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terça-feira, 18 de agosto de 2009

Passa-que-te-passa

A respeito dessa história de panelinha e igrejinha, deixa contar uma história real para você.

O Banco Alfa, uma entidade supranacional, raramente precisava de tradução para o português, por isso, não tinha um quadro de tradutores brasileiros. Um dia, precisou – e não sabia a quem pedir. Podiam ter posto anúncio em jornal, pedido e analisado CVs, testado e entrevistado clientes, mas o serviço era pouco e não justificava a despesa. Se fosse para contratar um interno, fixo, ainda vá lá. Mas para pouco mais de quinze mil palavras, não valia a pena.
Então, ligaram para o Banco Beta, outro supranacional, onde tinham bons amigos – esse pessoal todo se conhece – e pediram uma indicação. Fui eu o indicado, porque trabalhava para o Banco Beta fazia havia seis ou sete anos e era o que eles conheciam de melhor. Não estou dizendo que seja eu o melhor: estou dizendo que eles não conheciam ninguém melhor que eu, o que é coisa bem diferente.

E lá fui eu, então, trabalhar com o Banco Alfa. Enquanto eu atendia o Banco Alfa, ligou a Empresa Gama, mas eu não podia atender na hora, nem eles podiam esperar, um acontecimento absolutamente normal no nosso ramo. Sendo assim, encaminhei o serviço ao Colega X, que eu conheço e sei que é competente. Já aconteceu o mesmo mais de uma vez. Também já aconteceu de o Colega X me indicar. Um de nós indica o outro porque temos confiança mútua. Não vou indicar um bocó só porque esse bocó me indica. Também não indico mulher bonita na vã esperança de obter, digamos, algum ganho extracurricular na transação.
Mas já aconteceu de eu indicar o Colega X e o cliente dizer que já tinha falado com ele, e que ele estava ocupado. Então, indica-se Y, que não é tão bom, mas quebra o galho. Quando a coisa aperta e Y também está ocupado, procura-se Z, e assim vai.

Já vi momentos em que esgotamos o primeiro time, esgotamos o segundo time e tivemos de pescar no terceiro time, porque uma agência estava com um abacaxi na mão, havia uma porção de gente em um congresso da ATA e, por mal dos pecados, parecia que todos os clientes estavam doidos a procura de tradutores. Numa hora dessas é que o cliente faz uma prece e contrata alguém inexperiente. Se o iniciante der bom desempenho, o cliente volta, todo satisfeito. Se não der, azar de ambos: fez-se o que se pode.

O passa-que-te-passa pode também ser por razões técnicas: a história é mais ou menos a mesma, mas o cliente que procura um tradutor de alemão ou de francês, ou um especialista em medicina, pode perguntar se eu posso indicar alguém e começa tudo de novo. Essas razões técnicas podem e devem ser vistas como razões de qualidade: uma tradução minha sobre medicina feita do inglês não iria ser grande coisa e, portanto, por questões de qualidade, eu recuso e prefiro indicar um colega. Se for do francês ou do alemão, pior ainda.

Sempre digo que qualquer produto ou serviço pode ser definido em termos de três variáveis, preço, qualidade e prazo de entrega. Já analisamos duas dessas variáveis e falta, então, a terceira, o preço. O interessado liga para mim e diz: “Tenho uma tradução de um texto em inglês sobre finanças, tantas palavras, para o dia tal. Interessa?” Sim, claro. Mas precisamos ver o preço. Se não entrarmos num acordo, ele vai ter que procurar mais alguém. Mas, aí, por favor, não conte comigo.

A praxe (ao menos a minha) é: recomendo alguém quando não posso fazer o serviço, ou porque não tenho tempo ou porque está fora da minha competência. Se esse alguém cobra mais ou menos que eu, não me interessa. Mas se o cliente pedir para recomendar um mais barato, eu me recuso a atender. Faz sentido isso para você? O cliente vai ter de achar sozinho. Acha, sempre acha. Mas essa é outra história.

Até amanhã e obrigado.

4 comentários:

Anônimo disse...

Claro que faz sentido! Eu não teria cara de pau de perguntar a uma costureira, por exemplo, que achei cara, se ela pode me indicar alguma mais barata. Acho que é uma questão de bom senso e de educação.
Adriana Caraccio Morgan

Anônimo disse...

É, mas isso acontece demais. E nessa história de indicar eu tanto já me dei muito mal como muito bem. Você indica uma pessoa para uma área específica, como Medicina, por saber que a pessoa domina, mas de última hora o trabalho é de, sei lá, psicologia. E se o colega não tiver a humildade de dizer que não sabe e fizer um trabalho ruim, é o seu nome que fica sujo. E nome é tudo o que se tem nesta profissão.

Quanto a pedir para indicar um tradutor mais barato, realmente, me poupe.

Os últimos textos estão ainda mais interessantes, parabêns!

Jamie Bartedes

Igor Barca disse...

Toda vida que eu leio essas histórias, fico pensando se algum dia vou vivê-las e imaginando o que faria nessas situações. É mesmo um absurdo ser pedido para indicar alguém que faça por um preço menor e a cara-de-pau de quem pergunta é ainda maior. Esta mensagem poderia entrar em causos.

Igor Barca
www.traduz-se.blogspot.com

Speak ESP disse...

Com certeza, faz todo o sentido do mundo. Eu costumo dizer que se ele quer ter mais trabalho e, no final das contas, perder a credibilidade ao apresentar uma tradução/versão ruim na empresa, será responsabilidade dele entregar o trabalho para um 'tradutor' que cobre mais barato. Afinal, ele poderá ver-se às voltas com revisões de um texto mal traduzido, tendo que pagar um revisor para 'consertar' o 'trem'. O barato, sai caro. Literalmente!