Pulei uns dias, não é? Chato. Mas de vez em quando acontece. Hoje, para variar, gostaria de falar um instante sobre ética. Ética é – ou deveria ser – a base de toda a atividade humana. Vou começar com uma história real, mas, veja bem, não conheço todos os detalhes. Nem é importante. O importante é analisarmos a situação.
Ofereceram a um colega nosso um livro sobre religião para traduzir. Somos todos tradutores, certo? E tradutores traduzem, certo? Certo! Mas acontece que o colega é ateu. Então, como é que fica? Ateu pode traduzir livro sobre religião? Não era um livro contra a religião. Se fosse, estaria de colher. Mas não era.
Imagine que fosse um livro de proselitismo, um livro de propaganda religiosa e você fosse ateu. Você traduziria? Ou se você fosse religioso e o livro fosse de proselitismo ou propaganda de uma religião diferente da sua. Lá sei eu, se você fosse judeu, ficaria à vontade para traduzir um panfleto das Testemunhas de Jeová?
Questões de ética são questões de foro íntimo e não posso dizer a você o que fazer. Mas posso dizer como eu agiria. Mas antes do antes, tenho de dizer que sou agnóstico, o que não é o mesmo que ser ateu, embora muita gente tenha dificuldade para perceber a diferença.
A primeira pergunta, para mim, é para quem o texto vai ser traduzido. Por exemplo, de modo algum eu traduziria qualquer coisa que fosse para uma organização que advogasse o ódio ou a perseguição de natureza religiosa. Como a maioria dos agnósticos, sou a favor da liberdade religiosa e não quero o dinheiro de quem promove perseguições ou intolerâncias.
Mas, por exemplo, traduziria de bom grado uma verrina contra uma determinada religião para uso em um trabalho acadêmico sério sobre perseguição religiosa ou, para dar um exemplo mais forte, para que fosse juntada aos autos de um processo judicial. Acho que a análise do cliente é mais importante do que a análise do conteúdo do texto.
Mas vou terminar este artigo amanhã. Por hoje chega.
3 comentários:
Bom, eu uso Linux e traduzo coisas da Microsoft. Na comunidade Linux é mais ou menos o equivalente a dizer que sou sobrinho de São Pedro mas faço uns servicinhos para o coisa-ruim :-)
E embora seja ateu, traduziria numa boa textos religiosos, com as mesmas restrições que você fez. Não vou colaborar para incentivar o ódio e a discriminação, mas se fosse para fazer política eu não seria tradutor, seria deputado. E o salário seria bem melhor...
Olá! Primeiro quero parabeniza-lo pelo blog e dizer que estou amando! Foi por Deus que vim parar aqui e estou tendo respostas para muitas perguntas sobre a profissão!!! Ironicamente, vim parar aqui justamente porque acaba de surgir uma proposta para traduzir um livro religioso, e como eu nunca havia traduzido livros (apenas textos), estou buscando informacoes do tipo: como cobrar, prazo, registro, formacao e bla bla bla...Bom, meu problema nao eh com o conteudo do livro, pois é da mesma religiao que eu sigo. Mas achei interessante sua postura de profissional. Basicamente eu diria que eu não traduziria ideias que são contra meus principios (como o exemplo que vc citou, sobre o odio). Acho que vou vir mais vezes por aqui! Ate mais!!!
Danilo,
Assino em baixo. Eu traduziria textos sobre conteúdo religioso, descrição de religiões, mas jamais qualquer coisa que atacasse Jesus, pois isso feriria meus princípios, já que tomei seus ensinamentos como norma de vida.
"Examinai todas as coisas e retende o bem." Paulo.
Stella Machado
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