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domingo, 28 de outubro de 2007

Traduzir é uma festa!

Quase tudo o que eu traduzo são finanças, o que causa alguma curiosidade entre os que têm cardápios de tradução mais variados e dos que traduzem literatura.

Perguntam se não acho o assunto muito árido e repetitivo. No principio, achava árido e repetitivo, sim. Mas árido é aquilo que você não entende e, no princípio, não entendida nada daquilo. Quanto mais aumentava meu entendimento do assunto, menos árido ficava. Comecei a entender diferenças sutis entre textos que, aparentemente, diziam exatamente a mesma coisa.

Durante muitos anos, boa parte do meu trabalho foi traduzir par o inglês os balanços de empresas estrangeiras e os pareceres de seus auditores. Os pareceres de auditor parecem todos iguais, mas não são. E diferenças de redação que parecem mínimas para o leigo são significativas para quem entende. No resto do texto, era interessante ver como as empresas apresentam seus sucessos e fracassos ao público leitor e como procuram o lado positivo do que quer que lhes tivesse acontecido ou tivessem feito.

Também traduzi para o inglês muito material sobre tributação, uma das coisas mais complicadas que já me caíram nas mãos, porque não há dois países com sistemas tributários iguais e explicar o sistema de qualquer país para quem só conhece o do seu. Lembra aquela história dos tradutores da Bíblia que tinham que traduzir textos sobre um povo que vivia no deserto para povos que viviam na floresta ou no gelo e não tinham a mais remota idéia do que fosse um mar de areia e se perguntavam se aquila história toda de tenda e camelo era verdade ou mera invencionice.


As repetições e quase-repetições, que não são poucas, à medida que fui me tornando mais experiente, me ajudaram a polir minhas traduções. Sei que alguns colegas desenvolveram ainda no século passado, um glossário e aplicam sempre as mesmas soluções, mecanicamente. X se traduz por Y e acabou a história. Ganham dinheiro, mas eu não consigo trabalhar assim. Cada repetição, cada quase-repetição, é uma chance de melhorar um pouco a última tradução que dei para a mesma frase. Não é mudar por mudar, é aproveitar a experiência para fazer melhorar, é mudar sabendo porque muda.


Traduzir é uma festa. Não importa o tipo de texto.


Por hoje é só. Se você está começando na profissão ou pretende começar, clique aqui.


Antes de encerrar, informo que a semana que vem volta a programação de cursos a distância via Aulavox. Tive de cancelar diversos eventos por causa de um momento mau que aparentemente passou. Hora de voltar à ativa. Aos que, mesmo sem entender, compreenderam, meus agradecimentos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Há muitos anos, trabalhei como tradutor numa embaixada árabe em Brasília. O inglês deles era precário e, por mais que eu caprichasse, sempre havia alguém que não entendia e achava que estava mal traduzido. Era frustrante. Até que, num papo com meu avô (que era marceneiro e construía móveis indestrutíveis), ele me deu a chave: faça para você. Isso mudou toda a minha relação com o trabalho, que tornou-se uma fonte de prazer e aprendizado permanente.

Menciono isso porque é delicioso (e raro) perceber o prazer e o orgulho que você extrai do seu ofício. Na minha opinião, que acredito que você subscreveria, o conselho número um a ser dado para qualquer tradutor iniciante seria exatamente esse: faça para você. Seja qual for o preço, seja qual for o cliente, faça como você gostaria de ler.