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segunda-feira, 30 de junho de 2008

O Leão está Doente



O Leão está doente

Um colega me chamou a atenção para esta notícia. Trocado em miúdos, a Lionbridge, que está entre as maiores agências de tradução do mundo, uma das que menos paga aos tradutores e uma das que mais investe em tecnologia, teve um prejuízo de US$ 4 milhões – e isso para o primeiro trimestre de 2008. O que vem pelo resto do ano, só Deus sabe.

O que deu errado? Saber, assim, de saber sabido, não sei. Mas sempre se podem fazer algumas observações:
  • Agência não é mina de ouro, como pensa tanta gente. A despeito do diferencial entre o que nos pagam e o que cobram dos clientes, as despesas são tantas que, se não forem bons, o bicho pega.
  • A Lionbridge, como tantas outras empresas, sobrestimou o retorno proporcionado pelo investimento em tecnologia. Há retorno, sim, mas não é o que a turma pensa.
  • A política deles era maximizar vendas: cobra o mínimo, para pegar o serviço de uma forma ou de outra, e depois dá um arrocho nos tradutores e revisores. Mas, a despeito do fato de que o mercado está cheio de gente disposta a aceitar serviço a taxas baixíssimas, há um limite para tudo.
  • Esse pessoal se impressiona muito com serviço grande. Vêem um serviço de megalhão de palavras, arquitrocentos fyzzy matches, e acham que dá para conceder um desconto bom. Mas acontece que controlar um serviço muito grande custa uma fábula e, na verdade, as agências deveriam cobrar um acréscimo de volume, em vez de dar desconto. Salvo se você juntar tudo o que os tradutores mandaram fizer uma prece a São Jerônimo e mandar para a frente, com casca e tudo.
  • O sistema de pagamentos deles tem sido muito criticado, o que também contribui para afastar os bons tradutores.
Com tudo isso, é de admirar que tenham ido tão longe e perdido tão pouco. Mas a idéia de que agência de tradução é mina de ouro não vem de hoje. Um colega no RU conta a história de uma agência que perdeu dinheiro durante vinte anos e foi mudando de proprietário, sempre nas mãos de algum esperançoso, que não via como se você paga cinco e cobra quinze pode ter prejuízo. Chegaram até a crescer em volume de vendas, mas um dia, tiveram de fechar.

Claro, nem todas as agências são um fracasso econômico, mas, também, nem todas são o sucesso que se pensa. Aliás, se eu achasse que ter agência de tradução era lucro certo, já tinha montado uma.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Preço de microsserviço

Suspendo a interminável série sobre achação de serviço para responder uma mensagenzinha.
Tenho uma dúvida que é a seguinte: me ofereceram um trabalho onde eu tinha que traduzir 3 frases que eram textos de rótulos de produtos do tipo: leve "X" produto e ganhe uma "mochila". A tradução, além de técnica, exigia uma adaptação pois era do português para um idioma estrangeiro, e no idioma estrangeiro a frase tinha outra estrutura. A agencia me ofereceu R$ 0,10 (dez centavos de real) por palavra com um total de 70 palavras(+/-), ou seja, eu receberia 7 reais pelo trabalho.

Gostaria de saber quanto um profissional cobra por esse tipo de trabalho e se a agencia ofereceu um valor justo.
Não é possível determinar um valor justo para serviço algum. Quer dizer, não há como eu possa dizer, baseado, nos dados que você me dá ou em quaisquer outros, considerando isto e aquilo, o que deveria ser pago. O que se pode falar é se o valor pago está de acordo com o mercado. Isso, na melhor das hipóteses, porque os preços no nosso mercado variam muito e o que está "dentro do mercado" para Alfa, pode estar "fora do mercado" para Beta.

Minha experiência é que, tirando fora os casos realmente extremos, a proporção entre os que cobram mais e os que cobram menos chega a dez para um, situação que leva a muito azedume sempre que a gente se põe a discutir essas coisas. Não há um procedimento padrão e, evidentemente, que paga luta por paga o mínimo, quem cobra luta por cobrar o máximo.

Dez centavos de real por palavra, preço de agência brasileira, para traduzir para uma língua estrangeira, não está de todo mau e tem gente ganhando bem menos que isso. A tradução para uma língua estrangeira, normalmente chamada versão é paga a uma taxa superior à da tradução para o português, mas a minha experiência é que não vale a pena, porque, se sua língua nativa for o português, dá uma trabalheira de todos os diabos. Além de que pouquíssima gente faz "versão" que preste – mas isso é outro problema.

O problema é o ser um microsserviço. A praxe do mercado é usar uma taxa mínima para essas coisas. Menos do isso, independentemente do trabalho que a tradução der, não cobre o trabalho de discutir o serviço, cobrar, emitir nota e quetais. Os clientes detestam e procuram sempre negociar essa taxa. Há tempos não tenho microsserviços no Brasil e, portanto, nem tenho taxa mínima em real. Mas diria que, algo em torno de R$ 50 – 75 seria de bom tamanho. Ou seja, se o cliente mandar uma frase de dez palavras, são R$ 50 e pronto. É também um meio de coibir abusos, o cliente que te pega meia hora no telefone para mandar um serviço de dez reais.

Entretanto, quando se trata de um cliente que manda montes de serviço, a gente às vezes nem cobra uma coisa dessas. Quer dizer, cada caso é um caso.

Pelo que me diz a missivista, o texto talvez seja de natureza publicitária e esses textos são dificílimos de traduzir, não importa para qual língua. O pessoal de criação da agência de publicidade fica um mês para bolar uma frase, cobra um preço condizente com o tempo gasto, mas se espera que o tradutor ache o equivalente em outra língua em menos de um minuto e cobre cinco reais pelo serviço.

Uma vez, eu estava no escritório de uma agência e ligaram da Secretaria do Governo do Estado do Paraná, pedindo uma traduçãozinha rapidinha, só três palavrinhas. Quando o dono da agência fez pé firme, sustentando que precisaria de pelo menos um dia para traduzir aquilo e cotou um preço condizente com um dia de trabalho de um tradutor, desistiram. Ainda bem, porque a frase – não me esqueço – era o slogan do governo do Paraná, na época: Paraná: aqui se trabalha.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Uma mensagem quilométrica

Recebi uma mensagem quilométrica de um rapaz que tem uma história rocambolesca e estapafúrdia, para dizer pouco.

Resumindo, resumindo, resumindo, o Carlos (não é realmente esse o nome dele) só tem curso médio, feito meio que aos trancos e aprendeu inglês sozinho, de teimoso. Emocionalmente, tem fases estáveis e instáveis, por vários motivos. Mora nos cafundós do Judas, só consegue trabalho braçal e acha que se sentiria melhor em trabalho intelectual.

Pergunta se tem futuro como tradutor e tal, aquela coisa de sempre.

Bom, Carlos, se você tem curso médio completo, já tem mais do que eu, que nunca terminei o meu. Meu inglês também foi aprendido meio que no susto, lendo livros e revistas sobre música, já que as possibilidades de fazer um curso eram zero. Minha família provavelmente era menos pobre do que a sua, mas eu jamais fui algum magnata.

Já vivia de traduzir há anos quando fui a primeira vez aos EUA. Ao todo, fui cinco vezes lá e uma à Inglaterra. Somando todas as estadas, não deu trinta dias. Meu inglês falado, até hoje, é uma lástima. Quando vou para lá, sempre procuro sair com amigos que falem melhor que eu, porque até pedir comida em restaurante é uma tortura.

Mas nada disso me impede de viver de tradução.

Você escreve muito bem, o que já é um excelente ponto de partida. Se o seu inglês é bom ou mau, não sei, nem vou procurar saber. Você diz que, como professor, não é grande coisa. Não se preocupe com isso: professor é uma coisa, tradutor é outra e nem todos os que são bons numa dessas atividades se dão bem na outra. Da mesma forma que nem todos os tradutores são bons intérpretes e vice-versa.

Resta, então, comentar o aspecto tradução. Acho que você deveria começar a fazer testes para tradutor. Veja, aqui do lado direito, os nomes das listas de tradutores na internet e da nossa comunidade no Orkut. Inscreva-se. Inscreva-se, mas não entre de sola. Fique quieto, ouvindo, lendo, aprendendo, durante pelo menos quinze dias, para pegar o jeitão da coisa. Depois, comece a participar.

Periodicamente, eu faço a tal da Reunião na Sala 7, via Internet, sempre grátis, um evento que tem, entre outras coisas, a função de criara contatos entre tradutores. Participe. Não paga nada, mesmo.

Nesses lugares, nunca se pede serviço. Mas nunca mesmo. Mas sempre surgem oportunidades e ofertas e sugestões.

Este artigo está já longo demais, mas amanhã volto ao assunto, com algumas sugestões sobre onde procurar trabalho. Nada é garantido, mas tudo ajuda um pouco.


Ah, Carlos, antes que me esqueça, criar um pouco de juízo não ia fazer mal nenhum também – e você me parece estar tão consciente disso quanto eu próprio. Mas, aí, meu caro, já não posso fazer nada: fica exclusivamente por sua conta. Você é que sabe o que quer da vida.



quarta-feira, 18 de junho de 2008

Colega sem sorte

Um recadinho no Orkut tem uma queixa de um colega que se queixa da falta de sorte. A história toda eu conheço já há algum tempo e vou resumir para você, mascarando um que outro pormenor.

O colega teve a sorte de arranjar um emprego único, para uma combinação de qualificações que ele tinha e que incluía a capacidade para atuar como intérprete. Como o emprego exigia uma combinação de conhecimentos especial, a remuneração era alta. Além disso, havia a garantia de um contrato. O contrato não foi renovado e o nosso amigo se viu meio perdido. Já faz tempo que está tentando se reorganizar, mas não consegue.

O primeiro problema, aqui, é o contrato, que dá uma falsa segurança. Você não pode ser demitida, mas, por outro lado, quando acaba, acabou e não tem choro. Mesmo o vínculo empregatício regido pela CLT, a famosa carteira assinada, que dá alguma garantia a mais, garante muito pouco. O que garante a segurança, para quem tem emprego, é a liquidez do mercado local. Quer dizer, se você tem o único emprego de tradutora existente na sua cidade, se perder o emprego ou arranja outra profissão ou muda de cidade.

Quando se trata de um emprego que combina duas funções, digamos tradutora e editora de vídeo e, por isso, paga mais, a chance de você manter o esquema em outro lugar é baixíssima, porque poucas empresas vão precisar dessa combinação.

Além disso, mesmo em cidades grandes, poucas empresas contratam tradutores ou intérpretes como funcionários: dada a oscilação constante do volume de trabalho, a grande maioria prefere terceirizar esse tipo de serviço.

Não quer dizer que um tradutor tenha de viver nos grandes centros, mas quer dizer que, se você mora fora dos grandes centros, é melhor procurar trabalhar como independente, via Internet, do que procurar um emprego. Emprego de intérprete tem menos ainda. Não quer dizer que não haja serviço, quer dizer que intérprete que marca cartão e tem carteira assinada é raridade. A maioria trabalha como independente e acaba viajando muito. É esse o mercado.

Então, o colega não é realmente desprovido de sorte. Simplesmente, achou uma agulha em um palheiro e não consegue achar a segunda.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Mary is a native

Tenho uma conhecida, a Mary que nasceu na anglofonolândia, aquele aglomerado de países onde as criancinhas falam inglês desde bem pequenininhas. Essa minha conhecida não perde a mais leve chance de lembrar que sua língua-mãe é o inglês e, ipso facto, é autoridade no assunto. Leu algumas traduções para o inglês feitas por brasileiros e morreu de rir com o tupiniquinglish.

Dessas observações, tirou algumas conclusões válidas e outras nem tanto, porque baseadas em generalizações exageradas. Como esse assunto é discutido tão freqüentemente onde quer que se reúnam pessoas interessadas em tradução, deixa eu cá dar meu palpite.

Minha conhecida tem, de fato, um inglês impecável, embora os ingleses mesmo provavelmente torcessem o nariz para uma que outra construção que ela usa, assim como os portugueses torcem o nariz para torneios de frase que, para nós brasileiros, parecem perfeitos. Fosse ela inglesa, seriam os americanos, canadenses e o que mais seja que achariam algumas das frases dela algo estranhas.

Nem todos os nascidos na anglofonolândia, entretanto, escrevem bem. Lá como cá, há uma cambada de semi-analfabetos que dá dó, fato suficientemente discutido na imprensa de lá, e não é de hoje. Quer dizer, a Mary escreve bem porque estudou e se esforçou por aprender a escrever bem e porque tinha talento para tanto, não por ter nascido lá. É fato indiscutível que quem nasceu do lado de cá jamais pode esperar atingir a perfeição no inglês, mas também é indiscutível que o ter nascido lá não garante nada.

A Mary morre de rir do tupiniquinglish, e não sem razão. Nenhum de nós brasileiros vai jamais dominar o inglês perfeitamente. A maioria dos brasileiros que acha que tem inglês perfeito tem mesmo é falta de autocrítica.

Lamentavelmente, para o cliente brasileiro, que sabe pouco inglês, o tupiniquinglish parece bem melhor que o inglês mais autêntico e essa turma tem serviço adoidado. Sei de uma história divertidíssima de uma empresa onde uma tradução esmerada, de um colega nosso nascido e criado na Inglaterra, com um inglês magnífico e sólidos conhecimentos de português, foi reescrita pela diretoria da empresa em tupiniquinglish, que eles achavam mais claro e correto.

Por outro lado, o estrangeiro que traduz do português muitas vezes não entende o original suficientemente bem e escreve umas coisas estranhas, que o autor nunca pensou em dizer. Já vi isso mais de uma vez. A Mary mora aqui e sabe das coisas, mas, principalmente na Europa, tem uma turma que estudou francês na faculdade, pegou espanhol como segunda opção, acha que sabe português porque passa as férias no Algarve e vem traduzir português brasileiro. As interpretações dessa turma são muito divertidas.

Por fim, e para não me estender demais sobre um assunto do qual já tratei mil vezes, sempre existe o risco de contaminação. Quer dizer, se o cara não for bom, mesmo, se não for firme na sua língua materna, vai acabar deixando o português contaminar seu inglês e vai escrever tupiniquinglish como nós.

Quer dizer, ter nascido lá é uma indicação, mas não uma certeza.

Meu computador primário está em manutenção e estou escrevendo do reserva. Às vezes fica complicado, mas eu não desisto fácil.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Comentário de uma pré-principiante

Escreveu a Tamara, num comentário a este artigo:

Eu tenho 17 anos e estou cursando o 3° ano do ensino médio. Sou uma pessoa que sempre tive um fascínio por línguas estrangeiras. Sei que em tradução existem os bons profissionais e os ruins também. Gostaria muito de ser tradutora principalmente de filmes e canais de TV á cabo. Será que existe um bom mercado para esse ramo em um outro país além do Brasil? O senhor acha que é preciso encarar esse tipo de profissão como um segundo emprego e estar trabalhando como professor de línguas por exemplo, para conseguir um bom retorno financeiro?

Tamara, você está começando cedo, não? Ainda no 3º ano do curso médio e já se preocupado com coisas como mercado! Parabéns! Vamos ver se consigo dar uma resposta adequada à sua mensagem.

Eu vivo exclusivamente da tradução desde 1970. Mesmo meus cursos, que me trazem algum retorno financeiro, são sempre voltados para a tradução. Não gosto da idéia de ser professor de línguas e tradutor ao mesmo tempo. Primeiro, porque são atividades diferentes, que exigem habilidades e formações também diferentes e nem sempre o bom professor é bom tradutor e vice-versa. Segundo que, devido aos compromissos fixos do professor (aula a tais e tais horas em tal e tal lugar) e a correria constante da tradução, conciliar as duas profissões é cada vez mais difícil. Terceiro, que o tradutor atualmente é obrigado a dominar um arsenal informático de bom porte, o que exige um bom esforço e só compensa se você se dedicar exclusivamente à tradução.

O mercado de filmes e TV está crescendo, mas é o mercado da moda e onze entre cada dez candidatos a tradutor quer participar dele, o que o torna um mercado difícil e complicado. Há muita coisa boa a fazer como tradutor fora desse mercado, creia-me, e, mesmo que você não consiga um lugar nele, vai encontrar muito com que se divertir.

Finalmente, a tradução hoje é a mais globalizada das profissões, profissionalmente todos nós moramos na Internet e não faz a mais remota diferença se você tem sua residência aqui ou na Conchinchina. Conheço gente que mora no Canadá e traduz filmes para exibição no Brasil, por exemplo. Por outro lado, o mercado internacional espera que você traduza para sua língua materna, o que quer dizer que (presumindo-se que você seja brasileira) você pode estudar inglês, tornar-se uma excelente tradutora de inglês, ir morar na Eslobóvia e, de lá, atender clientes em qualquer lugar do mundo que desejem traduções para o português do Brasil.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Uma boa notícia?

Não sei se você vai considerar uma boa notícia, mas os cursos Aulavox devem recomeçar logo e, provavelmente, teremos também uns cursos presenciais em São Paulo. Para mim, é muito bom, porque gosto muito desses cursos e sempre são uma fonte de renda.

Fique ligado para saber das novidades.

Revisão de tradução automática

Um colega conta que tem recebido propostas para revisar tradução automática.

Para evitar mal-entendidos, tradução automática é aquela feita com programas tipo Babelfish, que não tem nada, mas nada mesmo, que ver com tradução feita com auxílio de Wordfast, Trados, DéjàVu, etc.

Isso dito, podemos voltar ao assunto. Então, um colega conta que tem recebido propostas para revisão de tradução automática. Um grande progresso, porque não faz muito tempo o consenso era que tradução automática se mandava para a frente com casca e tudo.

Aqui, então, o problema é quanto cobrar. Há anos estão dizendo que está para sair um programa de tradução automatizada que vai acabar com a raça dos tradutores, mas ainda estamos esperando. Entretanto, estão cada vez melhores. E nem todos são tão toscos quanto o Babelfish e o Powertranslator. Com isto e mais aquilo, uma coisa e outra, tem mais de uma agência testando esses recursos, para tentar reduzir custos, já que não têm mais como segurar a paga dos tradutores, que já anda baixa o suficiente.

Acho essa tentativa legítima. Todos, incluindo nós e nossos clientes, têm o direito de procurar reduzir custos. Eu estou agora procurando mexer numas coisas aqui no escritório para reduzir meus custos e aumentar meu lucro também. Por que os meus clientes não podem fazer o mesmo?

O fato é, por outro lado, que revisar textos traduzidos automaticamente demora mais e, portanto, deve custar mais. Se, no fim das contas, juntar tradução automatizada com revisão humana sair mais barato para a agência, sorte deles.

Mas eu não vou reduzir meus rendimentos para fazer gracinha para agência. Se aparecer pela minha frente um serviço desses, vou fazer uns testes e, em seguida, cotar um preço condizente com o tempo que vai me tomar. Esse preço vai variar desde aproximadamente o que eu já cobro por revisão de tradução humana até meu preço para fazer a tradução total do texto de novo. Posso errar da primeira vez, mas, com o tempo, vou aprender.

Aliás, mesmo quando se trata de tradução humana, vale a pena dar uma boa olhada antes de cotar um preço, porque tem uma turma por aí que é pior que o Babelfish. Mas isso já é outra história.

Obrigado pela visita e volte sempre. Agora, vou procurar atualizar este blog todos os dias com algo de interessante. Antes de ir embora, por favor, clique aqui e deixe seu comentário.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

O que você gostaria de ver neste blog?

Quero dar uma turbinada no blog. Para isso, gostaria de ter sua colaboração. Se você já apareceu aqui um par de vezes, tem uma boa idéia do que cabe no blog e do que eu sou capaz de fazer – e também do que eu não sou. Também, se for blogueiro ou algo conhecedor de blogologia teórica ou aplicada, pode dar alguma sugestão técnica. Pode me mandar um e-mail, se quiser, mas prefiro um comentário a este artigo, porque assim outras pessoas de boa vontade vão poder agregar alguma coisa ao que você tiver sugerido.

Mais tarde, posto mais alguma coisa.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Agradecimento pelas mensagens

Mais de 300 colegas me escreveram após a morte da Vera. Muitos com mensagens públicas, outros em particular. A maioria se desculpando por não saber o que dizer, como se houvesse algo a dizer numa hora dessas e como se não saber o que dizer fosse culpa ou falha deles. Muitas dessas mensagens vieram de gente que eu mal ou nem conhecia, mas que de um modo ou de outro, se sentia minha amiga e quis me confortar.

Nenhuma dessas mensagens me trouxe a Vera de volta, mas cada uma delas trouxe um pouco de alento e, somadas, foram uma grande ajuda. Emocionante ver a caixa postal inundada por mensagens afetuosas. Mesmo com elas, é um momento difícil; sem elas, a dificuldade seria ainda maior.

Boa parte das mensagens contava a experiência de cada um com suas perdas dolorosas. Falava do vácuo que fica quando alguém importante se vai para sempre. Da sensação esquisita que é passar em algum lugar, ver algo e dizer-se preciso contar isso ao fulano, ele vai achar divertido e, em seguida, dar-se conta de que fulano não existe mais.

Tive essa sensação no domingo. Para desemperrar os ossos, enferrujados pelos últimos seis meses de prisão domiciliar, ambulatorial e hospitalar, aproveitei a tarde de domingo para fazer um programa que a Vera e eu adorávamos fazer aos sábados: caminhar pela Avenida Paulista até a Livraria Cultura, ficar um tempo lá, e regressar pelo mesmo caminho.

Cheguei à Livraria Cultura e notei que a antiga loja geral tinha voltado à vida, agora como a loja de música e arte. Sorri e disse para mim próprio: a Vera vai gostar dessa nova expansão da Cultura. Mas logo me dei conta de quando voltasse para casa, encontraria só o silêncio, não mais a Vera.

Muita gente me perguntou como estou me arranjando, onde faço minhas refeições, quem cuida da minha roupa e coisas do mesmo jaez. Do ponto de vista material, arranjo-me muito bem, obrigado, com ou sem Vera. Faz pouca diferença.

A diferença, a grande diferença, é a falta do braço na minha cintura, do ombro para eu pousar a mão direita, do beijo roubado quando o carro parava num sinal vermelho (para espanto hilário dos que acham cômico e absurdo sexagenários se beijando em público), das pequenas brincadeiras particulares, das alusões que só nós entendíamos, das trocas de olhares cúmplices, dos jogos de palavras que só para nós tinham significado. Da garrafa de vinho lentamente compartilhada. Do dormir de conchinha.

Por outro lado, sou um felizardo: quantos terão tido 40 anos de vida rica em amor como eu? Reclamar do quê, se muitos nunca tiveram um momento sequer dessa felicidade?

A revista Época tem uma seção de entrevistas que sempre termina com a mesma pergunta: Se o céu existir, o que você gostaria de ouvir de Deus ao chegar lá? O que eu gostaria de ouvir é a Vera está esperando por você.

Não tenho como responder a todas as mensagens individualmente, agradeço a todas, de público, aqui. Peço agora, um favor: se você soube do falecimento da Vera e repassou a notícia a alguém conhecido, por favor, avise também sobre este artigo do blog. Gostaria que todos soubessem da minha gratidão aos que me ofereceram conforto.

Durante o fim de semana, este blog volta à vida como publicação profissional.