M. escreveu toda satisfeita, porque estava encarando seu primeiro serviço grande. Mas diz que, depois de duas horas traduzindo direto, sem pausa, entra em pane. Está meio preocupada com isso e quer saber o que eu penso.
[Resposta Danilo:]
Bom, M, em primeiro lugar, bem-vinda à matilha. Espero que você se divirta.
O tradutor tem dois inimigos: a indisiciplina e a mania de bater recordes de resistência tradutória. O pior é que, muitas vezes, ambos se unem contra nós. Explico. Você tem um serviço e um prazo. A tendência é fazer isto e aquilo, dar só uma olhadinha na correspondência e no MSN ou no orkut, ler o jornal, aquele blogue interessante, falar com a madrinha e "já" começar. Como, muitas vezes, aceitamos serviço demais e prazo de menos, a coisa fica feia. Então, lá pelas tantas, são horas e horas ao computador, noites varadas à custa de muito café ou coisa pior, braços, pernas, pescoço, costas e cabeça em estado deplorável.
O curioso é que muita gente fala dessas coisas com orgulho: trabalhei 24 horas em seguida, só parando para comer e ir ao banheiro! Pois não devia. Depois de um certo tempo, a qualidade cai, por mais que você pense que não. Cai, sim. A gente entra em piloto automático e faz besteira. E, se não notar as besteiras que cometeu, é porque não tem autocrítica.
Já fiz isso, duas ou três vezes, porque tive que sanar bobagens que eu próprio tinha cometido. Sofri eu e sofreu a tradução. Não pode se tornar um hábito.
Você precisa aprender a ser disciplinada e a ouvir o próprio corpo, porque não há dois corpos que reajam da mesma forma e mesmo um mesmo corpo reage de formas diferentes conforme o dia e o tipo de serviço. Cabe a você ter o juízo de se impor alguma disciplina e, ao mesmo tempo, sentir quando é hora de dar uma parada.
Tem gente metódica nessas coisas, traduzindo 50 minutos sem tirar o olho do teclado e parando 10 para descansar. Outros são empíricos e dão uma paradinha quando ferve demais. É bom brincar com animais de estimação, dar uma voltinha, essas coisas. Uma paradinha para tomar água ou um suco.
Ah, mas, antes que você me pergunte: se eu tentar ficar no computador duas horas seguidas traduzindo sem parar, acho que desmantelo inteiro. Vamos ver o que a Kelli vai adicionar.
[Resposta Kelli:]
Eu vivo dando paradinhas estratégicas. Não trago água nem lanchinhos suficientes para várias horas para perto do computador, justamente para precisar levantar e parar o que estou fazendo, senão fico direto.
Não creio que paradinhas a cada hora, ou cada duas horas, sejam prejudiciais à sua produção. Trabalhei durante mais de sete anos como professora, e tinha dias de não ter tempo de ir ao banheiro. É horrível. Pense em um escritório: quem é que trabalha oito horas ininterruptamente? Ou mesmo as quatro horas de cada período? Pois é, ninguém.
Se você tiver prazo suficiente, acho até saudável ir dar uma olhadinha em e-mail, no orkut, trocar meia dúzia de palavras no MSN. Mas tem que ter disciplina e saber a hora de parar, senão a coisa desanda demais. Mais saudável ainda é sair de perto do computador e fazer outra coisa, esticar os músculos, descansar os olhos e a cabeça. Dez minutos longe e você volta outra.
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
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2 comentários:
Nem me fale dessa de piloto-tradutório-automático. Já nem suporto mais ouvir esse nome, digo pensar. Depois de certa tradução 5 dias direto - quase non stop mesmo - nesse modo aprendi que nada de fazer isso sem ter ao menos uma hora de descanso a cada 3 ou 4.
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Sempre funcionei assim. Estudana no colégio e faculdade por 4 horas initerruptas sem o menor problema. Ficou para a vida. O único problema é o silêncio durante os estudo/trabalho.
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Ele sim me distra horrores. Uma mosca que passe zunindo me trás reminiscências de minha infância - que já vai longe!
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Nada que Linking Park ou Busta Rhymes, Coltrane ou Van Halen não sane. E no 'volume penúltimo'.
Cada um tem seu ritmo e seus limites, seu modo de trabalho. Trabalhar cinco dias direto, entretanto, é coisa de doido. Não dá bom resultado. O pior é que esse tipo de desempenho atrai mais pedidos de serviço a essa velocidade: "fala com o fulano, da outra vez ele ficou cinco dias sem dormir para fazer o relatório, quem sabe dessa vez ele fica seis".
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