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quarta-feira, 20 de junho de 2007

Pedidos, emendas, exigências de clientes

Hoje ocorreu um incidente que me fez interromper o comentário sobre faculdades para falar um pouco de comentários, sugestões e exigências do cliente.

Há, que eu entenda, quatro graus de interferência do cliente:

Melhoras. Por sua experiência na área, muitas vezes o cliente pode ter soluções melhores que as minhas. É aceitar e agradecer.

Seis por meia dúzia. Eu escrevo "entender", o cliente troca por "compreender". Mais adiante, onde eu escrevi "compreender", ele troca por "entender". Muitas vezes, é serviço de um funcionário subalterno que se sente mal se não mudar nada. Se a forma escolhida pelo cliente estiver certa, aceito, deixando claro que tanto faz uma quanto outra e que respeito a escolha do cliente, porque o texto sai com o nome do cliente, não com o meu.

Pior a emenda que o soneto. O cliente muda, mas muda para pior, embora ainda aceitável. Continua sendo direito dele ter no texto o que quiser: o logotipo no alto da página é o dele, não o meu. Hoje mesmo, fiz um serviço para um cliente que manda deixar um termo perfeitamente traduzível em inglês e, ainda por cima, quer uma nota explicativa que me parece inútil e ridícula. Argumentei, o cliente não aceitou meus argumentos. Tudo bem, faço como ele quer. Errado, a bem dizer, não está. Só absurdo, idiota e ridículo. Se fosse tradução assinada, como a dos livros, é bem possível que eu fincasse o pé. Mas é serviço anônimo e o único nome que aparece é o do cliente, que tem todo o direito de ver seu burro amarrado da maneira que prefere.

Inaceitável. Mas, para tudo há um limite e há certas coisas inaceitáveis. Pode ser um glossário sem pé nem cabeça, pode ser uma emenda que torna o texto ininteligível, pode ser uma alteração que distorça o sentido do texto. Uma vez, por exemplo, um cliente exigiu de uma amiga minha que traduzisse "Buyer may" por "obriga-se o comprador". A colega se recusou. Entre outras coisas, porque se tratava de tradução juramentada, com o nome dela lá no alto da folha. Mas, mesmo quando não é juramentada, tem hora que a gente precisa fincar o pé e dizer que não faz e, se for o caso, recusar o serviço.

O que não se pode fazer é ter ataques histéricos por causa de sugestões de cliente. E, antes que me esqueça, se o revisor cometer algum erro de ortografia, é bom corrigir com boa educação, sem sarcasmos nem ironias. É bom tomar cuidado: pode haver erros de ortografia na sua tradução também.

Obrigado pela visita.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Vida de tradutor

O blog esteve meio abandonado estes dias. Estou vivo, é fato, mas foram dias difíceis, porque tive que combinar excesso de serviço com mil problemas particulares. No fim do dia, não tinha coragem para escrever. Parece que a tempestade amainou e vamos ver se volto ao ritmo de uma abobrinha por dia. Abobrinha é rica em cálcio, fósforo e vitamina A. Se não sabem, deviam saber.

Agora, leia, por favor, o artigo abaixo, que acabo de postar, e volte amanhã.

Essa coisa de faculdade

De tempos em tempos, me aparece a história da faculdade, de novo. Parece que este é o assunto menos entendido da nossa área. Vamos ver se consigo esclarecer um pouco ou se vou causar uma confusão demoníaca.

Quando se discute esse assunto, normalmente cai-se em dois pecados: o da generalização excessiva e seu irmãozinho, o de selecionar exemplos a dedo para provar uma tese.

Então, tudo começa com a tese. Por exemplo, o sujeito quer demonstrar que os bacharéis são umas azêmolas. Então, conta uma história, provavelmente verdadeira, sobre alguma tradução feita por bacharel que estava um horror. Daí, conclui que todo bacharel em tradução é um incompetente. No mesmo momento, alhures, há um outro sujeito contando história semelhante, só mudando o protagonista, que passa a ser alguém que não tem bacharelado em tradução e fez uma tradução hilariante.

Santa falta de lógica, não é? Na verdade, a gama dos cursos de tradução varia de excelente a deprimente e, dentro de cada curso, a gama dos alunos vai de genial a débil mental. E todos nós temos nossos bons e maus dias. Quer dizer, entre a tradução feita em condições favoráveis por um excelente aluno de uma faculdade de primeira linha e uma correria infernal feita sem recurso algum por um coitado que mal conseguiu terminar o curso numa faculdade meio frágil, pode haver uma grande diferença.

Agrega que, como já afirmei aqui mais de uma vez, quem assina a tradução nem sempre é quem a fez. Então, não é muito fácil tirar conclusões.

Por outro lado, há os montes de engenheiros, médicos, advogados, jornalistas e – por que não mencionar? – os vendedores de cachorro quente que, numa hora de sua vida decidiram se meter a tradutor. Alguns desses caras, também, são bons, mas outros deixam a desejar.

Na verdade, a maioria dessas discussões sobre "fazer ou não fazer bacharelado em tradução" se baseia em posturas cujo objetivo principal não é chegar à verdade, mas sim vender o próprio peixe. Por exemplo, quem é bacharel, defende, até a morte, a idéia de que sem um bacharelado em tradução, não é possível ser tradutor, porque só no bacharelado em tradução se aprendem as coisas que precisam ser aprendidas para ser um tradutor que se apresente. E diz isso, repete, esbraveja, até ficar roxo, mesmo que tenha passado seus quatro anos de servidão acadêmica reclamando que naquela porcaria daquela faculdade não se aprende nada.

Amanhã, volto ao assunto. Agora, talvez você se interesse por algum dos meus cursos via Aulavox, sempre a distância:

21 de junho - 19.30h - Da Faculdade ao Mercado (Grátis, direcionado para estudantes)
23 de junho - 14h - Introdução ao Wordfast
28 de junho - 19h - Wordfast Avaçando: Gestão de Memórias
Mais informações: http://www.aulavox.com/eventos/textoecontexto/index.htm

quinta-feira, 14 de junho de 2007

O que é uma boa tradução?

No artigo anterior, disse que não se pode dar por errada uma tradução exclusivamente por ser literal. Fica, então, a pergunta: quando se pode dizer que a tradução esteja errada?

Falando baseado exclusivamente em minha experiência e observações, quer dizer, sem recurso a qualquer escrito teórico, na minha opinião, o primeiro requisito da boa tradução é a fidelidade ao sentido do original. Uma boa tradução deve dizer tudo o que diz o original, nem mais nem menos.

Já vi muita gente dizer que isso não é verdade, que fidelidade (e "original") são conceitos ultrapassados. Pode ser, mas, para essas pessoas, tenho duas respostas: a primeira é que meus clientes comparam minhas traduções com os originais e ai de mim se não estiverem fieis, se não disserem direitinho o que está no original. Como são meus clientes que pagam o feijão, prefiro fazer como eles querem. A segunda resposta é que essas são as mesmas pessoas que ficam assistindo televisão para apontar aqueles lugares onde a tradução "não é o que o artista disse".

O segundo requisito, ainda a meu ver, é português que se preze. Este quesito não vale se o tradutor revirar, contorcer e distorcer o português, com o objetivo de reproduzir algum traço específico do estilo do autor, que também viole a norma da língua original. Português que se preze também significa fluência, idiomatismo, propriedade para o gênero textual e outras coisas que não vou discutir aqui.

O terceiro requisito, por fim, e ainda a meu ver, é compatibilidade com o estilo do original. Quer dizer, se o original é um artigo complicadíssimo sobre filosofia, escrito num estilo altamente complexo, dirigido para especialistas, não cabe a nós tradutores traduzir num estilo accessível para adolescentes. Isso já deixou de ser tradução para ser adaptação e, evidentemente, assunto para amanhã.

De qualquer modo, então, e voltando ao nosso exemplo, o meninou comeu um pedaço de bolo é uma tradução boa para the boy ate a piece of cake, porque reflete o que diz o original e não há como mudá-la para que reflita melhor; não tem erros de português e tem estilo compatível com o do original. O fato de que é literal não prejudica nenhum desses atributos. Claro que não se pode traduzir literalmente o tempo todo. Sempre que a tradução literal ferir um desses atributos deve ser descartada.

Por hoje, é só. Não se esqueçam, por favor, da visita a Aulavox para ver o que há por lá. Se estiver fazendo faculdade, veja o "Da Faculdade ao Mercado", que é grátis e, sendo a distância pode ser acompanhada de qualquer lugar do mundo.

Obrigado pela visita.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Tradução literal

Está rolando, na trad-prt uma discussão sobre o que possa ser tradução literal, um termo que tem diferentes definições para diferentes pessoas. Então, algumas vezes, se recomenda que uma tradução seja feita literalmente, ao passo que, em outras, critica-se uma tradução por ser literal. Vamos trabalhar com alguns exemplos, a ver se nos entendemos.

The boy ate a piece of cake > O menino comeu uma fatia de bolo

Esta é uma tradução literal. A cada palavra do original, corresponde uma da tradução e ambas têm idêntico sentido e idênticas características morfossintáticas. Nesse caso, geralmente, uma retrotradução igualmente literal vai nos conduzir de volta ao original.

O menino comeu uma fatia de bolo > The boy ate a piece of cake

A retrotradução não nos conduz ao original quando a língua de partida tem duas possibilidades e a de chegada tem só uma:

O que o senhor disse? > What did you say? > O que o senhor/você disse?

Há quem prefira chamar essas traduções de "palavra por palavra" e chamar literais, àquelas que sofreram pequenas alterações, para atender às normas morfossintáticas da língua de chegada:

The boy ate a piece of chocolate cake > O menino comeu uma fatia de bolo de chocolate > The boy ate a piece of chocolate cake.

Note que todas as traduções acima estão corretas, embora sejam literais. Em outras palavras, não se pode acoimar uma tradução de incorreta exclusivamente por ser literal. Quando se pode dizer que uma tradução é incorreta, então?

É disso que vamos falar amanhã. Antes de ir, dê uma passadinha aqui, para saber dos meus cursos e, se você estiver fazendo um curso de Tradutor, não deixe de ver as informações sobre "Da Faculdade ao Mercado", que é grátis.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Madame d'Anjou responde: diferença entre intérprete e tradutor

Tem lá, na minha página de recados do Orkut, alguém perguntando a diferença entre intérprete e tradutor. Boa pergunta. Nós, que sempre falamos mal da imprecisão terminológica dos outros, fazemos uma grande barafunda com nossa própria profissão.

Tradutor, por exemplo, pode ser usado especificamente para quem trabalha com texto, ou genericamente para incluir também os que trabalham com a língua falada. Já houve, entre os franceses, que propusesse translation como termo genérico, e traduction e interpretation para as duas vertentes da nossa profissão. Não pegou. Então, ficamos com um termo, tradutor, que, ao mesmo tempo, é gênero e espécie.

Mas o pior não é isso. O pessoal que fica naquelas cabines falando uma língua enquanto o orador fala outra, se intitula intérpretes e, de vez em quando, olham meio de cima os tradutores, quer dizer, a turma que trabalha com texto, como se fosse um tipo de arte menor. O livro do Ewandro sobre a profissão dele se chama sua majestade o intérprete, mas a lista de discussão que ele próprio criou se chama trad-sim, de tradução simultânea, termo que, aliás, aparece 285.000 no Google, contra 19.500 de interpretação simultânea. De qualquer maneira, parece que o simultânea é exclusivo deles. Curioso é que, quando eles cometem algum erro, é comum dizer que o intérprete traduziu errado.

Do lado da turma que trabalha com texto, como eu, a coisa talvez seja mais simples: para meu serviço, sempre vi e ouvi o termo tradutor. Mas é também comum dizerem que um de nós interpretou mal o original.

E nós reclamamos tanto da imprecisão do que traduzimos e interpretamos! Casa de ferreiro, espeto de pau.

Agora, que já respondi, posso apagar o recado.

Obrigado pela visita e té amanhã, que tem mais, se meu resfriado permitir. Estou gastando mais tempo assoando o nariz do que digitando.

Não se esqueça de dar um pulo na Aulavox para ver os cursos. O "Da Faculdade ao Mercado" é absolutamente grátis. Como é tudo a distância, não importa onde você esteja, nos estamos lá.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Recado à Adriana e outros inciantes.

Lamento que não tenha funcionado o link.

Não era pegadinha, não faço isso.

Tente, por favor, http://tinyurl.com/2txqts

Abaixo o tradutorês!

A turma reclama do legalês, do economês, do propagandês do não-sei-que-mais-quês e ridiculariza essas linguagens. Mas eu prefiro, como é meu hábito, dedicar-me ao exame da minha própria cauda e me dedicar ao estudo do tradutorês. Gente, vocês já viram que tem umas coisas que a gente só encontra em tradução? Não são realmente erros, mas é uma coisa esquisita, um português meio marciano. O cliente aceita e não reclama, porque adquiriu o hábito de ler essas coisas e acabou por aceitar. Mas, meu São Jerônimo, que textos ruins!

Está tudo de acordo com a gramática, sem dúvida, pronominhos do caso oblíquo onde os portugueses colocam e nenhum brasileiro gosta de ver, mas a tia da quarta série dizia que não se inicia frase com pronome do caso oblíquo e a gente não inicia. Tudo bem. Mas, ainda que mal pergunte, precisa traduzir todos os pronomes? Quer dizer, sempre que o inglês tiver um pronome, você precisa botar um pronome em português?

Você não se lembra que a tia de inglês ensinava que toda frase inglesa precisa de um sujeito e de um objeto expressos e que a gente custava para aprender que tinha que botar pronome em tudo? E tinha porque tinha porque se não pusesse, perdia nota? Então! Isso não te faz pensar que, como corolário dessa regra que nos fez penar tanto, ao traduzir do inglês para o português, não é necessário preservar todos os pronomes?

Antes de escrever um pronome em português, pergunte a você próprio se o pronome é realmente necessário, se, em sã consciência, ao escrever português, você usaria um pronome ali. Uma coisinha simples dessas pode melhorar muito a qualidade do seu texto.

Volte amanhã, que tem mais. Não se esqueça de clicar aqui, para saber dos nossos eventos. Tem, inclusive, um grátis voltado para o pessoal que está fazendo faculdade.

Se for iniciante estiver meio desarvorado CLIQUE AQUI (a Adriana me escreveu dizendo que o Link não funcionava, corrigi, vamos ver se funciona agora. Obrigado, Adriana.)

terça-feira, 5 de junho de 2007

Um minuto para nossos comerciais

Menos que um minuto, realmente, salvo se você for estrangeiro e estiver procurando no dicionário, palavra por palvra. Os novos cursos estão aqui. Espero que algum deles tenha interesse para você.

São todos a distância, quer dizer, você não vem a nós, mas nós vamos até você, via Intenet. Especial atenção ao "Da Faculdade ao Mercado", que é grátis.

Pronto. Agora pode passear pelo resto do blog. Obrigado pela visita.

Uma tradução ruim

Esta me contaram hoje de manhã e achei que merecia ir para o blog. Nada de extraordinário, mas é interessante.

A Agência A, aqui de SP, tinha um cliente que pedia muitas traduções de documentos em uma certa área. Essas traduções iam sempre para o Tradutor 1, que era, sabidamente, competente. Um dia, o cliente começou a reclamar de qualidade e, depois de algum tempo, mudou de fornecedor, procurando a Agência B. A Agência B procurou o melhor tradutor possível para o serviço, e encarregou dele o próprio Tradutor 1, que continuou usando a mesma memória de tradução para atender aquele cliente. Quer dizer, trocaram seis por meia dúzia. O cliente, aparentemente, está mais do que satisfeito com a "melhora de qualidade".

Isso diz muito da subjetividade das avaliações dos clientes. Neste caso, o dono da Agência A e o Tradutor 1 são amigos, o dono da agência conhece inglês e português e, embora a agência tenha lamentado perder o cliente, manteve sua confiança no tradutor e até acharam até graça na história. Se não fosse por isso, talvez o Tradutor 1 ficasse totalmente queimado com a Agência 1.

Como disse no acima, não há nada de extraordinário, porque acontece muito. Mas aponta para um problema para o qual não há solução fácil: a subjetividade dos julgamentos sobre tradução. O problema não é nem a perda do cliente, mas sim o fato de que, quando se perde um cliente, ou se recebe uma crítica, ficamos sem saber se nosso serviço estava mal feito ou se foi mero enjoamento do cliente.

Fica, então, muito difícil a gente saber quanto vale uma crítica. Quer dizer, podem dizer que a tradução está ruim porque a tradução está ruim ou porque ruim está a cabeça de quem falou e a gente precisa equilibrar a auto-estima com a autocrítica, o que não é tarefa fácil.

Por hoje é só. Volte amanhã, que tem mais. Se você está na faculdade, dê uma olhada no tópico imediatamente abaixo deste. Se não estiver, talvez queira recomendar a um amigo.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Da faculdade ao mercado

Como prometido...

Palestra grátis, a distância, via Aulavox, direcionada para estudantes de tradução.

Duas horas para entender melhor como funciona o mercado, como ingressar nele, como divulgar seus serviços e como aumentar suas probabilidades de sucesso.

Todos os interessados são bem-vindos. Para participar, você só precisa um computador ligado à Internet e um par de alto-falantes.

  • Se sua faculdade quiser, pode usar um computador e um telão para apresentar o evento a um grupo de estudantes. Nesse caso, o evento se qualifica como "atividade extra-curricular" e a faculdade pode emitir um certificado, com validade perante o MEC.
  • Caso sua faculdade não se interesse pelo evento e você queira o certificado, a Aulavox e a Texto&Contexto podem emitir um certificado, mas, como a palestra é grátis, vamos ter de cobrar um preço simbólico de R$ 12,00 para cobrir nossos custos e você vai ter de nos remeter um resumo da palestra, para satisfazer exigências legais e regulamentares. Mas preferimos que sua faculdade cuide desse aspecto.

21 junho, 19.30–21.30, horário de Brasília.

Fico grato a quel divulgar o evento.






domingo, 3 de junho de 2007

Se você faz faculdade...

Se você está fazendo faculdade, procurando um bacharelado como tradutor, acho que vou ter uma notícia interessante para você, lá para segunda ou terça-feira. Fique de antena.

Não, não tem emprego para todo mundo. Eu disse notícia interessante, não milagre.

Estou todo prosa

Estou todo prosa. Mais de 4000 pessoas visitaram o blog nos últimos 30 dias, o que não me parece nada mal. Não sei quem são: você pode entrar mil vezes que jamais vou saber quem você é. Mas sei que quantos entraram, quanto tempo cada um ficou e mais uma série de outras coisas fascinantes.

Muitos entraram por engano. Tem gente com pouca experiência em pesquisas no Google e vem parar no aqui por engano. Outro dia, alguém digitou onde vende meia para coto no rj no Google e veio parara aqui. Claro que o visitante tinha pensado em coto como parte restante de membro amputado, enquanto que, para mim, era o presente do indicativo do verbo cotar. Esses fazem um bate-e-volta, porque logo notam que nada há para eles aqui. O mesmo aconteceu com alguém que procurou no Google crack sdlx, que também saiu frustrado.

Porém, mais de 60% dos visitantes é de gente que já esteve aqui ao menos uma vez e, se volta, deve ser por ter gostado. Nada mau, para um blog feio que só ele.

Obrigado por vir aqui, me visitar. Deve ser muito frustrante manter um blog com carinho e não vir ninguém.

sábado, 2 de junho de 2007

Início de carreira (2)

Prometi, para hoje, o segundo capítulo da novela "como me meti nesse troço de tradução". O primeiro capítulo está aí abaixo. Bom, então, eu cheguei na Arthur Andersen, às oito e meia da manhã, me apresentei e me deram um pedaço de um livro, um Michaelis, um Altmann (avô do Dicionário do Orlando Pinho), um Dictaphone. Me ensinaram como usava a trapizonga do Dictaphone e disseram "quando encher a fita, liga para a Dulce que ela vem pegar". Pronto, eu era tradutor profissional, com registro em carteira e tudo.

Peguei o livro e fui "lendo em português". De tempos em tempos, chamava a Dulce, que "batia" as fitas numa IBM de esfera, para que depois um dos auditores revisasse. Almoçava no centro e ia dar aula de inglês. Depois de uns quinze, disse para a Vera que ia procurar serviço numa editora e deixar as aulas. Tinha todo o necessário: uma escrivaninha e uma máquina de escrever Olivetti 44. Pouca gente, naquela época, tinha telefone. Foi para o posto telefônico que havia na 7 de abril, comprei um pacote de fichas telefônicas (não havia cartões, na época, eram umas fichas de metal), sentei numa cadeira em frente a um telefone público, com uma mesinha onde colocar um caderno e a lista telefônica. Telefonei para todas as editoras, de A a Z. Algumas estavam com o telefone ocupado e, por isso, dei uma segunda rodada. Na segunda rodada, logo de cara peguei a Editora Atlas, que, eu sabia, era especialista em livros sobre contabilidade. Atendeu a telefonista, pedi para falar com a pessoa encarregada das traduções. Me passaram para o encarregado. Ele disse "se você realmente souber traduzir, temos serviço", sem muito interesse. Respondi, com arrogância: "Sou só tradutor da Arthur Andersen. Interessa?". A resposta veio em voz mais mansa: "Venha amanhã, para conversarmos".

Fui, conversamos, me deram um teste. Fiz o teste, a Vera revisou. Levei. O encarregado, de modo geral gostou, mas marcou a vermelho uma frase. Levou ao diretor editorial, elogiou o trabalho, disse que tinha um erro só, pequeno. O Diretor Editorial, que não sabia inglês, leu o texto pelo sentido geral e disse que estava tudo certo. Que a correção feita fazia o texto perder o sentido e que eu estava aprovado. Aí é que eu peguei o teste e vi o "erro": Estava escrito substitute machines for men, que eu traduzi por trocar homens por máquinas e o revisor, sem saber que substitute for significava o inverso de ser substituído por, tinha dado uma escorregada na maionese. Virei tradutor de editora. De manhã, Arthur Andersen; de tarde, editora.

Tempos estranhos, aqueles: ninguém me deu prazo para traduzir. Quando estiver pronto, entrega, é o que me disseram. Traduzi, papel formato ofício, espaço duplo, três centímetros de margem de cada lado. Laudas numeradas em cima, à direita. Correções a tinta. Depois, para a revisão, para a composição, três provas, impressão, encadernação. O livro se chamava "Análise das Demonstrações Financeiras", de um tal de John Myer. Foi publicado em 1972.

Durante a semana, conto como deixei a Arthur Andersen, para trabalhar inteiramente por conta própria.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Início de carreira

De vez em quando alguém escrever perguntando como comecei e como divulgo meus serviços. O objetivo é, evidentemente, tirar alguma idéia. Vou contar algumas coisas, aqui, mas não acho que vá ajudar muito. Comecei em outra época, numa situação diferente, o que valia então, pode não valer hoje. Mas, enfim, para não dizerem que estou escondendo o leite, lá vai.

Em 1970, eu trabalhava numa escola de inglês que tinha vários professores ensinando na Arthur Andersen, naquela época uma respeitadíssima firma de auditoria. Um dia, a Arthur Andersen perguntou se havia algum professor que pudesse fazer uma tradução e fui eu o escolhido. Naquele tempo, o mercado era muito restrito e havia poucos tradutores profissionais, fora os juramentados e um que outro que trabalhava com vínculo empregatício. A maioria tinha a tradução como bico. Eram professores, funcionários públicos (que trabalhavam somente meio período) aposentados ou "senhoras". Aqueles, eram, certamente, outros tempos. Havia as "senhoras", cujos maridos tinham bons empregos e, filhos criados e crescidos, queriam fazer alguma coisa de útil na vida, mas não queriam ou não podiam ser professoras. Muitas senhoras achavam que "não ficava bem" ir trabalhar no comércio nem queriam se comprometer com uma semana de 48 horas. Então, as que podiam, eram tradutoras. Todos trabalhavam muito devagar, não havia pressa. O fato de que nenhuma delas travalhava mais de 3–4 horas por dia, não prejudicava a ninguém.

Mas estou me me desviando do assunto. Do ponto de vista da escola, o serviço na Arthur Andersen eram aulas externas, pagáveis com adicional de 50%. Quatro horas por dia, cinco dias por semana, igual a vinte horas por semana, aproximadamente 90 por mês, com os 50%, pagamento, equivalente a 135 horas por mês. E, claro, o serviço terminava às 12.30, quando eu ia almoçar e começar a dar aula de verdade. Quem dá aula em curso livre de inglês, sabe que isso é um filé. Agarrei com as duas mãos.

Já tinha feito uma que outra tradução esporádica, mas nem de longe podia me chamar tradutor.

O que aconteceu quando eu cheguei na Arthur Andersen, eu conto amanhã.

Aliás, amanhã tem Reunião na Sala 7. Mais informações, clicando aqui.