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domingo, 20 de janeiro de 2008

A responsabilidade do tradutor

Você notou que o blog andou meio morto, não é? Espero que sim.

Na verdade, faltou tempo, mas, principalmente, faltou inspiração. Fico me perguntando o que seria minha vida se vivesse de escrever e, de repente, olhasse para a tela do computador e não tivesse idéia nenhuma. Poderia, talvez, fazer como muitos cronistas de jornal que, na mesma situação, escrevem uma crônica inteira sobre a falta de inspiração.

Mas, em minha salvação, veio a palestra de ontem para a Editora SBS. Fui obrigado a preparar a apresentação, porque não tinha cara de chegar lá e dizer desculpe, minha gente, faltou inspiração, não tenho o que dizer, outro dia eu falo. Então, a responsabilidade falou mais alto, Sentei na frente da tela e bolei lá uma tal de palestra. Antes da palestra, uma conversa solta com algumas colegas me deu mais algumas idéias e pretendo desenvolver tudo isto por aqui nas próximas semanas – se o tempo o permitir.

Mas veja que a responsabilidade por preparar a palestra foi criada por mim ao aceitar a incumbência: convidaram, eu aceitei, então era obrigado a fazer o melhor que pudesse. Não sou empregado da SBS e tinha todo o direito de recusar o convite.

Esse ponto é mais importante do que parece. Todos nós somos obrigados a cumprir nossos compromissos. Se você prometeu entregar a tradução na segunda-feira, pelo amor de Deus, entregue na segunda-feira, como prometido. Porém, se você, como eu e tantos outros, trabalha por conta própria, não é obrigada a assumir o compromisso de entregar na segunda-feira.

Quer dizer, liga o cliente e pede alguma coisa que você não possa fazer, ou porque o prazo é curto demais, ou porque está já com sobrecarga de trabalho, ou porque o preço é baixo demais, ou porque não é a sua área, ou seja lá porque for, não é sua obrigação aceitar e ponto final. Se puder recomendar quem faça, tanto melhor, mas isso também não é sua obrigação.

Muitos clientes usam o mas você tem que… para tentar fazer com que nós aceitemos a obrigação, obrigação de fazer, de aceitar, de arranjar quem faça, qualquer coisa. Não se deixe intimidar. Você só tem que fazer o que prometeu, mas não tem que prometer nada. Às vezes, faz promessas do tipo se você ajudar a gente agora…Jamais acredite nessas promessas. Outras vezes, apela para a chantagem, falando de nossa parceria. Parceria essa que vai durar até ele encontrar alguém que lhe pareça melhor.

Nessas horas, o cliente também quer saber por que você está se recusando. Não é direito dele saber, nem sequer fazer a pergunta. Você não é empregada nem muito menos escrava dele. Ele não tem que te dar satisfações quando encarrega outros de algum serviço, você não tem que dar satisfações quando recusa um serviço.

Na hora da recusa, cortesia é essencial: se oferecerem serviço a um preço vil, diga meu mínimo é X. Não faça uma arenga inflamada sobre os exploradores dos tradutores, por mais prazer que discursar possa dar e por mais aplausos que a ladainha posa gerar entre os seus colegas: o cliente nem vai ouvir. Ele quer o serviço, só isso.

Talvez a recusa se dê até por motivos pessoais e não muito importantes: você combinou ir à praia com as amigas neste fim de semana, está cansada demais para trabalhar, é casamento da sua irmã e você quer dar uma mão, seu filho está com dor de barriga e você quer fazer companhia, mas tudo isso é coisa sua, não é da conta de ninguém. E você tem o direito de guardar essas coisas para você e recusar o serviço com um educado, agradável, mas firme, obrigado, mas não vai dar.

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