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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Recadinho

Um recado algo críptico para o colega que me escreveu agora há pouco uma mensagem pedindo que eu guardasse segredo. Sim, guardo segredo, sem dúvida. Já tinha tomado essa decisão antes de você pedir.

Para quem não entendeu nada, um colega me escreveu um comentário contando uma situação algo cabulosa e deu seu nome. Posteriormente, deu-se conta de que a divulgação do seu nome poderia causar constrangimentos e pediu para que eu não postasse o nome dele.

Este fim de semana, devemos ter um formulário para contato, o que vai distinguir os comentários a um artigo específico de comunicações e solicitações diversas, o que vai facilitar essas coisas.

Mas o assunto levantado no texto do colega importa a todos os iniciantes e vai ser analisado aqui.

Ontem, acabamos um monstrinho de serviço e vamos poder, a partir de amanhã, dar mais atenção a muitas outras coisas, inclusive o blogue. Finalmente.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Concurso para Tradutor Público e Intérprete Comercial em Santa Catarina

Um frisson corre entre os tradutores! Concurso para TPIC, vulgo "tradutor juramentado", desta vez em Santa Catarina!

Já falei até demais em TPIC aqui e quem pesquisar TPIC na caixa aí ao seu lado direito vai saber tudo o que quer e mais algumas coisas que provavelmente preferiria não saber. Não vou me repetir aqui. O edital está aqui. Está escrito em um português algo tosco, mas tem a característica redentora de dizer:

O provimento do Ofício de Tradutor e Intérprete Comercial é exclusivo da Junta Comercial, porém a execução do trabalho é gerada pela de (sic!) demanda externa e o respectivo pagamento destes serviços será feito pelo usuário diretamente ao tradutor, obedecendo à tabela de preços fixada pela Junta Comercial por ResoluçãoJUSESC nº 001/06.

… o que, trocado em muidos, significa que a JUC provê o cargo, mas cada um que arranje serviço por si e se vire para cobrar do cliente. A explicação vale para evitar a surpresa dos incautos que pensam queTPIC é servidor público e recebe do Estado. TPIC tem que correr atrás de serviço e trabalhar como o comum dos mortais.

O número de vagas deve parecer pífio, se você quiser prestar o concurso. Entretanto, parecerá grande demais, se você for um dos TPIC em atividade em Santa Catarina no momento. Essas coisas dependem muito do lado do muro em que você está.


O TPIC, além de tradutor, quer dizer, de lidar com texto, tem de ser intérprete, quer dizer, lidar com a língua falada. Isso porque quem não fala português tem de se comunicar com as autoridades por intermédio de um TPIC . É justo. Imagine, por exemplo, a aflição de um estrangeiro, depondo em juízo e tendo que falar português! Aí, então, entra em ação oTPIC. Não que eles gostem disso, porque a paga por esse tipo de serviço é pouca, mas são ossos do ofício.


Não há, em nenhuma unidade da federação, TPICs para todas as línguas — nem poderia haver. Mas há para aquelas de maior demanda. Sempre há para inglês, espanhol, alemão, francês e, conforme o estado, mais umas quantas. É válido. Fazer concurso para TPIC de coreano em Rondônia ia custar uma fortuna, iam aparecer poucos candidatos e, quem fosse aprovado, pouco serviço teria. E fazer para mongol ou concani ia ser um absurdo.Quer dizer, tem que haver algum limite. Não havendo TPIC nomeado regularmente, pode-se nomear um ad hoc, o que não é ideal, mas pode ser a solução mais acertada.


O que nunca tinha me passado pela cabeça — e agora passa, graças aos contatos gerados pelo blogue e pela Reunião na Sala 7 — é que não existeTPIC para LIBRAS, a Língua Brasileira de Sinais, utilizada pelos surdos. Acho que estava na hora de alguém pensar nisso — ou será que estou errado? Afinal, surdos temos muitos, e em todas as unidades da federação. Não são estrangeiros, é verdade, são brasileiros, ao menos em sua maioria. Talvez por isso, mereçam até mais atenção.

Em tempo: nunca prestei o concurso para TPIC, nem em SP nem em outros estados nem trabalho para escritórios de tradução juramentada. Quer dizer, nem ganho nem perco nada com essa história toda.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

FAQ 2

Soube atraves de uma empresa que contrata servicos, que precisaria ter empresa aberta para poder pleitear uma vaguinha como tradutora de legendagem.

Mas pergunto: poderia ela ser empresa individual? ja' possui uma aberta no Parana', precisando somente alterar a natureza dela.

Como normalmente isso e' feito?

Em teoria, você também poderia prestar o serviço como autônoma, mas, nesse caso, a carga fiscal da empresa que contratar seus serviços fica tão alta, que eles fazem questão de trabalhar com profissionais que podem apresentar notas fiscais de pessoa jurídica. Essa é uma tendência geral do mercado, não uma ranhetice específica dos laboratórios de legendagem.

Normalmente, firmas individuais, como a que você diz que tem, são comerciais, não de prestação de serviço e, portanto, a nota fiscal delas não vai servir. Que eu entenda, você precisa de uma sociedade, não de uma firma individual. Mas isso é você tem que discutir com seu cliente e com seu contador.

Alguns clientes estão sugerindo que seus tradutores se juntem a "Associações Culturais", para reduzir os custos. Não me canso de dizer que essa história de cobrar como "Associação Cultural" não está lá muito de acordo com a lei e que mais dia menos dia o Leão vai dar uma rugida feia — dizem, inclusive, que já pegou uma e fez um estrago dos bons. Portanto, fuja dessa. Há um marcador "associações culturais" aí do lado. Clique nele e entenda melhor por que recomendamos fugir desse "jeitinho".

Na verdade, a história de se tratar de legendagem não altera o quadro: de acordo com a lei brasileira, se você não trabalha com vínculo empregatício ("carteira assinada") ou presta serviços como trabalhadora autônoma ou como pessoa jurídica ("firma", "empresa"). Não há outras opções.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Biblioteca Básica do Tradutor — Introdução

Uirá Catani deixou um recado, aí abaixo, onde diz:

Nunca li nada no blogue a respeito da biblioteca básica do tradutor. Parece óbvio que gramáticas e dicionários são fundamentais, mas gostaria de ler umpost sobre o tema, em todo caso. Já existe um post do tipo?

Peço desculpas por registrar meu comentário em um post sobre tema tão diferente, mas uma vez que não encontrei um marcador específico, o contrário seria impossível.


Pois é, Uirá, entre muitas outras coisas, estão faltando neste blogue um formulário para contatos mais genéricos. Estamos contatando um profissional para cuidar do lado técnico do blogue, que está ficando muito complicado, e deve resolver este e outros problemas.


Fica a parte da redação dos artigos propriamente dita, que começa normalmente na minha mão. Então eu, todo pimpão, preparei um artiguinho bonito e mandei para a revisão da Kelli. A Kelli, entretanto, mostrou que eu estava indo no caminho errado e que o artigo, embora correto em suas afirmações, não era satisfatório. Toca a refazer.


Para simplificar as coisas, todos os artigos vão levar os marcadores "biblioteca" e "ferramentas". Assim, quem clicar no marcador vai poder ler todos os artigos de uma só vez.


Mas vai ficar para terça-feira. A Kelli está com acesso muito limitado ao computador e manter uma boa discussão com ela, para fazermos um artigo que preste, vai ser impossível.


Mas a sua idéia, Uirá, é boa e nós agradecemos.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Professor pode fazer tradução? E grátis, ainda por cima?

Uma das listas de discussão de que faço parte congrega muitos professores de línguas. Lá pelas tantas alguém perguntou quem poderia fazer uma pequena tradução, evidentemente grátis. Foi um bafafá dos bons. Tradutores reclamando que professores não devem fazer traduções, que não se deve trabalhar de graça, alguns professores concordando, outros discordando, aquela coisas toda que você já pode prever. Pouco participo daquele grupo, mas, como a história era de tradução, resolvi meter a minha colher torta no angu de caroço. Aqui está, com algumas modificações, a minha mensagem. Veja lá o que você acha e faça seu comentário.

Desde 1970, me dedico inteiramente à tradução e é como profissional da tradução que venho meter meu bedelho aqui na conversa.


Existem bons e maus tradutores, como há bons e maus professores, cozinheiros, advogados, encanadores e solistas de sacabuxa. Quer dizer, entregar uma tradução a um tradutor, em vez de a um professor, não é assim, garantia de que o serviço vá sair com qualidade total e perfeita. E, principalmente tratando-se de um trecho pequeno, é até bem possível que um professor possa se sair bem. Como também pode se sair bem como tradutor bissexto de poesia.


Por outro lado, haverá mais que um excelente professor que dê com os burros n'água para traduzir um texto qualquer. Ensinar e traduzir são atividades diferentes e gente muito bem-sucedida numa pode ser um fracasso na outra. O mesmo se estende a profissionais como secretárias e recepcionistas bilíngües.


Muitos tradutores foram professores antes de serem tradutores e, quando empreenderam sua primeira tradução, ainda não eram tradutores, se me faço claro. Por alguma porta temos que entrar e os únicos que podem reclamar de fato são os bacharéis em tradução. Mesmo eu dei as minhas aulinhas lá pelos tempos do Castello Branco e, quando "peguei" minha primeira tradução, não tinha uma noção muito boa do que ia fazer. Quer dizer, não me acode o direito de reclamar se algum dos professores aqui se decidir a aceitar o serviço.


Nem vou me sentir prejudicado. O que prejudica a profissão não são os professores que traduzem uma dúzia de linhas para um colega, seja cobrando ou não. São os figurões do magistério e das letras que traduzem livros inteiros grátis ou a preço vil para as editoras e ainda passam por benfeitores da comunidade.


O que me distingue — enquanto tradutor profissional — dos tradutores eventuais e bissextos é a minha dedicação preferencial à tradução.


Enquanto que mais de um dos professores aqui da casa poderia traduzir vinte linhas numa tarde de domingo, para ajudar um colega, é necessário um profissional para encarar certas tipos de trabalho e prazos. Por exemplo, recentemente passei meses traduzindo documentos em xml usando Trados TagEditor em uma memória de tradução residente em um servidor que estava em Zurique. É possível que a maioria dos leitores da lista CVL nem entenda o que eu disse no período anterior.


Mas não é só isso: traduzir vinte linhas num dia é uma coisa, traduzir vinte mil palavras em uma semana é outra, bem diferente — e coisa para profissional. Traduzir aquilo de que se gosta pode ser até divertido; traduzir o que é necessário é coisa para profissional. Traduzir um artigo científico pode ser uma aventura intelectual de primeira linha. Ter prazer em traduzir 100.000 palavras de um relatório anual de um banco, porque toda tradução é um desafio e um prazer, é coisa para profissional. Traduzir uma grande obra literária pode ser uma festa, traduzir livros de auto-ajuda, porque é preciso, porque tem muita gente que lê essas coisas e se escora nelas para agüentar a vida, é coisa para profissional.


Quer dizer, eu traduzo porque, para mim, traduzir em si, qualquer coisa que seja, é uma festa. Hoje em dia, só traduzo finanças, mas isso foi o que me aconteceu, não a minha escolha. Se as voltas do mercado tivessem me encaminhado para outra área, trabalharia com o mesmo prazer.


Quanto ao trabalhar de graça, desculpe, mas eu não traduzo de graça e também não aceito que trabalhem de graça para mim. Quando quero um serviço, primeiro trato preço, depois autorizo. Ajudo muito os colegas, com artigos, palestras e mesmo com o meu blogue, mas tradução só faço a pagamento. É o que dizia a Cacilda Becker: não me peça para fazer de graça a única coisa que tenho para vender. Havia um Código de Ética do Tradutor que proibia trabalhar grátis para quem pode pagar.


Não acho nada de errado um professor traduzir vinte linhas grátis para um colega: o que ele tem par vender são aulas, não tradução. Mas eu, que sou profissional da tradução, não traduzo grátis. Posso até explicar o uso de um tempo verbal em inglês, assim, na base do passei, cinco minutos, dei a explicação. Mas se um professor começar a dar aulinhas grátis, vai formar fila porta da casa dele.


Nunca entendi, por outro lado, porque estudantes e acadêmicos querem descontos ou trabalho grátis. Quem vai fazer intercâmbio não pode pagar tradução? Ué, tem dinheiro para a passagem de avião mas não para pagar tradutor? Tese não tem objetivos econômicos? Claro que tem! Defende tese, vira Dr., ganha mais na faculdade. Está investindo no seu futuro! Então, invista o seu dinheiro, não o meu. Porque, quando trabalho grátis, estou deixando de ganhar dinheiro fazendo serviço remunerado, que não me falta. Por que raios o dinheiro sempre acaba cinco minutos antes de chegar a hora de pagar o tradutor?


Outro dia, veio aqui um vizinho com um texto de medicina, de, creio, umas boas 50.000 palavras, de que ele precisava com urgência. Ajuntou que "era para a faculdade" algo que, traduzido assim, no popular, significava "não quero pagar". Quando respondi que aquilo significava 15 dias de trabalho e que, durante esses quinze dias, ele iria ter que pagar todas as despesas da minha casa, inclusive os custos tremendos de um tratamento de saúde que minha mulher fazia na época, virou as costas e foi embora, zangado comigo. Paciência, assim é a vida.


Alguém aqui comentou "que custa fazer grátis?" Aqui, há que fazer à moda jesuíta e responder com outra pergunta: "que custa pagar?" Porque fazer grátis custa tanto para mim quanto pagar custa para o outro.


A bem dizer, quando se faz grátis a alguém algo por que se poderia cobrar (no caso, o tempo que o tradutor gastaria na tradução), estamos reduzindo nossos próprios rendimentos. Quer dizer, se eu faço uma grátis uma tradução pela qual normalmente cobraria cem reais, estou reduzindo minha renda em cem reais, dando a essa pessoa, tirando da minha família, o valor de cem reais. Por que eu devo fazer essa doação? Essa pessoa realmente precisa do meu sacrifício?


Não é tanto sacrifício assim? Bom, se é pouco dinheiro, uma miséria, um nada, que não vai fazer diferença no bolso de ninguém, porque, então, não me podem pagar?

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Eu e o Orkut

Aí embaixo, a Fátima escreveu

Danilo,

Se quiser, depois delete este comentário, já que ele não se refere ao assunto abordado por você mas a um fato occorido recentemente: sua saída do Orkut. Estamos todos sentindo sua falta e mais: excluindo seu perfil todos os tópicos e todos os posts, todos os ensinamentos, tudo que você escreveu também sumiu. Sentimos falta até das repreensões. Eu mesma levei algumas, mas aprendi com elas. Sabe, Danilo, você é uma pessoa que eu respeito muito, até comento suas opiniões aqui em casa. Fiquei triste mesmo.

Abraços


Fatima Romani



Obrigado por sua mensagem, Fátima.

Não pretendo fazer do blogue um palanque para discutir as razões que me afastaram da Comunidade Tradutores e Intérpretes BR lá no Orkut. Por isso, não vou publicar mais nenhuma mensagem sobre o assunto, independentemente do que diga ou quem escreva.

Ainda acho a Comunidade excelente e um grande lugar para todos os tradutores. Acontece que não estava me sentindo mais bem lá, por motivos absolutamente particulares e que a ninguém revelei nem pretendo revelar. Então, tive de sair. Mas acontece, Fátima, que gosto muito da comunidade, muito mesmo, demais. Se não destruísse meu perfil, ia continuar dando uma olhadinha de vez em quando, de vez em cada pouco, de vez em o tempo todo e ia acabar voltando. A minha volta não seria boa nem para mim nem muito menos para a comunidade. Então, tive de apagar o perfil. Assim, não consigo entrar no Orkut e resistir à tentação de "só dar uma olhadinha", é mais fácil.

Lamentavelmente, o Orkut agora apaga todas as mensagens postadas por quem apagou o perfil - algo de que eu não sabia quando apaguei o perfil. Antigamente, ao você apagar o perfil, ficava como "anônima", mas as mensagens ficavam. Assim, tudo o que eu escrevi, nesses anos todos, se perdeu. Foi ruim isso, por dois motivos: primeiro, que, no meio de muita abobrinha, as minhas mensagens tinham informações úteis; segundo, que parece um insulto à comunidade, mas não é, porque insultos são propositais, envolvem escolha e eu não escolhi apagar as mensagens postadas. Se eu soubesse que iam ser apagadas, ia transferir o perfil para uma pessoa de confiança, que alteraria a senha, de modo que eu perdesse acesso.

Um colega me escreveu, dizendo que estava com vontade de sair também e também teria que apagar o perfil, pelos mesmos motivos que me levaram a apagar o meu, mas que agora não tem coragem de apagar o perfil porque não quer que se percam suas mensagens. Para alguma coisa serviu minha experiência amarga.

Só posso concluir com um abraço a você e a todos na comunidade, especialmente àqueles que ficavam mais incomodados com minha presença e lembrar que, quem gostar de ler as coisas que eu escrevo, vai encontrar montes delas aqui. O tempo que eu usava na comunidade, vai virar tempo de blogue.

Mais uma vez, obrigado por sua mensagem.



terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Desaforo!

A história é antiga, mas acho que não contei aqui, ainda. Liga um possível cliente, pede cotação. Dei a cotação e, claro, ele já foi pedindo um desconto: já tinham feito a tradução uma vez, tinha ficado ruim e eles estavam refazendo e, evidentemente, não podiam pagar duas vezes pelo mesmo serviço.

Houve um tempo em que eu era bem mais irridatidiço do que ainda sou hoje e tive uma vontade quase irresistível de dizer ao cliente exatamente o que eu achava que ele devia fazer com a tradução. Mas "quase", significa que a tentação não era irresistível e eu resisti.

Hoje em dia, simplesmente diria que meu preço era aquele e acabou a história. Naquela época, ainda argumentava com cliente, era fã das "respostas merecidas". Não me lembro exatamente das palavras que usei no momento, mas foi algo mais ou menos assim: alguém na sua organização contratou um tradutor incompetente, o que, em si, é prova de incompetência. O tradutor incompetente foi pago pela tradução inútil, o incompetente que contratou o incompetente recebeu o seu salário e você ainda quer que eu pague o pato?

Meu interlocutor não gostou muito da resposta, entre outras coisas porque provavelmente tinha sido ele o incompetente que escolheu o tradutor incompetente, mas acabou me encarregando do serviço.

Uma variante dessa mesma história é a solicitação de "uma olhadinha" numa tradução que já está feita, mas alguém achou umas "coisinhas". Não existe "uma olhadinha". Existem traduções e revisões.

"Olhadinha" é mais uma daquelas tentativas desaforadas de minimizar o valor do nosso serviço para justificar uma redução no pagamento. Já me aconteceu uma vez, também, e cotei um preço para a revisão e outro, vinte por cento mais baixo, para retraduzir tudo.

Nada disso importa, entretanto. Mesmo que não tivesse dado aquelas respostas, mesmo que eu não tivesse ficado com o serviço, mesmo que as histórias tivessem sido inventadas, não faria diferença para o objetivo deste artigo. O objetivo aqui é conscientizar você de que não tem obrigação de pagar pelos erros dos outros. Pague pelos seus, e já basta.

Desaforo, isso de quererem que a gente pague pelos erros dos outros — até mesmo se a gente ganhasse muito. Você não acha?

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Um Texto Mal Redigido

Uma colega que se diz iniciante escreve reclamando de um texto traduzido que ela considera de má qualidade, publicado em numa revista. Dá até um link para o texto. Mas eu prefiro dar ao assunto uma análise mais ampla.

Há traduções tão ruins, que a gente sabe que não prestam sem nem precisar ver o original. Quando você vê que a tradução diz que alguém tomou um curso e depois aplicou para um passaporte, já pode dizer, logo de cara, que a coisa está feia.


Outras vezes, entretanto, sem ver o original, não se pode dizer que o tradutor tenha falhado. É como um retrato: pode ser que o quadro mostre um rosto feio porque o modelo, coitado, também não era grande coisa. E não estou falando daquelas coisas que pintava o Picasso, estou falando de pintura acadêmica.


Em outras palavras, sem ver o original, é muito difícil dizer se há falhas de tradução.


Não é obrigação do tradutor transformar um documento de partida mal escrito em um documento de chegada brilhante. Nem sempre é possível, muitas vezes é indesejável, nunca é obrigação do tradutor.


Nem sempre é possível, porque alguns textos são tão mal escritos que não têm salvação; muitas vezes é indesejável, porque pode ser necessário preservar a ruindade do texto de partida para informação do leitor, algo que já tive de fazer. Finalmente, nunca é obrigação do tradutor, porque arrumar texto alheio é obrigação de preparador de texto, copidesque, ou quem quer que seja. Caso o tradutor seja encarregado de dar jeito no texto (e presumindo que o texto tenha jeito), são dois trabalhos, dois pagamentos, dois prazos.


Mas não gosto disso. Minha experiência é que quando a gente arruma textos alheios acaba sempre distorcendo alguma coisa que ficou dúbia ou obscura no original e acaba dizendo o que o autor não queria dizer — uma responsabilidade com a qual não quero arcar. Por isso, todo texto ajeitado deve ser submetido à aprovação prévia do autor. O problema aí é saber se o autor vai entender a tradução, certo? Então, o que deve ser ajeitado é o documento de partida, para depois o "ajeite" ser aprovado pelo autor, para depois ser traduzido.

A Crise, os Cancelamentos e os Descontos

Uma das pragas das épocas de crise são os cancelamentos. Você pega um serviço de, sei lá, 400 laudas por mês, fica toda feliz e, a laudas tantas, o cliente diz que o serviço foi cancelado, por causa da crise.

Exigir o pagamento total, exigir uma multa contratual? Mais fácil dizer do que fazer, e então você fica meio sem norte, sem orientação.

Esse é um dos motivos de meu terror aos serviços longos. Dão ao tradutor uma segurança falsa. Você se sente em segurança, pára de procurar clientes, perde clientes porque recusou mil serviços ou até disse "estou fora durante os próximos seis meses". De repente, recebe a notícia de que parou o serviço e tem que partir para a luta, de novo.

O pior é quando, por ser um serviço "grande e garantido", você concedeu um desconto "generoso".

Na hora do vamos ver, ninguém se lembra que o preço normal é X, você cobrou menos porque era um serviço enorme e, se o serviço foi cancelado, então você teria direito a um reembolso pelo desconto concedido. Melhor nem perder tempo tentando lembrar o cliente dessas coisas. Aprenda a lição e, da próxima vez, não conceda desconto por nada e nem comprometa mais do que 25% do seu tempo com esses "projetos longos que garantem trabalho por vários meses".

Foi assim que eu aprendi.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Quanto tempo sem parar?

M. escreveu toda satisfeita, porque estava encarando seu primeiro serviço grande. Mas diz que, depois de duas horas traduzindo direto, sem pausa, entra em pane. Está meio preocupada com isso e quer saber o que eu penso.

[Resposta Danilo:]

Bom, M, em primeiro lugar, bem-vinda à matilha. Espero que você se divirta.


O tradutor tem dois inimigos: a indisiciplina e a mania de bater recordes de resistência tradutória. O pior é que, muitas vezes, ambos se unem contra nós. Explico. Você tem um serviço e um prazo. A tendência é fazer isto e aquilo, dar só uma olhadinha na correspondência e no MSN ou no orkut, ler o jornal, aquele blogue interessante, falar com a madrinha e "já" começar. Como, muitas vezes, aceitamos serviço demais e prazo de menos, a coisa fica feia. Então, lá pelas tantas, são horas e horas ao computador, noites varadas à custa de muito café ou coisa pior, braços, pernas, pescoço, costas e cabeça em estado deplorável.


O curioso é que muita gente fala dessas coisas com orgulho: trabalhei 24 horas em seguida, só parando para comer e ir ao banheiro! Pois não devia. Depois de um certo tempo, a qualidade cai, por mais que você pense que não. Cai, sim. A gente entra em piloto automático e faz besteira. E, se não notar as besteiras que cometeu, é porque não tem autocrítica.


Já fiz isso, duas ou três vezes, porque tive que sanar bobagens que eu próprio tinha cometido. Sofri eu e sofreu a tradução. Não pode se tornar um hábito.


Você precisa aprender a ser disciplinada e a ouvir o próprio corpo, porque não há dois corpos que reajam da mesma forma e mesmo um mesmo corpo reage de formas diferentes conforme o dia e o tipo de serviço. Cabe a você ter o juízo de se impor alguma disciplina e, ao mesmo tempo, sentir quando é hora de dar uma parada.


Tem gente metódica nessas coisas, traduzindo 50 minutos sem tirar o olho do teclado e parando 10 para descansar. Outros são empíricos e dão uma paradinha quando ferve demais. É bom brincar com animais de estimação, dar uma voltinha, essas coisas. Uma paradinha para tomar água ou um suco.


Ah, mas, antes que você me pergunte: se eu tentar ficar no computador duas horas seguidas traduzindo sem parar, acho que desmantelo inteiro. Vamos ver o que a Kelli vai adicionar.


[Resposta Kelli:]


Eu vivo dando paradinhas estratégicas. Não trago água nem lanchinhos suficientes para várias horas para perto do computador, justamente para precisar levantar e parar o que estou fazendo, senão fico direto.


Não creio que paradinhas a cada hora, ou cada duas horas, sejam prejudiciais à sua produção. Trabalhei durante mais de sete anos como professora, e tinha dias de não ter tempo de ir ao banheiro. É horrível. Pense em um escritório: quem é que trabalha oito horas ininterruptamente? Ou mesmo as quatro horas de cada período? Pois é, ninguém.


Se você tiver prazo suficiente, acho até saudável ir dar uma olhadinha em e-mail, no orkut, trocar meia dúzia de palavras no MSN. Mas tem que ter disciplina e saber a hora de parar, senão a coisa desanda demais. Mais saudável ainda é sair de perto do computador e fazer outra coisa, esticar os músculos, descansar os olhos e a cabeça. Dez minutos longe e você volta outra.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Discussões Profissionais em Particular

Duas, três vezes por semana, alguém me escreve pedindo opinião sobre algum assunto profissional, ou propondo uma questão que merece discussão. Muitas dessas pessoas querem se comunicar comigo via Sklype, MSN, ou coisa que o valha.

Lamentavelmente, não é possivel. Se eu mantiver discussões profissionais em particular com todo os que me escrevem, não vou ter tempo para mais nada na vida, nem para escrever no blogue. Além disso, quando o assunto é ventilado aqui no blogue, beneficia a muitos e pode, inclusive receber contribuições de outros. Então, realmente, não vale a pena tentar manter discussões em particular comigo.

Escreva, sim, pedindo sugestões, dando opiniões, mas, por favor, não se zangue o assunto for aberto no blogue. É a melhor saída.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Reunião na Sala 7

Para quem não recebeu o link:

http://www.aulavox.info/salas/sala7.htm

Sábado, amanhã, dia sete de fevereiro, às 14 horas. O tema é "E essa Tal de Crise?"

Grátis. Todos são bem-vindos.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Problemas com Agências


Escreve a S:

Gostaria de ter um pouco mais de tato nesse mercado de freelas de tradução, sabe. Tenho feito alguns trabalhos, mas não sei, tenho encontrado pessoas nada sensatas... não sei se seria a maneira certa de definir isso. Talvez eu seja ingênua demais. Queria algumas dicas pra conseguir levar tudo isso de uma maneira melhor e menos dolorida, sabe? (…) Pois bem, o assunto do projeto era [X]. Honestamente, não gosto de [X], não tenho conhecimento prévio e não gosto da sensação de não poder garantir que estou fazendo um trabalho bom. (…)Segurei minha vontade de dizer desaforos e respondi cordialmente, explicando que inclusive ele estava enganado quanto a eu não ter seguido a dita instrução. Sabe Danilo, fiquei inconformada. Não é a primeira vez que algum dono de agência me trata como se eu fosse idiota. Será que é porque tenho menos de 30 anos? (…) Uma amiga minha tradutora e ela me disse que eu fazia freelas pra pessoas que não conhecia, das quais não tenho referência, por isso tinha me ferrado várias vezes. Por outro lado, ela acha que eu sou corajosa, pois vou "metendo a cara", e mesmo correndo riscos, isso pode ser bom.


O texto da S é longo e fui cortando cá e lá, como indicam os (…) além de trocar o nome do assunto de que ela não gosta por [X]. A colega teve algumas más experiências, vai ter outras no futuro, isso faz parte da vida profissional e pessoal de todos nós. Quem trabalha por conta própria precisa aprender a lidar com essas coisas e, para muitos de nós, que esperávamos simplesmente enfiar o nariz no computador e trabalhar, é um sofrimento. Outro sofrimento é aprender a lidar com a pressão. O cliente, inclusive nós, quando somos clientes dos outros, pressiona por atendimento imediato, serviço rápido e barato. Nada que ver com a juventude da S. Eu, que já passei dos sessenta faz tempo, sofro as mesmas pressões e ouço as mesmas bobagens.

A diferença é que eu só aceito ordens escritas e digo^p "não" com uma enorme facilidade. Também não argumento com cliente. Se ele disser que me instruiu para fazer tal coisa e eu não fiz, simplesmente pergunto em qual dos e-mails que trocamos está a instrução. Se o cliente disser que traduz vinte mil palavras em duas horas, eu não respondo nada.

De vez em muitas vezes, me aparece serviço com prazos incompatíveis com a qualidade. É só recusar e dizer algo do tipo "só posso fazer para o dia tal" e pronto. E uma vez dito que não dá, é manter a palavra. Sempre lembre que o cliente que pede pelo amor de deus para você fazer uma tradução enorme de um dia para outro é o mesmo que vai reclamar da qualidade no dia seguinte. Já caí nessa uma vez, não vou cair a segunda.

Mas não se amofine: com o decorrer do tempo, você se livra dos clientes malucos e só trabalha com os bons.


150.000

Olha lá, minha gente, o SiteMeter diz que, desde 2 de maio de 2007, um total de 150.000 pessoas visitaram o blogue. É mais, porque o blogue já tinha seis meses quando começou a contagem.

Por outro lado, não é tão significativo quanto parece, porque muita gente cai no blogue por engano. Mesmo assim, vou comemorar. Agora, com a Kelli do meu lado, é que vai pegar fogo mesmo.

Muito obrigado a todos os que visitam, mais ainda aos que divulgam e comentam. É um grande incentivo para introduzir mais melhoras e novidades.

Reunião na Sala 7 - Grátis, a Distância

A próxima Reunião na Sala 7, grátis e a distância como sempre, vai ser agora, no dia 7 de fevereiro de 2009. O tema vai ser "Nós e a Tal da Crise".

Para quem não sabe, a Reunião na Sala 7 é um evento absolutamente informal, durante o qual eu abordo um assunto de interesse da profissão. É sempre grátis e muito interativo, porque os participantes podem dar opiniões e fazer perguntas pelo recurso de bate-papo. Para se inscrever e para saber melhor como funciona, clique aqui.


A Reunião na Sala 7 é uma cortesia Aulavox e agora conta com a participação de Kelli Semolini.

Venha você também.