A revista Língua Portuguesa publicou matéria cotejando uma tradução pirata de Harry Potter com o trabalho da tradutora oficial, nossa colega e minha particular amiga, Lia Wyler, chegando à irrefutável conclusão de que, embora os amadores não fossem de todo ruins, a Lia traduz melhor. Entretanto, nem todos os tradutores profissionais são tão competentes com a Lia. Fosse outro o profissional encarregado do HP, os amadores poderia ter ganho a parada da qualidade.
Não, espera, estou me adiantando. Preciso primeiro definir o que quero dizer com tradutor profissional. Pelo menos aqui, tradutor profissional significa aquele que traduz a troco de uma remuneração compatível com a média do mercado para traduções semelhantes. Todos nós achamos que ganhamos mal e a maioria acha que quem cobra menos que eu avilta o mercado. Mas isso é outra conversa, para outro dia. O que quero dizer é que se as editoras pagam,
Estará chegando ao fim a tradução profissional? Eis a pergunta intraqüilizadora que perpassa toda a conversa surgida em vários grupos de tradutores. Vamos agora ser substituídos por bandos de adolescentes ou de aposentados?
Creio que não. Gente traduzindo por nada ou quase nada, sempre houve. E, diga-se de passagem, gente muito boa. Conheci vários daqueles tradutores e tradutoras que brilham nos cadernos literários dos nossos jornais e a grande maioria deles trabalha de graça ou por valor meramente simbólico, garantindo o rancho com outras fontes de renda. Não traduzem por dinheiro: como os adolescentes que traduzem Harry Potter, traduzem por prazer ou pela aventura, por prestígio ou até para fazer currículo.
O fato é que esses amadores e amadoras, por bons que sejam, traduzem o que bem entendem, como bem entendem, quando bem entendem. O profissional traduz o que é preciso, como necessário, dentro do prazo estabelecido, uma postura que faz uma diferença danada para quem precisa de serviços de tradução. Conheci, há anos, um psicólogo que traduzia, a preço de banana e muitas vezes gratuitamente, os trabalhos do professor com que estudara nos EUA. Mas certamente não traduziria 50 laudos preparados por algum colega ou mesmo um estudo preparado por alguém que seguisse outra linha de psicologia: coisas que não lhe interessavam, mas essas coisas precisam ser traduzidas. Aí, então, entra o profissional.
Amador traduz o que quer traduzir, profissional traduz o que precisa ser traduzido. Faz uma baita duma diferença.
4 comentários:
ditto!
e é muito comovente ver a meninada correndo, em cima da paixão, com prazo apertado, unificando todo o material, com compromisso auto-imposto perante um milhão de outros jovenzinhos assanhadíssimos em querer ler a continuação do tal HP: deve ter sido um zunzunzum só! - um belo desafio, enfrentado e vencido com galhardia!
amadorismo e diletantismo nas melhores acepções dos termos!
a meninada está de parabéns!
denise
Os fenômenos engatilhados pela internet e pela acessibilidade a tecnologia ainda levantam muitos questionamentos.
Mas o tradutor, assim como outros profissionais, nunca morrerão. É como a questão dos que escrevem pra jornal e não são jornalistas, como os jovens que constróem sites, mas não são webdesigners, como os blogueiros que falam sobre literatura, mas não são críticos literários.
A Tradução tem seu espaço, e o bom tradutor sempre terá trabalho, ainda que o pagamento não seja tão bom e as condições de trabalho sejam adversas.
Sempre bom passar por aqui.
Abraço.
Hehehehe, lembro que eu traduzi o capítulo 8 e foi bem o q a Denise postou aí em cima! Uma correria desesperada, um zumzumzum, caixa de email lotando de cobrança de uma hora pra outra, o povo que estava transcrevendo as páginas demorando pra mandar o material, uma loucura! Aliás, bom saber que teve gente que gostou, porque quando fui reler com calma encontrei vários erros, nos meus capítulos e nos dos outros... "/
Ainda bem q não é assim no dia a dia...
(comentário com um ano de atraso... quem vai ler?)
Adriana, grande parte dos leitores chega aqui via Google e não entra pela último comentário. Quer dizer, embora com um ano de atrso, seu comentário ainda é válido e bem-vindo.
De qualquer modo, mesmo que você tivesse feito com a maior calma do mundo, ao reler certamente ia corar de vergonha do que escreveu. O dia em que você ler uma antiga tradução sua e disser "Adriana, que perfeição!" é porque já virou múmia e não percebeu.
Postar um comentário