Numa faculdade, uma sala cheia de gente querendo saber como é isso de traduzir como profissão. Eu lá, dizendo as coisas que sempre digo, mesmo porque não tenho outras a dizer. Fala-que-te-fala, a lengalenga de sempre, uma voz irada se levanta lá do fundo: – E o nosso diploma, não vale nada?
Não sei se já contei essa história aqui. Tenho um arquivo dos artigos publicados e a história não está lá. Mas posso ter me equivocado. Paciência. Quem sabe publiquei e você não leu.
O bruaá na platéia indicava que estava se iniciando um daqueles famosos movimentos de revolta contra as pessoas que traduzem sem a devida qualificação profissional e tal. E eu, lá, que nunca fiz faculdade, deitando falação – que contradição, meu São Jerônimo! Os professores que estavam na mesa começaram a se coçar, o que indicava um tanto de mal-estar quanto à situação.
Respondi que o diploma, a bem dizer, não valia nada. No máximo, se bonito, poderia ornar uma parede. Para muito mais, não servia.
Irritação crescente, mãos de professores se estendendo para pegar o microfone e apartear, mas se contendo
O que importava, na realidade, era o que se aprende na faculdade. Porque o diploma meramente certifica que você concluiu o curso com sucesso, o que não chega a ser de todo difícil. Cola-se, toma-se carona em trabalhos alheios, reciclam-se trabalhos antigos de outros alunos, coisas assim. Tive acesso a um grupo no yahoogroups onde a principal atividade era programar faltas coletivas, assim "ninguém saia prejudicado". Quando há falta coletiva, todos saem prejudicados. Tem gente que passa mais tempo no bar da esquina que na sala de aula. Claro, não são todos, eu sei e já sabia antes de você dizer.
O mercado não quer saber do seu diploma. O mercado quer saber se você agüenta o tranco. E o diploma não diz nada sobre isso. Digo mais, você pode ter certeza de que mesmo que tenha feito faculdade a sério, isso não garante que você vá agüentar o tranco. Só a experiência pode provar. Como diz o inglês, o teste do pudim é provar um pedaço.
Mas tenha certeza: se fizer a faculdade a sério, na melhor tradição CDF, suas possibilidades de sucesso vão ser muito maiores que a do pessoal mais esperto, que ficava no bar e só voltava à sala de aula quando o celular dava um toquinho. Faculdade é como bufê de restaurante: os pratos estão na mesa, você se serve. Fazer um bom prato e comer tudinho, sem deixar nada, é responsabilidade sua. Só o professor pode ensinar – mas só o aluno pode aprender.
Um comentário:
Danilo, se diploma fosse moeda, seria como o cruzeiro da Jacqueline (na época 'Kennedy'): só porque foi no barco do Onassis é que valeu alguma coisa. A piada é velha, mas o que você diz é atualíssimo. Como ex 'drop out', atual professor/estudante, tradutor (Passe Traduções, lembra?) e boa-vida em potencial (quando tiver grana de verdade, vocês vão ver!), sei muito bem que o que conta é a disposição de cada um em aprender e usar os conhecimentos adquiridos de modo produtivo. Diploma é só um pedaço de papel.
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