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quarta-feira, 27 de maio de 2009

Avisinho

Problemas de serviço vão me impedir de escrever no blogue mais uns dois ou três dias. Você nem imagina o tempo que demora para escrever um artiguinho bobo destes.  

Mas eu volto! Ah, se volto!

domingo, 24 de maio de 2009

A Denise e a Metempsicose Tradutória

Um artiguinho rápido, que tenho quatro dias terríveis pela frente. Nossa colega Denise Bottman está, há tempos, criando um caso de todos os diabos em torno de certas traduções que, anos depois de publicadas, reaparecem no mercado. Até aí, nada de mais. O problema é que, quando re-encarnam, são misteriosamente atribuídas a um tradutor diferente do responsável pela primeira edição. Por exemplo, quando a tradução de Ivanhoé feita originalmente por Brenno Silveira, tradutor conhecido e respeitado, reapareceu, foi atribuída a um senhor chamado Roberto Nunes Whitaker de quem nada se sabe. E a tradução é exatamente igual à do Brenno, um verdadeiro milagre. O caso foi até analisado aqui neste blogue. Um entre muitos casos da epidemia de metempsicose tradutória que atualmente ocorrem no Brasil.

Mas quem empunhou a bandeira foi a Denise, mesmo. Pimenta braba a moça. Depois de criar um caso atrás do outro em seu blogue e ter incomodado mais de uma editora, recebeu da Martin Claret uma notificação extrajudicial. Para quem não sabe, notificação extrajudicial é uma espécie de carta que se manda via cartório, dizendo, em linguagem formal e educada "Moça, a senhora está nos causando prejuízos com essas coisas que anda fazendo. Ou para, ou nós ingressamos em juízo contra a senhora e vai ser o diabo". 

A Denise não divulgou o conteúdo da notificação, mas é sempre mais ou menos isso. Direito deles, claro. O problema é que o tiro pode sair pela culatra. Tenho certeza de que a Denise estava esperando e aposto que até está se divertindo. A moça, como eu disse, é pimenta braba. Já tem o advogado dela para encarar a briga, que promete ser das boas.

Como eu disse acima, a Martin Claret, e qualquer outra editora que se julgue prejudicada, tem todo o direito de fazer uso de notificações extrajudiciais e outros meios legais. Mas fariam melhor se explicassem as coisas direitinho. A Denise é briguenta, mas é, além de tudo, uma mulher educada e inteligente e tenho absolutamente certeza de que, se em vez de ameaças, a Martin Claret tivesse enviado a ela uma explicação bonitinha, demonstrando que está agindo direito e que a Denise pisou no tomate, ela própria ia publicar essa explicação no seu blogue, com um pedido de desculpas. 

Ainda está em tempo. 

Agora, que você já chegou até aqui, vá dar uma olhadinha no blogue da Denise. Deixe um recadinho lá, educado, bem escrito, sem baixaria. E ajude no que puder. O blogue dela mora aqui.






sábado, 23 de maio de 2009

O novo Trados


Ontem, fiz minha atualização do Trados. Sim, eu tenho um Trados, sempre atualizado, desde o Trados 2.0, que vinha em dois disquetes, em 1990 e batatinhas. Uso quase nada, mas mantenho porque muito de vez em quando, aparece um que outro serviço que tem de ser feito com Trados de uma forma ou de outra. E é mais barato atualizar todo ano. 

Continuo achando o Wordfast Classic melhor e continuo usando, inclusive para a maioria dos "serviços Trados". Continuo achando a política de atualizações deles desonesta, continuo achando que a gente começa com WF, usa tanto quanto pode, sempre que pode e pega o Trados de não tiver mesmo jeito. Mas aproveitei a oferta de um desconto e fiz a atualização, entre outras coisas porque eles dizem que vão alterar a política de preços o que, trocado em miúdos, significa que vai ficar ainda mais caro manter um Trados. 

O mais extraordinário é que ninguém sabe muito bem o que vai vir agora no novo Trados: a arrogância da SDL é tanta, que nos fazem comprar nabos em sacos. Que se entenda, tanto o Tag Editor como o WorkBench sumiram, o que vai dar um nó enorme no mercado, porque esses dois programas são realmente os "padrões do setor". Uma jogada muito alta da SDL (dona do Trados). Pode dar muito certo e o novo programa deles, que, como de hábito, promete muito, pode revolucionar o mercado. Mas também pode dar uma meleca tamanho família, porque vai sacudir o paradigma.

Para mim, particularmente, não faz grande diferença, por mil motivos que nem vale a pena discutir aqui agora. Mas logo que eles liberarem o software, vou dar notícias e explicar como as coisas são.

Estou devendo, a vocês e a mim mesmo, uma análise do MemoQ, um programa que está fazendo a alegria de muitos usuários avançados e que está entrando no mercado com uma força extraordinária. Entretanto, não estou em condições, no momento, de fazer a análise que gostaria. Só posso dizer que os donos do programa chamam o bichinho de Memoc, com a tônica no "e", não de "memoquiu", como seria a tendência de dizer neste nosso mundo anglicizado. 

Tenho umas quantas mensagens mandadas pelo formulário para contato que vão gerar artigos para o blogue durante a semana entrante. Lamentavelmente, um bom resfriado (não gripe suína) e mais umas coisinhas me derrubaram e impediram de fazer o artigo nosso de cada dia. Mas, aos poucos, a gente vai levando.

Obrigado pela visita. 

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Wordfast Pro Plus

O Wordfast foi criado como reação ao Trados, que custava, e custa, um dinheirão, consome recursos que é uma barbaridade e, principalmente, tem uma política de preços e atualizações que revolta os usuários. Começou grátis, mas ruim. Era de se esperar que fosse melhorando e que viesse a ser pago — de alguma coisa, o Yves Champollion tinha que viver. Não passava de um suplemento para o Word, com macros que o Yves ia melhorando constantemente.  

Ao chegar à versão 5.x, era já um programa maduro. O que tinha começado como o "Trados dos pobres" já era bem melhor que o seu concorrente mais caro.

Tanto o Trados TWB como o Wordfast, entretanto, têm uma limitação séria: como ambos trabalham acoplados ao MSWord, só se dão realmente bem com arquivos no formato exclusivo do MS Word. Para lidar com outros formatos, mesmo com ppt, por exemplo, a coisa fica complicada, mais fácil no Wordfast que no Trados TWB mas, mesmo assim, a tarefa pode ser inglória. 

Então, a Trados saiu com o famigerado TagEditor, que é uma praga de programa, embora tenha melhorado nos últimos tempos e que encara mais ou menos o que vier pela frente. O Wordfast agüentou o que pode, mas, no fim, teve de ceder e apareceu com o Wordfast 6, que, como o Tag Editor é independente do MSWord e, em teoria ao menos, enfrenta o que der e vier. Tem a vantagem de que sendo em Java, é multiplataforma. Os Macqueiros vibraram.

A alegria parece ter sido curta, porque o Wordfast 6 não funciona bem no Mac e, mesmo no Windows, não é lá essas coisas: está muito cru, ainda.

Então, volta a fita: não vai dar para jogar no lixo um programa como o WF5, bom, querido, maduro, para botar no lugar dele um outro que ainda está, assim, meio adolescendo. Alguém, então, teve a brilhante idéia de rebatizar o WF5 de "Wordfast Classic" e o WF6 de "Wordfast Pro", sutilmente sugerindo que o velho era coisa de amadores. Deu uma confusão dos diabos e vai dar ainda muito mais, como vou mostrar agora abaixo.

Os dois programas são vendidos sob uma mesma licença. Quer dizer, se você pagar com cartão de crédito brasileiro, paga 150 euros por uma licença de uso por três anos de algo que se chama Wordfast Studio, que combina o WF5 (Classic) como o WF6 (Pro). Usa o que quiser ou os dois, tanto faz. Ambos vão continuar em desenvolvimento, mas não sei o que vão fazer quando o WF Classic chegar à versão 5.9999zzzzz, porque não dá para ir para o 6.x sem criar mais confusão ainda.

Até aí, tudo bem. Mas eis que agora nos aparecem com um Wordfast Plus Pro, por um preço especial introdutório de 550 Euros.  http://www.wordfast.com/products_wordfast_pro_plus.html  

Ao que se diz, a Transperfect comprou o Wordfast, está no leme e é ela quem dá as cartas. Não justifica nada, mas explica muita coisa. 

Depois desta introdução, que me pareceu indispensável, embora longa, vamos a umas conclusões e sugestões:

1. A licença trienal do WF Studio, por 150 Euros é um excelente investimento para qualquer tradutor, independentemente do gênero que traduza, desde que traduza línguas que se escrevam da esquerda para a direita.

2. O WF Classic é um programa mais estável e, se você trabalha principalmente com arquivos em formato Word, deve ser sua escolha, deixe o "Pro" na espera. Use o Pro somente se o Classic simplesmente não der conta do formato de arquivo que você está usando.

3. Procure aprender a usar tudo o que o WFClassic tem. Aqui, falo meio constrangido, porque ofereço treinamento e consultoria avançados para usuários de Classic, mas a minha experiência mostra que a maioria esmagadora dos usuários de WF não faz uso nem de 5% dos recursos do progama, o que é uma pena. 

3. O "Plus", é um simples suplemento. O WF Classic não precisa dele e o WF Pro não vai funcionar melhor com ele. O tal do Plus tem uma série de funções importantes para agências, mas que dificilmente vão fazer alguma diferença para tradutores. 

Vamos ver o que vem pela frente. Talvez o Wordfast Pro Plus Platinum, com bordas rechedas de Catupiry. 



[Kelli lentamente voltando à ativa no blogue — a qualidade deve começar a melhorar]

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Pesquisa sobre ferramentas.

A firma de nosso antigo colega Renato Beninatto está fazendo uma pesquisa entre tradutores, sobre o uso de ferramentas de tradução. Não custa dar uma mãozinha. Demora menos de cinco minutos. Clique aqui. Peça para mandarem os resultados para você.


sábado, 16 de maio de 2009

Cobrar pelo original ou pela tradução?

Escreveu Dani Correa:

Olá, gostaria de tirar uma dúvida. O preço cobrado é por folha traduzida ou por folha gerada? Exemplo: uma folha traduzida, se transformou em duas depois da tradução O que é o certo?
 
Certo, Dani, em qualquer negócio é aquilo que você e o cliente entendem e combinaram entre si. O importante, é que você como profissional entenda as implicações de cada sistema de quantificação do trabalho.

Antigamente, a cobrança era sempre por lauda. A lauda era definida como uma folha de papel formato ofício, com três centímetros de margem esquerda e dois de margem direita, algo que as máquinas de escrever faziam muito bem, e com 32 linhas por folha. Era simples: você entregava o serviço, o cliente contava as folhas, multiplicava pelo preço por lauda definido de comum acordo e estava feita a conta. Como era quase impossível quantificar o trabalho do original e facílimo contar as folhinhas da tradução, era um sistema prático e sensato.

Esse sistema foi caindo em desuso porque, atualmente, só os TPICs entregam serviço em papel e, mesmo eles, deixaram há anos de usar sua formatação habitual (Courier 12, espaço duplo) para acompanhar a formatação do original. A nossa tribo é conservadora, Dani, e tem muita gente que, até hoje, não entende que tradução se possa cobrar de alguma forma que não seja por lauda. Inclusive, gente de menos de 30 anos de idade, que provavelmente nunca viu uma lauda de verdade na vida. Começou uma longa, metafísica e esotérica discussão sobre o que seria uma lauda, em termos de computador, apoiada, inclusive em um parecer preparado pelo Professor Dr. Francis Henrik Aubert, TPIC e professor da USP (e meu amigo há coisa de trinta anos, mas isso é outra conversa). Isto, lá para quem faz juramentada, tem muito significado, porque são obrigados a cobrar por laudas da língua de chegada. 

Para nós outros, não é um problema relevante: o que importa é entendermos o sistema e termos certeza do que o que vamos receber é aceitável.
O sistema de quantificação baseado na língua de chegada tem a desvantagem de que cria insegurança para o cliente, que só sabe quanto vai pagar quando o serviço está completo. Internacionalmente, cada vez mais, por isso, o pagamento é baseado no texto de partida. Por exemplo, o cliente diz "Tenho 10.000 palavras em inglês, para traduzir ao português, quanto você cobra?" Ou, então, "Tenho 10.000 palavras em inglês, para traduzir ao português, pago X por palavra do original. Você aceita?"

Há quem diga que esse método trabalha contra o tradutor, porque o texto em português é sempre mais longo que o texto em inglês. Discordo totalmente. Como profissional, você deve saber disso e de outras coisas e fazer um ajuste apropriado em suas tarifas. 
Por exemplo:

Digamos que sua taxa normal seja R$ 0,10 por palavra da língua de chegada. O cliente vai mandar a você um texto de cerca de 10.000 palavras. O português deve dar uns 20% a mais. Quer dizer, o português vai dar umas 12.000 palavras. Isso significa que, para traduzir esse texto, você vai ganhar coisa de R$ 1.200,00. Certo? Agora, se o cliente quiser cotação pela quantidade de palavras que ele tem lá, sob as vistas dele, tudo bem. A gente cota como o cliente quer. Mas, para você ganhar os mesmos R$ 1.200,00, vai ter de cobrar R$ 0,12 por palavra. No princípio, a gente se sufoca um pouco, mas logo se acostuma. Eu não cobro por texto de chegada desde o século passado e não tenho me dado de todo mal.

Aproveite, já que está aqui mesmo, e clique nos marcadores "TPIC" e "Lauda", aí do lado, que tem muita coisa de interessante para você.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Mais uma que acha que não precisa de memória de tradução

Comentário ao artigo anterior:

Sei que sou aguda na hora da crítica mas eu consigo traduzir mais rápido do que passar por essa manipulações eletrônicas...WF + Google Translate + revisão + glossário...o Tempo que isso leva...já ganhei a corrida. A maioria das vezes tradução para mim é "bater" a máquina...Ja-ne...

Ah, bom, mas eles demoram muito menos para fazer tudo isso do que a maioria das pessoas pensa. 

Tenho uma amiga que passou  anos me explicando, meticulosamente, como e porque ela traduzia mais depressa direto do que usando essa tralha toda que eu usava. Até que pegou um WF, testou e hoje é usuária compulsiva. Temos também um colega que várias vezes me explicou, também com grande precisão, que essas ferramentas eram um desperdício de tempo e, depois de aprender WF (poderia ter sido outro programa) agora é um paladino das memórias de tradução. Mas isso, a rigor, não quer dizer muito. 

O que é importante é que programas de memória de tradução fazem muito mais do que simplesmente dar sugestões. Dependendo do serviço, variam de úteis a indispensáveis. 

Só para dar uns poucos exemplos, qualquer ferramenta de memória de tradução ajuda a preservar a formatação do original e me exime da necessidade de digitar números. Só por isso, para mim, já chegava. Mas esses programas são indispensáveis para lidar com esses formatos novos que estão cada vez mais comuns, como html e xml. Mas mesmo para as situações de texto corrido, sem tabelas, sem grandes problemas de formatação, a possibilidade de em um instante ver as sugestões todas já me ajudou muito em várias ocasiões. Finalmente, há as situações de pura repetição, onde a memória ajuda muitíssimo.

Muito depende, também, da capacidade de cada um. Tradução, para mim, não é só "bater a máquina". É um processo penoso de análise de opções para escolha da melhor e a minha memória de tradução enorme me dá inúmeras sugestões úteis, que têm ajudado a melhorar a qualidade de meu trabalho. Talvez eu esteja mais próximo da média dos tradutores.

Quer dizer, para mim, ao menos, o programa ajuda a traduzir mais rápido, mas - e principalmente - ajuda a traduzir melhor. É por isso que uso para todas as minhas traduções.

Mas a sua resistência é compreensível. A resistência à inovação é normal e comum. Nestes anos todos de tradução, lembro-me desde o tradutor que apresentava serviço manuscrito, porque era "tradutor, não datilógrafo", até o que não usava computador "porque era excelente datilógrafo", ao que não precisava de memória de tradução "porque tinha excelente memória". São casos que já contei mais de uma vez, mas que sempre me servem de exemplo.

Quem não se atualiza, fica restrito a nichos cada vez menores e, finalmente, é alijado do mercado. 

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Escreveu a Martha

Oi Danilo,

Participei de sua aula no dia 9 de maio e gostei muito. Queria perguntar uma coisa: trabalho principalmente com tradução de livros do inglês e do francês para o português. Estou interessada em aprender a usar as ferramentas de tradução que vc mencionou. Mas penso não ser possível, pois os livros vêm impressos, e creio que não teria como usar memória de tradução se o texto na língua original não está no computador. Haveria alguma maneira de resolver este problema? Um abraço, Martha 

Muito tradutor de livros já usa essas ferramentas, Martha, e há várias soluções para o problema do arquivo em papel.

  1. Editora pede o arquivo para o editor do original. Se vier em Word, melhor, mas pdf também resolve. Aqui, precisa ter cuidado, porque onze entre dez editores pensa que ferramentas de tradução prejudicam a qualidade. Nesse ponto, as agências estão bem mais adiantadas.

  2. Você tira xerox do livro todo (formato A4) e faz reconhecimento ótico usando um programa comercial de OCR, como, por exemplo, o Abby Fine Reader ou o Omni Page. Esses programas digitalizam tanto papel quanto arquivos pdf.

  3. Você encomenda a uma digitadora a transcrição do livro todo.

Nos primeiros dois dias, você provavelmente vai me amaldiçoar. Mas logo que pegar o jeito, vai se arrepender de não ter começado mais cedo.

 

Que língua estudar, para Tamara, da UNESP

Escreveu a Tamara:

Sou estudante de Letras, estou em meu 1° ano na Unesp/Assis e já no final deste 1° semestre devo optar por qual língua estrangeira estudar até o final do curso. O caso é que eu quero ser tradutora e isso está influenciando na escolha do idioma. Gosto muito mais do espanhol do que do inglês, mas o senhor acha que há muitas oportunidades para a tradução em língua espanhola como há para o inglês? Gostaria muito de trabalhar traduzindo novelas e filmes português/espanhol e vice-versa, sei que essa não é a área na qual o senhor atua, mas o senhor tem mais noção disso do que eu e poderia me ajudar a esclarecer essa dúvida que tanto me atormenta! (não estou exagerando!). 

Tamara, só para argumentar, vamos imaginar que "espanhol" e "inglês", no se caso, não sejam línguas, mas sim as nacionalidades de dois de seus pretendentes. Você pode casar com um ou com o outro, ambos são legais, mas você gosta muito mais do espanhol do que do inglês. Entretanto, no momento parece que o inglês tem um futuro profissional mais brilhante.

Você está perguntando com qual dos dois deve casar. Porque a gente, de certo modo, casa com a língua que traduz, convive com ela e seus falantes, visita o país onde ela é falada, lê jornais e livros escritos nela, essas coisas. Você estar abraçada com o inglês, vendo aquela assanhada da sua maior inimiga toda agarrada com o espanhol, é um sofrimento.

Pior: essas coisas profissionais mudam, Tamara. E, da mesma forma que o espanhol pode ganhar numa loteria qualquer e ficar podre de rico, o inglês pode dar um azar desgraçado na vida, entrar em depressão e estar um trapo de marido aos trinta anos, fazendo a infelicidade da terceira mulher. Prever o futuro é impossível. 

Falando do ponto de vista estritamente profissional, o mercado de inglês é maior que o de espanhol, mas também tem muito mais tradutores. Isso significa que quem é realmente bom, tem iguais chances de se profissionalizar tanto no inglês como no espanhol. Realmente, não vejo problema e tenho muitos colegas de espanhol que estão lotados de serviço. Acabou aquela ideia de que "espanhol todo mundo sabe e qualquer um traduz". Felizmente - e não me parece que isso tenda a mudar.

Dois comentários finais, para você e para todos os que lerem este artigo: 

Primeiro, que, dada a preeminência da TV e do cinema na nossa cultura, onze entre cada dez tradutores iniciantes ou pretendentes a tradutor esperam traduzir filmes, novelas e quejandos. Não estou dizendo que você, especificamente, não consiga chegar lá. Mas cabe dizer que essa é uma fração do mercado e o grosso do serviço, em qualquer par de línguas, é constituído por tradução pragmática (comercial, técnica, jurídica, médica…), em qualquer país do mundo e em qualquer época da história. A tradução de filmes e coisas assim aparece muito e está crescendo, mas ainda representa e, creio, vai sempre representar, um volume menor que o da pragmática. Mais de 90% dos tradutores jamais traduziram um filme ou literatura na vida. Eu nunca fiz nada disso e estou satisfeitíssimo com a profissão. Preciso escrever alguma coisa sobre esse assunto, um dia desses. 

Segundo, que para ser um bom tradutor, aprender a língua estrangeira é essencial, mas nem de longe o suficiente: é igualmente importante dominar a própria língua. Você escreve bem, Tamara, mas, como tradutora, vai ter de aprender a virar o português do avesso, porque vai ter de adaptar o seu português "natural", o jeito que a Tamara escreve, para o estilo do original, que pode ser muito diferente do seu. E, se você se dedicar ao espanhol, o problema é piorado pela semelhança entre as línguas: quanto mais semelhantes as línguas do seu par, maior a chance de contaminação. Quer dizer, estude espanhol como louca e português como louca e meia.

E, assim, você chega lá.

Ah, prefiro ser chamado "Danilo", mesmo, sem "senhor". Por favor.

domingo, 10 de maio de 2009

Apostila de concurso para TPIC

Um colega deixou um comentário perguntando sobre a apostila para concurso de TPIC. A apostila a que me referi mais de uma vez aqui não é minha, é do Professor Dr. Francis Henrik Aubert, da USP, que também é TPIC.  

Os interssados devem escrever para a Sandra Cunha, ou falar com ela pelo telefone  +55 (11) 3091-3764.

A apostila se refere fundamentalmente ao inglês.

sábado, 9 de maio de 2009

Este mundo é cheio de coincidências, não é?

Nosso serviço de inteligência apurou que a matéria da revista Época sobre tradução, em 9 de maio de 2009, com especial destaque para a All Tasks, (com direito a foto sorridente de sua proprietária) a IBM e a Lionbridge é curiosamente semelhante a uma publicada pelo Valor Econômico em 15 de janeiro do mesmo ano.

Aqui estão as duas, para você comparar e tirar suas próprias conclusões. Época e Valor Econômico.  O artigo inicial do blogue sobre o assunto está aqui. Deixe sua opinião aqui abaixo, mas lembre-se de que Honi soit qui mal y pense. 

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Concurso para TPIC em Minas Gerais

Houve lá o tal do concurso para TPIC em Minas.


Muita gente reclamou porque o número de vagas era restrito e a eles parecia que, não sendo o TPIC remunerado pelo Estado, conviria aprovar e nomear todos os que tivessem alcançado nota superior a um determinado mínimo. Nisso, há muito de razão, mas os TPICs atuais (e mesmo os aprovados) hão de julgar que já há TPICs demais para tão pouco mercado.


A outros pareceu estranho o fato de que os textos a traduzir existissem na Internet, achando que lá isso tinha um cheiro de maracutaia, mas em si, não significa muito. Por um lado, há milhões de textos na Grande Teia e não se poderia adivinhar qual seria; por outro, mesmo que o texto tivesse sido escrito pelos próprios examinadores, não se poderia dizer que isso garantisse o segredo. Mas, claro, fala-se, muitas vezes só pelo falar mal das autoridades. Não que nossas autoridades sejam uns santos, mas também nem tudo o que fazem é errado ou desonesto.


No fim das contas, os aprovados comemoraram, os reprovados reclamaram, o que faz parte do jogo e sempre foi assim, desde que o mundo é mundo. Um grupo de tradutores nomeados ad hoc (pronuncia-se "adoque"), treze, ao que se diz, todos reprovados, resolveu contratar um advogado para anular a prova. Isso é absolutamente normal. Mesmo que o concurso tenha se realizado com a maior lisura, quem perde apela para o tapetão.


Aqui em SP, no último concurso, ainda no século passado, houve vários recursos, deu notícia de jornal e tudo. Um dos recurrentes se dizia  competente, tinha estudado e vivido no exterior, o escambau. Foram revisar a prova e notaram que a figura confundia “where” com “were”, entre outras coisas. Vexame geral, mas já passou e caiu tudo no esquecimento, a grande lata de lixo da história.


O interessante, neste caso, é os ad hocs serem os autores da reclamação.  Ad hoc é nomeado sem concurso. Não quer dizer que sejam incompetentes, mas é um absurdo, falha geral do sistema, até porque muitos estão há muito tempo adocando (se me permitem o neologismo) e ad hoc deveria ser realmente para casos excepcionais. 


Os maiores beneficiários do concurso deveriam ser os ad hocs, porque, com sua experiência, deveriam ser os primeiros colocados e regularizariam sua situação. Como foram reprovados, não sei. Mas leva a pensar um pouco sobre muitas coisas, mas duas em especial: que exame é esse, onde treze profissionais experientes são reprovados? Ou, que profissionais são esses, que a despeito de sua experiência, foram reprovados no exame de admissão à profissão que exercem? Quer dizer, alguém tem que explicar alguma coisa.


Estou eu (e muito mais gente) morto de curiosidade por saber o resultado e até mesmo por  saber o que  está acontecendo agora. Mas a Junta Comercial do Estado de Minas Gerais, discreta como boa mineira, está de bico calado. Então a gente espera. Enquanto isso, espera também o concurso em Santa Catarina e, ao que dizem, no Rio de Janeiro. O do Rio deve dar muito pano para mangas, se eu sei como as coisas são. Em outras épocas, daria até marchinha para o carnaval. 


Por hojem, é só. Veja, aí do lado, rolando, o convite para a Sala 7.


O Blogger está brincando comigo hoje. Ah, a Kelli está de volta. Doravante, todos os erros são responsabilidade dela.



Reunião na Sala 7

Sábado que vem, dia 9 de maio de 2009, temos mais uma Reunião na Sala 7. O tema será "O Tradutor Profissional Hoje: Como lidar com as novas tecnologias e seus efeitos sobre nossa situação financeira", aproveitando a deixa da reportagem publicada na Época e comentada no artigo anterior. Vamos discutir como ficam as coisas para o nosso lado, com todas essas tecnologias novas que estão aparecendo por aí e com a evolução da tal da crise financeira mundial. 

A Reunião na Sala 7 é grátis e todos são bem-vindos, desde os veteranos mais cascudos até os pretendentes a tradutor. Para participar, increva-se aqui e apareça no sábado, às duas horas. Para participar, você precisa de um computador que rode Windows, uma conexão com a Internet e fone de ouvido ou altofalantes. Não precisa microfone: você participa via chat. Venha, é divertidíssimo. Ou pelo menos eu acho que é.

Fico muito grato a quem puder repassar a mensagem a outros grupos interessados.

domingo, 3 de maio de 2009

Artigo na revista Época

A revista Época 472, 4 de maio de 2009, traz na página 134, um artigo sobre tradução, com direito a palpite do meu particular amigo Renato Beninatto, fundador da lista trad-prt. Vale a pena ler.

O artigo difere do usual, porque se concentra na aplicação tecnologia, assunto que interessa a todos nós.

Começa com algumas informações genéricas, já conhecidas de todos nós. Mas na terceira coluna, aparece uma informação interessante, falando de tradução de manuais de instruções, contratos de negócios, vídeos institucionais, quer dizer, do mercado onde opera a maioria de nós, o exército oculto, cujo nome raramente aparece nos jornais. Diz lá que essa é a maior fatia do mercado (o que eu venho dizendo aqui desde que comecei esta lengalenga de blogue, quem sabe agora que saiu na revista, acreditam em mim) e que, no último trimestre, cresceu 85% em relação ao mesmo período do ano anterior. 

Entendeu? Com crise e tal, cresceu 85%! E vem o diabo da agência chorar que, com a crise, falta serviço e é necessário cortar nossa paga. A All Tasks espera vender R$ 7 milhões este ano. Deus que os ajude e não se esqueça de mim, como dizia minha mãe.

Lá pelas tantas,  Sávio Levi, diretor de operações da Lionbridge no Brasil, afirma “O principal desafio no Brasil hoje é encontrar mão de obra qualificada. Em 120 testes que fizemos no ano passado, aprovamos menos de 10% das pessoas” . Isso é uma afronta à categoria, um insulto. Perdeu uma excelente oportunidade de ficar calado. Tradutor bom é o que não falta. O que falta é agência disposta a pagar bem. Paguem melhor que chove gente boa. Conheço muito tradutor bom que se recusa a trabalhar para as agências brasileiras, porque encontrou clientes diretos aqui e agências lá fora que estão dispostos a pagar mais. A isso se chama concorrência. As agências concorrem pelo nosso trabalho e fica com ele quem mais paga. Só isso.

Tem um trecho com um tanto de baguncinha intelectual quanto ao uso de ferramentas de tradução. Não sei se proposital ou o simples fruto da tentativa de comprimir o máximo de informações em um espaço insuficiente.

Fiz várias experiências, muitíssimo bem-sucedidas, combinando WF, um poderoso glossário e Google Translate. Fiz com inglês, mas deve funcionar com outras línguas. Mas funciona assim: O WF abre um segmento (quer dizer, um período), procura na memória, se não encontrar nada, pede para o Google Translate, e eu reviso o segmento, com apoio do meu super glossário. Quando está direitinho, eu aprovo o segmento e vamos em frente. Fica, realmente bom e é rápido. Se mandar para um revisor, ele jamais vai saber que eu usei o G-Translate como apoio.

Mas mandar o G-Translate traduzir a meleca toda e mandar para o revisor não dá, porque sai esta meleca. Revisar essa porcaria é impossivel: tem de fazer de novo. Por favor, não me venham de borzeguins ao leito.

O último parágrafo  me parece bobagem pura. Aliás, já temos gente boa fazendo tradução literária usando WF + Google Translate e satisfeita com o resultado. Mas vai demorar até a turma se dar conta disso.  Claro, precisa revisar — mas toda tradução automática precisa de revisão cuidadosa. 

O fato é que tradutor costuma ter pavor de tecnologia e essa é uma das maiores falhas da profissão. Não tem que ter medo, tem que aprender a usar, tem que dominar. Não dar uma de avestruz. Tem que aprender a usar e ser melhor que a ferramenta. Essa é a realidade.  Veja que, com toda a tralha que a All Tasks tem, a dona se queixa da falta de mão-de-obra. Quer dizer, ainda somos nós a chave do problema, o fator escasso. 

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Este artigo foi alterado para agregar as contribuições de dois leitores, um que me mandou um link que funcionava para a reportagem e outro que corrigiu um erro de atribuição. A ambos, nossos agradecimentos. Um blogue se faz de muita coisa, inclusive de leitores atentos e dispostos a colaborar.