A revista Época 472, 4 de maio de 2009, traz na página 134, um artigo sobre tradução, com direito a palpite do meu particular amigo Renato Beninatto, fundador da lista trad-prt. Vale a pena ler.
O artigo difere do usual, porque se concentra na aplicação tecnologia, assunto que interessa a todos nós.
Começa com algumas informações genéricas, já conhecidas de todos nós. Mas na terceira coluna, aparece uma informação interessante, falando de tradução de manuais de instruções, contratos de negócios, vídeos institucionais, quer dizer, do mercado onde opera a maioria de nós, o exército oculto, cujo nome raramente aparece nos jornais. Diz lá que essa é a maior fatia do mercado (o que eu venho dizendo aqui desde que comecei esta lengalenga de blogue, quem sabe agora que saiu na revista, acreditam em mim) e que, no último trimestre, cresceu 85% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Entendeu? Com crise e tal, cresceu 85%! E vem o diabo da agência chorar que, com a crise, falta serviço e é necessário cortar nossa paga. A All Tasks espera vender R$ 7 milhões este ano. Deus que os ajude e não se esqueça de mim, como dizia minha mãe.
Lá pelas tantas, Sávio Levi, diretor de operações da Lionbridge no Brasil, afirma “O principal desafio no Brasil hoje é encontrar mão de obra qualificada. Em 120 testes que fizemos no ano passado, aprovamos menos de 10% das pessoas” . Isso é uma afronta à categoria, um insulto. Perdeu uma excelente oportunidade de ficar calado. Tradutor bom é o que não falta. O que falta é agência disposta a pagar bem. Paguem melhor que chove gente boa. Conheço muito tradutor bom que se recusa a trabalhar para as agências brasileiras, porque encontrou clientes diretos aqui e agências lá fora que estão dispostos a pagar mais. A isso se chama concorrência. As agências concorrem pelo nosso trabalho e fica com ele quem mais paga. Só isso.
Tem um trecho com um tanto de baguncinha intelectual quanto ao uso de ferramentas de tradução. Não sei se proposital ou o simples fruto da tentativa de comprimir o máximo de informações em um espaço insuficiente.
Fiz várias experiências, muitíssimo bem-sucedidas, combinando WF, um poderoso glossário e Google Translate. Fiz com inglês, mas deve funcionar com outras línguas. Mas funciona assim: O WF abre um segmento (quer dizer, um período), procura na memória, se não encontrar nada, pede para o Google Translate, e eu reviso o segmento, com apoio do meu super glossário. Quando está direitinho, eu aprovo o segmento e vamos em frente. Fica, realmente bom e é rápido. Se mandar para um revisor, ele jamais vai saber que eu usei o G-Translate como apoio.
Mas mandar o G-Translate traduzir a meleca toda e mandar para o revisor não dá, porque sai esta meleca. Revisar essa porcaria é impossivel: tem de fazer de novo. Por favor, não me venham de borzeguins ao leito.
O último parágrafo me parece bobagem pura. Aliás, já temos gente boa fazendo tradução literária usando WF + Google Translate e satisfeita com o resultado. Mas vai demorar até a turma se dar conta disso. Claro, precisa revisar — mas toda tradução automática precisa de revisão cuidadosa.
O fato é que tradutor costuma ter pavor de tecnologia e essa é uma das maiores falhas da profissão. Não tem que ter medo, tem que aprender a usar, tem que dominar. Não dar uma de avestruz. Tem que aprender a usar e ser melhor que a ferramenta. Essa é a realidade. Veja que, com toda a tralha que a All Tasks tem, a dona se queixa da falta de mão-de-obra. Quer dizer, ainda somos nós a chave do problema, o fator escasso.
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Este artigo foi alterado para agregar as contribuições de dois leitores, um que me mandou um link que funcionava para a reportagem e outro que corrigiu um erro de atribuição. A ambos, nossos agradecimentos. Um blogue se faz de muita coisa, inclusive de leitores atentos e dispostos a colaborar.
12 comentários:
Walter escreveu:
Muito bom o seu Post. Sempre usei a tradução automática como suporte às minhas traduções, mais experiencia, Glossário, Dicionários e Internet. E agora com o WF ligado diretamente ao G-Translatoe, o resultado é ainda melhor. Sempre cuido de pagar ao Google seus honorários ("Sugira uma Tradução melhor"). Considero isso uma ajuda para novos e não tao novos tradutores. É bom saber que um tradutor tão bem sucedido como você tambem usa este método. Obrigado.
Tradução automática é só mais uma ferramenta do meu arsenal. O importante não é realmente ter as ferramentas, mas saber usar.
Será que a Época tem uma versão online? Vou dar uma procurada...
Tem, mas precisa ser assinante para ler essa matéria.
Acho que agora já pode ver em (para os não-assinantes):
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI71212-15224,00-PROGRAMAS+DE+COMPUTADOR+FARAO+O+TRABALHO+BRACAL+DO+TRADUTOR.html
Obrigado. Mas não me pergunte como e por que eu não consegui chegar lá.
Usando tinyurl.com, reduzi para
http://tinyurl.com/cm8hc8
… que é um pouco mais prático. Mas não poderia ter reduzido sem o linkão aí de cima.
Danilo, só uma correção: não foi "a dona da All Tasks" quem disse que "é difícil conseguir mão-de-obra qualificada no Brasil", mas sim Sávio Levi, diretor de operações da Lionbridge no Brasil.
Danilo, não sei se o Sávio não deixa de ter razão. Nas últimas semanas, corrigi 5 testes para uma agência inglesa, que paga muito bem. Dos 5, aprovei 1, coincidentemente uma brasileira que mora na Inglaterra (onde eu moro também). Os outros 4, que vieram do Brasil, foram um desastre. Não é apenas ser literal. Não só não conheciam o assunto, como também não compreenderam o texto em inglês, e muitos menos sabiam escrever em português.
Como você bem sabe, as agências daqui, só trabalham com "native speakers", então eram mesmo brasileiros, falantes de português, sabor do Brasil.
Dou razão ao Sálvio neste quesito. Ele está coberto de razão.
Ana, quem paga mais escolhe o melhor. Essa é a regra do mercado. A agência aí paga melhor, pegou a melhor candidata.
E se o Savio pagasse bem, perigava você ir trabalhar para ele. É assim que funciona.
Sei que sou águda na hora da crítica mas eu consigo traduzir mais rápido do que passar por essa manipulações electrónicas...WF + Google Translate + revisão + glossário...o Tempo que isso leva...já ganhei a corrida. A maioria das vezes tradução para mim é "bater" a máquina...Ja-ne...
Ja-ne, seu comentário vai me dar um novo artigo para o blogue. A resposta seria longa demais para postar aqui.
Obrigado por participar da discussão.
Walter:
Ja-ne, eu costumava usar o IBM Via Voice para traduzir quando recebia textos impressos. Era muito bom. Ainda uso, vez por outra, quando não dá para converter o PDF em editável e usar o Google. A diferença deste WF+Gtranslt+Glossario é menos dor nos ombros, menos digitação e maior certeza dos termos usados. Em curto prazo parece que simplesmente digitar é mais rapido, mas a longo prazo... quanta diferença!
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