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terça-feira, 11 de agosto de 2009

Mais sobre revisão


O artigo da Kelli ontem chama atenção para o problema da dificuldade de aceitar emendas ao próprio trabalho.

Deixa contar umas coisinhas, assim, meio que em ritmo de fofoca. A Kelli e eu trabalhamos juntos há quase um ano (lembra, Kelli?). Além de cooperar comigo em mil tarefas, como preparação de cursos, ela revisa minhas traduções. Periodicamente, trocamos de lugar e ela traduz para que eu revise.

Quando ela atua como revisora, deita e rola com meu texto, sugerindo mil alterações, na maioria das vezes muito bem embasadas, que eu aceito com prazer. Por outro lado, quando sou eu quem revisa, embora ela não reclame, sente-se que a troca de uma vírgula lhe azeda o dia.

Nisso, a norma é ela, a exceção sou eu. Tradutor tem ódio de ver seu texto modificado. Somos uma raça de prima-donas. Cada emenda, cada sugestão do revisor é vista como uma ofensa, a ser lavada com sangue. Tradutor defende a correção de seu texto com unhas e dentes, a golpes de gramática e dicionário, muitas vezes se esquecendo de que mesmo o que está certo pode ser melhorado e que essa é uma das funções mais importantes do revisor: melhorar o que já está bom.

A Kelli também fala do "estilo danilesco". Isso se aplica mais aos meus originais que às traduções, porque, nas traduções procuro respeitar o estilo do autor — não usando "porca vacca!", por exemplo. Entretanto, não resta dúvida de que o mesmo original, trabalhado por outra mão, resultaria em tradução diferente. Isso obriga o revisor a ser um camaleão, porque, ao remendar um texto meu, não pode aplicar um remendo que destoe do tecido do texto em geral — uma boa revisão é mais um cerzido invisível do que um a aplicação de remendos, por bonitos que sejam.

Aliás, o dicionário me diz que texto tem a mesma etimologia que tecido e já aparecia em Quintiliano, o que não é de surpreender. Esses romanos, certamente, sabiam das coisas.

Um comentário:

Petê Rissatti disse...

Danilo,

acho que também me enquadro na tal exceção, pois sempre acho um barato ver o que as pessoas mexem no meu texto. Quando mexem com propriedade e não tresloucadamente ou para se adaptar ao seu estilo, o que não é pouca gente que faz: "não está errado, mas eu prefiro assim". Sempre penso que, se não está errado, deixe como está, pois o tradutor pesquisou e/ou formulou (ao menos deveria pesquisar e/ou formular) a frase com base naquilo que acredita ser o correto e o melhor para aquela situação. Se está errado, mexa. Se não está errado, melhore quando necessário, sem reescrever aquilo que o outro fez. Retrabalho irrita qualquer um.

Que as correções sejam sempre bem-vindas, quando bem feitas.
Abraço!