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sexta-feira, 10 de abril de 2009

O tradutor e o macarrão

Dizem que quando há recessão, a turma que faz macarrão fica feliz. Macarrão é bom e barato. Uma pratada de spaghetti al sugo fumegante, com um bocado de queijo ralado por cima, enche a barriga do adolescente mais exigente, sem gerar reclamações. Então, macarrão vende adoidado e a turma que faz macarrão vende adoidado.

Quer dizer, "crise" é uma coisa localizada. Crise não afeta todos. E, dessa vez, parece que não está afetando a nós.

  • Ontem recebi uma mensagem de uma agência dizendo que, dado o aumento de serviço, estavam aumentando os preços para os clientes e a paga dos tradutores.
  • Uma colega está dizendo que está sobrecarregada.
  • A Kelli e eu também estamos com muito serviço.
  • Muitos dos nossos colegas parecem também estar lotados.

Agora, como dizia minha mãe, pousa a mala no chão, enxuga o suor da testa, senta e pensa: se você está com muito serviço, como tantos de nós, para que reduzir preços porque o cliente diz que estamos em crise? Quando ele estava montado na carne seca, ofereceu gratificação para você? Quando você fez o milagre de traduzir uma montoeira de coisas para ele no fim de semana e ajudou a ganhar uma concorrência, ganhou bônus? Alguma vez veio dizer que estava na hora de reajustar os seus honorários?

Mas, agora, vem pedir desconto, não é? Desconto a gente dá quando está com a corda no pescoço. Dar desconto quando você está trabalhando feito doida para dar conta do recado é bobeira.

Se o cliente pedir desconto, recuse. Diga, tranquila, sossegada, educada, que está sobrecarregada, que a procura por tradutores aumentou muito, porque muitas empresas estão reconhecendo a importância da boa tradução para seus negócios e que os bons profissionais são poucos.

Vamos lá, tenha a coragem de dizer "não" aos descontos.

6 comentários:

Fabiana disse...

Danilo, posso apresentar outro lado da moeda?

Não tenho tantos clientes fixos e batalhando meu lugar entre as agências.

Para mim, a crise afetou bastante. Tem muito mais agência se aproveitando para oferecer preços escandalosamente baixos para novos parceiros.

Esses dias, uma grande instituição educacional gentilmente recusou minha proposta por um "tradutor" que cobrou 1/5 do meu valor.

De qualquer maneira, concordo que, mesmo assim, não temos que ceder e nada de descontos!!!

Bom feriado

Danilo Nogueira disse...

Pode e deve, Fabiana. Crise, como eu tentei dize acima, é uma coisa individual. Afeta uns, não afeta todos. Mas casos como o seu somente aumentam a responsabilidade dos que estão firmes. Se a turma que está com serviço aos montes começar a dar desconto só porque os clientes alegam que estão em crise, a turminha que está batalhando um lugar ao sol está perdida.

E, no fim das contas, Fabiana, o mercado somos todos nós e, se eu prejudicar você, estou indiretamente prejudicando a mim mesmo.

Um abraço e coragem: quem tem garra e competência, chega lá.

Obrigado pelo comentário.

Danilo

Paula Góes disse...

Oi, Danilo

Concordo plenamente com você.

Eu, na verdade, aumentei meus preços para novos clientes, já que tenho pouco tempo livre, mas ainda quero usá-lo para me estabelecer como freelancer. E não é que eles aceitam pagar? Não falo de agências, só trabalho com uma que gosto muito, mas de clientes diretos e novos.

Também conta a meu favor que ao contrário de Fabiana acima, tenho um emprego in-house, então se o cliente novo não aceitar o preço, terei como pagar minhas contas. Mas são esses clientes que valorizam o trabalho do tradutor que quero conquistar e manter. Recomendo que quem esteja na minha situação que arrisque, sem medo.

Abraços,
Paula

Danilo Nogueira disse...

Pois é, Paula. Você tem uma segurança equivalente à minha e, por isso, pode recusar serviço com uma segurança que a Fabiana talvez não tenha. E quanto maior a segurança na recusa, mior a probabilidade de o cliente se render e aceitar o nosso preço.

Um abraço e obrigado pela participação.

Arte & Prosa disse...

Danilo,

Se ficar too much - ou tomate de tanto trabalhar (irsa!) - como queira, passe adiante, para que tem um pouco de trabalho, mas não para dizer que está com too much... em Minas, as oportunidades chegam, mas encontram um forte oponente: as montanhas... lendo e apreciando o seu blog. Convido-o a visita o da editora: www.ophicinadearteprosa-kopitpoetta.blogspot.com
Saudações pascais

Val Ivonica disse...

Existem muitos clientes bons por aí, inclusive agências. Só que quem paga mais também costuma exigir mais do tradutor. Então, para que a estratégia dê certo, também precisamos estudar e aprender cada vez mais.

Como a maioria, também comecei nas agências que pagam 4 centavos (de real, porque a gente dificilmente começa com as do exterior). Com o tempo, comecei a arrumar uma ou outra que pagavam 5, depois 6 centavos e dispensando as de 4. Depois comecei a correr atrás das lá de fora, pagando 6 centavos (agora de dólar). Depois 7, 8, 9...

A estratégia tem funcionado bem por aqui. "Não", concordo plenamente com o Danilo, é uma excelente resposta e pode abrir várias outras portas.