Mudamos para www.tradutorprofissional.com

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Que língua estudar, para Tamara, da UNESP

Escreveu a Tamara:

Sou estudante de Letras, estou em meu 1° ano na Unesp/Assis e já no final deste 1° semestre devo optar por qual língua estrangeira estudar até o final do curso. O caso é que eu quero ser tradutora e isso está influenciando na escolha do idioma. Gosto muito mais do espanhol do que do inglês, mas o senhor acha que há muitas oportunidades para a tradução em língua espanhola como há para o inglês? Gostaria muito de trabalhar traduzindo novelas e filmes português/espanhol e vice-versa, sei que essa não é a área na qual o senhor atua, mas o senhor tem mais noção disso do que eu e poderia me ajudar a esclarecer essa dúvida que tanto me atormenta! (não estou exagerando!). 

Tamara, só para argumentar, vamos imaginar que "espanhol" e "inglês", no se caso, não sejam línguas, mas sim as nacionalidades de dois de seus pretendentes. Você pode casar com um ou com o outro, ambos são legais, mas você gosta muito mais do espanhol do que do inglês. Entretanto, no momento parece que o inglês tem um futuro profissional mais brilhante.

Você está perguntando com qual dos dois deve casar. Porque a gente, de certo modo, casa com a língua que traduz, convive com ela e seus falantes, visita o país onde ela é falada, lê jornais e livros escritos nela, essas coisas. Você estar abraçada com o inglês, vendo aquela assanhada da sua maior inimiga toda agarrada com o espanhol, é um sofrimento.

Pior: essas coisas profissionais mudam, Tamara. E, da mesma forma que o espanhol pode ganhar numa loteria qualquer e ficar podre de rico, o inglês pode dar um azar desgraçado na vida, entrar em depressão e estar um trapo de marido aos trinta anos, fazendo a infelicidade da terceira mulher. Prever o futuro é impossível. 

Falando do ponto de vista estritamente profissional, o mercado de inglês é maior que o de espanhol, mas também tem muito mais tradutores. Isso significa que quem é realmente bom, tem iguais chances de se profissionalizar tanto no inglês como no espanhol. Realmente, não vejo problema e tenho muitos colegas de espanhol que estão lotados de serviço. Acabou aquela ideia de que "espanhol todo mundo sabe e qualquer um traduz". Felizmente - e não me parece que isso tenda a mudar.

Dois comentários finais, para você e para todos os que lerem este artigo: 

Primeiro, que, dada a preeminência da TV e do cinema na nossa cultura, onze entre cada dez tradutores iniciantes ou pretendentes a tradutor esperam traduzir filmes, novelas e quejandos. Não estou dizendo que você, especificamente, não consiga chegar lá. Mas cabe dizer que essa é uma fração do mercado e o grosso do serviço, em qualquer par de línguas, é constituído por tradução pragmática (comercial, técnica, jurídica, médica…), em qualquer país do mundo e em qualquer época da história. A tradução de filmes e coisas assim aparece muito e está crescendo, mas ainda representa e, creio, vai sempre representar, um volume menor que o da pragmática. Mais de 90% dos tradutores jamais traduziram um filme ou literatura na vida. Eu nunca fiz nada disso e estou satisfeitíssimo com a profissão. Preciso escrever alguma coisa sobre esse assunto, um dia desses. 

Segundo, que para ser um bom tradutor, aprender a língua estrangeira é essencial, mas nem de longe o suficiente: é igualmente importante dominar a própria língua. Você escreve bem, Tamara, mas, como tradutora, vai ter de aprender a virar o português do avesso, porque vai ter de adaptar o seu português "natural", o jeito que a Tamara escreve, para o estilo do original, que pode ser muito diferente do seu. E, se você se dedicar ao espanhol, o problema é piorado pela semelhança entre as línguas: quanto mais semelhantes as línguas do seu par, maior a chance de contaminação. Quer dizer, estude espanhol como louca e português como louca e meia.

E, assim, você chega lá.

Ah, prefiro ser chamado "Danilo", mesmo, sem "senhor". Por favor.

5 comentários:

Gerlane G. Oliveira disse...

Oi Danilo. Lendo o comentário da Tamara aqui, lembro-me de perguntar sobre as línguas clássicas. Na verdade, durante as minhas pesquisas, nunca ouvi falar algo sobre o mercado do grego e do latim.
Li em algum lugar, não me recordo agora, que só há a possibilidade de escolher um "pacote", digamos assim, de línguas na faculdade, ou Línguas Clássicas ou Línguas Modernas. O senhor(desculpe chamá-lo assim,uma vez que vi o que escreveu sobre isso nesta mesma postagem, mas é um hábito meu)poderia informar se não há meios de estudar essas línguas em conjunto, como por exemplo, grego-inglês?

Danilo Nogueira disse...

O mercado para as línguas clássicas é exíguo, Gerlane e acho que cursos só em escolas públicas e, talvez, nas católicas.

E, sim, há um tanto de rigidez nessa história toda. Não creio que seja fácil fazer grego e inglês.

Gerlane G. Oliveira disse...

Oi Danilo. Muito obrigada por responder. Um bom final de semana para o senhor.

Kelli Semolini disse...

Gerlane, depende da universidade, e você precisa checar em cada uma delas.

Na UNESP de Araraquara era assim (era, porque a grade mudou e eu não sei como está agora): no ato da matrícula você escolhia dois idiomas para estudar durante os dois primeiros anos. Num grupo estavam francês e inglês (quando eu estava quase me formando entrou o espanhol) e, no segundo grupo, italiano, alemão, grego e latim (este último só no período diurno). Então sim, era possível fazer grego e inglês.

Como cada turma tinha um número limitado de vagas, a seleção era feita de acordo com a sua colocação no vestibular. Dificilmente alguém escolhia o grego e o latim, mas lembro que as pessoas que fizeram grego se apaixonaram.

No terceiro ano, tínhamos que optar por uma das línguas, para fazer as literaturas. Era possível também fazer a outra língua no outro período, mas não era fácil conciliar. Outra possibilidade era, depois de terminada a graduação, tentar uma vaga para terminar a outra língua. Nem todos conseguiam.

Mas o que você deve mesmo é se informar na secretaria de graduação da universidade que te interessa. Cada uma é de um jeito e, mesmo que alguém que estudou lá te diga como é, algumas mudanças podem ter acontecido.

Gerlane G. Oliveira disse...

Oi Kelli. Muito obrigada pela informação,é de grande ajuda para mim. Continuem a escrever, o blog tem sido de imensa importância e fonte de conhecimento para muitos.
Mais uma vez obrigada!