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sexta-feira, 31 de julho de 2009

O que Veio Primeiro, a Galinha ou o Ovo?


Escreveu a Larissa:

Eu sou a Larissa e acabei de me formar em Letras-Tradução
pela Universidade de Brasília. Acompanho o seu blog já há muito tempo e gostaria de lhe fazer algumas perguntas, agora que vou ingressar no mercado de tradução. Já li muitos artigos seus onde você menciona que o ideal é trabalhar como pessoa jurídica, pois as agências de tradução e os clientes diretos exigem nota fiscal. No entanto, como seria viável manter uma empresa se ainda estou tentando conseguir clientes? E, ao mesmo tempo, como conseguiria clientes se não sou pessoa jurídica? Essa é uma dúvida que me persegue já há muito tempo e gostaria de saber se você tem alguma sugestão ou se você poderia contar como foi o seu início como tradutor e como conseguiu se firmar no mercado. De qualquer forma, desde já lhe agradeço, pois aprendi muito com seus artigos e o seu blog.

A pergunta, então, Larissa, é: o que veio primeiro, o ovo ou a galinha. Como todos sabem, foi o ovo. Havia animais botando ovo muito antes de haver galinhas. O problema é, aqui, descobrir o que é o ovo e o que é a galinha. Até aqui, escrevi 45 palavras, fiz uma graçola sem graça não ajudei em nada. Vamos ver se consigo dizer algo que se aproveite.

A primeira coisa a dizer é que como trabalhadora autônoma, vai ser muito difícil ir para a frente. Essa é uma hipótese que eu descartaria logo de cara.

Existem opções “informais” (um eufemismo para “ilegais”, mas, além da ilegalidade, pagam pouco. Ainda deve haver, por exemplo, algumas agências (não me peça nomes) que paguem "por fora". Mas essas agências são as que menos pagam, mesmo levando em conta que você não vai recolher impostos sobre o que receber. Pessoas físicas também não costumam pedir qualquer tipo de comprovante. Muitos tradutores repartem serviços com colegas, descontando do pagamento os impostos, mas sem exigir nota fiscal. Quer dizer, tem tudo isso e deve ter mais. O problema é que essa pseudoliberdade, além de ilegal, é uma prisão e uma prisão viciante. Você pode ficar nela anos, muitos anos, flutuando no espaço, sem jamais progredir profissionalmente.

Outa possibilidade absolutamente legal e viável é trabalhar para empresas estrangeiras, as quais não querem saber nem de RPA nem de nota fiscal. Você manda uma fatura em pdf, muitas vezes anexa a um e-mail e recebe o dinheiro. Temos um insigne colega que simplesmente fechou a firma no Brasil, para só atender seus clientes estrangeiros. Mas esse é um símio idoso, com uma clientela de elite. Eu já tive vontade de fazer o mesmo e teria feito se não fossem uns serviços de treinamento e consultoria que tenho aqui no Brasil, que me rendem algum dinheiro e muita diversão.

Nesse caso, pagam-se impostos via Carnê-Leão. O problema, aí, é conseguir clientes no exterior, um verdadeiro campo minado e, além de tudo exigentíssimo.

Mas, lembre-se: você tem que investir e arrisca. Todo profissional que trabalha por conta própria passa por isso. Muitos de nossos colegas se recusam a investir “Eu, gastar dinhero com programa de tradução assistida por computador? Não sou bobo!” É sim. Esses programas de pagam num instante e logo começam a dar lucro. Coisas desse tipo.

Pronto, a primeira metade de sua pergunta está respondida. A segunda, respondo durante o fim de semana.

Até lá, e obrigado por ter escrito.

2 comentários:

Anônimo disse...

Danilo,

Muito obrigada por sua resposta! Mas tenho outra dúvida: no caso de trabalhar para agências estrangeiras, não seria necessário pagar nenhum imposto, então?
Não seria ilegal?

Aguardo ansiosamente pela segunda parte. Mais una vez, obrigada!

Larissa

Danilo Nogueira disse...

A resposta à sua pergunta está no trecho que começa com "Outra possibilidade" e termina em "exigentíssimo".