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sexta-feira, 8 de agosto de 2008

ABC - Associação Brasileira dos Coitadinhos

A história é velha, velha dos tempos anteriores à Internet, quando a gente só tinha clientes na cidade onde morava e ia ao escritório dos clientes, para pegar e levar serviço. Então, nesses tempos, no fim de uma reunião da ABRATES ou do SINTRA, não sei, ficou a famosa rodinha conversando abobrinha na porta do prédio.

Como tantas vezes acontece, estava boa parte do pessoal se queixando que no Brasil, isto e que de uns tempos para cá, aquilo. A exceção era um colega bem vestido, de bem com a vida e satisfeito com seu sucesso profissional. No outro extremo estava um dos grandes coitadinhos do grupo, sempre com pouco serviço, mal pago, uma clientela que, além de pouca, era carrasca. Esse infeliz perguntou ao bem-sucedido, com um laivo de ironia, como é que eu faço para ser um tradutor bem-sucedido, como você?

É curioso como tanta gente trata com ironia e sarcasmo os que tiveram sucesso. Como se ser um fracassado fosse grande mérito. Americano usa looser (fracassado) como insulto, aqui parece que é bonito fracassar. Coitado, não tem sorte na vida.

Mas estou fugindo da história. Então o colega perguntou como ser bem-sucedido e tal. E o outro, que nasceu sem papas na língua, rebateu de primeira: comece tomando um banho. A rodinha se desfez, constrangida. Esperava-se algo menos duro, algo mais piedoso. Mas o fato é que o fracassado, o coitadinho, de fato não tomava o mais leve cuidado com a aparência pessoal e aparecia no escritório dos clientes como se tivesse dormindo na sarjeta. Claro, só conseguia pagamento de sarjeta. Era o moço das traduções. Só faltava lhe entregarem uma quentinha requentada para saciar a aparente fome. Se fizesse um esforço para parecer menos "mindingo" ganharia muito.

Mas o Fracassado não queria investir nada na profissão. Para que investir, se o ele ganhava tão pouco? Investir era para os outros, que tinham bons clientes, clientes que pagavam bem e mandavam bastante serviço. Nunca lhe ocorreria que era exatamente o contrário: que os que se saiam bem eram os que investiam, e investiam pesado, nas suas carreiras.

Hoje, raramente se vai pessoalmente ao cliente e se você prefere tomar banho somente no dia do seu aniversário, direito seu, o banho tornou-se irrelevante. Mas aprenda a investir em você próprio e na sua carreira, porque do céu não vai cair serviço.

Obrigado pela visita, deixe seu comentátio e volte amanhã

5 comentários:

Anônimo disse...

Olá Danilo,

Fiquei sabendo que o Google tem um projeto para utilizar tradução humana em seus serviços e tem até mesmo um projeto para construir uma grande "Memória de Tradução Global", incluindo vários idiomas na ferramenta. Gostaria de saber sua opinião sobre o assunto.

Incluo dois links para análise:

1> http://www.icecreamnow.com.br/2008/08/05/google-usa-humanos-para-traducao-de-textos/

2> http://blogoscoped.com/archive/2008-08-04-n48.html

P.S.: Desculpe se isto já tiver sido postado e por ter colocado nos comentários deste post, mas não vi onde mais fazer colocar essa questão.

Abraço,

Pedro

Unknown disse...

Gostei muito desse post de hoje, a mim veio a calhar porque estava justamente ponderando se deveria investir neste momento, já que estou migrando da carreira de professora de Inglês a tradutora, ou se deveria aguardar os primeiros trabalhos para poder investir. Agora já não tenho mais dúvidas.
Obrigada.

Meg disse...

Pode parecer fútil, mas boa parte dos makeover shows da tevê (realities que dão um banho de loja nas pessoas como Esquadrão da Moda e Queer Eye, nas TVs a cabo) costuma pregar isso:

Você deve parecer o que você quer ser. Você deve parecer adulto, profissional, sexy, feliz, o que você quiser.

Você é bem-sucedido se você parece bem-sucedido. Você se sente bem-sucedido e fica mais confiante, e consegue vender seu pescado a preço de bacalhau norueguês.

Pode parecer fútil, mas depois que eu comecei a fazer Letras vestida como se estivesse no Mestrado, todos os professores me dão mais voz autorizada.

Danilo Nogueira disse...

Meg, obrigado por seu comentário. Cometei o comentário aqui:

http://tradutor-profissional.blogspot.com/2008/08/abc-associao-brasileira-dos-coitadinhos_09.html

Anônimo disse...

Renata, com os votos de boa sorte de quem fez a tua opção há 20 anos e não se arrepende nem um pingo. É difícil renunciar ao salário depositado na conta no dia certo, mas esse é precisamente um dos investimentos de que o Danilo fala. Se você continua dando aula, só faz tradução como bico e nenhum cliente leva realmente a sério um tradutor com pouca disponibilidade e baixa produtividade.
No começo eu sentia até falta de "ver gente": os alunos, os colegas na sala dos professores, mas fiquei firme.
Raquel Schaitza