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terça-feira, 29 de julho de 2008

O que engorda o gado

Sempre achei que o que engorda o gado é o olho do dono significava que a atenção do proprietário é que garante o bem-estar do rebanho. Um dia, me apareceram com uma explicação diferente: disseram que por mais triste e raquítico que seja o rebanho, o dono sempre vai ver como uma beleza, animais fortes e bonitos, coisa de ganhar prêmio em exposição.

Foi enquanto pensava nesta segunda interpretação que me veio à mente a história do serviço fácil. O cliente liga e oferece um serviço. Já vai dizendo, logo de cara, que é fácil, pouca coisa, meia dúzia de pagininhas, nada de muito técnico, você faz num instante. Claro, em clientês isto significa que ele está cavando um desconto.

Mas você vai ver é uma meleca dos demônios, um daqueles textos enfezados, escritos por algum disléxico com mania de grandeza e que a meia dúzia de pagininhas é um pdf borrado em Arial Narrow 4 e que, de fato, não é técnico. Antes fosse, porque, se fosse técnico, era até capaz de fazer algum sentido.

Podem chorar o que quiserem, podem fazer o discurso que quiserem, não dou desconto. Não dou desconto por texto fácil porque nenhum cliente jamais vai aceitar adicional de texto difícil. Então, os extremos se cancelam e pronto. Aliás, não acredito na existência de textos fáceis de traduzir, mas isso é outra conversa.

A maior prova de que tem carne debaixo do angu é que normalmente esse cliente quer um desconto sem que você veja o texto. Não quer, porque está escondendo alguma coisa.
Eu não dou descontos por facilidade nem cobro acréscimos por dificuldade. Se for difícil, azar meu; se for fácil, sorte minha. Quando o cliente insiste no desconto de facilidade eu digo isso e acrescento que o risco de dificuldade é meu e que se, em um serviço dele, der algum pepino, eu não vou cobrar a mais. E encerro a conversa. Ponto final. Não cedo. Não cedo um centímetro. Principalmente, tenha em mente que, se você disser se o texto for fácil mesmo, dou um desconto, até o fim dos tempos o cliente vai dizer que você prometeu um desconto e vai esquecer a primeira parte da frase.

Uma vez, uma colega me disse que eu não cedo porque já conquistei meu lugar ao sol. Errado! Eu conquistei meu lugar ao sol por saber dizer não, por saber quando dizer não e por saber como dizer não.

Para terminar, uma história divertida: a secretária me diz que tinha um serviço de uma meia dúzia de páginas e pergunta quanto ficava. Dei o preço por palavra, explicando que poderia haver páginas muito cheias ou muito vazias e, por isso, o número de páginas, em si, não fazia diferença. Depois de resmungar um pouco, mandou o serviço. Era, de fato, uma meia dúzia de páginas cheias de texto e mais uma boa vintena de páginas com uma meia dúzia de linhas em cada uma. Eu, sempre muito espírito de porco, fiz o serviço e mandei anexo em um e-mail onde dizia: prezada fulana, aqui vai sua meia dúzia de pagininhas, numeradas consecutivamente de um a vinte e cinco.

E, por hoje, é só. Espero eu continuar a escrever todos os dias. E dê uma olhada aqui do lado, onde está escrito Texto e Contexto, para ver os cursos a distância via Aulavox.

8 comentários:

Anônimo disse...

D.
Com os meus votos de que você continue com a macaca, escrevendo todo dia.
Raquel Schaitza
(para quem a 2ª interpretação da ótica bovina também é totalmente nova)

Anônimo disse...

É uma pena que a área de trabalho pro tradutor fora de Rio-SP quase não exista. Os pouquíssimos trabalhos que aparecem auqi pra mim, só querem pagar merreca.

keka grubba disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
keka grubba disse...

Danilo,

por falar em desconto, eu gostaria de saber o que você acha dos descontos por repetição ou fuzzy que algumas agências de tradução estão começando a adotar ao pagar o tradutor freelancer.
Por exemplo, uma agência exige que o tradutor faça a tradução usando o Trados (sem fornecer nenhum glossário). Então, antes de mandar o serviço, a agência faz uma análise e informa a porcentagem que será descontada com base no número de repetições.
Isso não seria encarar o trabalho de tradução como uma tarefa puramente mecânica?

Danilo Nogueira disse...

hgrubba

Já falei sobre esse assunto aqui:
http://tradutor-profissional.blogspot.com/2007/11/ferramentas-de-traduo-e-descontos-por.html

... mas volto ao assunto com mais uns comentários amanhã ou depois. É sempre um bom assunto.

A praxe nem é exclusivamente brasileira nem é nova.

Danilo

Danilo Nogueira disse...

Leo,

Hoje, nosso domicílio profissional é a Internet, não a cidade onde moramos. Lá em cima, onde está escrito "pesquisar blog", escreva

tradutor e a globalização

espere até a pesquisa se completar e role a tela até "O Tradutor e a Globalização" -- são três ou quatro artigos tratando do assunto.

Anônimo disse...

Danilo,

Em primeiro lugar parabéns pelo blog bastante interessante e, o que é mais importante, útil. Tenho o prazer de passar quase todos os dias por aqui.
Diferente de você, e da maioria dos tradutores, trabalho em uma empresa fixa - faço a consultoria lingüística da General Electric no Brasil. O ramo em que trabalho é o da Healthcare Life Sciences, que cria soluções em biotecnologia, etc.
É evidente que tive que passar (aliás, estou passando) por um tremendo aprendizado para entender o negócio, conhecer o jargão, os equipamentos... Coisas que mal imaginava que existiam.
Acho interessante que algumas empresas "globais" estejam adotando profissionais da língua em sua organização; penso ser uma ferramenta extremamente importante e um diferencial para as empresas que estejam buscando novos mercados e têm na língua um instrumento imprescindível para seu desenvolvimento. Talvez seja mais lucrativo (assim de imediato) a terceirização desses serviços, mas, por outro lado, a tendência global das grandes companhias (como a GE) pede uma linguagem unificada e políticas bem adaptadas - e um profissional de línguas, moldado pela empresa, parece ser uma solução interessante.
Escrevo isso só para compartilhar a experiência diferente com o colega, e esperando criar um desses novos laços sempre bem-vindos.

Anônimo disse...

Danilo, parabéns pelo Blog!!!

Vc descreve situações que eu (ainda passo)...

P.S. Gostei da 2ª interpretação da frase.