Então, ele achou que deveria ser tradutor. Não sei por quê, porque não conheço a pessoa. Mas achou que deveria ser tradutor. Então, pegou um livro sobre uma área que conhecia e se pôs a traduzir. Aparentemente, pretendia traduzir o livro todo e apresentar o trabalho a uma editora, ou quem sabe publicar por conta própria. Tendo iniciado a tarefa, acho que deveria ou poderia ampliar o que o autor tinha dito em notas de rodapé.
Quer dizer, começou com o pé esquerdo.
Para publicar uma tradução é necessário obter a permissão do titular dos direitos autorais, que pode ser o autor, uma editora ou algum terceiro. Essa permissão é concedida a título oneroso, quer dizer, contra pagamento, e sempre sob contrato. Embora a autorização possa ser concedida a qualquer um, de modo geral é dada somente a uma editora estabelecida, não a um desconhecido qualquer que nunca publicou um livro na vida e que talvez nem tenha idéia de como proceder. Isso não é só no Brasil – vale para todo mundo civilizado.
Conseguida a permissão, a editora procura um tradutor. Pode ser alguém já conhecido deles, podem sair no mercado em busca de alguém. Escolhido o tradutor, assina-se um contrato de tradução e o serviço se inicia. É assim que funciona.
Nada impede que você traduza meia dúzia de páginas de um livro e mostre a uma editora, como amostra de seu trabalho e como sugestão de que o livro seja traduzido. Entretanto, traduzir tudo e levar à editora é loucura. Depois de um ano de trabalho árduo para traduzir o livro, você pode descobrir que não há editora interessada no título ou que o mesmo título já está sendo traduzido por outra pessoa. Ou descobrir que sua tradução, por boa que esteja, precisa de mil alterações formais para se adequar aos parâmetros e normas de uma editora. Quer dizer, traduzir não é só traduzir, se me faço claro.
Quanto às notas para "estender" o texto, desculpe, mas discordo. Notas de tradutor são muletas que o tradutor deve usar exclusivamente quando suas pernas não lhe permitem arranjar uma tradução adequada, uma confissão de derrota, não uma demonstração de sapiência.
Se a pessoa for competente o bastante para ampliar o pensamento exposto em um determinado livro, é melhor que escreva seu próprio livro. O leitor quer ler o pensamento do autor, não o do tradutor. Se você se põe a traduzir, concentre seus esforços em traduzir direito, o que já é tarefa das grandes, bem maior do que a maioria dos mortais pensa.
E por aqui fico hoje.
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
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2 comentários:
Post muito interessante. Estou tentando começar agora na área de tradução, e gosto de ler sobre essas coisas de "erros de principiante". Mas isso nunca me passou pela cabeça! Beijos.
Olá Danilo,
Estou aprendendo a usar o Wordfast e acho seu blog é sensacional.
Você poderia me tirar uma dúvida?
O Wordfast não me permite usar a função Shift+Alt+DownArrow para pular um trecho do texto.
Você tem alguma sugestão para o meu caso?
Muito obrigado,
Luis (luew@yahoo.com)
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