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sábado, 1 de dezembro de 2007

De estagiários e escraviários

O uso e abuso do trabalho de estagiárias apareceu em dois pontos de encontro virtuais que freqüento. A lei que permite contratar estagiários a um custo muito baixo facilitou a vida de muita gente, não só de quem precisava de um estágio de tradução para conseguir seu diploma.

Um estagiário não é simplesmente um tradutor "mais em conta". Um estagiário não é um tradutor. Entretanto, vemos empresas encarregando estagiários de tarefas que estão acima das capacidades de um estagiário e também da capacidade de um profissional experiente.

Algumas dessas empresas agem assim por ingenuidade. Muita gente subestima o trabalho de tradução e pensa que dar conta de 10.000 palavras por dia, cinco dias por semana – e sem erros, por favor é absolutamente normal. Ou que traduzir textos xls ou ppt é coisa simples, só escrever por cima. Ou que a podridão computatória que ninguém mais aceita usar é mais do que boa para uma estagiária que "só digita texto".

Outras empresas simplesmente não estão interessadas em saber. Exigem, forçam: o problema, para elas, limita-se a ter o serviço pronto no prazo e ao menor custo possível. O resto que se dane.

A maioria dos estagiários não tem formação profissional nem experiência bastantes para explicar ao empregador quando a missão é impossível ou o que é necessário para viabilização. Aceitam de boa fé e, à medida que se atolam, vão percebendo que não vai dar certo. Mas mesmo que tivessem a capacidade para avisar antecipadamente, a maioria dos empregadores não está interessada em ouvir a opinião de estagiários. E assim vamos.

Você não é obrigada a fazer milagres em geral nem muito menos o milagre particular de explicar o que mal sabe a quem não quer ouvir. Faça o que puder, faça como melhor puder, aprenda o que conseguir e vá embora com a consciência tranqüila, procurar serviço melhor.

Por outro lado, se você caiu numa empresa onde o pessoal agiu de boa fé, bom, é a hora de se desdobrar e botar as coisas nos eixos, pesquisar, perguntar, tentar resolver os problemas, na esperança que, terminado o malfadado estágio, você ganhe uma efetivação. Se não vier a efetivação, pelo menos você aprendeu e fez amigos.

O primeiro indício de que o estágio é só uma forma de conseguir serviço barato é a falta de um profissional da tradução para supervisionar. Estagiário, de qualquer área, tem que ser supervisionado por profissional experiente da mesma área. Veja, por exemplo, o caso dos médicos residentes: são diplomados, é fato, e, portanto, não são estagiários. Mas, mesmo assim, se submetem a ganhar pouco para trabalhar com profissionais mais experientes e aprender muito. É um excelente investimento. O mesmo deveria acontecer com os estagiários de tradução. Se você for estagiar numa empresa onde não há um só tradutor ou onde seu supervisor é um monoglota vindo de outra área, relaxe, respire fundo e encare: provavelmente lá vem bomba. Mas não se desacorçoe, porque o estágio acaba logo e você, de um modo ou de outro, vai aprender muita coisa.

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