Eu já acho fazer “versão”, quer dizer, traduzir da minha língua para uma língua estrangeira, uma temeridade. A maioria das “versões” para o inglês feitas por brasileiros que tenho visto é de péssima qualidade – e olhe que inglês não é minha língua materna. Se fosse, provavelmente acharia ainda mais besteiras.
Já fiz muita “versão”, entretanto e, ao que tudo indica, não me dei de todo mal. Porém, de tempos para cá, só tenho feito “versões” para clientes cuja língua nativa é o inglês. Quer dizer, se ele aprova, não tenho o que temer do meu tupiniquinglish. As outras, tenho recusado. Fico mais tranqüilo, assim.
Uma vez, uma colega me pediu a revisão de uma “versão”. Fiz e me arrependi. Não acredito que eu tenha competência para revisar o inglês alheio e garantir que o resultado tenha nível profissional. Não aceito mais esse tipo de serviço.
No tempo em que eu ainda fazia muita “versão”, tinha um funcionário de um cliente que insistia em escrever “direto em inglês”, para minha revisão, para se ganhar tempo e ele ir “treinando”. Aqui, temos um problema inicial: eu presto serviços de tradução, não de ensino
O segundo problema deixaria alguns teóricos da tradução irritadíssimos. Para mim, toda tradução (ou “versão”) pressupõe um original, dele depende e a ele tem de ser fiel. Não é possível revisar uma tradução (ou “versão”) sem ter ao lado o original, que nos esclareça se o texto que o cliente nos enviou é fiel. Então, tive um pega com o sujeito. Fiz pé firme. Ele disse que eu era teimoso e eu dei a famosa resposta de Mário Covas: teimoso é você, que teima comigo! Cravei os cascos na lama e não aceitei. Não aceitei e não aceitei. E quando eu digo que não aceito, é porque não aceito e pronto.
Como revisor, eu sou o goleiro e, quando a bola entra no gol, o culpado sou eu. Não adianta dizer que o texto do cliente estava confuso e tal. Se der meleca, sou eu o acusado de incompetente. Por isso, não aceito. Prefiro perder o cliente. Mas não perdi. Havia muito serviço de “versão” na casa e era eu quem fazia. Só havia um cara que queria escrever direto em inglês.
Um dia, o cara saiu da firma e foi trabalhar em outro lugar. Tempos depois, me ligou e perguntou se eu estava disposto a aceitar um novo cliente. Eu já previ o que era, mas deixei que ele se enforcasse na própria corda. Aceitei. Ele mandou o texto via e-mail. Com todo jeito de inocente, pedi o original. Ele disse que não tinha. Então eu disse que não podia revisar e, de novo, cravei os cascos na lama. Ele desistiu e nunca mais tentou fazer contato. Não fez falta.
2 comentários:
Como diz aquele ditadinho bobo: antes só que mal-acompanhado. Mas sempre haverá um novo bom cliente para quem dispensa os maus.
Abraço,
Pablo
http://cadeorevisor.wordpress.com
O texto caiu como uma luva pra mim, principalmente, quando o cliente, que não sabe muito de Inglês, insiste em revisar meu trabalho com um dicionário antigo...
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