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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

FAQ 1

A pretendente a tradutora

Na verdade é que eu to super confusa como todo vestibulando que se preze hahaha. Você trabalha de tradutor né? mas você fez algum curso/faculdade?Eu tenho um amigo que faz tradução e interpretação na Unibero, mas por enquanto eu vou tentar a Unesp por que é pública mesmo. Eu me interessei pelo curso, por enquanto é o que eu vou fazer mas sempre vem aquelas dúvidas: será que o mercado de trabalho é amplo? será que pra essa profissão uma faculdade faz mesmo diferença? Pelo que eu entendi você trabalha em casa né? Tem algum tipo de exigência pra ser um tradutor?

O que você leu acima é a mensagem recebida da T. Já respondi esse tipo de mensagem muitas vezes, mas, como ninguém leu o blogue de ponta a ponta, lá vai de novo.

A confusão é melhor do que a certeza total, T, principalmente porque é um modo mais humilde de examinar a realidade. Um tanto de confusão é bom, principalmente quando se é jovem.

Não "trabalho de tradutor", sou tradutor profissional desde 1970, o que é bem diferente: uma questão de postura, empenho, dedicação. Desde 1970, o dinheiro que entra na casa vem da tradução.

Não fiz faculdade, por motivos que não vêm ao caso agora. Do ponto de vista jurídico, não faz diferença: o exercício da profissão é livre, no Brasil e em qualquer lugar do mundo, e, por isso, você pode viver de tradução com ou sem faculdade. Do ponto de vista comercial, a faculdade ajuda muito. Enquanto você não puder apresentar um currículo com uma boa experiência, um título de bacharel facilita muito sua vida. Depois de uns cinco ou seis anos de prática, ninguém mais vai olhar se você tem graduação ou não, mas, no início, faz uma grande diferença.

Do ponto de vista intelectual, então, nem se fale. Você pode aprender em casa, sozinha, tudo o que ensinam na faculdade e até mais, porém não é nada fácil. Uma faculdade bem feita vai ajudar você a organizar as idéias e pensar melhor. Mas o acento aqui é em "bem feita". Não adianta fazer faculdade promovendo ausências coletivas ou tomando carona em trabalhos antigos. Precisa estudar. Principalmente, precisa estudar português como uma louca.

Você diz que pretende ir para a UNESP. Rio Preto? Dizem que é bom lugar para se estudar. Faculdade no interior pode ser uma escolha excelente. Talvez a Kelli possa te dizer alguma coisa sobre isso.

A maioria dos tradutores trabalha em casa, sim e, de modo geral, precisa constituir uma firma para poder trabalhar, o que não é grande dificuldade. Existe mercado, sim, e existe muita gente vivendo de tradução. O problema é que muita gente não quer, de verdade, ser tradutora, quer ser paga para ler coisas lindas. Então, fica exasperada quando, em vez de traduzir uma bela obra literária, é encarregada de traduzir um livro de auto-ajuda, ou de ficção de massa. Sabe, como se você fosse se especializar em cirurgia plática, mas só trabalhasse com mulheres lindas. Se a postura for essa, fica complicado. Agora, se você quiser traduzir, não falta serviço.

[Kelli] Eu não posso dizer muita coisa além do que o Danilo já falou, até por não conhecer ninguém de Rio Preto. Cursei Letras na UNESP, mas em Araraquara, e cada campus é bem diferente do outro. Posso adicionar uma coisa só: muito aluno pensa que os professores universitários são semideuses, e muitos professores se sentem assim mesmo. Quanto eu era estudante, o prédio com os departamentos e salas dos professores era conhecido como Olimpo, para se ter uma idéia. E as brigas de egos que tinha por lá condiziam com o nome.

A melhor coisa que eu fiz foi nunca me sentir diminuída ou receosa por causa disso. O melhor dos cinco anos do meu curso, academicamente falando, foi ir atrás de professor, ficar no pé, conversar nos intervalos e tratá-los com igualdade. Com respeito, mas com igualdade. Afinal, são gente como a gente. Consegui muito com essa postura. Aliás, sem ela, eu não estaria escrevendo neste blog agora.[/Kelli]


O mestrado do Mackenzie

Uma colega pergunta o que eu acho do curso de mestrado do Mackenzie. A bem dizer, praticamente nada. Dos professores, a única que conheço é a Valderez Carneiro da Silva, veterana e respeitada, desde os tempos heróicos da Faculdade Ibero-Americana. Dos outros, nunca ouvi falar, o que significa que não circulam muito nos ambientes dos tradutores profissionais, embora possam ser excelentes professores.

Esse, como acho que todos os outros cursos superiores, não trata de ferramentas de tradução assistida por computador. É um empurra-empurra ridículo, isso. A turma da graduação acha que é problema da especialização, a turma da especialização acha que é coisa para graduação. A turma do mestrado acha que não é problema deles e a de doutorado acha que de jeito nenhum é coisa para eles. Mas, quando você chegar no mercado, a maioria dos clientes vai querer saber se você sabe lidar com essas coisas.

De resto, o Mackenzie é uma instituição séria e um curso de especialização vai ajudar a arrumar as tuas idéias, embora ninguém, mas ninguém mesmo, vá virar tradutor em três semestres. Quer dizer: espere um bom curso, mas não um milagre. Muito depende de quanto você já sabe e de quanto você está disposta a se dedicar. Num curso desses, não se ensinam línguas. Quer dizer, ou você é boa de português e inglês, ou não vai aproveitar o curso. Por outro lado, não me canso de repetir que você faz o curso, não é o curso que faz você. Tem que dar duro. Os professores, por bons que sejam só podem ensinar; mas é exclusivamente a você que cabe aprender.

4 comentários:

Unknown disse...

Ola Kelly.

"Esse, como acho que todos os outros cursos superiores, não trata de ferramentas de tradução assistida por computador."

A UFRGS, carinhosamente chamada de "URGS", aborda, em algumas aulas as CAT Tools.
A UnB, Universidade de Brasilian, também federal, e onde estudo traduçao, ja constituiu um laboratorio e esta equipando os computadores com CAT Tools.
Portanto "todos" acho que foi generalizar.

Mas tenho gostado bastante dos textos que você e o Danilo escrevem. Obrigado.

Abraços encorajadores.

Anônimo disse...

Olá Kelli. Tudo bem?
Olha só, deixei um comentário no post de 19 de fevereiro de 2007 e gostaria muito que vocês me respondessem. Espero respostas :)

Kelli Semolini disse...

Oi, Fernando.

Sim, foi generalizar. Tudo bem, tem dois cursos universitários que falam de CAT Tools. Não sei com que profundidade, nem estou dizendo que seja suficiente ou não. Mas vamos supor que falem muito de CAT Tools. Que falem tanto que todos os alunos de tais cursos saiam sabendo usar Wordfast e Trados, pelo menos. Mesmo que seja assim, dois cursos no Brasil inteiro é bem pouco, não?

Mas ainda assim é melhor que nada, sem dúvida.

Volte mais vezes, Fernando, principalmente para dar novidades boas como as que trouxe hoje.

Beijo!

Anônimo disse...

Não sei se muita gente chega a ler também os comentários das postagens, mas vou tentar deixar uma contribuição para nossa possível futura colega T.
Eu conheço a UNESP de Rio Preto, pois foi lá que me formei. Se a T. pretende fazer um curso de tradução na UNESP, certamente é lá, pois é o único da UNESP e, se não estou enganado, o único nas universidades estaduais paulistas.
T., recomendo entusiasticamente o curso. Lá você vai encontrar professores excelentes, desde grandes especialistas em teoria, como a Cristina Carneiro Rodrigues, até grandes profissionais da tradução que têm muito a dizer da prática: tradutores técnicos e juramentados, como a Claudia Zavaglia, ou literários, como o Álvaro Hatthner, que tem várias traduções publicadas pela Companhia das Letras e outras editoras, e cujas aulas deixam muitas saudades (basta visitar a comunidade "Eu tive aula com o Álvaro", no Orkut, para confirmar). Esses são apenas alguns nomes, mas a maioria dos professores do curso são muito qualificados.
Além disso, a estrutura do curso é muito boa. Há alguns anos o currículo foi modificado, preenchendo a lacuna a que o Danilo sempre faz referência, por meio da inclusão das disciplinas de Terminologia e Ferramentas de Tradução, esta última abordando programas de memória de tradução. A infra-estrutura também é muito boa, com salas-ambientes para o estudo de idiomas com vários recursos audiovisuais bem modernos, para citar um item recente e que chama a atenção.
Torço realmente para que você se decida (ou tenha se decidido) pelo curso, consiga passar no vestibular e, levando a faculdade a sério, como o Danilo sempre salienta, possa se tornar uma ótima tradutora profissional.
Abraços