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sexta-feira, 30 de maio de 2008

Falecimento

Hoje, dia 30 de maio , um pouco antes das 5 da manhã, a Vera, minha companheira de 40 anos de jornada, se foi para sempre. Foi para poder ficar ao lado dela neste fim de vida que sumi das listas, comunidades e blog. Gostaria, agora, de escrever uma despedida bonita à altura do amor que nos uniu, mas não tenho condições.

Atendendo ao desejo dela, as cerimônias funerais serão restritas aos familiares.

Na semana que vem, volto a escrever no blog e às minhas atividades habituais.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Você traduziria este texto?

Pulei uns dias, não é? Chato. Mas de vez em quando acontece. Hoje, para variar, gostaria de falar um instante sobre ética. Ética é – ou deveria ser – a base de toda a atividade humana. Vou começar com uma história real, mas, veja bem, não conheço todos os detalhes. Nem é importante. O importante é analisarmos a situação.

Ofereceram a um colega nosso um livro sobre religião para traduzir. Somos todos tradutores, certo? E tradutores traduzem, certo? Certo! Mas acontece que o colega é ateu. Então, como é que fica? Ateu pode traduzir livro sobre religião? Não era um livro contra a religião. Se fosse, estaria de colher. Mas não era.

Imagine que fosse um livro de proselitismo, um livro de propaganda religiosa e você fosse ateu. Você traduziria? Ou se você fosse religioso e o livro fosse de proselitismo ou propaganda de uma religião diferente da sua. Lá sei eu, se você fosse judeu, ficaria à vontade para traduzir um panfleto das Testemunhas de Jeová?

Questões de ética são questões de foro íntimo e não posso dizer a você o que fazer. Mas posso dizer como eu agiria. Mas antes do antes, tenho de dizer que sou agnóstico, o que não é o mesmo que ser ateu, embora muita gente tenha dificuldade para perceber a diferença.

A primeira pergunta, para mim, é para quem o texto vai ser traduzido. Por exemplo, de modo algum eu traduziria qualquer coisa que fosse para uma organização que advogasse o ódio ou a perseguição de natureza religiosa. Como a maioria dos agnósticos, sou a favor da liberdade religiosa e não quero o dinheiro de quem promove perseguições ou intolerâncias.

Mas, por exemplo, traduziria de bom grado uma verrina contra uma determinada religião para uso em um trabalho acadêmico sério sobre perseguição religiosa ou, para dar um exemplo mais forte, para que fosse juntada aos autos de um processo judicial. Acho que a análise do cliente é mais importante do que a análise do conteúdo do texto.

Mas vou terminar este artigo amanhã. Por hoje chega.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Qualidade de tradução juramentada

Escreve um leitor irritado com a qualidade de uma tradução juramentada que leu. Não vi a tradução e, mesmo que tivesse visto, não ajudaria nada, porque é para uma língua que não conheço direito. Mas, sim, há traduções juramentadas de baixa qualidade. O missivista acha que o TPIC signatário da tradução foi nomeado por ter amigos influentes. Pode ser e pode não ser. Vamos ver se consigo colocar as coisas nos seus devidos lugares.

O TPIC não é um supertradutor e não jura que a tradução é perfeita. Jura, unicamente, que é o melhor que consegue fazer e que é a expressão do que diz o original. Então se o documento diz que o Brederodes Brunzundungas era auxiliar de aprendiz de laçador de cachorro da carrocinha de alguma obscura cidade no Alasca, a tradução não pode dizer que ele era coordenador do curso de direito em Harvard. Tenho uma amiga TPIC que quase se atraca com um cliente que queria que ela traduzisse may elect to como obriga-se, porque uma coisa é uma coisa e a outra coisa é outra coisa. Não quer dizer que as traduções dela ou de qualquer outro tradutor sejam perfeitas.

Além disso, são especialistas na tradução de certos tipos de documento. Esperar que um deles faça boas traduções de comerciais de TV é querer demais – embora sempre haja as exceções. Cada macaco no seu galho, de modo geral, embora haja os polivalentes, ou talvez devesse dizer poligalhentes.

Lamentavelmente, entretanto, há traduções juramentadas de qualidade muito má, sim. Por quê? Mil razões. Em alguns estados, há uma série de tradutores ad hoc e nomeados a título precário que nunca foram concursados e mesmo os concursos, que não se realizam há muitos e muitos anos, podem não ter sido dos mais estritos. Deus sabe o que sabia o primeiro colocado entre os que se candidataram a TPIC de alemão no Estado de Baixo Solaranjas do Oeste em 1965. Alguns desses profissionais podem ser de alta categoria, mas nem todos serão e os critérios para nomeação são algo obscuros.

Mesmo em SP, as coisas deixam a desejar. O último concurso foi honesto e disso parece que ninguém duvida. Parece que o penúltimo também foi. Não há acusações de suborno ou favorecimento conhecidas e comprovadas, embora haja quem diga que muita gente boa foi reprovada. Mesmo assim, conheço um par de pessoas aprovadas a quem eu jamais confiaria uma tradução. Como terão passado? Por quê? Sabe Deus. Mas tenho certeza de que não foi à custa de suborno nem de amizades.

Alguns dos TPICs também repassam serviços a terceiros, jurando que revisam tudo direitinho, palavra por palavra, algo que pode estar mais nas intenções do que nas ações de cada um. Essa prática é combatida por muitos, porém bastante comum. E é bem possível que quem recebe esses serviços ainda os repasse a outros. Nunca se sabe, realmente, quem fez uma tradução.

Mas é bom não generalizar: há uma elite de TPICs que presta serviços de alta qualidade. Pena que não seja fácil, para o usuário, saber quem é o melhor profissional para a língua que lhe interessa.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Línguas de menor demanda

Descobri o blog ha' pouco tempo, e desde então tenho feito constantes visitas.

Gostaria que você escrevesse um pouco sobre o mercado para os tradutores de língua não inglesa, como o francês, espanhol etc.

Abraços

Fernando

Fernando, ninguém tem dados precisos, mas, assim, de orelhada, acho que mais de 50% do mercado é de e para inglês. No segundo pelotão vem o espanhol, que tem crescido muito, depois o francês, italiano e alemão e depois as outras línguas. Há serviço, mas é pouco, salvo para o espanhol. A falta de serviço é parcialmente compensada pela falta de tradutores e há gente ganhando bom dinheiro com francês, por exemplo.

Dois problemas, entretanto: Primeiro, que fora do inglês, a possibilidade de especialização é pequena: se você faz italiano, um dia é de matemática, no seguinte e mecânica e no terceiro é metafísica. O investimento de tempo em pesquisa é enorme. Segundo que o mercado de traduções é muito pouco transparente: achar o serviço é sempre complicado e mais complicado ainda para as línguas de menor demanda. Por isso, encontrar os clientes para italiano, por exemplo, exige muita virtù e fortuna. Existem, mas são difíceis de encontrar.

Para as línguas de expressão ainda menor, a coisa complica e é importante ser realista. Há tempos, havia uma jovem que dizia pretender dedicar-se à tradução da poesia polonesa, pela qual era apaixonada. Nada contra, mas disso é difícil viver.

Se você digitar o nome de alguma língua na caixa pesquisar blog que fica no alto da tela, do seu lado esquerdo, vai ver outros comentários sobre o assunto.

Obrigado pela visita e volte sempre.



quarta-feira, 7 de maio de 2008

Vale a pena trabalhar direito a 3 centavos por palavra?

Uma tradutora conhecida minha disse que quando pegava serviço mal pago, picaretava. Como justificativa, afirmava que não valia a pena trabalhar direito a 3 centavos por palavra.

Complicado, isso. Faz lembrar da história daquele cozinheiro de restaurante que, por ser mal pago, cuspia na comida. O dono continuava pagando pouco, o cozinheiro continuava recebendo pouco: quer dizer, não adiantava nada. Mas o infeliz que comia no restaurante, coitado, que não tinha nada que ver com o peixe, comia comida com cuspe. E quem come a nossa comida não é nem a agência nem o cliente da agência, mas sim o leitor. Quer dizer, pagam os inocentes pelos pecadores.

Entendo a posição dela – e que dá vontade de dar uma bela duma picaretada na tradução, lá isso dá. Mas, independentemente do problema ético, vem lá um problema estratégico.

Minha estratégia é diferente: faço uma força enorme para conseguir mais um tostão por palavra mas e, muitas vezes, recuso o serviço porque acho o preço baixo demais. Porém, quando aceito, faço sempre o melhor que posso.

A maioria (quer dizer, muitas mas não todas) as agências não está muito disposta a pagar um tostão a mais por qualidade, mas, mantido o preço, procuram primeiro quem possa fazer no prazo e, em seguida, quem tenha a melhor qualidade. No quesito prazo, a gente nunca sabe. Hoje você pode atender, amanhã talvez não possa. Então nem é bom pensar.

Se puder, certamente, a agência vai preferir o melhor tradutor disponível –mantido o preço. Quer dizer, num primeiro momento, trabalhar bem granjeia mais serviço. E, claro, mas convites para próximos serviços. E assim, aos poucos, você enche o seu tempo todo. E aí chega a hora de recusar serviço com preços menores, ou dos que demoram para pagar, ou dos que são chatos demais da conta. E, claro, quando surgir algum serviço que exija mais responsabilidade e pague mais, vão procurar quem?

Nunca esqueça que, quem avalia uma tradução jamais leva em conta o quanto foi pago. O cliente não diz, essa infeliz recebeu três centavos por palavra, o que você esperava? Diz quem foi a irresponsável que fez esse serviço porco? Nós pagamos isso?

Para finalizar, eu acho que cuspir na comida é coisa de porco, mesmo. Tem dó! Coisa nojenta!




terça-feira, 6 de maio de 2008

Tradução técnica, científica, pragmática....

Sou estudante de tradução francês, curso o segundo semestre. Estou perdida com os termos tradução técnica, especializada, pragmática, científica... não consigo defini-los nem diferenciá-los claramente. Agradeço se poder me ajudar.

Abraço, Sara!

Antigamente, falava-se em tradução literária e técnica. O que não era uma, era outra e estava acabado. Mas é uma posição simplista demais, porque tradução técnica, no ver de muitos, se refere exclusivamente a assuntos, digamos, industriais, coisas de engenharia, mas não incluiria finanças, direito ou mesmo ciências puras.

Então, foi proposta a oposição entre tradução literária (textos com valor estético, mas sem utilidade prática) e tradução pragmática (textos com utilidade prática mas sem valor estético). Mas esta classificação também é frágil, porque deixa no limbo coisas importantes, tais como a tradução de textos religiosos, área dificílima e objeto de estudos muito avançados, bem como diversos tipos de tradução na área de humanidades, onde a mistura entre considerações estéticas e pragmáticas é grande. Sem falar na área de publicidade, desdenhada pelos teóricos, porque envolve "comércio", mas que tem uma problemática extraordinariamente interessante, para quem não tem o cérebro tolhido e atrofiado por ideologias.

Então, começa-se a falar em tradução especializada. Ou seja, eu faço especializada, porque só lido com algumas áreas específicas, como finanças e tributação. Outros colegas fazem engenharia, medicina, ciências puras e assim por diante. Outros, ainda, fazem psicologia e por aí em fora. Pode ser, mas aí fica a literatura como "não especializada", o que me parece uma pena, porque traduzir literatura é, a meu ver uma especialização como qualquer outra.

Na verdade, a maioria dessas classificações foi criada por teóricos que se interessam basicamente pela tradução do que consideram grandes obras literárias (o que exclui Bianca, Sabrina & Júlia, e ficção de massa, como Harry Potter) e têm um desprezo mal escondido pelo que faz a maioria dos tradutores, que é exatamente a tradução de textos que não se classificam como grandes obras literárias. Essas classificações desprezam o fato de que toda tradução envolve considerações estéticas e estilísticas, mesmo a tradução da mais seca lista de peças. Basicamente, lá no fundo, no fundo, querem dizer "tradução da grande literatura e o resto". "Resto" é o que faz a maioria de nós.

Na verdade, em vez de compartimentos estanques, há uma gama, onde, em um extremo, há certos tipos de poesia lírica e no outro as listas de peças, mas as transições entre um tipo de outro jamais são claras e precisas. Quanto mais se conhece sobre tradução, menos confiança se deposita nesses rótulos.

Finalmente, temos a tradução científica. Num momento em que se falava em literária (alto status) versus técnica (baixo status), a turma que fazia ciências puras preferiu se autodenominar tradutor científico, para ganhar um pouco mais de cacife, destacando-se da turma "meramente" técnica. O mesmo aconteceu com o pessoal que fazia jurídica, médica e assim por diante, num desejo claro de se divorciar da pecha de meramente lidar com porcas e parafusos. Quer dizer, química teórica é tradução científica, não técnica. Certo. Mas um texto de química industrial, o que é?

Se você adotar o termo tradução pragmática ou tradução especializada, qualquer um dos conceitos abarca tradução técnica, científica, jurídica, financeira, médica e que mais seja.

Aliás, Sara, se você faz francês (Onde? A gente gosta de saber dessas coisas. Poste um comentário informando, por favor.) essas coisas têm muito menos interesse que para a turma do inglês. O mercado francês é menor e menos diferenciado que o do inglês e, se você pretende se profissionalizar, quer dizer, ganhar a vida exclusivamente traduzindo francês, provavelmente vai ter que fazer um pouco de tudo.

domingo, 4 de maio de 2008

Que línguas aprender par ser tradutor?

Oi, Danilo. Tudo bem?

Meu nome é Julieta, tenho 18 anos e interesso-me pela área de tradução também. Atualmente faço jornalismo, mas irei mudar de curso. Visitei seu blog esses dias e achei-o ótimo. Tirou algumas dúvidas que eu tinha.

Pretendo começar o curso de Tradutor e Intérprete aqui em Bauru na Universidade do Sagrado Coração (não sei se conhece a universidade, esse é o site www.usc.br), porém o curso aqui oferece tradução apenas português/inglês. Seria muito pouco? Porque, na verdade, eu me interesso por outras línguas também, além do inglês.

Gostaria de ter uma resposta, se possível. Obrigada.

Para começar, Julieta, parabéns pelo seu português impecável. Escrever bem não garante nada, mas quem não sabe escrever tem um futuro triste na tradução. Quer dizer, está começando com o pé direito.

Já estive duas vezes na USC como palestrante. O ambiente é agradável e amigável, mas a visita foi curta demais para que eu pudesse formar uma opinião sobre o curso em si. De qualquer forma, o curso, por bom que seja, só pode ensinar: só você pode aprender – e esta é uma lição que todo estudante deveria saber.

A maioria dos cursos de tradução só cuida de inglês, o que é lamentável, mas uma necessidade, porque a busca pelos cursos de tradução em outras línguas é muito pequena. E a predominância do inglês só faz aumentar desde que estou no mercado. Muitos excelentes tradutores de alemão hoje vivem mais de traduzir inglês.

Mas vamos tentar colocar as coisas nas devidas proporções.

Traduzir exige um conhecimento muito profundo do par de línguas envolvido e mesmo você, que escreve português muito bem, vai ter de aprender uma meia dúzia de coisinhas sobre nossa língua, para se tornar uma tradutora de primeira água. De inglês, então, nem se fala – mesmo que você tenha feito um curso pesado, tipo cultura inglesa. Se seu inglês for meio cru, então, vai ter de dar um duro danado. Não que você não vá conseguir, é claro.

Poucas pessoas conseguem atingir esse nível em LM+2, quer dizer sua própria língua materna e mais duas. Raras conseguem LM+3. Muito raras conseguem mais que isso. A quase totalidade das pessoas que acha que é capaz de traduzir de e para quatro línguas (LM+3), simplesmente carece de autocrítica.

Nada impede que você faça como tantos tradutores apaixonados por línguas, que são capazes de ler com razoável facilidade oito ou mais línguas, mas as línguas de trabalho são realmente LM+1 ou LM+2, raramente LM+3. O resto é diversão.

E o seu rendimento não depende do número de línguas que traduz. Se você traduzir inglês, depende muito mais de sua especialização. Eu, por exemplo, sou um especialista em contabilidade, finanças, direito societário e tributário. Por isso, tenho serviço em quantidade e posso exigir um pagamento relativamente alto. Se agregasse francês e alemão ao meu inglês, não iria ganhar um tostão a mais, porque, para cada tradução do francês aceita, teria de recusar uma de inglês.

Na verdade, se você trabalhar com inglês, não precisa de mais nada. Se trabalhar com francês, italiano, alemão ou espanhol (grupo que se chama figs em inglês – French, Italian, German, Spanish) vai ter mais dificuldade em montar uma carteira e pode ser útil trabalhar com duas línguas, digamos, francês e italiano, ou alemão e inglês. Se optar por algo que não seja Inglês+FIGS, aí sim, provavelmente vai ter de trabalhar com várias línguas. Mas aí, estamos entrando em um campo muito complexo, que fica para outro dia, porque este artigo já vai longo demais.

Espero que a resposta tenha sido útil a você e a mais alguém. Acho que amanhã volto ao tema.