Prometi, para hoje, o segundo capítulo da novela "como me meti nesse troço de tradução". O primeiro capítulo está aí abaixo. Bom, então, eu cheguei na Arthur Andersen, às oito e meia da manhã, me apresentei e me deram um pedaço de um livro, um Michaelis, um Altmann (avô do Dicionário do Orlando Pinho), um Dictaphone. Me ensinaram como usava a trapizonga do Dictaphone e disseram "quando encher a fita, liga para a Dulce que ela vem pegar". Pronto, eu era tradutor profissional, com registro em carteira e tudo.
Peguei o livro e fui "lendo em português". De tempos em tempos, chamava a Dulce, que "batia" as fitas numa IBM de esfera, para que depois um dos auditores revisasse. Almoçava no centro e ia dar aula de inglês. Depois de uns quinze, disse para a Vera que ia procurar serviço numa editora e deixar as aulas. Tinha todo o necessário: uma escrivaninha e uma máquina de escrever Olivetti 44. Pouca gente, naquela época, tinha telefone. Foi para o posto telefônico que havia na 7 de abril, comprei um pacote de fichas telefônicas (não havia cartões, na época, eram umas fichas de metal), sentei numa cadeira em frente a um telefone público, com uma mesinha onde colocar um caderno e a lista telefônica. Telefonei para todas as editoras, de A a Z. Algumas estavam com o telefone ocupado e, por isso, dei uma segunda rodada. Na segunda rodada, logo de cara peguei a Editora Atlas, que, eu sabia, era especialista em livros sobre contabilidade. Atendeu a telefonista, pedi para falar com a pessoa encarregada das traduções. Me passaram para o encarregado. Ele disse "se você realmente souber traduzir, temos serviço", sem muito interesse. Respondi, com arrogância: "Sou só tradutor da Arthur Andersen. Interessa?". A resposta veio em voz mais mansa: "Venha amanhã, para conversarmos".
Um comentário:
Prezado Mestre,
Minha porta de entrada foi um "grant request" de 500 páginas de USP para a Kellogh's Foundation. Eu e uma amiga nos revezá-mos entre a datilografia e a leitura do material. Foi uma experiência muito enriquecedora para a caixola, mas não para a carteira :o). Beijos na Vera.
- Gio
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