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domingo, 19 de abril de 2009

Você foi bem sucedida na tentativa (2)

Só quem mantém um blogue destes sabe o trabalho que dá e, de vez em quando, simplesmente não dá coragem. Ontem foi o caso. Gosto muito de escrever estas notas, mas ontem, preferi ler e dormir.

Esta é a segunda parte da resposta a um comentário deixado aqui e, certamente, a mais importante.

Como disse na primeira parte deste artigo, acho deselegante e de pouca ética o hábito de desfiar coleções de erros alheios em público. Mas quando faço uma revisão, me considero na obrigação de manter o cliente informado sobre a qualidade do trabalho. Já elogiei muita gente, já fiz outros tantos perderem o cliente.

Quando a tradução é ruim, preciso de mais tempo para revisar. Ou cobro mais – e preciso justificar a cobrança – ou tomo prejuízo – o que não é minha obrigação, porque a burrada não foi minha. Já devolvi textos por inservíveis, já tive de refazer do zero, num fim de semana, porque tinha prazo para entregar e não havia tempo para grandes discussões, visto que a agência estava fechada.

Você não acredita quanta sem-vergonhice tem por aí. Tem gente que faz testes lindos, mas repassa tradução para pessoas absolutamente incompetentes; tem gente que simplesmente entrega material sem dar nem uma olhada por cima, para tirar o grosso dos erros. Chegou no fim, manda e o revisor que se vire. Por outro lado, tem gente que faz serviço bonito, inclusive se dando ao luxo de destacar os pontos mais complexos para atenção especial do revisor. Um ganha estrelinha dourada, o outro toma pito. É assim que funciona. O cliente e, mais do que ele, o leitor, merecem o nosso respeito.

Não importa se o cliente paga pouco ou muito: aceitou, tem que caprichar, que eu não estou aqui para limpar caca feita por gente incompetente ou descuidada. Caiu na minha mão, tem que sair bonitinho (não como estes artigos batuscritos assim meio a la porca em meio a mil outras coisas).

Mas a safadeza não é só dos tradutores: o que tem de cliente que manda para o editor o lixo dos lixos, esperando que a gente devolva uma tradução impecável é uma barbaridade. Tem uma turma que manda tradução automática para a gente revisar e quer pagar preço de revisão normal. E – acredite se quiser – temos um par de colegas espertinhos que fornecem traduções automáticas a clientes como se tivessem sido feitas por eles. Pau neles!

Com meu comentário, posso estar prejudicando alguém? Desculpe, mas dizer a verdade não prejudica a ninguém; calar perante o erro prejudica a muitos, incluindo uma turminha boa que está aí doida atrás de servço.

Não somos nós os primeiros a reclamar do que nos parece excesso de corporativismo em outras profissões? Quantas vezes você não ouviu alguém revoltado dizendo que os membros desta ou daquela profissão encobrem os erros uns dos outros? Então, como é que fica?

Um outro ponto do comentário que merece análise é o "dá para entender" e o "errado, não está". Que é isso, companheiro? Quando você está do outro lado do muro, como comprador, aceita um "dá para usar" ou um "quebrado, não está"? Acha que isso é aceitável? Pois é. O que não é aceitável para o comprador, não deve ser aceitável para o vendedor. Revisão serve para transformar uma boa tradução em uma tradução excelente. Tradução ruim não se revisa: joga fora e faz de novo.

Finalmente, no fecho você se refere a mim como "paladino das traduções bem sucedidas", não sem uma pontinha de escárnio. Não sou paladino de nada, mas defendo a qualidade. Aliás, meu nome é Danilo e prefiro não ser tratado por "senhor" - especialmente quando o "senhor" é forma de escárnio, não de respeito.

3 comentários:

Camilinha disse...

É, educar o cliente faz parte do nosso trabalho também... No final da tarde de quinta-feira, recebi uma chuva de orçamentos. Todos para segunda-feira. Feriado prolongado, só para o cliente. Tudo bem, não me importo com isso, faço o meu preço, se quiser, muito bem. O fato é que não é só o dinheiro que conta. Um volume enorme de trabalho, para ser feito em 3 dias (matando o seu sagrado fim de semana com a família) precisa ser possível. E não era o caso desses trabalhos. O cliente faz bico, dá uma de superior, como quem diz "ah, se você não quer, tem quem queira, e nem vai cobrar taxa de urgência". Tudo bem, sinto muito. Depois, quando não conseguir juntar A+B, e não entender nada, não vai dizer que eu não avisei que o tempo era insuficiente!!!

Petê Rissatti disse...

Sou da seguinte opinião: melhor um cliente satisfeito a mais do que alguns clientes insatisfeitos a menos. Elogio é difícil, paulada na cabeça, fácil, fácil. Então, o jeito é aceitar o que se pode e fazer bem-feito na medida do possível.

Abraço

Ana Iaria disse...

Quanta verdade no que você disse, Danilo. Há clientes picaretas e tradutores idem. Aos poucos fui me livrando de ambos (recusando revisar traduções feitas por picaretas, cheios de si hither and tither).
Eu ainda vou entender por que tradutor se acha uma casta à parte, para quem sw e cursos têm que ser de graça e cujo trabalho está acima de qualquer suspeita e crítica.