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terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Quanto tempo sem parar?

M. escreveu toda satisfeita, porque estava encarando seu primeiro serviço grande. Mas diz que, depois de duas horas traduzindo direto, sem pausa, entra em pane. Está meio preocupada com isso e quer saber o que eu penso.

[Resposta Danilo:]

Bom, M, em primeiro lugar, bem-vinda à matilha. Espero que você se divirta.


O tradutor tem dois inimigos: a indisiciplina e a mania de bater recordes de resistência tradutória. O pior é que, muitas vezes, ambos se unem contra nós. Explico. Você tem um serviço e um prazo. A tendência é fazer isto e aquilo, dar só uma olhadinha na correspondência e no MSN ou no orkut, ler o jornal, aquele blogue interessante, falar com a madrinha e "já" começar. Como, muitas vezes, aceitamos serviço demais e prazo de menos, a coisa fica feia. Então, lá pelas tantas, são horas e horas ao computador, noites varadas à custa de muito café ou coisa pior, braços, pernas, pescoço, costas e cabeça em estado deplorável.


O curioso é que muita gente fala dessas coisas com orgulho: trabalhei 24 horas em seguida, só parando para comer e ir ao banheiro! Pois não devia. Depois de um certo tempo, a qualidade cai, por mais que você pense que não. Cai, sim. A gente entra em piloto automático e faz besteira. E, se não notar as besteiras que cometeu, é porque não tem autocrítica.


Já fiz isso, duas ou três vezes, porque tive que sanar bobagens que eu próprio tinha cometido. Sofri eu e sofreu a tradução. Não pode se tornar um hábito.


Você precisa aprender a ser disciplinada e a ouvir o próprio corpo, porque não há dois corpos que reajam da mesma forma e mesmo um mesmo corpo reage de formas diferentes conforme o dia e o tipo de serviço. Cabe a você ter o juízo de se impor alguma disciplina e, ao mesmo tempo, sentir quando é hora de dar uma parada.


Tem gente metódica nessas coisas, traduzindo 50 minutos sem tirar o olho do teclado e parando 10 para descansar. Outros são empíricos e dão uma paradinha quando ferve demais. É bom brincar com animais de estimação, dar uma voltinha, essas coisas. Uma paradinha para tomar água ou um suco.


Ah, mas, antes que você me pergunte: se eu tentar ficar no computador duas horas seguidas traduzindo sem parar, acho que desmantelo inteiro. Vamos ver o que a Kelli vai adicionar.


[Resposta Kelli:]


Eu vivo dando paradinhas estratégicas. Não trago água nem lanchinhos suficientes para várias horas para perto do computador, justamente para precisar levantar e parar o que estou fazendo, senão fico direto.


Não creio que paradinhas a cada hora, ou cada duas horas, sejam prejudiciais à sua produção. Trabalhei durante mais de sete anos como professora, e tinha dias de não ter tempo de ir ao banheiro. É horrível. Pense em um escritório: quem é que trabalha oito horas ininterruptamente? Ou mesmo as quatro horas de cada período? Pois é, ninguém.


Se você tiver prazo suficiente, acho até saudável ir dar uma olhadinha em e-mail, no orkut, trocar meia dúzia de palavras no MSN. Mas tem que ter disciplina e saber a hora de parar, senão a coisa desanda demais. Mais saudável ainda é sair de perto do computador e fazer outra coisa, esticar os músculos, descansar os olhos e a cabeça. Dez minutos longe e você volta outra.

2 comentários:

O HOMEM SEM MEDO disse...

Nem me fale dessa de piloto-tradutório-automático. Já nem suporto mais ouvir esse nome, digo pensar. Depois de certa tradução 5 dias direto - quase non stop mesmo - nesse modo aprendi que nada de fazer isso sem ter ao menos uma hora de descanso a cada 3 ou 4.
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Sempre funcionei assim. Estudana no colégio e faculdade por 4 horas initerruptas sem o menor problema. Ficou para a vida. O único problema é o silêncio durante os estudo/trabalho.
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Ele sim me distra horrores. Uma mosca que passe zunindo me trás reminiscências de minha infância - que já vai longe!
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Nada que Linking Park ou Busta Rhymes, Coltrane ou Van Halen não sane. E no 'volume penúltimo'.

Danilo Nogueira disse...

Cada um tem seu ritmo e seus limites, seu modo de trabalho. Trabalhar cinco dias direto, entretanto, é coisa de doido. Não dá bom resultado. O pior é que esse tipo de desempenho atrai mais pedidos de serviço a essa velocidade: "fala com o fulano, da outra vez ele ficou cinco dias sem dormir para fazer o relatório, quem sabe dessa vez ele fica seis".