Continuando a resposta à Larissa, vou dizer, mais uma vez, como comecei, agregando os porquês de me ter firmado no mercado. A história, de tão repetida, está batida demais da conta. Mas sempre tem gente que pergunta de novo.
Eu era professor das Escolas Fisk e, um dia, a Arthur Andersen, uma das mais importantes firmas de auditoria da época, perguntou se havia um professor quisesse “fazer umas traduções”. Me ofereceram o serviço. Aceitei, eram quatro horas por dia, seguidas, sem janela, e, ainda por cima, pagas com 50% de acréscimo, por serem “externas”. Qualquer pessoa que tenha trabalhado em cursos de livres de línguas sabe que filé é uma coisa dessas.
Além de tudo, havia muitos anos que eu queria me devotar à tradução, mas, por um motivo ou por outro, a coisa não se materializava. Já estava algo cansado de aulas de inglês e achei traduzir uma delícia. Em pouco tempo, a Arthur Andersen me ofereceu um emprego, como tradutor, e agarrei com as duas mãos.
Logo depois de começar a traduzir lá, procurei a Editora Atlas, que se especializava em contabilidade (de que a auditoria é um ramo especializado) para oferecer meus serviços. Fiz um teste e passei porque criei um caso com o testador, na frente do diretor editorial. O original tinha substitute machines for men, eu traduzir direito e o testador deu bronca, porque lhe escapara a regência peculiar de substitute. O diretor editorial disse “não entendo inglês, mas a única tradução que faz sentido aqui é a que o Danilo deu”. Ainda bem que o testador não era rancoroso.
Me firmei no mercado por três razões:
1. Sempre dei o máximo. Errei, errei muito, fiz muita besteira e ainda erro e faço besteira. Mas nunca deixei de caprichar, de dar o máximo de mim, independentemente das condições.
2. Estudei como um doido. Não sabia nada de finanças nem de contabilidade, vi a oportunidade e li tudo o que fui encontrando, em inglês e português. Hoje, não faço feio entre contadores. Além disso, dei duro no inglês, no português e em técnicas de tradução
3. Participei. Reuniões, congressos, palestras; posteriormente, listas de discussão, artigos para o Translation Journal; cursos… onde houvesse um lugar onde eu pudesse estar, lá estava eu.
Combine esses três fatores e vai dar tudo certo para você. A turma fala que precisa ter sorte. Precisa, sim, mas a sorte bafeja quem está preparado.
Amanhã, falamos de outra coisa.
3 comentários:
Dedicação, disciplina e talento... Parabéns, gostei das dicas.
Recentemente, li o livro "How to succeed as a freelance translator", de uma tradutora americana chamada Corinne Mckay. A autora dá conselhos sobre como montar um escritório, organizar o trabalho, angariar e manter clientes, como e quanto cobrar (ahh, o primeiro mundo...), como aperfeiçoar os conhecimentos linguísticos, etc. e tal.
Danilo, se você me permite, ta aí uma dica de post: como ser um tradutor bem-sucedido, na sua opinião?
Grande abraço,
Sandra Navarro
Eu não sou da área de tradução. Um belo dia cai aqui nesse blogue e gostei. Continuo acompanhando até hoje. Seus textos, Danilo, são muito bons. Um bom senso como o seu, poucos tem e muito poucos o partilham de forma tão generosa. Suas lições servem para qualquer profissão, não apenas para a tradução.
Danilo,
Mais uma vez, muito obrigada por sua resposta.
Larissa
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