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quinta-feira, 14 de junho de 2007

O que é uma boa tradução?

No artigo anterior, disse que não se pode dar por errada uma tradução exclusivamente por ser literal. Fica, então, a pergunta: quando se pode dizer que a tradução esteja errada?

Falando baseado exclusivamente em minha experiência e observações, quer dizer, sem recurso a qualquer escrito teórico, na minha opinião, o primeiro requisito da boa tradução é a fidelidade ao sentido do original. Uma boa tradução deve dizer tudo o que diz o original, nem mais nem menos.

Já vi muita gente dizer que isso não é verdade, que fidelidade (e "original") são conceitos ultrapassados. Pode ser, mas, para essas pessoas, tenho duas respostas: a primeira é que meus clientes comparam minhas traduções com os originais e ai de mim se não estiverem fieis, se não disserem direitinho o que está no original. Como são meus clientes que pagam o feijão, prefiro fazer como eles querem. A segunda resposta é que essas são as mesmas pessoas que ficam assistindo televisão para apontar aqueles lugares onde a tradução "não é o que o artista disse".

O segundo requisito, ainda a meu ver, é português que se preze. Este quesito não vale se o tradutor revirar, contorcer e distorcer o português, com o objetivo de reproduzir algum traço específico do estilo do autor, que também viole a norma da língua original. Português que se preze também significa fluência, idiomatismo, propriedade para o gênero textual e outras coisas que não vou discutir aqui.

O terceiro requisito, por fim, e ainda a meu ver, é compatibilidade com o estilo do original. Quer dizer, se o original é um artigo complicadíssimo sobre filosofia, escrito num estilo altamente complexo, dirigido para especialistas, não cabe a nós tradutores traduzir num estilo accessível para adolescentes. Isso já deixou de ser tradução para ser adaptação e, evidentemente, assunto para amanhã.

De qualquer modo, então, e voltando ao nosso exemplo, o meninou comeu um pedaço de bolo é uma tradução boa para the boy ate a piece of cake, porque reflete o que diz o original e não há como mudá-la para que reflita melhor; não tem erros de português e tem estilo compatível com o do original. O fato de que é literal não prejudica nenhum desses atributos. Claro que não se pode traduzir literalmente o tempo todo. Sempre que a tradução literal ferir um desses atributos deve ser descartada.

Por hoje, é só. Não se esqueçam, por favor, da visita a Aulavox para ver o que há por lá. Se estiver fazendo faculdade, veja o "Da Faculdade ao Mercado", que é grátis e, sendo a distância pode ser acompanhada de qualquer lugar do mundo.

Obrigado pela visita.

Um comentário:

Anônimo disse...

No livro Conversas com Tradutores, de Ivone C. Benedetti e Adail Sobral (orgs), foi feita a pergunta "O que é erro e o que é acerto em tradução?". As respostas dadas por tradutores profissionais - dentre eles, João Azenha Jr., Heloísa Gonçalves Barbosa, Paulo Henriques Britto, Lia Wyler etc - são bastante esclarecedoras.
Francisco Fabiano Mendes
fafmendes@zipmail.com.br