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sexta-feira, 9 de maio de 2008

Qualidade de tradução juramentada

Escreve um leitor irritado com a qualidade de uma tradução juramentada que leu. Não vi a tradução e, mesmo que tivesse visto, não ajudaria nada, porque é para uma língua que não conheço direito. Mas, sim, há traduções juramentadas de baixa qualidade. O missivista acha que o TPIC signatário da tradução foi nomeado por ter amigos influentes. Pode ser e pode não ser. Vamos ver se consigo colocar as coisas nos seus devidos lugares.

O TPIC não é um supertradutor e não jura que a tradução é perfeita. Jura, unicamente, que é o melhor que consegue fazer e que é a expressão do que diz o original. Então se o documento diz que o Brederodes Brunzundungas era auxiliar de aprendiz de laçador de cachorro da carrocinha de alguma obscura cidade no Alasca, a tradução não pode dizer que ele era coordenador do curso de direito em Harvard. Tenho uma amiga TPIC que quase se atraca com um cliente que queria que ela traduzisse may elect to como obriga-se, porque uma coisa é uma coisa e a outra coisa é outra coisa. Não quer dizer que as traduções dela ou de qualquer outro tradutor sejam perfeitas.

Além disso, são especialistas na tradução de certos tipos de documento. Esperar que um deles faça boas traduções de comerciais de TV é querer demais – embora sempre haja as exceções. Cada macaco no seu galho, de modo geral, embora haja os polivalentes, ou talvez devesse dizer poligalhentes.

Lamentavelmente, entretanto, há traduções juramentadas de qualidade muito má, sim. Por quê? Mil razões. Em alguns estados, há uma série de tradutores ad hoc e nomeados a título precário que nunca foram concursados e mesmo os concursos, que não se realizam há muitos e muitos anos, podem não ter sido dos mais estritos. Deus sabe o que sabia o primeiro colocado entre os que se candidataram a TPIC de alemão no Estado de Baixo Solaranjas do Oeste em 1965. Alguns desses profissionais podem ser de alta categoria, mas nem todos serão e os critérios para nomeação são algo obscuros.

Mesmo em SP, as coisas deixam a desejar. O último concurso foi honesto e disso parece que ninguém duvida. Parece que o penúltimo também foi. Não há acusações de suborno ou favorecimento conhecidas e comprovadas, embora haja quem diga que muita gente boa foi reprovada. Mesmo assim, conheço um par de pessoas aprovadas a quem eu jamais confiaria uma tradução. Como terão passado? Por quê? Sabe Deus. Mas tenho certeza de que não foi à custa de suborno nem de amizades.

Alguns dos TPICs também repassam serviços a terceiros, jurando que revisam tudo direitinho, palavra por palavra, algo que pode estar mais nas intenções do que nas ações de cada um. Essa prática é combatida por muitos, porém bastante comum. E é bem possível que quem recebe esses serviços ainda os repasse a outros. Nunca se sabe, realmente, quem fez uma tradução.

Mas é bom não generalizar: há uma elite de TPICs que presta serviços de alta qualidade. Pena que não seja fácil, para o usuário, saber quem é o melhor profissional para a língua que lhe interessa.

3 comentários:

Anônimo disse...

O último concurso para tradutor juramentado e intérprete comercial de São Paulo (TJIC) foi bem transparente. Realmente muita gente boa não passou. Mas concurso é concurso...depende do momento de cada um, naquele dia, naquela hora. É a melhor forma de escolher alguém para um cargo ou função pública? Não sei? Mas é o mais democrático. Perdões a quem não passou, mas não houve maracutaia nenhuma... Abraços a todos nós tradutores. Realmente podem ocorrer falhas em traduções, não sei italiano, mas vale essa máxima que li quando estudava a Conveção de Genebra sobre Títulos de Crédito: "Tradutore tradittore"

Anônimo disse...

Olá Danilo! Meu nome é Myrelle, sou estudante (ainda) do curso de Letras, e foi lá que começou a minha paixão por línguas estrangeiras. Faço algumas traduções, muito mais por gostar do que por ganhar algum dinheiro com isso, e, de fato, não é fácil. Mas que é prazeroso, ah!, isso é. Uma vez, um amigo me pediu uma tradução (IN-PT) de um artigo da área dele, Física... que surra! Mas fiquei muito feliz quando, quase um mês depois daquele trabalho, a irmã dele me ligou dizendo que queria alguém para algumas aulas de inglês e, como ele tinha me indicado, ela queria saber se eu estaria disponível. É muito bom quando isso acontece, eu fiquei muito feliz. Mas, como eu disse, faço isso muito mais por prazer, por gostar.
Bom, perdoe-me por tomar seu tempo e contar essas coisas. Mas eu acabei de ler alguns 'posts' aqui no seu blog e gostaria de deixar minha marca aqui. Legal, acho que vou aparecer mais vezes... hehe...
Bom, vou ler outros 'posts'. Deixo mais comentários por aí, mais tarde.
Devo dizer que acho muito legal da sua parte, como tradutor, deixar aqui as suas impressões sobre seu trabalho. Até logo!!

Um abraço!

Myrelle

Anônimo disse...

Olá, Danilo. É a segunda vez que faço um comentário por aqui.
Aqui na Itália não existe concurso público pra tradutor juramentado. Se alguém precisa de uma tradução juramentada recorre a algum tradutor "comum" e este vai até o tribunal pra poder jurar em frente ao escrivente que a tradução é cópia fiel do original. Assim, quem fez a tradução, responde civil e penalmente perante o tribunal por alguma falha da tradução.
Bem, era esse detalhe que gostaria de escrever aqui.
Um abraço.
Maria