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quinta-feira, 24 de abril de 2008

Uma traduçãozinha, pelo amor de Deus!

Nos diversos grupos de tradutores de que participo, é rara a semana em que não aparece alguém dizendo coisas do tipo Alguém pode me indicar nomes de empresas para me cadastrar e conseguir traduções, que estou precisando muito. Se souberem de alguma coisa me avisem. Há mil variantes, mas o fulcro é o precisar muito. Às vezes, vêm uma ladainha apensa, do tipo fui abandonada pelo meu marido e tenho dois filhos para sustentar, ou está faltando dindin para pagar a facu.

Comovente, sem dúvida, principalmente para mim, porque me lembra das minhas próprias agruras financeiras, embora nunca tenha sido abandonado pelo meu marido nem tenha feito faculdade. Comovente, sim, mas a abordagem errada.

O sucesso profissional depende, em grande parte, da adoção de uma postura profissional e a postura de quem escreve desse jeito não é a de profissional, mas sim a de mendigo. E quem se apresenta como mendigo dificilmente vai ser tratado como profissional.

Tradução é serviço profissional, que se confia a quem tem condições de prestar. E quem posta pedidos de esmola, que apela à piedade e caridade alheias, está começando por omitir a primeira e mais importante informação sobre o profissional: suas qualificações.

Se um de meus clientes me pedir um serviço que eu não possa prestar, vou indicar a ele um colega que me pareça capaz de prestar o serviço, não quem estiver de mão estendida à minha porta. E que sei eu a respeito do ou dá colega lá em cima salvo que está precisando de dinheiro? Nem com que línguas lida a pessoa diz! Não sei se tem experiência, se não tem, se conhece memórias de tradução, que idade tem, o que já fez na vida, não sei nada. Só sei que está precisando.

Além de tudo, a pessoa se coloca em uma posição passiva: alguém, por favor, mande a ela uma lista de empresas. Alguns têm o desplante de pedir que se lhes mande a lista de clientes para seu e-mail particular, em vez de divulgar para o grupo como um todo. Se tivesse lido as mensagens do grupo durante três ou quatro dias, teria visto que não é assim que as coisas se fazem, teria aprendido alguma coisa. Mas está precisando, então, posta um pedido e, por favor, alguém que lhe resolva a situação. Como se nós outros tivéssemos excesso de clientes e pudéssemos dispor de meia dúzia em favor de pessoa que nem sequer conhecemos.

Finalmente, se alguém pensa que é só se cadastrar em algum lugar e esperar que o serviço venha chegando, desista. Não é assim que as coisas acontecem.

Aqui neste blog e onde quer que esteja, sempre lutei pela profissionalização do tradutor. Tradução não é esporte, brinquedo, diversão, quebra-galho, ajeito na hora do sufoco. É, cada vez mais, uma profissão. E profissão que faz são os profissionais, não uma lei qualquer.

É por causa de escritos como este acima que criei fama de rabugento, implicante, antipático e desumano. Desculpe, mas alguém tem de ter a coragem de dizer certas verdades.

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