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segunda-feira, 30 de julho de 2007

Paga um e quer levar dois? – suplemento

caraca, mas converter um doc para pdf é a coisa mais simples do mundo, nao exige tudo isso nao, vc baixa de graça na net... afe

O que você leu acima é um comentário, deixado para o artigo Paga um e quer levar dois? A admiração de quem comentou demonstra que o artigo não foi bem escrito. Vou tentar de novo, a ver se consigo me fazer claro.

Converter um doc em pdf, de fato, é a coisa mais simples do mundo e eu converto para meus clientes sem esperar pagamento adicional. Aliás, minhas faturas para clientes estrangeiros vão todas em formato pdf: tenho um modelinho sem vergonha em MSWord, preencho com os dados corretos, converto em pdf e mando. Se você usar um OpenOffice, que é grátis, é só save as e acabou a história.

O problema é que, quando o cliente pede o pdf, está – sem o dizer – pedindo que o tradutor reproduza a formatação do original, tarefa que pode ser extremamente simples, e também exequível sem custo adicional, ou um verdadeiro pesadelo, para acomodar gráficos e figuras e texto nos lugares corretos e usar as fontes apropriadas, mais mil coisas que, na verdade, devem ser feitas usando um InDesign ou um QuarkXPpress, não o MSWord.

Manter a formatação do original quando se traduz um documento em MSWord é geralmente muito fácil, principalmente quando usamos programas de tradução assistida por computador. Se o cliente quiser o texto em pdf a conversão é simplicíssima. Mas receber um daqueles pdfs que reproduzem arquivos diagramados em QuarkXPpress por um profissional da editoração eletrônica e botar tudo em um outro pdf do jeitinho que estava é coisa para cachorro grande. Ou, ao menos, para um cachorro maiorzinho que eu.

O tradutor e seu status

Podem os tradutores exigir os mesmos direitos autorais do autor sobre a obra traduzida?

Essa é a pergunta que me manda uma estudante. Não sei se consigo responder, mas vou tentar.

O estatuto jurídico do tradutor é governado pela lei nº 5.988, que você encontra aqui http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Leis/L5988.htm, da qual colho alguns excertos:

1. As adaptações, traduções e outras transformações de obras originárias, desde que, previamente autorizadas e não lhes causando dano, se apresentarem como criação intelectual nova.

2. Depende de autorização do autor de obra literária, artística ou científica, qualquer forma de sua utilização, assim como: [...] a tradução para qualquer idioma.

3. É titular de direitos de autor, quem adapta, traduz, arranja ou orquestra obra caída no domínio público; todavia não pode, quem assim age, opor-se a outra adaptação, arranjo, orquestração ou tradução, salvo se for cópia da sua.

Os três parágrafos acima não são meus, são da lei. Deles se depreende que:

(1) o tradução é obra intelectual nova, da qual o tradutor é autor. Quer dizer, a autora dos livros da série Harry Potter é J.K. Rowling, a autora da tradução da série para o português, que você encontra em todas as livrarias, é Lia Wyler.

(2) Como J.K. Rowling é a autora da série, a obra é dela, e Lia Wyler somente pôde traduzir porque foi autorizada pela autora. Na prática, a editora brasileira negociou os direitos de tradução, e, tendo obtido esses direitos, contratou a Lia para fazer a tradução. O contrato, que eu não vi, certamente faz menção a exclusividade. Nenhum editor vai adquirir direitos autorais sem a certeza de que não vão ser vendidos, igualmente, a um concorrente: qualquer edição que você encontrar por aí e não for da Rocco, é ilegal.

(3) Se, em vez de traduzir uma obra que ainda tem sua propriedade intelectual protegida, como é o caso da série Harry Potter, a decisão fosse traduzir algo que já tivesse caído no domínio público, não seria necessária autorização de ninguém. Por outro lado, se alguém cismar de retraduzir Shakespeare, que está no domínio público, e descobrir que tem alguém mais traduzindo exatamente a mesma obra, não tem do que reclamar.

A lei não diz que a Lia deva ganhar tanto quanto a Rowling, não que a Lia fosse reclamar, claro. Nem diz quanto a Lia deve ganhar. Nem diz que deve ganhar alguma coisa. Diz que ela é autora da tradução. Isso significa que quem quiser publicar a tradução da Lia tem que se entender coma Rowling, que é dona da obra original e com a Lia, que é dona da tradução.

Teoricamente, a Lia poderia ter traduzido e procurando quem lhe pagasse melhor. Na prática, foi o editor que a encarregou de traduzir e contratou com ela uma remuneração. Volto ao aspecto remuneração amanhã – se conseguir voltar a escrever todos os dias. Entretanto não quero encerrar sem mencionar outro ponto: A Lia ganhou grande notoriedade com o HP. Se tivesse traduzido alguma obra desconhecida escrita por algum autor obscuro e que fosse se juntar à longa lista dos encalhes editoriais, dificilmente estaria sorrindo para nós no jornal de domingo. Por outro lado, se tivesse feito uma tradução de má qualidade, não adiantaria o sorriso, porque ia tomar paulada de tudo quanto é lado.

domingo, 15 de julho de 2007

Paga um e quer levar dois?

O cliente pede uma cotação, você dá, ele aceita e, quando você pensa que acabou a conversa, ele diz "você me entrega no pdf?". "Entregar no pdf" é um eufemismo para "fazer serviço de editoração eletrônica". É um serviço especializado, totalmente distinto do serviço de tradução. Exige programas especiais, como Adobe PageMaker, por exemplo, e mais uma carrada de outros aplicativos. E consome tempo, tempo que eu poderia usar para traduzir. Alguns tradutores são ótimos na editoração eletrônica, como alguns são exímios motoristas, cozinheiras ou trombonistas. Outros, como eu, nem chegam perto.

Não há nada de errado em prestar serviços de editoração eletrônica, como não há nada de errado em animar festas de aniversário ou ensinar línguas. Mas é bom lembrar que não faz parte integrante da tradução: é um serviço separado, independente e que, por isso, deve ser cobrado separadamente. Quer dizer, se você entende de editoração eletrônica, quando o cliente perguntar "você entrega no pdf?" a resposta é "claro, o serviço de editoração custa X". Não tenha medo de cobrar. Explique ao cliente que é igual a restaurante: filé simples tem um preço, filé com fritas tem outro.

O mesmo com atualização de documentos. Você faz uma tradução, dias depois vem o cliente e diz "tem umas alteraçõezinhas" e, geralmente, completa com "é pouca coisa, as principais estão aqui". Aí, eu pergunto: "é para fazer todas ou só as que estão nesta lsita?". O cliente costuma vir com mil evasivas, mas eu sou teimoso como uma mula: fico o pé e repeito, "não, desculpe, ainda não entendi, tem que fazer todas as alterações ou só estas aqui da listinha?" até ele desembuchar. Se ele disser que é só as da lista, então o preço é um, e talvez bem pequeno, dependendo do número de alteraçoes. Se ele disser que tem que fazer todas, então são dois serviços: o primeiro é identificar as alterações, o segundo é implantar. Para idetificar, precisa ler tudo, original e tradução, um trabalho fácil, mas que consome tempo, tempo que eu poderia usar para traduzir. Logo, hora por hora, preciso cobrar um preço que não me dê prejuízo. Então, a gente cota um preço para identificar as alterações. Identificadas as alterações, a gente cota um preço para a implantação. Para alguns serviços, a ferramenta de comparação do Word resolve o problema num instante. Entretanto, agora mesmo estou identificando as alterações a serem feitas em uma tradução feita por outro tradutor, com original em pdf. Não tem saída, tem que ler e cotejar e, princpalmente, não se esquecer de cobrar.

Por hoje é só, que eu tenho que voltar ao cotejo. Obrigado pela visita.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Nota fiscal, RPA, nota da prefeitura, recibo simples...

De vez em quando, pipoca a conversa de novo, aqui ou ali.

O cliente, seja ele agência ou cliente final, pede nota fiscal de pessoa jurídica, tradutor olha com cara de espanto: não tem, não sabe onde tem, não sabe onde compra. Sai por aí, adoidado, fazendo perguntas. Já falei disso mil vezes, esta vai ser a milésima primeira, mas não será a última.

Todo serviço prestado deveria ser refletido ou em um RPA ou em uma Nota fiscal. Essa é a lei. São esses os documentos que permitem ao governo administrar e gerir os tributos. Para quem paga, são o comprovante real do pagamento, que permite a dedução do valor na hora de preparar a declaração de imposto de renda. Se não tiver comprovante hábil, tipo RPA ou nota fiscal, não pode dizer que pagou e, teoricamente, ficou com o dinheiro no bolso. Não pode ser um recibo comum? Não, não pode, o leão não gosta.

Pessoas físicas costumam não se preocupar muito com comprovantes de pagamento a tradutores, porque não podem deduzir o pagamento da sua renda.

Pessoas jurídicas, quer dizer, agências e outros clientes, precisam de um comprovante hábil, quer dizer RPA ou nota fiscal de pessoa jurídica. Se fizerem pagamento sem nota, ou é porque trabalham pelo regime de lucro presumido, que pode ser extremamente oneroso para uma empresa de médio ou grande porte, ou é porque pagam pelo caixa dois, o que é ilegal. Mesmo empresas que têm caixa dois preferem evitar esse recurso, pelos problemas que ocasiona. Quer dizer, entre pagar um tradutor pelo caixa dois e pagar outro que tem nota fiscal de pessoa jurídica direitinho, a empresa vai preferir o que entrega a nota fiscal de pessoa jurídica.

Não há nada de errado ou ilegal com RPA, mas a carga tributária do cliente que contrata autônomo é altíssima, muito maior do que a carga de quem contrata tradutores que operam como pessoas jurídicas, quer dizer, se dois tradutores cobram o mesmo preço, mas um oferece RPA e outro oferece nota fiscal de pessoa jurídica, o cliente vai preferir o que tem a nota fiscal de pessoa jurídica.

É possível comprar notas de terceiros? Sim, mas é ilegal, além de forte indicação de falta de profissionalismo. Algo como médico usar receituário de outro. Tem quem venda nota fiscal? Eu não vendo, mas deve ter quem venda, porque se ninguém vender, ninguém vai ter como comprar.

É possível comprar nota fiscal na prefeitura? Sim e é perfeitamente legal. Mas são notas de pessoas físicas, equivalentes ao RPA, e não eximem o cliente do pagamento de todos os tributos devidos quando se paga contra RPA. Quer dizer, não refresca nada.

Amanhã, volto ao assunto. Por hoje, é só.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Madame d'Anjou responde: curso superior

Madame d’Anjou anda atrasada nas respostas, pelo que pede desculpas. A coisa aqui anda braba.

Fico sempre atrapalhado quando alguém me pede informações sobre cursos de nível superior, entre outras coisas porque nunca fiz curso superior na vida. Pior ainda quando me perguntam o que fazer depois da graduação. Entretanto, não gosto de me furtar a dar algum tipo de orientação.

Outro dia me escreveu alguém que tinha feito algum tipo de graduação e queria agora se devotar a tradução. Estava entre fazer graduação de novo ou fazer pós. Não é uma questão que eu possa resolver. Ao menos, entretanto, posso esclarecer alguns pontos.

Sucesso profissional é o resultado do que militarmente se chama "movimento de pinça": de um lado, você procura adquirir competência (e um curso, se bem feito e numa boa escola, aumenta sua competência), de outro, você precisa batalhar o mercado. Quer dizer, só fazer curso não resolve nada. Além disso, precisa ver se o curso é o que serve para você. Meus amigos que estão mais envolvidos que eu nessa história de faculdade dizem, e me parece que têm razão, que um curso de especialização prepara melhor para a profissão, ao passo que o mestrado prepara melhor para a academia.

Mas há também os cursos livres e, para quem tem formação em outra área, podem ser uma excelente opção.

Talvez valha a pena lembrar de um outro ponto: todas as pessoas que me escrevem dizendo que querem ser tradutoras dizem que estudaram uma língua estrangeira X anos, moraram no exterior, enfim, aquela coisa de sempre. Mas uma parte delas, uma parte muito grande, tem graves dificuldades com o português. Então, vai um conselho final para todos: se você quer se dedicar à tradução, comece dando um bom trato no seu português.

Antes de ir embora, clique aqui, para saber que cursos ando oferecendo via Aulavox. Como são a distância, você pode fazer onde quer que esteja, no Brasil ou no exterior. Caso você ainda não tenha percebido, um dos objetivos mais importantes (talvez o mais importante de todos) deste blog é atrair participantes para os cursos. Se não percebeu, deveria ter percebido: tradutor precisa saber ler nas entrelinhas.

Obrigado pela visita e volte amanhã.

domingo, 8 de julho de 2007

250 artigos

Minha vida tem andado tão maluca que nem notei que já passei dos 250 artigos postados. Tampouco contei os visitantes do mês passado. Paciência. Não dá, mesmo, para fazer tudo o que a gente quer.

Continuo me divertindo muito. Parece que tem sido útil para muita gente, o que me deixa ainda mais satisfeito. Agora, é mirar os trezentos.

Obrigado a todos os que têm vindo aqui para ler este ciberdiário.

Até amanhã.

Mandame d"Anjou responde: cursos a distância

Então, me perguntam o que eu acho dessa coisa de cursos de tradução a distância. Sou suspeito para dizer, claro, porque eu próprio estou me expandindo nesse campo e estou achando muito bom. Há coisas que não é fácil aprender a distância. Natação e cirurgia são dois exemplos óbvios, mas longe de serem os únicos. Não vejo problema com cursos de tradução, entretanto, nem vejo razão para serem menos eficientes que os presenciais. Exigem uma outra técnica por parte do instrutor, é verdade, mas funcionam direitinho.

Quer dizer, tanto quando se fala de cursos a distância como de presenciais, há que entender que sempre houve e sempre haverá os bons e os maus. Também é importante ver se o conteúdo programático do curso corresponde ao que você necessita. Não adianta fazer um tremendo de um curso de tradução se teu inglês é capenga. E, mais ainda, lembrar que há muito de subjetivo nisto: o curso que sua amiga detestou pode ser aquele que sirva para você como uma luva.

Lamento, mas viver é arriscado.

Mas, já que você falou em curso a distância

sábado, 7 de julho de 2007

Hoje estou abrindo espaço aqui para a nossa colega Sonia Augusto, que, faz uns dias, postou esta mensagem lapidar na lista trad-prt:

Eu normalmente peço ao cliente para confirmar se entendi corretamente o que ele quis dizer. Se foi um erro, ele corrige sem se sentir mal. Se queria mesmo escrever aquilo, eu traduzo (e fico com imagem de tradutora cuidadosa e minuciosa).

Sou psicóloga de formação e o primeiro livro que traduzi era de psicologia, mas de outra linha. Aí caiu a ficha de que naquele momento eu era tradutora, não psicóloga, e não precisava concordar com a autora, "só" traduzir o que ela escrevera da melhor forma possível. Nesse momento também decidi que se algum dia eu encontrasse um trabalho que considerasse prejudicial ao leitor, não traduziria. Traduzi vários textos com que não concordava ou que julgava bobagem, mas só uma vez recusei um trabalho que considerei irresponsável e perigoso.

Em 130 palavras, provavelmente escritas às pressas, como a maioria das mensagens que todos nós postamos, ela nos dá uma grande lição de profissionalismo. É bom ler de novo. Vale a pena.

Começa dizendo que, quando encontra algo que lhe parece errado em um texto, pede ao cliente para confirmar. Um modo elegante de evitar constrangimentos que, ainda por cima, ajuda a construir a imagem de profissional cuidadosa e minuciosa, como ela mesma diz. Um pouco de savoir faire não faz mal a ninguém.

A segunda parte da mensagem, a história do livro da psicóloga de outra linha também é emblemática. Quando encarregaram a Sonia de traduzir o livro, pediram que ela levasse ao leitor de língua portuguesa as idéias de quem escreveu o livro, não as dela própria. Transmitindo, cuidadosamente, as idéias do original, por menos corretas que possam ter sido ou possam ter a ela parecido, prestou à psicologia brasileira um serviço maior do que se tivesse se arvorado em censora de obras alheias e reescrito o livro "com as idéias corretas". Se fosse professora, poderia, inclusive, na sala de aula, rebater as idéias do livro que tinha traduzido e quanto mais fielmente tivesse traduzido o livro, melhor seria rebater as idéias que julgasse falsas.

Por fim, conta que se recusou a traduzir um livro que considerava irresponsável e perigoso. Foi só um, poderiam ter sido muitos. O que ela quer dizer com isso é que para tudo há um limite e que há certas coisas que ela não faz e pronto, posição com a qual também concordo plenamente.

Tem uma turma aí que acha que traduzir não é suficiente, talvez tenham um tanto de vergonha de serem "só" tradutores. Geralmente, não são tão bons tradutores quanto pensam, porque traduzir bem é mais difícil do que conseguem perceber. Mas isso é outra história. Até amanhã, que talvez eu fale disso.

Por favor, não se esqueça de dar uma olhada nos cursos Aulavox


sexta-feira, 6 de julho de 2007

Saudade dos tempos de traduzir para o inglês

Durante muitos anos, traduzi mais para o inglês do que para o português. Essa história acabou quando comecei a trabalhar para agências americanas: lá, como na Europa, a regra é cada um trabalha da língua estrangeira para sua própria língua materna. Há muitos anos que a tradução para o inglês deixou de ser significativa na minha carteira. Curiosamente, um dos poucos clientes de tradução para o inglês é uma agência em Nova York que, um dia, no sufoco, apelou para mim porque não tinha opção e, depois, ficou freguesa. Mas é pouco serviço.

Pouco serviço e, muitas vezes, pouco rendoso, embora a paga unitária costume ser maior. Pouco rendoso porque dá um trabalho diabólico e não sei se o diferencial de pagamento compensa. Se levado a sério, é um serviço terrível, extremamente desgastante, mesmo que você domine o inglês. Escrever tupiniquinglish, aquelas coisas esquisitas que você vê nos sites em inglês das nossas empresas, não chega a ser difícil, chamar o LALUR de book of real profit ascertainment, é moleza. Difícil é achar uma terminologia decente para as nossas coisas e escrever umas coisas que não deixem o leitor atônito com um texto em que todas as palavras estão em inglês, mas o texto, em si, não está em inglês; onde todas as palavras fazem sentido mas o texto em si não faz.

Mas é um excelente treino, inclusive para a tradução do inglês para o português. Porque, se ficar atento, ao traduzir para o inglês vai começar a perceber quantas coisas esquisitas você escreve ao traduzir para o português. E vai poder crescer muito como profissional. Ao traduzir para o inglês, li milhares de páginas de textos em português, escritos por "profissionais da área" que jamais teria lido se trabalhasse exclusivamente do inglês para o português.

Às vezes, sinto falta desse tipo de serviço. Mas o mercado anda exigindo de mim outras coisas e há que fazer o que o mercado quer.

Obrigado pela visita e volte amanhã, que tem mais. Aproveite que está aqui e dê uma olhada nos cursos para a semana que vem, O Uso de Programas Freeware como suplemento as Memórias de Tradução e Wordfast Avançando – Pandora Box. Como os cursos são via Aulavox, você pode fazer, não importa onde esteja. Para mais informações, clique aqui.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Tradução para legendagem

Um dos passatempos nacionais é falar mal de legendagem. Encontrar erro no serviço dos outros é fácil e divertido. Fazer serviço sem erros é mais difícil e, provavelmente, menos divertido.

Essa história de ficar catando erro em serviço dos outros é perda de tempo. Quando você encontra um erro no serviço de um colega, não aprende nada: se você encontrou uma tradução e notou que estava errada, é porque já sabia.

Melhor ficar procurando os acertos, aquelas sacadas em que você jamais tinha pensado, soluções que nunca tinham passado pela tua cabeça. E legendagem é sempre uma lição extraordinária para todos nós, mesmo quando não é nenhum primor de trabalho.

Legendagem tem terríveis limitações quantitativas: duas breves linhas de texto que têm de ficar um certo tempo na tela, se não, o espectador não consegue ler. Nem todos neste mundo fizeram curso de leitura dinâmica e, além disso, o espectador não pode se dedicar exclusivamente à leitura da legenda: precisa ver o filme, também. Por isso, salvo se for um daqueles filmes tipo Ingmar Bergman em que só se diz uma palavra a cada quinze minutos, é bom nem pensar em traduzir tudo: você precisa aprender a ouvir duzentas palavras e traduzir tudo aquilo com, digamos, cinqüenta. Aquela historinha de que a tradução em português é mais longa simplesmente não funciona para legendagem. A legendagem tem de ser mais curta, muito mais curta.

O truque é fazer com que a mensagem fundamental passe, o que exige do tradutor uma capacidade extraordinária para selecionar e resumir. E ficar rezando para o leitor não ser surdo e perceber o tom de, digamos, ironia, alegria ou tristeza do artista, que você não tem como mostrar na legenda.

Para piorar, não se pode usar vocabulário muito complexo. Tem uma palavrinha porreta que cabe exatinho ali, mas os limites do vocabulário do expectador têm de ser respeitados e ninguém fica vendo filme de dicionário na mão. Então tem de se virar com uma coisa mais simples e pronto.

Para rematar, em legendagem, não há notas do tradutor. Quem quer fazer legenda, tem de aprender a se virar sem essa muleta tão amada de alguns colegas que traduzem livros.

Embora não tenha a mínima vontade de trabalhar com legendagem, tenho vontade fazer um curso, para aprender as técnicas. Deve ser muito divertido e útil para qualquer um de nós, independentemente do nosso tipo de trabalho.

Por hoje, é só. Amanhã, deve ter mais. Passou um furacão dos bons por aqui, furacão capaz de furar um Rothweiler, mas parece que está amainando: acho que vou poder voltar a postar todos os dias, o que é uma delícia para mim. Obrigado por ter dado uma chegadinha. Se gostou do que viu, conte para os colegas. Se não gostou, conte pelo menos para mim, para ver seu eu consigo melhor este negócio todo. Sugestões são bem-vindas.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Edição Extra - "Guia Prático" do Agenor

Lá pelo dia 20, sai o Guia Prático da Tradução Inglesa, do Agenor Soares dos Santos. Vai custar 159 reais e ter 880 páginas. Editora Elsevier.

Uma grande notícia para todos nós.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Censura no blog?

Alguém que prefere se maner anônimo, ao comentar o artigo anterior, disse que faria um comentário realmente pertinente se o blog não tivesse censura. Como a afirmação pode dar uma impressão incorreta, vou explicar um pouco melhor.

Os comentários, aqui, estão sob o que se chama “moderação”. Chame censura, se quiser. Para mim, tanto faz. Na prática, isto significa que, se você fizer um comentário, ele vai primeiro para mim, que posso aceitar, rejeitar ou editar.

Assim, evita-se a turma que só aparece para esculhambar e spammers. Também se pode usar para evitar infrações ao código penal. É muito fácil fazer denúncias, verdadeiras ou falsas, quando se esta protegido pelo anonimato, mas o responsável legal pelo blog sou eu e, se alguém violar uma das disposições do Capítulo V do Código Penal, que trata dos crimes contra a honra, quem encara o meritíssimo sou eu. Por isso me cabe o direito de controlar o que aqui se diz. Não pensem vocês que nunca tive vontade de xingar a mãe de uma meia dúzia. Nas minhas veias, além de sangue, corre molho de tomate do carregado, à boa moda napolitana, que adquiri nos meus anos de morar no Brás.

Até agora, para minha satisfação, não tive de vetar nem adoçar comentário algum. Se alguém fez um comentário e não o viu publicado, deve ser em razão de um problema ocorrido com o servidor, que, durante um certo tempo, simplesmente matou todos os comentários. Até falei disso aqui, alertado que fui por duas boas amigas que não viram seus comentários publicados. Pode ainda estar ocorrendo esporadicamente. Mas fique certo de que, até agora, desde que o blog foi criado, jamais vetei um só comentário. Se você escreveu um comentário e não foi publicado, não foi por minha causa e se quiser tentar de novo, eu agradeço.

Nunca se esquecendo que os que acharem minha política quanto aos comentários muito restritiva podem facilmente criar seus próprios blogs, com outras políticas. É grátis. Mas aviso: é sempre mais fácil falar mal do blog dos outros do que fazer um melhor.

Vamos ver se, mais tarde, posso postar algo sobre tradução, mesmo.

domingo, 1 de julho de 2007

Homenagem a uma guerreira vitoriosa

Meu primeiro artigo, depois de vários dias sem conseguir postar nada, é uma homenagem a minha amiga Dayse Batista.

A Dayse, faz uns dias, avisou que está encetando a tradução de seu centésimo livro. Outros terão traduzido mais, outros terão traduzido livros mais longos ou mais importantes, mas a Dayse está traduzindo o centésimo e, com isso, nos dá uma grande lição, uma lição principalmente aos que vivem se queixando.

Ensina que se pode viver de traduzir. Porque vive de traduzir. Taquetataquetaque no seu computadorzinho, ganha o seu sustento e o sustento da Letícia, uma filha bonita e com ar inteligente, que só conheço de fotografia e espero um dia ainda poder abraçar, como um dia abracei a mãe.

Não vai ficar rica traduzindo, não passa as férias em Paris, não sai à rua arcada ao peso de jóias. Mas vive à própria custa e ainda lhe sobram uns trocados para algumas boas ações que não me cabe comentar aqui. Quando sai à rua, seja a pé ou cavalgando sua bicicleta, é sempre de cabeça erguida, com justo orgulho da sua independência.

A Dayse também nos ensina que é possível viver de tradução fora do eixo Rio–São Paulo. Mora em Porto Alegre e foi conquistando um cliente aqui outro lá, dando duro, se esforçando, estudando, aprendendo e formou sua clientela, dentro e fora do Brasil. E essa clientela lhe manda serviço. Manda serviço porque ela trabalha direito, só por isso. Não porque tenha amigos influentes. Os amigos que a recomendam são os que conhecem a qualidade do serviço dela.

Deve ter tido seus dias ruins, como todos nós. Mas foi à luta e está aí: cem livros, vinte anos de profissão. E está só começando.

Se você está no Orkut, visite o perfil da Dayse e deixe um recadinho de parabéns, que ela bem merece. E, esteja ou não no Orkut, se precisar de um exemplo de profissionalismo, lembre dela.