou e pronto. Mas a Grande Manda-Chuva Geral não gostou e disse que não mandava mais serviço para a Beta. É, evidentemente, um cabo-de-guerra: o tradutor diz que não faz por menos, a editora diz que mais não paga.

Entretanto, parece que estamos chegando ao fundo do poço: não dá mais para agüentar: o arrocho está forte demais. As editoras que pagam menos estão também com a corda no pescoço, porque está cada vez mais difícil conseguir tradutores que trabalhem por metade de meio centavo a lauda, como elas querem pagar.

É muito fácil induzir alguém a aceitar a tradução de um livro por quase nada. Mostra-se à vítima o livro e diz-se que, pelos cálculos da editora, são tantas laudas, a tantos reais por lauda dando tantos mil reais. E é um bom dinheiro, coisa que faz diferença no bolso de qualquer um. Então, a inocente aceita. Mas quando vê o tempo que toma e o trabalho que dá, desanima e, muitas vezes, simplesmente desiste no meio do caminho. Ou dá uma grande picaretada geral e entrega. Os tradutores religiosos, ainda fazem uma prece antes de entregar; a maioria, nem isso.

A Beta já é tradutora calejada e conhece os truques do ofício. Já tirou mais de uma editora de encrencas, encrencas em que elas próprias se meteram por terem optado pelo tradutor mais barato, sem pensar em qualidade. Agora, quer colher os frutos do seu esforço, ganhando alguma coisa a mais que quase nada. E resolveu que vai dizer um "não" redondo às ofertas que não atingirem um dado piso. Certa está ela.

Aproveite e dê uma olhadinha aqui onde estão os valores recomendados pelo SINTRA, que, a bem dizer, não são nada nababescos. E vamos iniciar a temporada de dizer não. Aprenda a dizer não aos preços ínfimos.

Faça uma lista dos seus clientes, por ordem de preço. Quando ligar o pé-de-lista, diga que agora o preço é outro. Deixa o cara chorar, arrancar os cabelos, o diabo. Fique firme. Ou ele aceita, ou rejeita. Se rejeitar, agüenta firme que vai ter quem te queira. Se ele aceitar, sai do pé da lista – mas fica outro no lugar, certo? Então esse será o próximo. De degrau em degrau. Sempre. Você tem direito a viver melhor.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Convite

Convido para a palestra eletrônica patrocinada pela SBS sobre Profissionalismo na Tradução. O foco da palestra é o que faz de um bom tradutor um tradutor profissional, ou seja , alguém que tira seu sustento da tradução.

O evento é totalmente grátis e aberto à participação dos interessados. Durante uma semana, entre 20 e 30 de março, o texto da palestra fica na Internet, aberto a comentários e perguntas dos interessados, que vou respondendo à medida que são feitos. Os interessados podem acessar a palestra e fazer perguntas a qualquer hora do dia ou da noite, durante o período.

Sim, eu sei, muita arrogância da minha parte fazer uma coisa dessas.

Para mais informações, clique aqui.

Tradução de dieta para uma criança

Às vezes, o sangue sobe à cabeça. Já fui muito cabeça quente, já fui de passar grandes descomposturas nos que ousavam se opor a mim. A idade me fez mais tolerante (ou mais bobão, como queiram) e hoje sou razoavelmente contido. Mas tenho alguns episódios bons para lembrar.

Há muito tempo, fui chamado ao escritório da vice-presidência de uma multinacional para cotar um serviço. Era terrível, aquilo: não havia fax, não havia serviço de motoqueiro, não havia Internet e a gente tinha de vestir a roupinha de ver cliente, pegar o ônibus, esperar para ser atendido e, muitas vezes, como neste caso, sair de mão abanando.

Fui atendido pela secretária do vice-presidente, que me mostrou três folhas de papel e perguntou quanto custava a tradução, frisando que se tratava de uma dieta para uma criança doente. Falar em criança doente, naquele contexto, significava simplesmente pedir um desconto.

Tenho horror a chantagem emocional. Ou a criança era filha do vice-presidente da empresa e o pai tinha dinheiro suficiente para me pagar, ou o vice-presidente estava fazendo gentileza para com um amigo, caso em que seria recomendável fazer a saudação com o próprio barrete, não com o meu. Quer dizer, presente a gente dá com o dinheiro da gente, não com o dos outros. Caridade pede quem precisa.

Mas essas choradeiras todas, eu faço de conta que não ouço. Olhei, dei uma contada no texto, apliquei minha taxa e dei o preço. Nem me lembro qual era a moeda na época, mas lembro claramente que o preço era 180 alguma coisa. A secretária pegou o serviço da minha mão e, segurando as folhas com ambas as mãos, encostou os papéis no peito, dizendo, por esse preço, faço eu.

Aí, ferveu. Deu vontade de estalar uma bofetada na bochecha esquerda da cretina. A mão, deu para controlar; mas a língua assumiu o comando da situação. Disse um – Então, faça! – com a voz mais serena que encontrei no momento, virei as costas e fui embora sem nem um bom-dia nem o famoso passar bem.

Não dou descontos, mas acho normal que peçam. Até para pedir um desconto, entretanto, é necessário um tanto de boa educação.

Nunca mais me chamaram para nada. Ficou bom para todos: eles provavelmente acharam alguém que ficasse satisfeito com menos, eu me livrei de um cliente casca de ferida. Ou quem sabe a moça fez a tradução, sei lá.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Recadinho no Orkut:

Sou estudante do 2º Semestre de Letras, 22 anos e já tenho Inglês fluente. Dou aula em um cursinho intensivo aos sábados, mas vou ser sincero, tô muuuuito duro de grana. Teria umas dicas no ramo de tradução para me dar...se é que tenho currículo pra isso.

Você tem currículo para ser tradutor? Não sei, nem acho que um currículo, bom ou mau, seja a base para julgar competência tradutória. Talvez você até se dê melhor como tradutor do que como professor, mas isso só testes e tempo podem determinar. E juro que não vou testar o seu trabalho. Entretanto, posso dizer que a tua abordagem ao problema é meio capenga. Sabe, tipo assim, pegar umas traduções porque está duro de grana, sacumé.

Acho que não é bem por aí. Eu vivo de traduzir e não vejo nada de excepcional nisso, mas parece (e me perdoe se estou errado) que você está meio que achando que vai lá, pega umas traduções e resolve o teu problema. Criar uma clientela rendosa de tradução é um trabalho demorado, que exige muita dedicação. Mesmo aprender a traduzir exige muita dedicação e é algo bem diferente de ensinar inglês. Quer dizer, o traduzir pode ser até que muito bom para você, mas não é, assim, um quebra-galho: é uma profissão que vai exigir até talvez mais que o ensino.

Agora, clique aqui que tem mais informações para você e apareça na Palestra Eletrônica da SBS, que é grátis.


Agência de Traduções em Santa Paula da Apocalipse

Um colega me escreve perguntando se eu conheço alguma agência em Santa Paula da Apocalipse, onde ele mora ou está para ir morar. Na verdade, não sei. Mesmo que soubesse, não ia fazer grande diferença. A agência poderia não gostar do serviço dele ou não ter serviço para ele ou, pior ainda, ser absolutamente desonesta.

Felizmente, ele próprio agrega que sabe que, como profissional, vive na Internet. É bom que saiba disso. A toda hora aparece no Orkut, no Yahoogroups ou em minha caixa de correspondência alguém dizendo que onde mora não há muito mercado, ou os preços são baixos ou o que seja. Nosso mercado hoje é um dos mais globalizados que há e não faz a mais remota diferença se você mora em Santa Paula da Apocalipse ou São Pedro da Pedra Preta. Você precisa de uma boa conexão com a Internet. O resto, é ralar e suar.

Aproveito a oportunidade para convidar para aparecer aqui. O funcionamento é simples: eu deixo lá um escrito e você faz o seu comentário ou pergunta e eu respondo como melhor posso. Grátis, sem pegadinhas. Dura uma semana, durante a qual você pode acessar o site a qualquer hora do dia ou da noite.

Danilo, você é um escroto

Danilo, você é um escroto, quem não te conheça que te compre. Mentiroso, farsante, ardiloso, fofoqueiro, insidioso, malicioso, invejoso. Você é um desastre ambulante, poço de preconceitos, ególatra, esquizofrênico. Só anda com crianças, porque sua geração não te suporta. Tem a língua ferina, pobreza de caráter e só sabe semear a discórdia e a dissídia. Você é um crápula, um pulha!

O texto acima é de um comentário de alguém que prefere o anonimato. Para ler o artigo e ver o comentário, clique aqui.

Há algum tempo, duas ou três pessoas reclamaram da "censura ao blog", porque os comentários somente são publicados quando eu aprovo. Respondi que o objetivo da "censura" era evitar spam, que destrói qualquer blog e ataques a honra de terceiros, que se enquadram no Capítulo V do Código Penal. Se cometidos por anônimos, os crimes contra a honra no meu blog redundariam em responsabilidade para mim, o que significa que, se o Anônimo aí em cima dissesse que Fulano de Tal é um escroto… o seu Fulano de Tal poderia me processar. Por outro lado, quando a referência é a mim, não vejo problema em publicar, porque a única pessoa que poderia processar seria eu e eu não vou processar a mim próprio.

Por outro lado, mesmo que soubesse quem é o Anônimo, não ia processar. Conheço meus direitos, sei que poderia processar, mas não processaria, entre outras coisas porque reconheço ao Anônimo o direito de pensar de mim o que bem entende. Quer dizer, no fundo, o Anônimo me deu a chance de demonstrar na prática o tipo de triagem que faço dos comentários, pelo que lhe sou grato. Se mais alguém aqui quiser me espinafrar, esteja à vontade.

A espinafração do Anônimo é, digamos, genérica. É a expressão de uma opinião. Todos têm direito á sua opinião e o Anônimo também. Por que não teria? O problema das opiniões é que não têm resposta. Se eu digo que gosto não gosto de Rock 'n' Roll e você diz que gosta, bom, e daí?

Podemos ficar atirando lama um no outro o dia todo, eu dizendo que você é um bárbaro surdo e você respondendo que eu um cretino incapaz de aceitar a modernidade. Disso tudo, nada se deduz.

Por outo lado, se o Anônimo tivesse dito algo de objetivo, do tipo "em tal e tal situação, você disse ou fez tal e tal coisa que causou tal e qual problemas para tal e qual pessoas" eu responderia. Ou me defendendo, ou apresentando minhas desculpas.

terça-feira, 18 de março de 2008

Inglês jurídico

Toda segunda-feira, nossa colega Luciana Carvalho, que também é advogada e professora, publica um breve texto sobre inglês jurídico numa seção chamada "Migalaw English", no Migalhas, um site devotado ao direito. Vale a pena ler. Ainda está começando e, creio eu, quando ela pegar engreno, vai sair até faisca. Vi a Luciana em ação no segundo congresso da ABRATES e fiquei impressionado. Clique aqui para ler um dos artigos dela.

Resposta a uma mensagem de principiante

… estava começando minha carreira… e tinha muitas frustrações por não ser considerada tradutora pela minha inexperiência. Depois… comecei a trabalhar aqui e ali…

… hoje estou mais inclinada a desistir da carreira. Pode ser que aconteça um milagre e surja uma oportunidade legal que realmente pague minhas poucas contas, mas por enquanto, se quero construir minha independência definitiva, a tradução não me dá espaço.

.… vivo adiando essa decisão de largar a carreira.… quero ter minha vida, me estabilizar o mínimo possível pra ter meu cantinho... É natural, não? E a tradução já provou que é sempre "pingada". Tem trabalho mês sim, mês não. E como as contas vêm sempre "mês sim"...

…quis desabafar algo que queria há muito falar com você. Saber o que você acha disso tudo. Se você já passou por isso, como superou... Enfim, uma ajuda para eu definir o que farei daqui pra frente.


Vamos dizer que a autora da mensagem que me chegou ontem se chame Cláudia. Não se chama, e é por isso que a estou chamando assim aqui. Há que preservar a privacidade do pessoal que escreve. Bom, Cláudia, a sua mensagem não é excepcional. Como você há muita gente.

Há uma diferença entre aprender a traduzir e viver de traduzir. Há poucos empregos de tradutor e a maioria de nós, incluindo eu, trabalha por conta própria. Trabalhar por conta própria exige umas tantas habilidades que não se aprendem na faculdade nem nos livrinhos do Venuti. Exige, por exemplo, investir muito tempo na busca de serviço. No início, esse investimento é enorme; cai, com o tempo, mas jamais chega a zero. Até hoje gasto um bom tempo trabalhando o mercado. Não falta serviço, pelo menos do meu lado, mas fico procurando coisa melhor, porque melhorar é preciso. A maioria de nós detesta esse tipo de tarefa, muitos jamais aprendem. Esse, aparentemente, é o seu ponto fraco.

Já passei por épocas terríveis, também. Era casado, aluguel atrasado, geladeira vazia, roupas precisando substituição. Muitas vezes, o único pão que havia era o que o diabo tinha amassado. Tinha muito poucas opções e resolvi insistir. Deu certo e hoje, se não vivo como um nababo, também não posso dizer que viva mal.

Lamentavelmente, não tenho uma receitinha para conseguir serviço. O sucesso profissional, como diria o Maquiavel, é feito de virtù e fortuna, ou, como talvez disséssemos atualmente, de fatores internos e externos.

Do lado virtù, você escreve bem e, creio, deve ter pelo menos a competência fundamental para se tornar uma boa profissional da tradução, o que já é um bom e largo passo dado. Mas te falta a habilidade de conseguir serviço. Esta, entretanto, está indissoluvelmente vinculada à fortuna, quer dizer, aos imprevistos da vida, Cláudia. E são tantos, que não dá para botar numa receitinha.

O que te posso dizer, a guisa de conselho? Se você tem uma opção, já está melhor que eu, que não tinha nenhuma, e isso deve te dar uma segurança maior: na pior das hipóteses, você vai ser recepcionista e refaz a carreira daí. Isso é ótimo, o ter o Plano B. Eu até digo que ter um bom Plano B é mais importante que ter um bom Plano A.

Mas o Plano A é, realmente, ser tradutora, certo? Então comece dando a você um prazo: ou me estabilizo até o mês tal, ou parto para o Plano B. O prazo, evidentemente, depende de como você consegue manejar as suas contas. Durante esse prazo, participe ativamente de todas as atividades de tradutores. Não só da comunidade do Orkut, mas também das listas do Yahoo. Acompanhe as discussões, candidate-se a todas as ofertas de serviço. Inscreva-se no translatorscafe.com, no ProZ e em tudo quanto for canto de onde possam sair ofertas de serviço. Faça as inscrições grátis. Tem gente que diz que a inscrição paga do ProZ vale a pena, mas acho bom começar pela grátis. E rale, claro; rale até os dedos sangrarem.

Raros são os serviços bons saídos dessas inscrições. Costuma ser muita carne de pescoço. Mas é por aí que se começa. Serviço bom vai para as mãos de quem já provou que sabe, porque ninguém quer arriscar uma desconhecida para traçar um filé.

Por outro lado, tem muita gente que, depois de uns anos do "Plano B" e com uma vida mais estabilizada, resolve atacar a tradução de novo e se sai bem. Nunca se sabe.

Você diz, num dos trechos de sua mensagem que apaguei, que freqüenta aqui o blog. Por isso, provavelmente não precisa da informação, mas os outros novatos que caírem de pára-quedas na mensagem talvez precisem: onde diz "pesquisar blog", lá em cima, digite "iniciantes" e veja o que eu já disse sobre o assunto. Depois, repita com "principiantes". Tem coisas a dar com pau.

Finalmente, um abraço e boa sorte. Eu sei como você se sente, porque já passei por tudo isso. Agüentei o tranco e não me arrependo.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Seguinte: o preço da vaca é cento e vinte

Recebi um convite para participar de uma licitação do tipo menor preço. Quer dizer, convidaram umas quantas pessoas, cada uma dá sua cotação, quem cobrar menos leva.

Não vou apresentar proposta: não participo de licitações em que o único critério para decisão é o preço e acabou a história.

É mediante convite, está bem, já melhora um pouco. Dizem que só convidaram gente boa. Pode ser, mas essa coisa de menor preço, sabe, abre o envelope e diz Alfa: R$ 10,00; Beta: R$ 9,00; Gama: R$ 8.00. Gama ganha, não me desce bem.

A proposta não deve dizer nada mais que Seguinte, o preço da vaca é cento e vinte. Não vai falar nada de métodos de controle de qualidade, de tratamento das emendas ao texto de partida (que certamente vão surgir, porque é um texto dinâmico, sujeito a alterações antes de estar terminada a tradução), de como vão ser tratadas as sugestões do cliente, de preparação de glossários, de nada. Só preço: Seguinte, o preço da vaca é cento e vinte. Não fala de prazo de entrega, de forma de entrega, de apresentação, de nada que não seja Seguinte, o preço da vaca é cento e vinte. Todo o resto, a gente vê depois. Quanto você cobra?

Quero ver se fariam isso para escolher pediatra para o filho deles. Dr. Alfa: R$ 10,00; Dr. Beta: R$ 9,00; Dr. Gama: R$ 8.00. Dr. Gama ganha e cuida do moleque! Meus parabéns!

Diz lá o convite, a folhas tantas, que o vencedor se compromete a executar o serviço e entregar o material de acordo com as especificações fornecidas pelo [CLIENTE]. Agora, ainda que mal pergunte, como raio vou cotar preço primeiro e ver as especificações depois? E se o cliente quiser algo que eu ache absurdo ou completamente em desacordo com o preço cotado?

A gente está sempre reclamando dessas coisas e há muito pouco que possamos fazer: se o cliente pensa assim, que pense, direito dele, mas eu não me meto nessa. Agradeço o convite e tal, mas não vou apresentar proposta.

Não faltará quem apresente. Não há nada que eu possa fazer quanto a isso: cada um é cada um, cada um tem seus problemas. Mas eu simplesmente me nego a participar dessas coisas. Para minha felicidade, já não preciso correr atrás de todos os serviços que me aparecem pela frente. Essa situação privilegiada me confere a obrigação, perante meus colegas, de não me candidatar a certos serviços. Há certas obrigações que é um prazer cumprir.

(Dois artigos num dia só. Estou inspirado, hoje.)

Catástrofes tradutórias

Então, como eu vinha prometendo, a catástrofe tradutória.

Catástrofes profissionais raramente têm um só motivo. É uma porção de coisas que se junta.

Começou com o efeito conjunto de vários serviços complicados que foram comendo a folga que mantenho para desgraças em geral: meia hora aqui, uma hora lá, e a folga se foi. Estava, então apertado, justo.

Dava para fazer o serviço, se tudo desse certo, mas uma porção de coisas deu errado. Não estou me justificando: profissional tem que trabalhar direito e, quando as coisas dão errado, azar meu, não tem nada que ficar se justificando. Mas, embora nem tudo tenha uma justificativa, tudo tem uma explicação: justificativas exoneram da culpa, explicações, quando muito, indicam o caminho para evitar a repetição do erro.

Além de problemas extraprofissionais, coisas do tipo fadiga aqui e doença lá, interrupções e mais mil coisas, houve os estritamente profissionais: arquivos esquisitíssimos, digitados por gente que não conhecia MSWord e que deram um trabalhão, porque programas de memória de tradução, que meu contrato me obrigava a usar, nem sempre perdoam textos digitados por incompetentes. Arrumei o texto, mas o arquivo ficou muito pesado e nem Trados nem WF davam conta. Simplifiquei a diagramação, de modo a poder trabalhar, para depois arrumar de novo. Tudo isso leva tempo – e o tempo não dá marcha a ré.

Para finalizar, acho que eu estava num dia triplo negativo, como se dizia no tempo em que falar em biorritimo era moda, um daqueles dias em que teria sido melhor ficar na cama, quietinho e quentinho, em vez de me meter a tradutor.

Para encurtar a história: a tradução saiu uma porcaria, fato que a revisora, amiga de muitos anos, mas que nunca tinha feito uma revisão de texto meu, não deixou de me apontar, aliás, com toda a razão. Numa das mensagens, manifestou sua surpresa e decepção por ver uma tradução tão mal feita saindo da minha mão.

A bem dizer, nada de admirar: não existem bons tradutores, existem boas traduções. Qualquer um de nós, por experiente e capaz que seja, pode ter um mau momento, seja lá por que motivo for, e fazer uma meleca tradutória de terceiro grau com cobertura de patê de lacraia. Ninguém está livre disso, muito menos eu. Por isso, contratar um tradutor experiente aumenta as probabilidades de se receber uma boa tradução, mas não garante nada. Tradução é como pudim: a gente sabe se ficou bom só quando prova.

Esses maus momentos devem sempre levar a reflexão e medidas corretivas. Não adianta ficar histérico e começar a gritar – Eu tenho X anos de experiência, fiz isto, aquilo e aquele outro!Sou isto e mais aquilo! Quem é você para me criticar? – todos nós, de vez em quando, fazemos uma grande besteira, por que iria eu ser a exceção? Se começar a acontecer muito, está na hora de tirar o time de campo, claro.

E só agora, quando a fervura baixou, é que, examinando o serviço que mandei para a revisora, vi a extensão do problema. De fato, eta serviço porco, meu São Jerônimo! Mas, quando entreguei, parecia até que direitinho. Não brilhante, mas bonzinho. Quer dizer, ninguém é bom juiz de sua própria obra – pelo menos no momento em que a termina. Um tempo depois, ainda pode ser. Mas na hora que terminou, acha que está uma beleza e entrega com o peito estufado de orgulho. Por isso é sempre bom alguém examinar o documento, seja com o propósito específico de revisar, seja simplesmente para ver se está bom. Às vezes, não está.

domingo, 16 de março de 2008

Os prazos curtos, de novo

O problema dos prazos curtos é que não deixam ensancha (*) para resolver problemas. Quando tudo dá certo, ótimo; quando temos um problema, a coisa complica. E, muitas vezes, o serviço vai indo bonitinho, dentro do cronograma e, quando falta meia hora para entregar, surge uma encrenca qualquer. Pode ser problema de computador, pode ser arquivo bichado, pode ser texto enrolado, termo desconhecido, empastelamento (**), quebranto, espinhela caída, bucho virado, o diabo. Mas em meia hora não dá para resolver.

Nos tempos de editora, era mais simples, porque eu corria como doido para entregar o serviço antes do prazo e sempre sobrava uma folguinha para fazer a limpeza final. Com as coisas que faço agora, servicinhos que chegam de manhã e vão embora de tarde, é muito complicado.

Então, a gente reza, reza para as duas santas às quais temos de recorrer, porque São Jerônimo, nessa hora, não serve de muito: Nossa Senhora da Última Hora e Santa Maria do Último Dia. Costumam resolver, mas às vezes o rolo é grande demais. Então, dá meleca.

O pior é que as complicações tendem a vir em fases. Você pega meia dúzia de serviços em seguida, cada um pior que o outro. Dorme menos, descansa menos, trabalha sobre pressão, fica irritado – e a qualidade vai caindo.

Lá pelas tantas, você faz alguma bobagem grossa. E aí, danou. Aí, o cliente que te pediu de joelhos para aceitar o serviço naquele prazo exíguo, porque só você poderia fazer, lembra, altivo, que foi você quem aceitou e, portanto, tinha obrigação de fazer direito.

O melhor, mesmo, é recusar. Ser realista, lembrar que "encaixar" mais este servicinho vai colocar você na zona de alto risco, que você já está exausto, que já não está mais distinguindo a natureza da selva da Ana Teresa da Silva, nem a testa do médico do atestado médico, e dizer não.

Lamentavelmente, de vez em quando a gente se atrapalha, principalmente quando faz muitos pequenos serviços. Se confunde e acaba aceitando alguma coisa a mais do que deveria, no momento em que já estava absolutamente superlotado. E se essa "alguma coisa" der problema, a catástrofe é certa. No próximo artigo, conto uma catástrofe que aconteceu comigo.

(*) Fala a verdade, ensancha é uma palavrinha porreta, não?

(**) Empastelado é um termo que está desaparecendo. Diz-se do texto que ficou bagunçado na composição (atualmente na editoração eletrônica) e, por isso, perdeu o sentido.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Prazos apertados

Tem aí em baixo um comentário da Camilinha dizendo que na área dela é tudo para ontem. Não duvido nem me surpreende. O que me surpreende é ela achar que o para ontem é peculiar a área dela.

Todo serviço de tradução é para ontem. Até as editoras, atualmente, têm prazos apertados, embora ninguém peça a tradução de um livro de 100.000 palavras para hoje de tarde. Ainda não chegaram a tanto.

Só duas vezes na minha vida de tradutor (e olha que já se vão 37 anos) recebi serviços que não eram urgentes. Um deles, jamais foi feito; o outro, o cliente me cobrou depois de 48 horas. Uma vez, recebi um fax dizendo precisamos desta tradução impreterivelmente até 14 horas. Mas o fax tinha sido enviado às 15 horas. Lamentavelmente, perdi essa jóia.

Traduzo notícias financeiras e o serviço é feito por uma equipe de uma meia dúzia de tradutores, que trabalham com a mesma memória de tradução. Quem pegar primeiro, faz. O texto em inglês sai num dia, a gente traduz e vai para a revisão e, depois, para a editoração eletrônica. Tenho a impressão de que é distribuído aos leitores no dia seguinte.

Por que toda tradução é urgente?

Primeiro porque todo serviço, por natureza, é urgente: a gente não leva o carro ao mecânico e diz olha, fica aí, você dá uma olhada quando tiver tempo. Nem diz para o encanador tem um entupimento aqui, quando sobrar um dia aí no teu calendário, vem ver para mim.

Segundo, que a tradução é um dos últimos elos de qualquer cadeia: primeiro você levanta os fatos, depois discute, faz isto, aquilo e, por fim, o relatório que vai ter de ser traduzido. Em cada estágio, há um atraso e, quando chega na nossa mão o serviço, espera-se que tiremos todo o atraso.

Por fim, tem o fato de que pedir urgência não custa nada. Dizer que precisa para ontem, não custa nada. Por isso a turma pede. Durante muito tempo, cobrei taxa de urgência. Quer para amanhã? Dez. Para depois de amanhã? Oito. Depois, acabei embutindo a taxa de urgência no preço. Ou dá para fazer, ou não dá – e acabou a história.

A gente precisa se acostumar a lidar com isso. Mas, de vez em quando, dá meleca. Vamos ver se consigo contar uma história de meleca amanhã.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Prazos - respondendo o recacadinho da Raquel

A Raquel comentou o prazo de entrega mencionado no artigo anterior. O comentário dela vale a pena ler. Mas aqui me estendo sobre o assunto. O cliente parte do princípio – ou finge que parte – de que nós estamos com as mãos abanando e podemos pegar o serviço deles na hora da aprovação e levar até o fim sem parar. Então, um serviço de doze horas, liberado às cinco da tarde, deve ser entregue na manhã seguinte.

Não é assim que funciona, claro. Nós dormimos, comemos e temos outros compromissos. Já que tantas vezes trabalhamos nos fins de semana, coisas como supermercado e até uma volta no shopping para espairecer ficam para o meio da semana. Tem também médico, mãe doente, filho na escola, carro no mecânico e mais mil coisas. Não estamos acorrentados ao computador como dizem que certos soldados foram acorrentados às suas metralhadoras na segunda guerra mundial.

Finalmente, tem também os outros serviços, claro. O cliente te manda cinco laudas e diz, pelo amor de Deus, você não precisa de mais de duas horas para fazer isso. Mas o fato é que você, totalmente lotado, não tem duas horas de jeito nenhum. E o serviço de duas horas precisa de dois dias.

O cliente se irrita – ou faz de contra que se irrita – mas é assim mesmo. Você chama o encanador e ele diz só posso ir depois de amanhã, estou no meio de outro serviço e não posso largar vala aberta e esgoto entupido. Se ele disser isso e realmente vier depois de amanhã, ótimo. O duro é quando diz que vem depois de amanhã e desaparece para sempre na voragem dos tempos.

Ao cotar o prazo, estava, simplesmente, frisando o fato de que a gente só começa quando o cliente aprova o orçamento e pensando na pessoa cuja consulta tinha dado origem ao artigo, uma principiante com zero de serviço. Mas deveria ter sido mais específico. Do lado positivo, temos que a minha falha engendrou um recadinho da Raquel.

Mas, ainda que mal pergunte, como cotar prazos, então? Pode ser do jeito que a Raquel sugeriu, mas eu não gosto, porque meus clientes não costumam aprovar sem ter uma idéia de prazo. Quer dizer, ficamos andando em círculos.

O que eu costumo fazer é dizer algo assim: Esta cotação é válida por trinta dias. O prazo de entrega varia de acordo com a minha carga de trabalho no momento em que a aprovação for recebida. Se for recebida até o fim do expediente de hoje, o prazo será de X dias. Ai o cliente escreve dizendo preciso de três dias para aprovar. E eu respondo sem problema, mas não posso passar três dias recusando serviço enquanto vocês decidem se vão fazer o serviço comigo ou com outro. Nesses três dias pode aparecer um serviço enorme, que inviabilize esse prazo e não posso recusar. Essas coisas mudam de minuto em minuto. O máximo que posso dar de garantia de prazo é três horas.

Também nós temos nossos meiozinhos de pressão.

terça-feira, 11 de março de 2008

Combinar, a gente combina antes

Já faz tempo que não encontro o Tércio. O Tércio tem trauma de tradução. Há muitos anos, quando nós dois andávamos desempregados, alguém pediu a ele uma tradução. Você faz para mim? Eu não sei nada de inglês. Depois você me diz quanto é.

O Tércio fez, caprichadinho. Fez a mão, bateu a limpo na máquina de escrever portátil que tinha em casa (estou dizendo que a historia é velha). Caprichou como pode, leu releu, revisou e trevisou. Foi encontrar o amigo para entregar. Chegou lá, o amigo, todo sorridente, disse Terminou, que bom! Estava esperando. Quanto é?

O Tércio tinha coçado a cabeça para determinar o preço. Pesou e mediu mil fatores, até que chegou a um valor que lhe pareceu justo.

Não me lembro quanto era e nem faz diferença, porque era ainda coisa de cruzeiros e ninguém mais sabe o que isso significa. Mas ele deu lá o preço dele e o amigo respondeu, na lata: Muito caro, não quero. Virou as costas e foi embora, deixando o coitado do Tércio com a tradução na mão e se sentido um perfeito idiota.

Tinha cometido um erro fatal, que muitos iniciantes cometem. Muitos de nós, principalmente os principiantes, se sentem constrangidos quando temos de cotar preço é adiamos a hora o máximo. Quando você entrega o serviço, não tem mais como adiar: aí precisa dizer mesmo. E, por mais justo ou camarada que você considere o preço, quem pediu pode achar um absurdo, um roubo. Ou pode achar que, para ele, não compensa.

Então, a gente combina. Combinar, combina-se antes, quer dizer, antes de começar. Não se pode combinar depois de pronto. Primeiro combina, quer dizer, você diz quanto vai custar e o cliente diz que concorda em pagar, e, depois, você começa.

Jamais traduza uma linha, uma que seja, sem antes ter a aprovação do cliente para o preço. Se for pessoa física, diga que vai dar uma olhada no serviço em casa e passa a cotação via e-mail. E escreva uma mensagenzinha assim Oi, Beta, a tradução das páginas 10-17 do livro "Teeth -Brushing Techniques for Quadriplegic Hens" vai custar R$ X, que eu espero receber contra a entrega da tradução. Entrego a tradução pronta 10 dias depois de você me responder este e-mail dizendo que está de acordo com o preço. Obrigado pelo interesse pelos meus serviços e um beijo.

Quanto mais amigo, bacana, legal, gente fina, "cool", quase uma irmã for a pessoa, maior é a necessidade de sermos formais e profissionais. Se você um dia encontrar o Tércio por aí, ele vai concordar.

Como faturar um cliente no exterior

De vez em quando alguém me pede um modelito de "invoice". Aqui vai uma sugestão, que pode ser modificada à vontade. Depois de preenchida, pode ser convertida em pdf para remessa ao cliente. Os números entre colchetes remetem às observações no fim do texto. Não vá botar esses números na fatura, por favor.

Hortelino Trocaletra [1]
Quality translations – Brazilian Portuguese
accounting, finance, taxation, corporate law [2]

Rua que Sobe e Desce, Número que não Aparece [3]
São Judas Perdeu as Botas
Mato Grosso do Oeste
13131-313

Brazil

Voice: +55 99 9999 9999 [4]
Fax: +55 99 9999 9999
skype: Htrocaletra


Invoice # ACME 01/08 [5]

Date: January 31, 2008 [6]
Customer:
Acme Translation Co.

555 Orchard Street, 10th Floor
New York, NY 10041

Job Name

Job # / PO #

Type of Service

Language

Rate

Hour /Word

Extended

PO Date

Report

499/
ny877

Editing

Portuguese

40.00

12

480.00

12/27/07

Total

480.00


Payment intructions [7]


Payee: Hortelino Trocaletra
Bank: Second Bank of Podunk
Address:
13 East 13th Street
Podunk NY
10022

USA
ABA # 113 113 113
Account # 182 503

Thanks for the assignments!

Notas

[1] É provável que seu cliente no exterior queira pagar você como pessoa física, não juridical. Discuta isso com ele.

[2] Breve descrição dos tipos de service que você presta

[3] Seu endereço postal. Só o "Brazil" vai em ingles. O resto fica em português mesmo

[4] Telefones à moda internacional: um sinal de +, indicando que o cara tem que digitar o que que que se digite onde ele está para fazer ligações internacionais; seguido de 55, que significa Brasil, mais o seu DDD e o número de seu telefone.

[5] Um código de identificação da fatura, dado por você, à sua moda, mas sempre dizendo INVOICE.

[6] Data, nome do cliente, como consta no pedido que você recebeu, seguidos da descrição do service, como estiver no pedido. Varia muito de cliente para cliente. Caso você não saiba "extended" significa "preço total", quer dizer, sua taxa ("rate") multiplicada pelo número de horas, palavras ou o que seja.

[7] Nas instruções para pagamento, os seus próprios dados. Se o banco for no Brasil, precisa do código SWIFT do banco, que só o próprio banco pode informar e que pode variar de uma agência para outra. Se for para enviar cheque, please mail check to … e complete com seu endereço postal. Se for Paypal, é só dar o nome de sua conta.

Não anexe nota fiscal nem RPA, não mande seu RG, CPF nem nada disso.

domingo, 9 de março de 2008

Meu preço é…

A voz no telefone era educada, de alguém com menos de trinta anos. Conhecia meus glossários, tinha lido meus artigos, isto e aquilo, a empresa dele tinha um serviço na minha área, queriam atender bem o cliente, sabia que eu era especialista, essas coisas. Perguntou se eu topava. São situações constrangedoras: o rapaz me cumulava de cortesias e elogios, mas eu sabia onde ia emperrar o carro: no preço. Elogio faz bem para o ego, mas não paga a conta do supermercado. Então, para adiantar assunto, na primeira oportunidade fui logo cantando a bola dos meus preços.

O rapaz levou um susto: como ele ia fazer para me pagar se o que eu cobrava era o mesmo que a empresa dele? Contou uma história, que eu sei ser bastante verdadeira: ele tinha uma empresa no Brasil (recusava-se, como a maioria, a chamar sua empresa de agência. Agência, como todos sabem, é onde trabalha a mãe de quem falou, porque as agências e tal e coisa, aquela conversa que já se sabe). Sua empresa catava serviço no exterior, geralmente de agências (os outros têm agências, ele tinha uma empresa), e repassava no Brasil. Quer dizer, recebia lá o preço que normalmente se paga aos tradutores, tirava uma fatia para pagar as despesas dele e ficar com algum no bolso, e pagava aqui um preço que era, para os meus padrões, baixo demais. Pediu para que eu entendesse a situação, entendesse que não podia pagar mais e pediu que reconsiderasse minha taxa.

Sim, entendo perfeitamente a situação. Mas o fato é que eu tenho uma linha direta com as agências lá fora e, por isso, recebo a taxa integral, sem a fatia do intermediário. Cada vez que aceitasse um serviço dele, estaria rasgando dinheiro, num valor exatamente igual à parcela que ele retinha – que não era pequena. Há quem diga que sou maluco, mas maluco de rasgar dinheiro, já é pior do que sou.

Um ponto aqui fica meio frouxo: essa postura só vale porque tenho bastante serviço. Se tivesse pouco, poderia encaixar o serviço dele na folgas, de acordo com a filosofia de que ganhar pouco é bem melhor que ganhar nada.

Por isso é que fica sempre o conselho: procure serviço sempre, intensamente. Com o tempo, você fica em posição de poder dispensar os que pagam menos. Nada tenho contra quem oferece R$ 0,03 por palavra, mas prefiro trabalhar por quem paga mais pelo meu tempo. Então, peninha, peninha, mas não dá.

O rapaz ficou chateado, comentando que, se todos fossem iguais a mim, ele não teria como manter a empresas aberta. Pois é, talvez não. Mas o fato é que meu problema não é viabilizar a empresa dele, mas sim maximizar os meus rendimentos. Não pedi que ele entendesse isso: seria demais.

Obrigado pela visita. Tomei hoje uma decisões aqui, porque precisava tirar este blog do abandono. Vamos ver se consigo.