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segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Busdoor e quotaholder

Então, estava a turma reclamando da invasão americana. Isso, porque o barzinho tinha delivery e self-service. Por que não entrega em domicílio e auto-serviço? E logo veio alguém falando do tal busdoor, que sem ser português, também não é inglês, embora Oswald de Andrade provavelmente aplaudisse como exemplo de antropofagia. Aí, eu lembrei do tal do quotaholder, que é o ataque tupiniquim à língua inglesa.

Gozado como tantos tradutores brasileiros defendem essa gárgula lingüística com unhas e dentes. O número de pessoas que tentou me explicar a diferença entre ação e cota, como seu eu não soubesse, é enorme. Acham que, se temos duas palavras em português, havemos de ter duas em inglês. Mais ou menos como se, por termos salsicha e lingüiça, houvéssemos de ter em inglês sausage e linguosage, coisa assim.

Implico com o termo desde que comecei a traduzir, em 1970. Não está no Black's, nem em nenhum outro dicionário uma definição de quota que justificasse o tal do quotaholder. Quota existe em inglês, mas não significa cota no sentido de participação no capital social, mas sim no sentido de ração, limite quantitativo e, para quem não está acostumado com tupiniquinglish, quotaholder dá a impressão de que significa titular de uma cota/ração, mais ou menos como havia nos tempos de racionamento.

O argumento, entretanto, era imbatível: não há sociedades limitadas no direito anglo-americano e é importante usar um termo especial para indicar uma realidade totalmente brasileira. Jamais concordei. Achei que deveríamos proceder por analogia, mas, enfim, era uma coisa meio difícil de decidir.

Minha posição ganhou sustança com o advento das LLC - Limited Liability Companies, que são muito parecidas com as nossas Sociedades Limitadas, ambas inspiradas na GmbH alemã. Isso já é coisa do século passado, entenda. E os titulares de participações nessas sociedades são members, e os members são titulares de membership units ou até mesmo de shares, como neste documento da própria SEC, entre outros

Quando digo essas coisas, as reações dos colegas se dividem. Alguns concordam comigo, mas dizem continuar usando quotaholder, porque "os outros" não aceitariam a mudança. Ah, "os outros", essa conveniente legião de seres malignos, responsável por todos os erros deste mundo, cujos largos ombros tantas vezes carregam o peso de nossa própria inércia! Como se não fôssemos nós os outros dos outros! Outros colegas respondem com as duas mãos espalmadas, naquela posição clássica de orante, e respondem – Não, Danilo, mas pô!

E, pelo menos em São Paulo, mas pô! é o argumento final, irretorquível, aquele para o qual ninguém tem resposta.

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