Hoje vou trabalhar para o inimigo. Escreveu ontem a Ana Paula, que é cliente (não minha), quer dizer, compradora de traduções, e pergunta como é que funciona essa coisa de preço, porque um tradutor falou a ela em tabela obrigatória, o que foi uma surpresa, porque outro tradutor não falou em tabela alguma e cada um cobra um preço e tal. A mensagem dela é longa e não vou colar aqui. Só vou dar uma resposta.
Existe uma tabela obrigatória
O TPIC também pode fazer traduções não juramentadas, que eles chamam traduções livres, um nome que não me agrada, mas isso é outra história. As "traduções livres" feitas pelos TPICS não estão sujeitas a tabela alguma, mas eles tendem a cobrar todas as traduções pelo mesmo preço, o que é direito deles. As tabelas das diversas juntas estaduais diferem e são atualizadas muito irregularmente, segundo princípios e critérios que provavelmente ninguém entende.
Existe uma tabela do SINTRA, o Sindicato Nacional dos Tradutores, que é algo confusa e serve como referencial para muitos profissionais, mas não é obrigatória: segue quem quer – e quem pode.
Os preços, na realidade, variam enormemente. O mínimo dos absolutamente mínimos, que eu saiba, é de R$ 0,03 por palavra do original para tradução de língua estrangeira ao português e R$ 0,06 para tradução do português a uma língua estrangeira, preço de fome pago pelas agências mais muquiranas e miseráveis. Haverá, quem sabe, quem menos ainda pague. Viver com esse pagamento não chega a ser fácil, digamos assim.
Os profissionais mais tarimbados cobram muito mais. Meu piso, atualmente, é R$ 0,25 por palavra do original, para traduções do inglês para o português, por exemplo. Coincidentemente, o mesmo que consta na tabela do Sindicato. Entretanto, já cobrei mais ou menos que a tabela do Sindicato. Deve haver quem cobre mais.
Vale a pena pagar R$ 0,25 por palavra ou até mais, quando se encontra gente disposta a cobrar um oitavo desse valor? Boa pergunta! Meus clientes acham que sim, mas tem quem ache revoltante pagar tudo isso por uma simples tradução, quando tem muita gente com preços mais
Um escritório de advocacia aqui de São Paulo, membro de uma rede internacional, recebeu uma carta-consulta de um cliente estrangeiro. Ficaram todos satisfeitos, claro. Prepararam uma resposta a capricho, toda enfeitada como é hábito dos advogados, e mandaram traduzir. Leram a tradução recebida palavra por palavra. Acharam uma maravilha. Não que estivesse boa, mas é que, para os olhos tupiniquins dos advogados do escritório, de português baço e inglês ralo, o Tupiniquinglish da tradução parecia de uma transparência e precisão totais: uma verdadeira perfeição tradutória. Para eles, evidentemente, quanto mais Tupiniquinglish, mas bonito ficava. Mandaram para o cliente, com casca e tudo. Mas o fato é que o cliente era inglês e ninguém lá entendia Tupiniquinglish muito bem. Dois dias depois, receberam um e-mail que dizia, simplesmente: Please, find another translator. Thank you.
Ainda bem que o advogado que recebeu o e-mail sabia algum inglês e não precisou mandar traduzir o e-mail: ia ser a maior saia justa para o coitado que tinha traduzido o engrimanço para o inglês.
Amanhã, conto uma outra historinha divertida, mas de tradução do inglês para o português. Este artigo já está longo demais.
Obrigado pela visita.
5 comentários:
muito legal!
Muito legal! Obrigada por partilhar essas informações!
Bom que você gostou. Continue o passeio, creio que vai encontrar mais coisas.
Ola, gostaria de tirar uma duvida. O preço cobrado é por folha traduzida ou por folha gerada??
Exemplo: uma folha traduzida, se transformou em duas depois da traduçao.
O que é o certo?
Sua resposta está aqui, Dani. Espero que seja satisfatória: http://tradutor-profissional.blogspot.com/2009/05/cobrar-pelo-original-ou-pela-traducao.html
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