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terça-feira, 30 de outubro de 2007

Excessos pronominais (2)

Ontem, falei de excesso de pronomes nas traduções para o português e da dificuldade de recomendar ao tradutor que não traduzisse todos os pronomes, sendo que ele era pago pelo volume de tradução e, portanto, ganhava para botar todos os pronomes. Quer dizer, se eu pedisse para ele não traduzir todos os pronomes, estaria, ao mesmo tempo, pedindo para que se conformasse em ganhar menos.

Pelo menos à primeira vista é assim. Mas talvez não seja. Com um pouco de treino, a gente aprende a não traduzir os pronomes desnecessários. Quer dizer, não tem mais que traduzir e apagar, o que significa que temos que digitar menos e, portanto, terminamos a tradução mais rapidamente. No fim, o que se ganha por dia deve ficar pelas mesmas alturas e a qualidade da tradução melhora. Explicar isso é meio complicado, porque, certamente, para traduzir um certo texto mantendo todos os pronomes recebe-se mais do que para fazer o mesmo texto sem tanta pronominalhada.

Além disso a maioria dos tradutores morre de medo de ficar sem serviço e estica tanto quanto pode o que lhes cair nas mãos. Nesse sentido, no de se manter ocupado, traduzir todos os pronomes, desenvolver todas as abreviaturas, escrever todos os números por extenso e coisas que tais é uma excelente tática. Quando comecei, era o tempo da máquinas de escrever e me ensinaram várias técnicas para encher lauda, mas que prejudicavam a qualidade da tradução. Por exemplo, se o original dizia in 1970, the company's earnings totalled X, em vez de traduzir por em 1970, os lucros da empresa totalizaram X, o conselho era para traduzir por no ano de 1970, os lucros alcançados pela empresa atingiram o valor de X (72 caracteres, em vez de 43).

No princípio, quando tinha longos períodos de pouco serviço, vamos falar a verdade, fez falta uma esticadazinha. Mas, a longo prazo, foi um bom investimento, porque serviço bem feito atrai mais serviço e, além disso, serviço mais bem pago.

Pense nisso a próxima vez que resolver encher um pouco de lingüiça.

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O calendário de cursos a distância Aulavox sofreu um atraso, mas deve estar no ar amanhã.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Excessos pronominais

Já fiz muita revisão, para agências americanas e européias, mas para brasileiras, nunca. Outro dia, chegou a vez. Vou poupar você dos detalhes, para me deter num dos pontos que me chamou mais atenção: o fato de que todos os pronomes ingleses tinham sido traduzidos pelos seus homólogos portugueses. Se você ainda se recordar de suas aulas de inglês, vai se lembrar de como achou estranha a exigência de um sujeito explícito em cada frase. Onde o português diz não vi e não gostei, sem pronomes, o inglês precisa de I did not see it and I did not like it, com dois pronomes.

Essa é uma lição a aplicar na tradução do inglês para o português: tomar tento nos pronomes ingleses, porque não precisamos de todos eles em português, e ver quais precisam ser realmente traduzidos e quais podem ser omitidos. Entre a tradução e a omissão, há a transposição, como você provavelmente sabe, mas não vou falar nisso agora. Vou dizer que não é boa praxe traduzir todos os pronomes do inglês por pronomes do português. Mas lá o tradutor da agência traduzia todos. Todos, sem exceção. E o texto ficava horrível. Como era minha obrigação, fui cortando pronomes a torto e a direito – e, creio, só com isso já dei uma boa melhorada no texto.

A tradução estava sendo entregue em prestações e me deu gana de escrever para o tradutor para discutir o assunto. Depois, me lembrei que as agências americanas e européias com que estou acostumado pagam com base no número de palavras do original. Isso quer dizer que, para traduzir um certo texto, você vai ganhar X, com pronomes ou sem pronomes. Por outro lado, as agências brasileiras pagam de acordo com o volume da tradução (caracteres, toques, palavras, o que seja), o que significa que para cada pronome, que tem duas ou três letras, o tradutor ganha tanto como para digitar anticonstitucionalissimamente, se é que essa sucuri verbal foi alguma vez usada por alguém para alguma coisa.

Em outras palavras, se o tradutor deixasse de traduzir todos os pronomes, como manda a boa praxe, a qualidade da tradução ia aumentar, mas o pagamento ia se reduzir.

Ainda volto a este assunto, mas este artigo já está longo demais.

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O calendário de cursos a distância Aulavox vai ser postado hoje, mais tarde.

domingo, 28 de outubro de 2007

Traduzir é uma festa!

Quase tudo o que eu traduzo são finanças, o que causa alguma curiosidade entre os que têm cardápios de tradução mais variados e dos que traduzem literatura.

Perguntam se não acho o assunto muito árido e repetitivo. No principio, achava árido e repetitivo, sim. Mas árido é aquilo que você não entende e, no princípio, não entendida nada daquilo. Quanto mais aumentava meu entendimento do assunto, menos árido ficava. Comecei a entender diferenças sutis entre textos que, aparentemente, diziam exatamente a mesma coisa.

Durante muitos anos, boa parte do meu trabalho foi traduzir par o inglês os balanços de empresas estrangeiras e os pareceres de seus auditores. Os pareceres de auditor parecem todos iguais, mas não são. E diferenças de redação que parecem mínimas para o leigo são significativas para quem entende. No resto do texto, era interessante ver como as empresas apresentam seus sucessos e fracassos ao público leitor e como procuram o lado positivo do que quer que lhes tivesse acontecido ou tivessem feito.

Também traduzi para o inglês muito material sobre tributação, uma das coisas mais complicadas que já me caíram nas mãos, porque não há dois países com sistemas tributários iguais e explicar o sistema de qualquer país para quem só conhece o do seu. Lembra aquela história dos tradutores da Bíblia que tinham que traduzir textos sobre um povo que vivia no deserto para povos que viviam na floresta ou no gelo e não tinham a mais remota idéia do que fosse um mar de areia e se perguntavam se aquila história toda de tenda e camelo era verdade ou mera invencionice.


As repetições e quase-repetições, que não são poucas, à medida que fui me tornando mais experiente, me ajudaram a polir minhas traduções. Sei que alguns colegas desenvolveram ainda no século passado, um glossário e aplicam sempre as mesmas soluções, mecanicamente. X se traduz por Y e acabou a história. Ganham dinheiro, mas eu não consigo trabalhar assim. Cada repetição, cada quase-repetição, é uma chance de melhorar um pouco a última tradução que dei para a mesma frase. Não é mudar por mudar, é aproveitar a experiência para fazer melhorar, é mudar sabendo porque muda.


Traduzir é uma festa. Não importa o tipo de texto.


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sábado, 27 de outubro de 2007

Uma tradução perfeita

No Orkut apareceu uma oferta de trabalho e o solicitante exigiu "tradução perfeita", exigência que, digamos, causou espécie e algumas reações apaixonadas.

Nunca fiz uma tradução que eu considerasse perfeita mais de cinco minutos depois da entrega ao cliente.Isso é que eu chamo teoria heraclítica da tradução. Lembra daquela história de que não se atravessa o mesmo rio duas vezes, porque nós próprios evoluímos e mudamos ao atravessar o rio e, ao reatravessar, somos diferentes? Pois é. Acontece o mesmo com a tradução. Você traduz, qualquer coisa, não precisa ser nenhuma obra-prima, e, nesse traduzir, se aperfeiçoa. Ao revisar a primeira vez, já conta com uma experiência que não tinha antes e, por isso, corrige as escorregadas, mas também o que, na primeira vez, pareceram acertos. Ainda bem que tem prazo para entregar. Se não houvesse, a gente ia continua dando só mais uma revisadinha até o dia do juízo final. Tem que mandar para o cliente, benze e manda. Mas se, no dia seguinte abrir de novo, não vai gostar do que fez. Se gostar, se achar perfeito, tem alguma coisa errada com você.

Por outro lado, tem o fato de que precisa saber aos olhos de quem a tradução tem de parecer perfeita. Existe um tanto de subjetivo na avaliação de qualidade de traduções. Pode parecer irritante, mas são essas subjetividades que os teóricos formalizam nos seus escritos. Falando, digamos, mais academicamente, a pergunta talvez fosse: perfeita de acordo com que teoria? Porque a aplicação de diferentes teorias resulta em diferentes traduções. Se não resultasse, para que, então, diferentes teorias?

Você pode dizer que o tradutor tem de ser respeitado em suas teorias. Claro, tem. Mas a pergunta é a seguinte: imagine um cliente, seja um intermediário como uma agência de traduções, ou um cliente final, digamos, uma empresa ou escritório de advocacia. Digamos que esse cliente recebesse uma tradução e, na leitura, lhe parecesse que a tradução está falha. O cliente liga para quem traduziu e diz que não gostou. Quem traduziu aparece no escritório do cliente no dia seguinte, com meia dúzia de trabalhos acadêmicos sobre teoria que dão todo apoio teórico à sua tradução. O cliente fica impressionado e se perguntando "será que eu sou burro?" e ligou para uma pessoa conhecida que ensinava teoria da tradução em uma faculdade e que, sendo partidário de outra teoria, caiu na gargalhada: "você foi vítima da turma do polissemantismo desagregacional unificado, uma teoria que tem lá seus defensores, mas são todos uns malucos. As traduções deles são um horror. Deve ter estudado na Faculdde X, onde se ensina essa idiotice, entre muitas outras. Lá na Y, onde eu dou aula, a gente procura fugir dessas doideiras. Pura masturbação mental. Joga fora a tradução e dá graças a Deus que você percebeu."

No lugar do cliente, o que você faria? Ou será que você pensa que acadêmicos não discordam?
Por hoje é só.

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quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Listas de erros de tradução hilários

Já falei aqui de listas de erros de tradução, listas de traduções hilárias, daquelas que a gente vê ou ouve, morre de dar risada e, depois, compartilha com os amigos, posta nas listas do Yahoogroups ou no Orkut? Nunca, não é? Pois é. Aqui, nos meus artigos ou palestras, você jamais vai topar com uma delas. Acho o cúmulo da parvoíce ficar fazendo coleções de erros no serviço dos outros. Principalmente quando quem faz a lista é profissional da tradução.

Será que as pessoas que ficam catando esses erros no serviço alheio não ganhariam mais procurando erros no que elas escrevem? Será que são perfeitas? Será que nunca escreveram uma cretinice na vida? Como diziam para a gente, antigamente, não sabem que macaco deve primeiro olhar para o próprio rabo? Será que o compilador da lista gostaria que seus erros fossem tratados assim, com ridículo e escárnio?

Não nego que haja maus tradutores. Há, sim, montes deles. Tradutores horríveis. E, também, erros horríveis cometidos por tradutores que não são tão maus assim e até por bons tradutores, que ninguém é perfeito. Mas – que diabo! – que coisa mais constrangedora isso de ficar ridicularizando os outros.

Antes de fazer ou passar para frente uma lista, ou de se matar de rir com uma delas, lembre que a próxima delas pode incluir um dos teus próprios erros. Lembre, também, que achar erros no serviço dos outros é bem mais fácil que fazer serviço perfeito.

Por hoje é só.

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quarta-feira, 24 de outubro de 2007

O tradutor e o revisor

Para não dizerem que só falo em dinheiro, gostaria de contar a história de uma colega que trabalhava como tradutora em um órgão do governo americano. O bordão predileto da chefe dela era lembre-se de que o que você traduz aqui hoje pode aparecer amanhã na primeira página do Washington Post amanhã. Nunca saiu, mas é uma boa idéia ter essa frase em mente.

Mesmo que você saiba que seu texto vai ser revisto, faça de conta que não vai. Faça de conta que vai aparecer na primeira página dos jornais de amanhã – e com o seu nome em letras bem grandes. A função do revisor é cuidar das falhas do tradutor, não da sua descura. Quer dizer, se quer ser profissional da tradução e não sabe crase, então aprenda. Se não sabe a diferença ente há, a, á e à, passe uma boa hora em companhia do Evanildo Bechara e aprenda. Se pensa que pode usar maiúsculas a torto e a direito em português, como se usa em inglês, leia as regras de ortografia da ABL, que valem por força de lei. Se não sabe usar hífen, uma bela conversa com o Guia Ortográfico do Celso Pedro Luft faz maravilhas. Se não sabe quando usar propor e propuser, aprenda a diferença entre o futuro do subjuntivo e o infinito dos verbos irregulares.

Muita gente acha que, para ser tradutor, o importante é conhecer bem uma língua estrangeira. Importante é, sem dúvida, mas é igualmente importante conhecer a própria, fato de que muitos se esquecem. O tradutor fica como aquele pessoal que tira fotos na fronteira, com um pé em cada país. É essa nossa posição.

E a obrigação do revisor é lidar com as falhas humanas do tradutor, não com a sua descura. Se o revisor introduzir algum erro na tradução, a culpa é dele. Mas se passar algum erro na sua tradução, a culpa é sua. A função do revisor é transformar uma tradução boa em excelente. Não há revisor que consiga transformar em boa uma tradução ruim.

Já tratei deste assunto nestes tópicos.


terça-feira, 23 de outubro de 2007

Tópicos campeões de audiência

Tenho um serviço que me diz de onde vem cada pessoa que visita este blog. Não diz quem é, não me dá o e-mail, mas diz como veio parar aqui. Grande parte das vezes, as visitas vêm de uma pesquisa no Google. Muitas das pesquisas não têm nada que ver com o assunto do blog: o visitante veio parar aqui por mera imperícia no trato com o Google. Espero que você, que se dedica ou quer se dedicar à tradução como profissional, tenha investido meia horinha para aprender a fazer pesquisas no Google direitinho.

Entre as visitas que têm alguma relação com tradução, as "campeãs de audiência" são diversas misturas de lauda, RPA, nota fiscal, recibo simples, frila, preço e tradução. Dá o que pensar.
A famigerada lauda (que eu abandonei, sem arrependimentos, no século passado) é ainda uma unidade muito usada para medir trabalho de tradução, mas o tanto de perguntas confirma que há muita incerteza sobre o que possa ser o raio da lauda. Por isso, antes de cotar um preço por lauda é bom perguntar ao cliente que definição de lauda ele usa.

As pesquisas sobre RPA, nota fiscal, recibo simples e frila indicam como ainda tem tanta gente insegura sobre o estatuto jurídicos dos profissionais liberais. Há muita gente que acha que existe uma categoria chamada "frila", livre como os pássaros, que não deve contas ninguém, muito menos à Secretaria da Receita Federal, ao INSS e à Prefeitura Municipal, e mais do que um já se irritou comigo por eu dizer que isso até existe, mas é ilegal e dá problema, como problema dá comprar notas fiscais de outros tradutores.

Preço é outra das preferidas, porque a turma não sabe como cobrar e aceita condições absurdas.
Volta e meia retorno a esses assuntos, aqui e vou continuar voltando. É uma espécie de catequese, embora nem de longe possa dizer que saiba tudo ou esteja sempre certo. Mas sempre alguma luz se lança sobre o caminho.

Esses assuntos têm importância fundamental para todo bom profissional e devem ter para você também, se é ou quer ser profissional da tradução. Uma profissão se cria com bons profissionais, não com uma lei qualquer.

domingo, 21 de outubro de 2007

Uma resposta mal-educada

Nós querendo aumentar os preços, os clientes querendo baixar. Isso tudo faz parte da dinâmica do mercado. E então vem a história do colega nosso que recebeu um telefonema de uma agência estrangeira para a qual trabalha há algum tempo. A pessoa, do lado de lá, chorou as mágoas, disse que o mercado estava mal, e pediu que o colega reduzisse seus preços. Caso não reduzisse, seria classificado como "careiro" e só iria receber serviço quando os que cobravam "preços razoáveis" não estivessem disponíveis.

O colega se recusou a baixar o preço e, aproveitando que já estavam ali conversando mesmo, pediu que anotassem uma bela alta boa no preço que ele cobra para fazer revisão e explicou: "se o padrão de vocês agora é de oito centavos [de dólar, era uma agência americana] por palavra, vai ter tanta gente tão ruim que revisar as traduções deles vai dar muito mais trabalho e, portanto, exige remuneração melhor".

Certamente, uma respostinha mal-educada. Mas o cliente merecia.

sábado, 20 de outubro de 2007

O que fazer com excesso de serviço?

Quando um tradutor se vê sem serviço, o que faz? Começa a aceitar serviço a preço menor. Reclama, resmunga, mas é a vida. E quando está com excesso de serviço, o que faz?

Há três soluções para o problema.

Primeiro, você pode começar a recusar serviço, por falta de tempo. Acho uma pena, um desperdício, mesmo. Vale numa emergência, se, num determinado dia, aparecerem dois serviços com execução incompatível. Quer dizer, aparecem dois serviços para o dia seguinte e ambos exigem um dia inteiro de trabalho. A gente pode dar uma esticada no dia, eu já dei muitas. Mas para tudo há um limite. Então, rejeite. Paciência.

Mas se o serviço começa a crescer constantemente e você começar ter de trabalhar todos os fins de semana, doze horas por dia, está na hora de tomar uma providência.

Sempre se pode repassar parte do serviço a um colega. Estamos todos rodeados por colegas com pouco serviço, alguns em dificuldades financeiras. Vejo aí, ao menos, dois problemas. O primeiro é achar alguém de confiança para fazer o trabalho. Já vi mais de um caso colega que repartiu trabalho e tiver de refazer tudo, porque não ficou satisfeito com o que recebeu. Também há casos em que o trabalho não está de todo ruim, mas, mesmo assim, exige uma revisão. Quando o trabalho é dividido, em vez de meramente repassado, a revisão é necessária para uniformizar o texto, no mínimo.

Some o tempo da revisão ao tempo necessário par administrar os ires e vires e aos impostos e você vai ver como é difícil, com o que você recebeu do cliente, pagar uma taxa decente ao colega e ainda não ficar no prejuízo. Se seu cliente já for um intermediário, então, fica tudo muito complicado. Já vi muita gente reclamando que recebe traduções de outro tradutor, mas ele paga uma miséria. Mas o fato é que se o "outro tradutor" recebe pouco, não vai poder pagar muito.

Além disso, a maioria dos independentes não tem capital e, quando o cliente atrasa, não tem como pagar o terceirizado. Às vezes, nem quando o cliente paga na hora dá, porque a margem que ele reteve era exígua demais para cobrir os custos, a despeito do fato de que o terceirizado reclama que o terceirizador ficou com a parte do leão.

Claro, o tradutor com excesso de serviço, se tiver talento para isso, pode ser organizar como terceirizador, cobrar mais de seus clientes, montar a estrutura apropriada e ganhar um bom dinheiro. Mas isso se tiver talento e capital. Muita gente não tem. Inclusive eu. Lamentavelmente, terceirizar serviço é uma opção atraente ("para não cair nas mãos de uma agência" é o eufemismo predileto) e muita gente sem competência se estabelece, com resultados catastróficos.

Então, o que fazer?

Bom, primeiro, livrar-se dos clientes chatos, dos que ranhetam com tudo, dos que enviam serviço maluco, dos que demoram a pagar. Segundo, aumentar preços. Quando você aumenta preços, todos os clientes reclamam, cada um apresentando uma razão diferente, que vai desde a "crise atual do mercado" até a situação do time do Corinthians, passando por falta de verba, atenção ao cliente antigo, manutenção de relacionamento e mais o diabo que os carregue a todos eles para perto de suas respectivas sogras. Muitos vão dizer que não vão mais poder trabalhar com você. Alguns podem até trocar de tradutor. Mas, a final de contas, você estava com excesso de serviço, pode se dar ao luxo de perder um cliente.

A mesma lei da oferta e da procura, que te faz baixar preços quando falta serviço, tem de conduzir a um aumento de preços quando o serviço sobra.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Como e quando aumentar os preços de seus serviços

Está rolando uma conversa no Orkut sobre preços. A turma que trabalha para o exterior está chateada com a queda do dólar e quer "repor as perdas". E claro, tem gente que trabalha em reais e está cobrando a mesma coisa há muito tempo. Mas, dizem eles, os clientes não querem entender. Não querem nem vão entender nunca. Ninguém vai concordar com afirmação nenhuma que aumente seus custos. Nem nós, que somos tão bonzinhos. A gente paga o aumento no colégio dos filhos porque é obrigado, não porque concorda com o fato de que, dados os aumentos concedidos aos professores e não sei mais o quê o colégio "se vê obrigado a reajustar as contribuições escolares, com o objetivo de manter a mesma alta qualidade de ensino" e mais o raio que os parta a todos eles e suas ilústríssimas famílias.

O fato é – e, curiosamente, parece que poucos se dão conta disso – que o preço de qualquer bem ou serviço se rege pela lei da oferta e da procura, não pela evolução dos custos. Quer dizer, se você está com pouco serviço, nem pense em aumentar os preços, porque não vai dar certo. Por outro lado, se estiver sobrecarregado, se não estiver dando conta, simplesmente vá avisando um cliente atrás do outro que, doravante, em vez de dez são doze. Todos vão reclamar, todos vão querer "negociar", muitos vão dizer que vão ter de parar de trabalhar com você, alguns de fato vão sumir. A carteira provavelmente vai encolher. Mas o que ficar vai pagar mais e você vai ganhar a mesma coisa. Com o tempo, você repõe os fujões (ou eles voltam sozinhos – já me aconteceu mais uma vez) e recomeça o processo.

E, evidentemente, todo cliente novo tem de entrar com preço mais alto. Quer dizer, serviço a dez você tem de sobra, quem quiser o teu tempo vai ter de pagar doze e acabou. Em outras palavras, não recuse serviço: aumente preços.

Para aumentar preços, é necessário muita firmeza. Se vacilar, jacaré te pega. Uma vez, há muitos anos, avisei um cliente de que, do dia tal em diante, o preço ia ser maior. Ele perguntou a razão. Em vez de uma dar série de justificativas lamurientas, contra todas as quais o cliente certamente teria uma lamúria ainda maior, disse que tinha me autoconcedido um aumento de mérito.

O sujeito respondeu que não ia mais poder me dar serviço, com o novo preço – que é o que sempre dizem. Respondi que lamentava, que até entendia e tal, mas que ia aumentar os preços para todos os clientes e não podia deixar só ele com preço antigo. Mantive o cliente. Mantive durante muitos anos, até que a empresa foi engolida por outra.

Em tempo, estou aqui falando de "dez" e "doze" porque precisava de dois números. Não estou dizendo que alguém deva cobrar dez ou doze centavos, reais, euros, marcos, ou dinares eslobóvios por palavra, lauda ou baciada.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Virtù e Fortuna

Era o que dizia o Maquiavel: você precisa das duas: virtù e fortuna. Numa definição modernizada, virtù é o conjunto das nossas qualidades pessoais e fortuna são os fatores fora de nosso controle, digamos, a nossa "sorte". Para ter sucesso na vida, inclusive na vida profissional, você precisa de ambas. Até certo ponto, muita fortuna compensa um pouco de falta de virtù e vice-versa, mas há limites. Precisa ser muito, um rematado bocó precisa de muita, muita sorte mesmo, para conquistar sucesso profissional. E, se você for absolutamente azarado, precisa ser muito gênio para dar um par de passos na carreira.

É muito comum a turma falar no "quem indica". Indicações são importantes, sim, mas as boas indicações vêm de pessoas satisfeitas com o seu serviço ou de colegas que acham você competente, o que significa que, para ter a fortuna das boas indicações, é necessário ter a virtù de procurar aprender a trabalhar de modo que satisfaça os clientes e cause boa impressão aos colegas. Evidentemente, é importante aparecer, expor-se, correr atrás do serviço. Gregos e romanos tinham uma deusa para essas coisas, Fortuna em latim, Tyche em grego.

É preciso colocar-se no caminho da deusa, para se beneficiar de tudo o que ela trás de bom. Finalmente, é importante estar preparado para fazer uso das dádivas da deusa. Temos uma colega que sempre atribui à sorte o ter topado com um amigo que estava com mais serviço do que podia fazer e queria se livrar de uma tradução. Mas o fato é que, se ela não estivesse preparada para fazer o serviço, ou teria de recusar ou faria uma tradução porca e não viria a segunda.

Mais tarde volto á novela dos descontos.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Mais descontos!

Então, já que estou de volta, deixa falar um pouco mais de descontos. É muito comum o cliente falar em "negociar". Negociar é muito bom, mas significa ceder em algum ponto, para conseguir uma vantagem em outro. Por exemplo, tenho um cliente que negociou comigo uma redução de preço em troca de um pagamento imediato, em vez dos 30 dias que são norma nos EUA e para os quais meus preços estão ajustados. Lembrando que as taxas de juros aqui são mais altas que lá, foi vantagem para ambas as partes.

Mas um desconto a troco de nada não é negociação: é pura extorsão. Uma vez, um cliente disse que era necessário "negociar" a minha proposta e pediu um desconto. Respondi que "negociar" significa se oferecer para conceder alguma coisa em troca de outra e o cliente, respondeu, sarcasticamente, que era claro: se eu concedesse o desconto, ele concedia o serviço; sem desconto, eu ficava sem o serviço dele. O sarcasmo dele feriu. Não gosto de ser tratado como mendigo. Se fosse hoje, eu simplesmente diria que o meu preço era aquele e esperaria a reação dele. Mas, na época, eu ainda era adepto de dar ao cliente "boas respostas" e respondi que, era exatamente o contrário do que ele pensava: se ele não me pagasse, a empresa dele ia ficar sem o meu serviço.

Nem me lembro mais quem era o sujeito: sumiu na noite dos tempos, como dizia um professor meu. Mas não acho que eu tenha perdido alguma coisa: certos clientes é melhor nem ter.

Hoje é amanhã – ou amanhã é hoje, sei lá.

Passou por mim um furacão, ou melhor, passaram vários.

Vou poupar você das descrições. Mas fiquei vários dias realmente impedido de escrever. Depois, veio a inércia. Inércia, caso você não saiba, não é exatamente o "não fazer nada", mas o "continuar fazendo o que já se estava fazendo". Enquanto eu estava escrevendo todos os dias, todos os dias escrevia um tópico. De repente, pulei um dia, pulei dois, pulei três, porque não tinha como escrever, de fato. Mas, depois, serenada a tempestade, poderia ter voltado e, portanto, marquei a volta para "amanhã, sem falta". Firme que sou nas minhas opiniões, "amanhã" é amanhã e não tem conversa. Por isso ficou assim um tempão. Declarei, entretanto, que "amanhã" é hoje: um dia tenho que recomeçar e estou recomeçando agora.

Valeu a pausa para repensar umas coisinhas. Espero que você goste do que vem por aí, vamos ver se conseguimos nos divertir juntos de novo.

Ah, antes que me esqueça, também estou retomando os cursos Aulavox.