Do ponto de vista do pessoal que faz música clássica, as vozes se dividem em soprano, meio-soprano, contralto, tenor, barítono e baixo. Soprano é a mais aguda. Os mesmos nomes são aplicados, com alguma liberdade, a famílias de instrumentos fabricados em diversos tamanhos, como os saxofones. Existem saxofones sopranino, soprano, alto, tenor, barítono, baixo e contrabaixo. Se você nunca viu ou ouviu um saxofone contrabaixo, clique aqui.
Tentaram fazer um sax subcontrabaixo, ainda maior e mais grave que o contrabaixo, mas não deu muito certo e essa história não importa para nós agora. Importa que contrabaixo é, de modo geral, o instrumento mais grave de uma família.
Muitas vezes, esses termos são usados, por metonímia (creio eu, nunca entendi muito bem essas coisas), em substituição ao nome inteiro do instrumento. Esse procedimento é comum: a gente fala em vestibular, não exame vestibular; os advogados falam em inicial, não em petição inicial; ou o gerente do banco fala em promissória, em vez de nota promissória. É necessário completar mentalmente: dizer que Coleman Hawkins tocava tenor, quer dizer que toca saxofone (ou simplesmente "sax") tenor.
Assim, o instrumento mais grave entre os arcos ficou conhecido por contrabaixo, do italiano violone contrabasso. Contrabaixo é aquele gigantesco violino que se toca
Contrabaixos são instrumentos problemáticos e alguém teve a idéia de construir um contrabaixo elétrico, que, a bem dizer, é um contrabaixo de guitarra, não de violino. Entretanto, muita gente que tocava contrabaixo passou para o instrumento elétrico e, hoje, baixo normalmente significa o instrumento elétrico, nos meios não-clássicos. Nesse caso, cada vez mais, o instrumento tradicional se conhece por baixo acústico. Quer dizer, o nome do instrumento tradicional ganha um apêndice esclarecedor. O nome do instrumento mais moderno dispensa o qualificativo, por ser o mais comum.
O mesmo está acontecendo conosco, os tradutores. Quando inventaram aqueles programas que traduzem, eles se chamavam tradutores eletrônicos, tradutores automáticos, programas de tradução ou coisa que o valha. Atualmente, viraram tradutores, como indica a quantidade de pessoas que cai aqui no blog em busca de tradutores, mas não quer saber nem de mim nem de você, mas sim de um programinha porreta que dê conta de uma tradução na hora, com perfeição e, claro, grátis.
Logo, logo, assim como já há músicos dizendo que tocam baixo acústico, vamos nós dizer que somos tradutores humanos. Ainda bem que somos humanos, não é?
3 comentários:
E essa será nossa "propaganda": HUMANOS. Já que verão que os eletrônicos não são tão porretas assim e que os humanos são essenciais.
Os músicos chamados eruditos dizem "contrabaixo" mesmo. Já ouvi um regente solicitar em italiano: "bassi".
E que som o do sax contrabaixo! Sabe que gostei?
Uma informação mais ou menos inútil à margem da história: o contrabaixo não é da família dos violinos, mas das violas da gamba.
Stella Machado
Genial, Danilo! Aliás, já existem casos análogos. Vamos ver os que eu lembro:
Loja física (ou "brick-and-mortar" em inglês). São as velhas e boas lojas do nosso tempo.
Correio convencional (ou "snail mail").
NTSC puro. Essa surgiu no tempo do videocassete. A rigor, não precisaria existir. NTSC é NTSC, não existe outro tipo. Mas, para não confundir com videocassetes transcodificados para converter NTSC para PAL-M, inventou-se o "NTSC puro".
CD original. Essa me dá nos nervos. Quando alguém falar em CD, eu presumo que é original, ora bolas! Mas volta e meia alguém pergunta: "Quantos CDs ORIGINAIS você tem em sua coleção?" "Qual foi o último CD ORIGINAL que você comprou?"
Disco de inéditas. Ou CD de inéditas. No "meu tempo" essa qualificação não existia. Um disco era de inéditas "by default". Hoje, com o modismo de disco acústico, disco de tributo, disco ao vivo, disco de dueto, etc, os "discos de inéditas" são uma especialidade.
Baterista de verdade. O "de mentirinha" é a bateria eletrônica.
Isso dá assunto para um comentário.
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