Uma colega que se diz iniciante escreve reclamando de um texto traduzido que ela considera de má qualidade, publicado em numa revista. Dá até um link para o texto. Mas eu prefiro dar ao assunto uma análise mais ampla.
Há traduções tão ruins, que a gente sabe que não prestam sem nem precisar ver o original. Quando você vê que a tradução diz que alguém tomou um curso e depois aplicou para um passaporte, já pode dizer, logo de cara, que a coisa está feia.
Outras vezes, entretanto, sem ver o original, não se pode dizer que o tradutor tenha falhado. É como um retrato: pode ser que o quadro mostre um rosto feio porque o modelo, coitado, também não era grande coisa. E não estou falando daquelas coisas que pintava o Picasso, estou falando de pintura acadêmica.
Em outras palavras, sem ver o original, é muito difícil dizer se há falhas de tradução.
Não é obrigação do tradutor transformar um documento de partida mal escrito em um documento de chegada brilhante. Nem sempre é possível, muitas vezes é indesejável, nunca é obrigação do tradutor.
Nem sempre é possível, porque alguns textos são tão mal escritos que não têm salvação; muitas vezes é indesejável, porque pode ser necessário preservar a ruindade do texto de partida para informação do leitor, algo que já tive de fazer. Finalmente, nunca é obrigação do tradutor, porque arrumar texto alheio é obrigação de preparador de texto, copidesque, ou quem quer que seja. Caso o tradutor seja encarregado de dar jeito no texto (e presumindo que o texto tenha jeito), são dois trabalhos, dois pagamentos, dois prazos.
Mas não gosto disso. Minha experiência é que quando a gente arruma textos alheios acaba sempre distorcendo alguma coisa que ficou dúbia ou obscura no original e acaba dizendo o que o autor não queria dizer — uma responsabilidade com a qual não quero arcar. Por isso, todo texto ajeitado deve ser submetido à aprovação prévia do autor. O problema aí é saber se o autor vai entender a tradução, certo? Então, o que deve ser ajeitado é o documento de partida, para depois o "ajeite" ser aprovado pelo autor, para depois ser traduzido.
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Danilo, não consegui me expressar direito. Acredito que passei a idéia errada.
O que eu queria era entender (analisar) os aspectos que (possivelmente) tornaram o texto de difícil entendimento para poder aprender.
Depois que "virei" tradutora, comecei a prestar mais atenção nas possibilidades de tradução à minha volta, na tv, em revistas etc.
E meu olhar crítico não é voltado para "julgar" a tradução, mas tentar entender o que levou o tradutor a fazer uma escolha e não outra.
O que mais me incomodou foi não conseguir apontar o que estava atravancando a fluidez, por isso pedi sua opinião.
Eu nunca mandaria um texto pra você só pra mostrar que " *eu vi* que estava assim ou assado", primeiro porque, pelo o que eu conheço de você (através do blog), sei que você não gosta dessas coisas e, segundo, porque eu também não gosto (e não faço).
Desculpe por não ter conseguido me fazer entender.
Acho que seria interessante se você pudesse fazer um post (ou uma série deles), explicando como [a teoria por trás] manter a equivalência na hora de traduzir. Em "drops" mesmo. [vai bombar o blog]
Pronto.
Agora sim, acho que fluiu a idéia =]
Bom, Dharana, não podemos dar um curso de tradução via blogue, até porque temos um no forno com o qual pretendemos ganhar algum dinheiro.
Mas acho que logo termos uma paletra grátis sobre o assunto.
Postar um comentário