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sábado, 27 de outubro de 2007

Uma tradução perfeita

No Orkut apareceu uma oferta de trabalho e o solicitante exigiu "tradução perfeita", exigência que, digamos, causou espécie e algumas reações apaixonadas.

Nunca fiz uma tradução que eu considerasse perfeita mais de cinco minutos depois da entrega ao cliente.Isso é que eu chamo teoria heraclítica da tradução. Lembra daquela história de que não se atravessa o mesmo rio duas vezes, porque nós próprios evoluímos e mudamos ao atravessar o rio e, ao reatravessar, somos diferentes? Pois é. Acontece o mesmo com a tradução. Você traduz, qualquer coisa, não precisa ser nenhuma obra-prima, e, nesse traduzir, se aperfeiçoa. Ao revisar a primeira vez, já conta com uma experiência que não tinha antes e, por isso, corrige as escorregadas, mas também o que, na primeira vez, pareceram acertos. Ainda bem que tem prazo para entregar. Se não houvesse, a gente ia continua dando só mais uma revisadinha até o dia do juízo final. Tem que mandar para o cliente, benze e manda. Mas se, no dia seguinte abrir de novo, não vai gostar do que fez. Se gostar, se achar perfeito, tem alguma coisa errada com você.

Por outro lado, tem o fato de que precisa saber aos olhos de quem a tradução tem de parecer perfeita. Existe um tanto de subjetivo na avaliação de qualidade de traduções. Pode parecer irritante, mas são essas subjetividades que os teóricos formalizam nos seus escritos. Falando, digamos, mais academicamente, a pergunta talvez fosse: perfeita de acordo com que teoria? Porque a aplicação de diferentes teorias resulta em diferentes traduções. Se não resultasse, para que, então, diferentes teorias?

Você pode dizer que o tradutor tem de ser respeitado em suas teorias. Claro, tem. Mas a pergunta é a seguinte: imagine um cliente, seja um intermediário como uma agência de traduções, ou um cliente final, digamos, uma empresa ou escritório de advocacia. Digamos que esse cliente recebesse uma tradução e, na leitura, lhe parecesse que a tradução está falha. O cliente liga para quem traduziu e diz que não gostou. Quem traduziu aparece no escritório do cliente no dia seguinte, com meia dúzia de trabalhos acadêmicos sobre teoria que dão todo apoio teórico à sua tradução. O cliente fica impressionado e se perguntando "será que eu sou burro?" e ligou para uma pessoa conhecida que ensinava teoria da tradução em uma faculdade e que, sendo partidário de outra teoria, caiu na gargalhada: "você foi vítima da turma do polissemantismo desagregacional unificado, uma teoria que tem lá seus defensores, mas são todos uns malucos. As traduções deles são um horror. Deve ter estudado na Faculdde X, onde se ensina essa idiotice, entre muitas outras. Lá na Y, onde eu dou aula, a gente procura fugir dessas doideiras. Pura masturbação mental. Joga fora a tradução e dá graças a Deus que você percebeu."

No lugar do cliente, o que você faria? Ou será que você pensa que acadêmicos não discordam?
Por hoje é só.

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Antes de encerrar, informo que a semana que vem volta a programação de cursos a distância via Aulavox. Tive de cancelar diversos eventos por causa de um momento mau que aparentemente passou. Hora de voltar à ativa. Aos que, mesmo sem entender, compreenderam, meus agradecimentos.

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