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segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Iniciantes que traduzem de tudo

Estou me dedicando ao trabalho com as palavras – traduzindo e revisando – há quase um ano, período em que, por trabalhar com o Danilo, aprendi muito sobre a área dele. Volta e meia me aparecem textos de outras áreas. Eu tenho plena noção de que as minhas traduções e revisões na área financeira não são perfeitas, mas são melhores do que as que faço para outras áreas. Porém, como iniciante, eu não posso me dar ao luxo de dizer não sempre que me aparece algo diferente.

Nessas horas, fico pensando nos veteranos que tanto criticam os iniciantes que “acham que podem traduzir de tudo”. Pois eu digo que existem duas opções: ou iniciantes podem realmente traduzir de tudo, ou então não podem traduzir nada e a profissão está fadada a sobreviver apenas através dos tradutores que já tinham uma profissão / especialização anterior.

Vamos fechar os cursos de Letras-Tradutor. Vamos estabelecer, como pré-requisito para os cursos de tradução todos, que o aluno já deve ter seu nicho preparado. Assim, quem for advogado vai traduzir direito, quem for químico, traduz química, e quem fez Letras, bem... quem fez Letras que vá dar aula, oras.

Tradutor iniciante não pode, realmente, traduzir de tudo. Tradutor iniciante TEM que traduzir de tudo, ou morre de fome. Leva tempo até agências e colegas perceberem que fulano traduz Economia muito bem. Antes disso, fulano vai ter que traduzir muita agronomia, muito contratês, muita coisa que não vai sair tão bem assim, porque não são as coisas para as quais o fulano leva jeito. Com o tempo, ele vai passar a receber textos de Economia com mais freqüência, e vai aprender cada vez mais sobre isso, até se tornar um especialista.

Ninguém vira especialista da noite para o dia. Até mesmo os veteranos cascudos que dizem que “tradutor iniciante pensa que pode traduzir de tudo” já foram iniciantes um dia, e não só na tradução, mas em suas profissões anteriores também. Tenho certeza que foram duas ótimas oportunidades para aprender e para cometer os erros grotescos que hoje eles criticam.

Em tempo: ser iniciante não quer dizer que a pesquisa deve ser mais relaxada e que o empenho deve ser menor, muito pelo contrário. Mas essa, creio, é uma vantagem dos iniciantes: é mais fácil encontrar um iniciante consciente de que tem muito que aprender e que, portanto, seu esforço deve ser enorme, do que encontrar um veterano que saiba que, apesar de trabalhar há tanto tempo com o mesmo assunto, ainda tem coisas a aprender sobre ele.

5 comentários:

Anônimo disse...

Kelli, eu sou muito palpiteira, mas "num güento". Em tempo: esse trema vai permanecer, sim, apesar da reforma ortográfica! :-)
Yesss, caiu matando, é bem isso. Estou nessa há uns... 25 anos desde iniciante, inicante mesmo. Demorei muito tempo para me dar conta de que tinha me "especializado" em alguma coisa por obra do acaso. E demorei para perceber que era produtiva (leia-se: $$$$) se traduzisse aquilo. E tive que fazer um enorme e consciente esforço para recusar outras áreas porque me dava um medo doido de não aparecer nada na minha "área de especialização" e faltar leitinho para as criancinhas. Demorei também para parar de traduzir into English. E acho que fui mais seletiva do que o mercado, porque se quisesse continuar traduzindo into English, teria gente querendo me pagar por isso.
E por acaso não existe dentista principiante, professor de dança principiante, faxineira principiante, cada um fazendo as besteiras que lhe são de direito até crescer e aparecer? Só tradutor é que já nasce 100% profissionalizado?
Nem conheço teu trabalho, mas tenho a leve impressão que se todos os principiantes fossem como você os princípios seriam bastante abreviados! :-)
Raquel Schaitza

John Keys disse...

Eu e esse blog temos uma conexão telepática: eu penso numa coisa e bum! dá ela aqui. Eu que não sei de nada só posso botar mais pilha nas metáforas da Raquel: banda nova começa ouvindo muito "Toca Raul!" do público pagante. Obrigado aos sensitivos!

Danilo Nogueira disse...

Eita, Raquel, bons tempos em que a trad-prt tinha 35 membros e eu escrevia para o Boletim do Citrat, lembra?

A especialidade da Kelli, na atualidade, é o que chamo "cerzido invisível": a técnica e arte de alterar as minhas traduções, corrigindo meus erros, de maneira tão sutil que ninguém percebe.

Amanhã, pegando o gancho de vocês, falo sobre especialização.

Que coisa, menina, a gente não se viu ainda neste século! A últma vez foi naquela festa, lembra?

Anônimo disse...

Verdade, Danilo. Não nos vemos há quase 10 anos. Mas eu te e-vejo sempre por aqui!

E uma das mudanças que eu citei decorreu de um papo com o Bob Feron na trad-prt nos idos de... 1995? Eu dizia que traduzia into English porque não é (era?) tão fácil achar profissionais aqui. Coitado do cliente acabava indo cair em mãos piores ainda. Mas aos poucos fui pensando que eu não era Madre Tereza, não tinha que me sacrificar pelo bem do cliente, sendo pouco produtiva e entregando um produto que não me satisfazia. Conclusão: pulei fora.
Raquel (seria ironia do seu blog a palavra de autenticação do meu comentário anterior ser "trágica"???) Só quero ver o que vem agora!

Petê Rissatti disse...

Maravilha de artigo, Kelli. Eu como diletante convicto concordo contigo em tudinho.