Hoje ocorreu um incidente que me fez interromper o comentário sobre faculdades para falar um pouco de comentários, sugestões e exigências do cliente.
Há, que eu entenda, quatro graus de interferência do cliente:
Melhoras. Por sua experiência na área, muitas vezes o cliente pode ter soluções melhores que as minhas. É aceitar e agradecer.
Seis por meia dúzia. Eu escrevo "entender", o cliente troca por "compreender". Mais adiante, onde eu escrevi "compreender", ele troca por "entender". Muitas vezes, é serviço de um funcionário subalterno que se sente mal se não mudar nada. Se a forma escolhida pelo cliente estiver certa, aceito, deixando claro que tanto faz uma quanto outra e que respeito a escolha do cliente, porque o texto sai com o nome do cliente, não com o meu.
Pior a emenda que o soneto. O cliente muda, mas muda para pior, embora ainda aceitável. Continua sendo direito dele ter no texto o que quiser: o logotipo no alto da página é o dele, não o meu. Hoje mesmo, fiz um serviço para um cliente que manda deixar um termo perfeitamente traduzível em inglês e, ainda por cima, quer uma nota explicativa que me parece inútil e ridícula. Argumentei, o cliente não aceitou meus argumentos. Tudo bem, faço como ele quer. Errado, a bem dizer, não está. Só absurdo, idiota e ridículo. Se fosse tradução assinada, como a dos livros, é bem possível que eu fincasse o pé. Mas é serviço anônimo e o único nome que aparece é o do cliente, que tem todo o direito de ver seu burro amarrado da maneira que prefere.
Inaceitável. Mas, para tudo há um limite e há certas coisas inaceitáveis. Pode ser um glossário sem pé nem cabeça, pode ser uma emenda que torna o texto ininteligível, pode ser uma alteração que distorça o sentido do texto. Uma vez, por exemplo, um cliente exigiu de uma amiga minha que traduzisse "Buyer may" por "obriga-se o comprador". A colega se recusou. Entre outras coisas, porque se tratava de tradução juramentada, com o nome dela lá no alto da folha. Mas, mesmo quando não é juramentada, tem hora que a gente precisa fincar o pé e dizer que não faz e, se for o caso, recusar o serviço.
O que não se pode fazer é ter ataques histéricos por causa de sugestões de cliente. E, antes que me esqueça, se o revisor cometer algum erro de ortografia, é bom corrigir com boa educação, sem sarcasmos nem ironias. É bom tomar cuidado: pode haver erros de ortografia na sua tradução também.
Obrigado pela visita.
quarta-feira, 20 de junho de 2007
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Um comentário:
Olhe a seguinte situação:
1) Agência pega um serviço enorme e, para conseguir cumprir prazo, divide entre três tradutores.
2) Cliente que não sabe português recebe as traduções e nota que há itens que estão diferentes que deveriam estar iguais. Reclama. Contrata uma revisora brasileira.
3) A revisora (que não é revisora de ofício nem tradutora, apenas uma "entendida" no assunto do texto) faz mais do que o que deveria e decide impor seu estilo pessoal. Pega um dos documentos, reescreve-o integralmente, chegando a mudar detalhes insignificantes como posição de adjetivos, anexa um glossário e pede que todos os demais documentos sejam "refeitos de acordo com o modelo".
4) Os donos da agência não sabem inglês, mas aceitam sem questionar as observações da revisora de que "o trabalho não está bom" e caem em cima dos tradutores pelo "trabalho de má qualidade".
5) Os tradutores passam agora a fazer um trabalho que, a rigor, não é de tradutor nem de revisor, que é o de reescrever tudo de acordo com as regras arbitrárias impostas pela revisora.
Eu quase pirei!
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