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quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Controle de Qualidade na Tradução

Vamos começar aqui uma série de artigos desenvolvendo o material da mais recente Reunião na Sala 7. Foi uma reunião muito produtiva, por sua interatividade. Tratamos, na reunião, de precauções simples, que deveriam fazer parte da rotina do tradutor, mas que muitas vezes não fazem. Alguns dos participantes acharam o assunto muito pertinente, fizeram anotações e nos mandaram.

Achamos um desperdício de tempo e esforço (nosso e alheio) não aproveitar o material. Por isso, nasce hoje esta série. Lembramos que é uma série sobre essa reunião específica, que pode ou não vir a se tornar um hábito. Como sempre, seus comentários são bem-vindos.

Procedimentos básicos

Entenda seu original

Tentar traduzir um texto sem entender, apoiando-se exclusivamente em glossários e dicionários, é o erro mais fundamental que o tradutor pode cometer. Glossários e dicionários, na melhor das hipóteses, oferecem sugestões e só se pode escolher a sugestão correta entendendo o original.

Se conhecer o assunto, se souber do que se trata, pode começar a traduzir na hora, sem maiores cuidados. Mas, se não conhecer, leia o original e outros documentos sobre assunto semelhante, tanto na língua de partida como na de chegada, na medida do permitido pelo prazo. Internet está aí para encontrar essas coisas.

Se de todo o texto não fizer sentido, converse com o cliente e, em caso extremo, devolva o serviço. Lembre sempre de que se o tradutor não entende o original, o leitor não vai entender a tradução.

Faça direito da primeira vez

Somos contrários à idéia do faz de qualquer jeito e depois arruma. Fazer de qualquer jeito e depois arrumar dá muito mais trabalho do que tentar fazer tudo direitinho desde o início. Não existe tradução sem erros e toda tradução deve ser cuidadosamente revista, mas escreva cada palavra como se fosse imediatamente ser publicada. Quanto menos erros tiver sua minuta de tradução, maior a chance de não passar nenhum erro importante na versão final.

Jamais use o comando "substituir todas"

O substituir todas é um comando perigoso. Escreveu colher, decidiu que deveria ser coletar, manda substituir todos os colher por coletar e o Word troca escolher por escoletar. Sim, existe o somente palavras inteiras, para impedir essa desgraça, mas você vai descobrir que, lá no meio do documento, tem um caso de colher que deve ser mantido. Por exemplo uma colher de sopa de manteiga, que vai ficar uma coletar de sopa de manteiga, e lá se vai a reputação de um tradutor para o inferno.

Passe o revisor ortográfico e gramatical

Ao terminar a tradução, a primeira coisa a fazer é passar o revisor ortográfico e gramatical. Nenhum deles é perfeito, todos fazem sugestões bobas, mas também pegam muitos erros. É útil porque, durante a revisão, você pode usar o comando de localizar e, se a palavra buscada estiver escrita com erro, o comando não vai achar. No fim de tudo, quando for a hora de entregar a tradução, passe o revisor ortográfico e gramatical de novo: na revisão, a gente sempre escreve alguma coisa errada.

Arranje quem revise sua tradução

Toda tradução precisa ser revista e ninguém consegue revisar direito seu próprio trabalho. Mesmo um revisor profissional, quando traduz, deixa passar erros que, ao revisar o serviço de terceiros, teria emendado imediatamente. Revisar é trabalho pesado que exige atenção: não existe isso de dar uma olhada. Se é para dar uma olhada, melhor fazer uma prece e mandar embora de qualquer jeito.

É responsabilidade das agências e editoras mandar revisar por conta delas, mas quando se trata de atendimento a cliente final, a responsabilidade de pagar o revisor é de quem traduz.

Hoje, ficamos por aqui. Espero que você tenha gostado. Deixe seu comentário aqui abaixo - nós gostamos de saber o que pensam do nosso trabalho e de ver as sugestões dos leitores.

A volta do blogue

Depois de um pouco de meditação, volta o blogue. Ainda tenho muitas mudanças a fazer, mas tudo leva tempo e se formos esperar estar tudo pronto, bonitinho, como queremos, o blogue não volta nunca mais à vida. Há que fazer algumas concessões.

A primeira novidade é que este blogue agora conta com a participação da Kelli Semolini, que já é minha parceira e mil e uma atividades. Cessa de ser o meu blog, para ser o nosso blog. Cabe à Kelli não só escoimar os textos das muitas gralhas que fazem a felicidade dos leitores, mas, principalmente, palpitar de mil maneiras, contribuindo para melhorar a qualidade dos artigos publicados. A Kelli, embora revise cada vez mais traduções minhas, não é minha revisora exclusiva. O e-mail dela é kelsem at gmail.com. O meu é danilo.tradutor at gmail.com, como você sabe.

Essa parceria coma Kelli é muito interessante. Além de amiga divertida e revisora competente, revelou-se hábil imitadora do meu estilo. Duvido que você descubra, neste texto, quais foram as partes que escreveu o Danilo e o que é redação da Kelli.

Uma segunda novidade é que doravante nem vamos tentar postar artigos todos os dias. Vamos nos limitar a uns três por semana. Mas esperamos que o aumento na qualidade compense de longe a perda de quantidade.

Nos próximos dias, mas novidades. Se o tempo colaborar.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Antes que me puxem as orelhas de novo…

Vou tirar uma semana de férias de blogueiro para reestruturar uma porção de coisas aqui. Se tiver alguma sugestão e quiser mandar para mim em danilo.tradutor@blogspot.com agradeço. Até a semana que vem.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

E a Reunião na Sala 7?

Ficou uma conversa de anotações da última Reunião na Sala 7 e, na segunda-feira, alguns dos participantes mandaram suas notas para a Kelli Semolini, que atua algo assim como uma combinação de amiga, parceira profissional e fiel escudeira. A Kelli consolidou as notas e mandou para mim. Cabe a mim agora examinar e das notas tirar material para futuros artigos no blogue, com possíveis acréscimos e eventuais correções.

É muito interessante ver as anotações, porque são uma forma de controle de qualidade sobre a forma e conteúdo da apresentação. As notas mostram o que mais interessou aos anotantes e também indicam se eu me fiz claro o suficiente. Meu maior medo era que eu tivesse me referido a um texto do Papa Nicolau e a turma tivesse entendido que eu falava do teste de Papanicolau. Para minha satisfação, a mensagem passou corretamente, pelo menos para os que anotaram. Também é interessante, para mim, saber o que foi anotado, para ver o que mais interessou aos participantes. Os próximos artigos do blogue vão se basear nessas anotações e aqui fica o meu agradecimento aos que me mandaram essas informações, que são bem mais importantes do que pode parecer.

Outro ponto positivo na última Reunião na Sala 7 foi a disciplina do pessoal. Atendendo a um apelo meu, não houve uma só conversa paralela, quer dizer, concentração total no assunto. A turma é animada e brincalhona e mesmo eu sempre reluto em desperdiçar a oportunidade para uma boa gargalhada. Entretanto, nas últimas reuniões tinha havido mais fuzarca do que o aceitável e algumas pessoas reclamaram, com muita razão. Agora, estamos no bom caminho, graças às reclamações recebidas e à boa vontade dos participantes.

Aqui do seu lado direito tem um widget que indica as datas dos próximos eventos Aulavox, inclusive Reuniões na Sala 7. Dê uma olhada e participe. Se tiver alguma sugestão para a Sala 7 ou para os eventos pagos, escreva para mim, usando, como linha de assunto, AULAVOX, por favor. Se tiver feito anotações e quiser me mandar, fico muito grato.

E, por hoje, fico por aqui.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Já estou cansado!

Tenho de dizer que já estou cansado de ouvir clientes finais, donos de agências e gerentes de projeto falando mal de tradutores e editores. Por outro lado, também estou cansado de ouvir tradutores e revisores falando mal de clientes finais, donos de agência e gerentes de projeto. Achar defeito no trabalho dos outros é muito fácil, mas pouco útil, por pelo menos duas razões: primeiro, a gente ganha muito pouco falando mal dos outros e, segundo, os outros geralmente não dão a mínima para o que a gente diz.


Isso dito, faço aqui a solene promessa de nunca mais criticar clientes finais, donos de agência e gerentes de projeto. Mas certamente vou criticar a mim próprio e aos membros da minha tribo, a tribo dos tradutores e revisores. Um pouco de autocrítica, um pouco de mea culpa, não faz mal a ninguém, desde que seja uma crítica honesta e inclua um certo esforço para abandonar os caminhos do pecado. Não, acho que vou fazer uma coisa melhor: em vez de autocrítica, vou escrever uma lista de decisões. Ainda é meio cedo para decisões de ano novo, mas não faz mal.

Prometo que vou sempre passar o revisor ortográfico mais uma vez antes de entregar o serviço. Uma vez, decidi fazer uma mudança de última hora em uma tradução para uma agência americana, onde ninguém entendia uma palavra de português. Fiz um “substituir todos” e, em conseqüência, mudei não só a palavra que queria mudar, como também as tripas de uma outra palavra mais comprida. Não me perguntem qual: prefiro esquecer essas coisas. Depois, o pessoal de DTP formatou o texto e mandou para o cliente final, que sabia português e quase teve um infarto. Se eu tivesse passado o revisor ortográfico mais uma vez, antes da entrega, teria poupado ao cliente um grande constrangimento e eu próprio não iria sofrer o prejuízo financeiro que sofri. E, já que estamos falando nisso, também prometo nunca mais usar o comando “substituir todos”.

Quando estiver revisando o serviço de um colega, prometo que nunca vou fazer uma alteração sem uma justificativa melhor do que “porque fica melhor assim”. Uma das coisas mais irritantes para um profissional é ver seu trabalho cheio de alterações aparentemente sem proveito nem finalidade. O gerente de projeto, que muitas vezes não sabe português, quando o cliente é estrangeiro, fica sem entender o que está acontecendo nem o que fazer. O tradutor fica zangado e tudo o que o revisor tem a dizer é “bom, fica melhor assim”. Nem sempre a gente pode justificar todas as alterações com gramática e dicionário, mas, pelo menos tente dizer coisas do tipo para manter a uniformidade, ou para melhorar a coerência. Comecei a agir assim e, aos poucos, estou desenvolvendo um conjunto de regras claras e precisas para melhorar a qualidade das traduções que reviso, isso para não falar das minhas próprias.

Não vou ficar furioso por causa de alterações de revisores. Se o revisor fizer uma alteração aceitável em minha tradução, eu vou aceitar. Se a alteração for inaceitável, entretanto, vou conversar com o gerente de projeto e tentar explicar claramente por que eu não concordo com ela. Não há motivo para começar cada um de meus comentários com alguma coisa do tipo “esse cricri imbecil…”. Simplesmente, vou tentar citar alguma prova de que estou certo. Por exemplo, a ortografia brasileira é governada por lei (2623/55, com suas emendas) e o regulamento pode ser encontrado em qualquer dicionário. Veja a regra 53 e note que ela dá pleno apoio à minha pontuação. Se você não leu a regra 53, abra o dicionário e leia agora. Talvez você tenha uma surpresa.

Vou conferir a formatação de minhas traduções. Faz muito tempo que decidi aprender a formatar um documento direito com o MSWord. Nada de muito especial: O Word não é o QuarkExpress e eu não presto serviços de editoração eletrônica. Mas certas coisas como usar tabelas e tabulações corretamente, formatar parágrafos deslocados como se deve, em vez de usar marcas de parágrafo e espaços, coisas desse tipo. Se você não está entendendo, então precisa passar uma tarde com uma boa introdução ao Word for Windows. Quando terminar a tradução, veja se em algum lugar há dois espaços consecutivos. Salvo se o texto for em inglês e os dois espaços consecutivos forem usados no fim de uma sentença (e de todas as sentenças), não deve haver nenhum caso no texto todo. Muitas vezes, batemos a barra de espaço duas vezes ou mais entre uma palavra e outra e muitos de nós esquecem de apagar os espaços que sobram antes de entregar o serviço e, assim, o texto fica parecendo queijo suíço. Os espaços no início da linha ou antes de marcas de parágrafo ou tabulação também são um mau costume. Não deixe aprender a usar o tabulador. E nunca use um hífen quando deveria usar um travessão, por favor. E nunca use dois hífens quando deveria usar um travessão. Aquele pessoalzinho bom que edita seu trabalho ou faz editoração eletrônica vai ficar grato e, quem sabe, lembrar de você nas suas orações. E é mais provável que o cliente lembre de você para um outro serviço.

Vou respeitar as convenções tipográficas da língua de chegada. Os números em inglês seguem a regra do xxx,xxx.xx e em português a do xxx.xxx,xx, não faz diferença se a gente está contando dólares, reais ou camelos. Também vou respeitar todas as convenções sobre uso de maiúsculas e pontuação.

Não vou aceitar serviços que não possa fazer. O cliente (ou o gerente de projeto) pode bater a cabaça na parede, se quiser, mas não vou aceitar um prazo apertado demais. Não vou dar ouvidos àquela história de que é um serviço fácil, porque sei que isso não existe. Não vou dar ouvidos àquela história de que uma “minuta” serve, porque sei que o mesmo sujeito que diz que quer o texto “só para informação” é exatamente o mesmo que depois vai dizer que eu fiz um serviço porco e cobrei um dinheirão. Evidentemente, isso significa que vou aprender a fazer estimativas realistas do tempo necessário para fazer um serviço. Nunca mais vou dar uma olhadinha e dizer “tá bom, acho que vai dar.”

Vou fazer questão de ter tudo por escrito. Não estou dizendo que os clientes sejam desonestos. Mas a melhor maneira de evitar mal-entendidos é escrever tudo antes de começar a trabalhar: taxas, datas de entrega e quantificação. Se a contagem se basear no original, peça ao cliente a contagem e aceite antes de começar. Se o cliente insistir em uma contagem um pouco menor que a sua, não reclame: cada versão do Word for Windows dá uma contagem diferente. Simplesmente aceite as pequenas diferenças como coisa da vida. Se a diferença for grande, investigue o assunto. Se a taxa for boa, às vezes até uma contagem baixa demais pode ser aceitável. Nesse caso, não reclame. Se a paga final for baixa demais, não aceite o serviço. O que importa é que tudo deve estar por escrito e bem explicado. Quando receber as informações do cliente, leia tudo direitinho. Monstros terríveis muitas vezes se ocultam por detrás de um palavreado aparentemente inofensivo. E, finalmente, nunca aceite nada que o cliente diga que é somente “para constar”. É justamente esse trecho que o cliente vai pedir para você ler muito cuidadosamente, quando chegar a hora. E, se o acerto vier em forma de e-mail, imprima e pendure onde você veja. Combinar tudo por escrito, conferir o combinado direitinho e deixar tudo sempre à vista são um dos meios mais importantes para assegurar a satisfação do cliente. E, como você sabe, cliente satisfeito é cliente que volta.

Vou sempre cobrar o máximo e fazer um serviço tão bom quanto possível. Vou sempre procurar conseguir o maior pagamento possível por qualquer serviço que aparecer. Mas, depois de aceitar o serviço, vou esquecer quanto estou recebendo e fazer a melhor tradução que puder. Jamais vou fazer uma tradução de segunda e dizer que está até que boa demais para o que estão pagando. É uma estratégia é contraproducente, porque, quando alguém precisar de um bom tradutor, vai provavelmente oferecer ao sujeito que fez a tradução melhor, não a quem fez uma tradução “compatível com o preço”.

Não mentirei. Se não puder terminar o serviço em tempo, vu dizer “Desculpe, subestimei o tempo que precisava para essa tradução”. Ninguém mais acredita naquela história do HD novinho em folha que deu pau mais uma vez ontem.

Vou sempre conferir minha tradução, para ver se tem tradutorês. Tradutorês, caso você não saiba, é aquela língua esquisita que só se encontra em traduções. Não existe razão alguma para uma tradução parecer esquisita. Se você está traduzindo para o inglês, por exemplo, procure coisas como “The legislator of our fatherland found it to be a good thing to allow such action, being that under the previous legislation it was held to be illegal”. Se estiver traduzindo para o português, procure coisas do tipo Suficientes dados não estão disponíveis para que pudéssemos tornar nossas ações consistentes com… Não há justificativa para uma coisas dessas. Também procure coisas que não fazem muito sentido para você, porque, se não faz muito sentido para, você, provavelmente não vai fazer sentido algum para o leitor.

Não vou tentar “melhorar” o original. Tenho grande orgulho de meu trabalho como tradutor e não sinto o ímpeto de mostrar aos leitores de minhas traduções que grande escritor que eu sou. Por isso, não tento “melhorar” os originais que me confiam para traduzir. No início, muitas vezes eu tentava, até adicionando alguma coisa que achava de interesse, ou omitindo coisas que eu achava inúteis. Não faço mais isso. Com os prazos que tenho, mal dá para fazer uma tradução decente. E, de um modo ou de outro, quem lê a tradução tem o direito de saber o que o autor disse, não o que eu acho que ele deveria ter dito.

Não vou discutir com o cliente por causa de preferências de vocabulário e sintaxe. Se o cliente quiser mudar o texto, pode mudar à vontade. Vendi o texto para ele, e ele agora é o dono do texto. Essa é uma das razões pelas quais não gosto de assinar traduções. Finalmente, reservo-me o direito de jamais trabalhar para o cliente de novo – quer dizer, se eu encontrar outro melhor.

Não vou contradizer meu cliente. Se o cliente disser que a irmã dele poderia fazer a tradução, não vou abrir a boca. Se o cliente disser que o primo dele tem um programa que pode fazer a tradução, não vou discordar. Se o cliente alegar que, se eu insistir nesses preços abusivos, ele vai pedir para a filha dele fazer a tradução, vou, muito educadamente, dizer – desculpe, esse é o mínimo absoluto que eu posso cobrar –, sem uma sombra de ironia, desligar, e deixar que ele se dane.

Não vou falar mal de colegas, mas, se encontrar erros de tradução, vou apontar. Jamais vou dizer – não dê essa tradução para a Fulana, a mulher é quase analfabeta – , mesmo se souber com certeza que ela é mais burra que a mãe da burrice. Entretanto, vou dizer ao cliente que não acho mandate of security uma tradução decente para mandado de segurança e não quero saber quem disse que era.

Não vou brincar com taxas e condições de pagamento. Só vou aceitar o serviço quando o cliente e eu estivermos de acordo quanto a taxas e condições de pagamento e o cliente entender exatamente o que está pagando. As agências sabem exatamente o que estão fazendo, mas muitos clientes finais não têm idéia. Por exemplo, quando o cliente é brasileiro, provavelmente vai pensar que a lauda equivale a uma página de seu texto, o que não é verdade. Algumas agências pagam de acordo com o original, outras, pela tradução, e essas coisas precisam ser combinadas antecipadamente. E, feito o acordo, vou cumprir tudo cuidadosa e estritamente. Por exemplo, se o pagamento não estiver na minha conta na data combinada, o cliente vai ficar sabendo no dia seguinte, logo cedo.

Jamais vou me apresentar como “free lance”. Acho esse termo pejorativo. Um “free lance” é um mercenário e eu não sou “soldado da fortuna”. Sou tradutor profissional e faço o máximo para me conduzir como deve um profissional liberal.

E, finalmente, não vou resmungar. Estou cansado de ouvir tradutores, revisores, donos de agência e gerentes de projeto que vivem reclamando de tudo, do tanto que trabalham, do pouco que ganham, dos clientes e fornecedores incompreensivos e desonestos, de tudo. Considero reclamar um desperdício de tempo e energia. Vamos investir nosso tempo e energia em melhorar nossa sorte.

sábado, 18 de outubro de 2008

Controle de qualidade

© Danilo Nogueira e Kelli Semolini


Aqui vai o texto das transparências usadas na Reunião na Sala 7 de hoje, como pedido por alguns colegas. Mas ainda acho que se você tivesse participado, ganharia muito mais.


Precauções fundamentais

· Quanto melhor você entender o original…

· Faça direito da primeira vez

· Jamais use substituir tudo

· Arranje quem revise

Ortografia e tipografia

· Corretor ortográfico

· Escolha uma língua só

· Palavras proibidas

· Parônimos: diacríticos e palavras enganosas

· Hífen e travessão _ – —

· Aspas e apóstrofos ("", “”, «», „“)

· Maiúsculas

· Negrito, sublinhado, itálico, versalete

· Pontuação

· Espaços

· Dois espaços em seguida

· Espaço com tabulação

· Espaço com parênteses (um exemplo( clássico )do erro)

· Espaço antes e depois de pontuação

· Nomes próprios

· Termos em língua estrangeira

· Siglas e abreviaturas

· Folhas de estilo

· Parágrafos

· Fontes

· Índices

· Cabeçalhos

· Rodapés

· Numeração das páginas

Gramática

· Morfologia

· Tempos e modos

· Gênero

· Número

Gramática

· Sintaxe

· Regência

· Concordância

· Colocação

Estilo e registro

· Construções convencionais

· Condizente com T1?

· Condizente com T2?

· Terminologia

· Termo incorreto

· Falso cognato

· Violação de glossário

Conteúdo


· Omissão

· Adição

· Distorção

· Indecisão

· Intrusão de L1

· Traduzível intraduzido

· Excesso de literalidade

· Intrusão de L2

· Excesso de liberdade

· Intraduzível traduzido

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Hoje é sexta-feira

Sexta-feira. A maioria de nós está se preparando para o previsível e inevitável: o cliente que liga na sexta de tarde e pede um serviço para segunda de manhã - e lá se vai o nosso fim de semana. Que você me diz disso?

Tenho uma colega que diz que é absolutamente normal. Lembra que todo pessoal que trabalha em hospitais enfrenta o mesmo problema e enfrenta com naturalidade. Tem toda a razão. O mesmo problema enfrentam os policiais, motoristas de transporte público, pessoal da aviação comercial, turma que trabalha em shopping e tantos outros que muitas vezes têm que trabalhar no fim de semana, isso quando não têm que varar a noite em serviço.

Outros colegas dizem que o cliente abusa, pedindo urgência para serviços que poderiam perfeitamente aguardar uma semana para começar, que é vício do cliente, uma forma de demonstrar sua força e deixar clara a relação entre senhor e escravo. Têm toda a razão.

Outro grupo argumenta que os culpados somos nós, que se nós metodicamente recusássemos serviços para a noite ou fim de semana, o cliente deixaria de pedir. Ou se pelo menos cobrássemos taxa dobrada por esse serviço. Estão certíssimos.

Há também o caso de mais de um colega que adora trabalhar de madrugada e nos fins de semana e, para isso, sequer espera taxa de urgência. Uma de nossas colegas diz que por ela cobraria taxa de urgência para fazer serviço durante o dia nos dias de semana. Não há como discordar.

Finalmente, há o caso dos colegas que dizem que quem se recusar a fazer serviço noturno e de fim de semana se arrisca a perder o cliente. Estão carregados de razão.

Se todos têm razão, como é que fica? Boa pergunta!

Eu sempre achei que dizer "não" é importante e poder dizer "não" é mais importante ainda. Dizer não educadamente, sem aquelas diatribes do tipo você pensa que sou seu escravo?! Pouco escândalo, por favor. Esta senhora pode ter toda a razão do mundo, mas seu comportamento não é o que se recomenda a um profissional.

Mas dizer não é um direito sagrado. Você não tem a obrigação de aceitar todo o serviço que te oferecem. Enfie isso na sua cabecinha tradutória de uma vez por todas. Se o cliente deixou a tradução para a última hora, não é culpa sua e se ele está meramente pressionando para mostrar quem é que canta de galo no galinheiro, menos culpa ainda você tem.

Você não tem a obrigação de trabalhar no fim de semana nem de noite, pronto. Nem tem a obrigação de contar toda a sua vida (há seis meses não tiro uma folga, minha mãe está no hospital à morte e faz uma semana que não vou ver a coitadinha, minha pulga de estimação está com cólicas) como justificativa. Simplesmente diga - Que pena! Para segunda-feira não dá, pode ser para terça? - e acabou. Quanto mais explicações você der, pior é.

Se o serviço for realmente urgente, o cliente pode ir procurar outro e, se achar, talvez você ganhe um concorrente de peso. Então, aí vai outro dos meus bordões: procure clientes o tempo todo. Se você tiver muitos clientes e muito serviço, vai ter mais confiança e segurança para recusar um serviço - ou para cobrar taxa de urgência.

Por outro lado, se você gosta de trabalhar nos fins de semana ou de noite, faça desse gosto uma arma de marketing. Quando o cliente ligar todo maneiroso pedindo um serviço para amanhã de manhã, avise que até prefere trabalhar de noite.

Dessa maneira, a questão de se o cliente está abusando ou não, se ele realmente precisa da tradução com toda essa urgência ou não, se torna absolutamente irrelevante.

E por hoje é só. Mas antes de encerrar, gostaria de reforçar o convite para a Reunião na Sala 7, grátis, a distância, na qual todos são bem-vindos, inclusive você.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Tenho que compar Trados?

Conversando com o proprietário de uma agência, descobri que o curso de Wordfast, para ele, não significa quase nada, e deixou bem claro que passaria trabalho para mim se eu soubesse o Trados. O que você acha disso, devo fazer um curso de Trados?

Boa pergunta. Acabo de fazer um serviço Trados usando Wordfast e, embora eu domine ambos os programas, preferi o WF porque acho bem mais prático. É um cliente antigo. Jamais me perguntaram se eu tinha Trados, embora uma vez me perguntassem se eu sabia usar TagEditor, o que significa que presumiam que eu tivesse Trados, já que o TagEditor é um dos utilitários do Trados. Recebo deles montes de serviço, para o qual jamais uso o Trados Workbench, que é o módulo principal e mais conhecido do programa - a tal ponto que quando a turma fala em Trados, geralmente se refere exclusivamente ao Workbench. O outro módulo importante é o tal do TagEditor, que não abre diretamente no Wordfast. Entretanto, de uns tempos para cá, estou fazendo até serviço de TagEditor em Wordfast.

Mas o dono da agência provavelmente acha que isso é impossível e quer que você compre um programa que além de chato é caro. O truque do Trados sempre foi esse: convencem os donos das agências de que o programa deles é uma coisa nunca vista e o dono da agência diz se você tiver Trados, eu te dou serviço, então você compra Trados e pronto.

Muitos donos de agência estão, aos poucos, se convencendo de que existem outras maneiras mais baratas e eficientes de fazer as coisas, mas não são todos. Então, muitos de nós ainda somos obrigados a comprar Trados. O curioso é que muitos dos que têm Trados, continuam fazendo a maior parte do serviço em Wordfast, porque é mais rápido. Mas a Trados não se importa com isso: para eles, o importante não é você usar o produto deles, mas sim o comprar. Comprou, embolsam o dinheiro e estão felizes tentando te empurrar mais um upgrade que não upgrada nada.

O dono da agência tem direito à sua opinião e a exigir o que quiser e eu tenho o direito de achar que ele está fazendo exigências absurdas.

Ele disse que, se você comprar e aprender a usar Trados, vai te passar serviço? Essa é a promessa dele, não a minha. De um modo ou de outro, estou agendando um curso de Trados para o novembro. Não que eu goste do programa, mas sempre tem gente que procura o curso.

E por hoje é só.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

De tradutores e macacos

Mais uma vez, ontem, um colega usou, numa das listas, a expressão if you offer peanuts, you attract monkeys. Pode ser muito bonitinha, mas eu acho uma grosseria sem fim.

Eu cobro caro e o meu piso, para clientes nacionais, é a tabela do SINTRA. No exterior, ainda tenho clientes que me pagam USD 0.12 por palavra, mas é a minoria. Meu preço atualmente é USD 0,15. Acho um absurdo aceitar R$ 0,03 por palavra, como muitos colegas dizem que aceitam. Mas me recuso a classificar esse pessoal de macacos. Desculpem, mas me recuso. E, por favor, não me venham com a graçola de dizer que é para não ofender os macacos. É por achar muita falta de bons modos, mesmo.

Mais de uma vez aqui recomendei que se dissesse não às propostas com preços muito baixos e continuo recomendando. Acho que é necessário ter a coragem de dizer que não, a coragem de recusar. Mas me recuso a chamar de macaco quem não tem essa coragem. Já tive fome e a fome erodiu minha coragem, acabei dizendo sim para serviços a preços vilérrimos. Faz tempo e, com inflação e taxas de câmbio que sobem e descem, não posso dizer se os preços mais baixos que já aceitei são superiores ou inferiores aos três centavos de dólar discutidos naquela mensagem.

Se você nunca passou por isso, não sabe como é horrível, o ronco no estômago vazio. Mas também pode servir de vacina contra a arrogância, algo que não faz mal para ninguém.

Temos um colega que tem uma fonte de renda alternativa e se aproveita disso para jamais aceitar preços baixos: fome, ele não passa. Sorte dele e bom que ele use essa fonte de renda para recusar serviços a preço baixo e, dessa maneira, ajudar todos nós a cobrar mais. Porém erra ao escarnecer de quem não conta com essa vantagem e, na hora do sufoco, precisa se vender barato. Soberbia é sempre um defeito.

O colega que está aceitando serviços por preço muito baixo precisa de ajuda e orientação, não de ser chamado de macaco. Não estou defendendo a cobrança de preços baixos: estou defendendo o respeito aos coelgas.

Para terminar, deixe que eu conte uma historinha, que já contei mil vezes. Numa mesa redonda de tradutores, uma das colegas se eximia em falar cobras e lagartos de quem cobrava menos que ela. Macacos, aviltavam preços, traidores da categoria, desprovidos de profissionalismo, incompetentes, o diabo. Dado momento, voltou-se para mim e perguntou quanto eu cobrava. Respondi. Na época, era cerca de 40% a mais do que a tabela dela. O constrangimento foi geral e tão denso que dava para cortar com uma faca.

Moral da história: não chame macaco a quem cobra menos que você: sempre haverá alguém para quem o seu preço possa ser "de macaco".

E por hoje é só.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Evento grátis a distância

Chegou a hora de mais uma Reunião na Sala 7, desta vez sobre Controle de Qualidade na Tradução.

Vamos passar 2 horas discutindo e estabelecendo normas para controle de qualidade na tradução. As sugestões dadas valem para todas as línguas, com destaque para as escritas nos alfabetos latino, grego e cirílico. Quer, dizer, o evento não se dirige exclusivamente ao que trabalham com inglês.

Para mais e maiores pormenores, clique aqui.

Pedimos aos interessados que se inscrevam imediatamente, para facilitar o trabalho do pessoal do Aulavox, que, entre mil outras coisas, vai ter de dimensionar a sala. Se não puder aparecer, paciência, mas, por favor, não deixe para se inscrever na última hora.

O evento é absolutamente grátis e todos os interessados em tradução são bem-vindos, como de sempre.

Agradeço qualquer divulgação que você possa dar ao evento e peço desculpas aos que receberem mais de um aviso.

sábado, 11 de outubro de 2008

Os testes

A colega estava muito zangada. Fez um teste para uma agência, na verdade três breves testes, sobre assuntos distintos, que, somados, podem ter dado umas boas quatro horas de trabalho – e ninguém deu retorno.

Depois disse que a agência era lerda para pagar, mas isso é outra coisa. Hoje gostaria de me concentrar exclusivamente nos testes.

Muitas vezes, a agência recruta tradutores ou revisores para um determinado projeto. Lá sei eu, caiu no colo deles um megatexto sobre criação de suínos e eles ficam loucos atrás de quem entenda de porcos e leitões.

Na maioria das vezes, entretanto, as agências mantêm recrutamento aberto o tempo todo, porque jamais sabem que tipo de serviço vai entrar nos próximos cinco minutos e, antes de abrir um recrutamento específico para tradutores com experiência em suinocultura, dão uma busca nos arquivos, para ver se têm alguém que sirva.

No arquivo está toda a turma que fez testes para eles, gente que fez contato e se candidatou a tradutor. Se você se candidatar, recebe um teste para fazer. Não significa que tenham um serviço para você. Significa que, no futuro próximo ou remoto, podem precisar de mais tradutores e, por isso, gostariam de saber se você atende as especificações deles.

Por isso, mesmo que seu teste seja absolutamente perfeito, é bem possível que não te chamem para nada nos próximos seis meses ou mais. Conseqüentemente, não se sinta em segurança só porque fez um teste de arrasar. Simplesmente procure outra agência e mais outra, até conseguir serviço suficiente.

O que vai acontecer com seu teste? Provavelmente, vai ser impresso e arquivado sem exame, até um dia em que a agência precisar de mais tradutores. Nesse dia, abrem a pasta e examinam os testes. Muitas vezes, são na realidade grupos de testes, cada candidato sendo testado em três ou mais assuntos. Então fica lá o gerente de projeto, arrancando os cabelos e dizendo bom, esta aqui de jurídico não entende nada, de engenharia ainda menos, mas a medicina dele é boa, Acho que vai se dar bem com nossos porcalhões. Aí, te chamam.

Boa sorte, quem sabe você se torna conhecida por fazer traduções sobre porcos. Pode não ser o seu chá, mas é muito melhor do que ficar conhecida por fazer traduções porcas.


E por aqui fico.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Começou com o pé esquerdo

Então, ele achou que deveria ser tradutor. Não sei por quê, porque não conheço a pessoa. Mas achou que deveria ser tradutor. Então, pegou um livro sobre uma área que conhecia e se pôs a traduzir. Aparentemente, pretendia traduzir o livro todo e apresentar o trabalho a uma editora, ou quem sabe publicar por conta própria. Tendo iniciado a tarefa, acho que deveria ou poderia ampliar o que o autor tinha dito em notas de rodapé.

Quer dizer, começou com o pé esquerdo.

Para publicar uma tradução é necessário obter a permissão do titular dos direitos autorais, que pode ser o autor, uma editora ou algum terceiro. Essa permissão é concedida a título oneroso, quer dizer, contra pagamento, e sempre sob contrato. Embora a autorização possa ser concedida a qualquer um, de modo geral é dada somente a uma editora estabelecida, não a um desconhecido qualquer que nunca publicou um livro na vida e que talvez nem tenha idéia de como proceder. Isso não é só no Brasil – vale para todo mundo civilizado.

Conseguida a permissão, a editora procura um tradutor. Pode ser alguém já conhecido deles, podem sair no mercado em busca de alguém. Escolhido o tradutor, assina-se um contrato de tradução e o serviço se inicia. É assim que funciona.

Nada impede que você traduza meia dúzia de páginas de um livro e mostre a uma editora, como amostra de seu trabalho e como sugestão de que o livro seja traduzido. Entretanto, traduzir tudo e levar à editora é loucura. Depois de um ano de trabalho árduo para traduzir o livro, você pode descobrir que não há editora interessada no título ou que o mesmo título já está sendo traduzido por outra pessoa. Ou descobrir que sua tradução, por boa que esteja, precisa de mil alterações formais para se adequar aos parâmetros e normas de uma editora. Quer dizer, traduzir não é só traduzir, se me faço claro.

Quanto às notas para "estender" o texto, desculpe, mas discordo. Notas de tradutor são muletas que o tradutor deve usar exclusivamente quando suas pernas não lhe permitem arranjar uma tradução adequada, uma confissão de derrota, não uma demonstração de sapiência.

Se a pessoa for competente o bastante para ampliar o pensamento exposto em um determinado livro, é melhor que escreva seu próprio livro. O leitor quer ler o pensamento do autor, não o do tradutor. Se você se põe a traduzir, concentre seus esforços em traduzir direito, o que já é tarefa das grandes, bem maior do que a maioria dos mortais pensa.

E por aqui fico hoje.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Que vai ser de nós com a tal da crise?

Estão todos afoitos e aflitos com a tal da crise mundial. Fala-se muito nos grupos de tradutores, mas, se nem o pessoal das finanças está entendendo o que se passa, imagine então nós!

A turma que trabalha muito para o exterior, mistura a alegria de ver o dólar subindo com o medo de ver os clientes falindo. Muitos que trabalham para agências brasileiras estão em situação parelha, porque muitas agências brasileiras nada mais fazem que coletar serviços no exterior e repassar por aqui. Muita gente está apavorada porque não importa o que aconteça neste mundo, as agências e os clientes finais vão alegar que não é possível pagar um tostão a mais do que a fortuna que já estão pagando e vão citar os casos de gente que está pagando ainda menos que eles e conseguindo excelentes tradutores. Sem contar os que estão negociando a compra daquele programa maravilhoso que traduz com perfeição 50.000 palavras por minuto.

Pavor sempre leva a cortes desnecessários nos preços. Você geralmente cobra dez, o cliente liga e você já vai falando em nove por via das dúvidas, o cliente percebendo a insegurança mente que tem um orçamento por oito e você baixa para sete. Aí o cliente agradece e, todo pimpão, liga para um concorrente dizendo que você pediu seis.

A rigor, ninguém sabe o que vai acontecer com nosso mercado - que pode até sair beneficiado pela crise, sabe-se lá. Entretanto incerteza incomoda, machuca, consome nossas forças. Não pense você que não estou aflito. Se você espera que eu mostre o caminho, vai se decepcionar. Eu também estou procurando. Posso, no máximo, dizer o que eu estou fazendo.

Primeiro, praticamente não tenho dívidas. Cada vez que vou sacar dinheiro no caixa automático, o banco gentilmente me oferece um empréstimo, para comprar mil coisas maravilhosas, oferta a que respondo com uma recusa igualmente gentil mas firme. Alguns fornecedores me dão a opção de parcelar no cartão de crédito, sem juros. Ótimo, melhora meu fluxo de caixa. Mas a fatura de cartão de crédito é zerada no vencimento. Saldo bancário sempre no preto. É preferível não gastar hoje que chorar amanhã; fazer um sacrifício agora a ter um desgosto depois.

Do lado profissional, a busca é e sempre foi a prestação de um serviço melhor que o da concorrência, fazer o que os outros não fazem, ou não fazem bem. A especialização, o equipamento. Principalmente, o uso do equipamento. Até hoje fico bestificado com a quantidade de colegas que não têm um simples Wordfast e, mais ainda, com a quantidade de colegas que têm Wordfast e se limitam a aplicar as funções mais básicas do programa. Ou com os que pensam que, tendo um Wordfast, têm tudo.

Diversificar a clientela também é essencial. Todo veterano já passou mais de uma vez pelo desgosto de ficar desarvorado com a perda de seu melhor cliente. Aquele cliente magnífico, que mandava muito serviço e pagava bem e sempre em dia. O grande cliente é seu maior risco, porque você se torna dependente dele. Hoje, toda satisfeita, você diz que a Alpha Inc. paga todas as suas despesas; amanhã, a Alpha fecha ou arranja outra tradutora e você chora porque não tem como pagar o supermercado.

Nas situações de crise, ganha quem for mais hábil, quem, em vez de perder tempo chorando e reclamando, investir seu tempo em aperfeiçoamento e busca de novas oportunidades. E quem sabe que para tudo há um limite e sabe dizer "não" quando esse limite é ultrapassado.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Ressurreição

Uma colega do Orkut, a Thays, reclamou que o blog andava abandonado. É verdade. Por um lado, fiquei triste com o puxão de orelhas; por outro, fiquei satisfeito de saber que para alguém servia esta esta lengalenga infinda. Mas foi o toque de que eu precisava para voltar a escrever.

Dizer que andei atrapalhado é redundante. Andei atrapalhado de corpo e alma, cansado, confuso e perplexo ante uma porção de problemas e oportunidades. Aos poucos fui arrumando, ajeitando e, talvez, até entendendo a situação. Creio que chegou a hora ressuscitar o blogue. Posso escrever assim? Blogue? Aclimatado? Como futebol? Obrigado! Blogue, então. Voltemos ao assunto. Do muito que me aconteceu nos dias em que o blogue ficou dormente, vale a pena falar do caso Kelli Semolini.

A Kelli, que só vai ler este texto quando já estiver publicado, é uma colega lá do Orkut. Jovem, ainda pouco experiente, mas inteligente, bem preprada e com o que se convencionou chamar muita garra. Eu estava precisando muito de alguém que colaborasse comigo em certas tarefas, que incluíam desde revisar minhas traduções até participar no preparo de material para cursos e mais umas outras coisas. Pensa de cá, pensa de lá, pensei na Kelli. Achei que estava do tamanho exato para a vaga. Então, convidei para uma parceria. Convidei e ela aceitou.

Parceria é palavra da moda e já está desgastada. Significa praticamente qualquer coisa que se queira e, inclusive, absolutamente nada, mas não encontro termo melhor para definir a situação. A Kelli, lá de São Carlos onde mora, está trabalhando comigo em uma série de projetos, dos quais você vai saber no momento apropriado. A primeira está aqui. Outras vão vir, e cada vez mais interessantes. Espero que a parceria também seja o empurrãozinho de que a Kelli precisava para pegar impulso e disparar na carreira, como ela merece.

Agora, por favor, leia o artiguinho abaixo, para voltarmos à ação aqui no blogue. E obrigado pela visita.

Essa agência é honesta?

Mensagem recebida de colega, copiada com casca e tudo, com nomes e valores mascarados, para manter a confidencialidade:

Desculpe a invasao, eu sou tradutora iniciante e gostaria de saber se conhece o Tradutor Fulano de Tal e sua agencia e tambem se posso confiar no seu metodo de trabalho. Ele me passou um material, falou que pagaria R$ X por lauda, nao tenho a menor ideia se eh pouco ou não, mas aceitei do mesmo jeito, apos mandar o material traduzido do portugues para o ingles ele me respondeu assim: obrigado e recebido, por favor, o que devo fazer nesta situacao.

Não acho invasão me escrever fazendo perguntas desse tipo. Respondo via blogue, mascarando nomes para preservar identidades.

Não conheço o tradutor nem a agência. O problema, aqui, como em tantos outros casos, é pensar que ser profissional da tradução é só traduzir e ser feliz. A colega recebe uma oferta de serviço, aceita, faze, entrega – e então entra em pânico. Entra em pânico porque esqueceu que, quando ajustamos receber pagamento por um trabalho, deixamos de ser amadores para nos tornarmos profissionais e temos que agir como profissionais.

Antes de tudo, antes de dizer faço, é necessário combinar as condições. Quanto vai receber? Quando vai entregar, em que forma vai entregar. Qual o prazo de pagamento. Essas coisas, a gente combina e combinar combina-se antes de começar o trabalho, não depois de entregar. Antes de aceitar a primeira tradução, é conveniente ler isto aqui.

Bom, a agência acusou recebimento e agradeceu, o que é prova de boa educação. Mas não se deve esperar pagamento imediato. Raríssima é a agência que paga contra entrega. É necessário esperar no mínimo quinze dias, geralmente um mês ou mais.

Este seu fulano vai pagar? Boa pergunta! A maioria das agências paga. Muitas pagam com atraso, algumas pagam só depois de importunadas diversas vezes. Mas a maioria paga. Se não pagar, a gente cobra em juízo. Para isso, guarde os e-mails em que foi acertado o preço e o e-mail que acusa o recebimento. Com isso e com o RPA ou Nota Fiscal que cobrem a transação, é causa ganha.

Mas desconfio que nossa colega não emitiu RPA nem Nota Fiscal. Existem agências que trabalham sempre por fora e não fazem questão dessas coisas. Se você ler aquele documento recomendado aí acima, vai ver o problema que isso dá com o Leão. Mas não é só esse o problema: se você não agir de acordo com a lei, que obriga à emissão de RPA ou Nota Fiscal, é muito difícil conseguir o apoio da lei na hora do sufoco.

O que se deve fazer agora é escrever para a agência, diplomaticamente, perguntando sobre prazos e formas de pagamento. Note que a agência não está atrasada no pagamento nem fez nada que justifique uma suspeita de calote a vista. Simplesmente, ou vocês não combinaram essas coisas, ou está em algum e-mail deles e você nem notou. Dê uma olhada nos e-mails, primeiro. E não se preocupe demais da conta: provavelmente, pagam.