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quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Ajudar ou não ajudar, eis a questão

Tenho um amigo, o João Cobracaro, que se dedica à tradução de corpo e alma. Não só se esforça como um doido para prestar bons serviços a seus clientes, mas também participa de numerosos fóruns de tradutores, onde ajuda os colegas como melhor pode. Como é competente e esforçado, a ajuda é sempre de qualidade. O João sabe das coisas e, por isso não tem medo de compartilhar o que sabe com os outros. Sujeito tranqüilo, bonachão, raramente se irrita.

Mas teve o dia em que se irritou. Foi assim: um possível cliente fez uma consulta, ele cotou preço, o cliente pediu outras cotações, a do João era a mais alta, foi outro o escolhido. Paciência, faz parte da vida, se eram três os concorrentes, dois tinham que perder. Um dos perdedores foi ele. O cliente até ligou, com aquela famosa história do a gente queria fazer com o senhor, mas tem uma cotação muito mais baixa, não vai dar, se o senhor fizesse aí uma diferença para a gente… Mas o João decidiu não baixar o preço e ficou sem o serviço. Nem por isso ia morrer de fome, como, de fato, não morreu.

No dia seguinte, abriu a caixa de correspondência e estava lá a mensagem do José Fazpormenos, com uma porção de dúvidas que só podiam ter saído do serviço para que o João tinha apresentado a cotação perdedora. Tinha sido do José a cotação vencedora, então. E o José tinha mil dúvidas, dúvidas simples, mas dúvidas.

João começou a escrever uma resposta, mas logo parou. Que diabo, pensou ele, tem alguma coisa errada, nesse negócio. O João achou que não fazia sentido ele resolver os problemas do José, porque, assim, estava fazendo concorrência a si próprio. Ele tinha pedido dez pela tradução, o José pediu cinco, o cliente pegou, então que fique com o serviço do José, por cinco e vá para o diabo que o carregue. Não faz sentido o José ganhar cinco, o cliente pagar cinco e o João não ganhar nada e, ainda, prestar serviços de consultoria terminológica. Na cabeça do João, pelo menos, não fazia sentido.

E as perguntas do José Fazpormenos eram básicas, fundamentais mesmo. O João ficou se perguntando, se o cara não sabe isso, imagine o resto! Porque a gente não pergunta tudo o que não sabe, mas só o que percebe que não sabe. Aí, então, vem a minha pergunta: se o João tivesse respondido a mensagem e solucionado todas as dúvidas, faria alguma diferença? Ou, melhor dizendo, faria alguma diferença que o cliente percebesse? Quer dizer, será que, com as respostas do João, o José poderia apresentar uma tradução que o cliente considerasse tão boa quanto a do José Cobracaro, pela metade do preço?

Não tenho uma boa resposta para essa pergunta. Ainda bem que o caso não aconteceu comigo.

Não se esqueça da Reunião na Sala 7, que é grátis e a distância.

3 comentários:

Anônimo disse...

Acho que nesse caso, mesmo com as respostas do João Cobracaro, o José Fazpormenos - gostei dos nomes :-) - não teria condições de fazer a tradução com a qualidade do João. Porque a tradução vai além das poucas dúvidas terminológicas que o José deve ter apresentado. É o texto como um todo, o estilo, a intimidade com o jargão... Coisas que o cliente só vai perceber depois que receber a tradução de segunda linha.
Danilo, esse seu brilhante artigo, como tantos outros, presta um grande serviço de informação aos clientes, que em matéria de tradução têm o hábito de pôr a questão do preço acima da questão da qualidade, enquanto que em seu dia-a-dia corporativo e em suas modernas apresentações Power Point tratam a Qualidade (com "Q" maiúsculo) como a máxima divindade.

Adri disse...

Danilo,
Na minha opinião, até pode ser que não fizesse diferença, ou melhor, que o cliente não fosse perceber. Pode ser, realmente, que o José Fazpormenos (também amei os nomes) se enrolasse todo no texto e não seria alguns termos bem traduzidos, com a ajuda do João Cobracaro, que iam salvar a lavoura. Porém, pode ser também, que o José tivesse um bom nível geral de tradução e faltava a ele apenas aquele "plus". Aí, sim, o João teria melhorado a qualidade do José.
Eu, no lugar do João, teria feito a mesma coisa - não ajudaria. Aliás, já passei por algo parecido - perdi um cliente direto para uma agência por causa de preço (dá pra imaginar quanto a agência ia pagar para o tradutor...), e depois fui contatada pela mesma agência para ver se eu queria traduzir uma parte...
A resposta foi "não, obrigada". Não ia morrer de fome e me recusei a fazer o mesmo trabalho que faria por menos da metade do preço que teria recebido diretamente.
Comentei o caso com o cliente, disse que eles conheciam o meu trabalho e que eu não repassava serviço, mas ficou por isso mesmo.
Paciência.

betweenthecurtains disse...

Entendo plenamente esse problema, mas resolvi de outra maneira. Acho bom compartilhar meus conhecimentos com colegas, pq preciso que compartilham comigo. Não sei tudo, e quando estava começando muitas pessoas me ajudaram. Para não ter o trabalho de responder a todas as perguntas feitas e para evitar o transtorno emocional que o Sr. descreve, coloquei TODOS meus glossários na Internet, na proz.com. Todos podem consultar, até peço para aqueles que querem "só uma ajuda com algum termos técnicos..." para visitar esse site, e até recebi um e-mail de agradecimento de um tradutor que faz muito uso dos meus glossários. Fiquei feliz de saber que alguém aproveitou, porque também aproveito dos glossários dos outros. Um grande abraço
Simon