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sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Ai, meu português!

Ela se orgulha de seus vastos conhecimentos de inglês e freqüentemente verbera os que escrevem ou falam inglês capenga, os que aprenderam todo seu inglês durante uma viagem a Orlando, no que, aliás, não lhe falta razão. Mas, a uma consulta de um possível cliente deu uma resposta de uma dúzia de palavras, com uma boa meia dúzia de erros de português. Todos cometem erros e não são poucas vezes que alguém me escreve apontando erros nestas notas. Mas seis erros em doze palavras é um absurdo, para quem se apresenta como profissional da palavra.

É normal. A turma investe tanto tempo aprendendo uma língua estrangeira, que esquece de estudar português. Pior, acaba idolatrando a língua estrangeira e achando que o português lhe é inferior. Discordo: não há línguas superiores e inferiores. O que há é gente que não consegue perceber os recursos de uma da da língua. Não se trata de ser politicamente correto: trata-se de conhecer duzentos réis de lingüística, que deveria ser obrigação fundamental para nós.

E o desconhecimento da própria língua é uma falha grave, para qualquer tradutor. Se você não conhece a fundo os recursos de uma língua, não pode traduzir para ela. Não é necessário merecer Prêmio Nobel de literatura para ser tradutor, mas certamente é necessário dominar os recursos de estilo e a gramática da língua de chegada, bem como praxes de pontuação, uso de maiúsculas e semelhantes.

Outro dia foi um rapaz que exibiu, com grande orgulho, um texto totalmente escrito em maiúsculas e sem pontuação. Pediu opiniões. Eu disse que a pontuação era ruim e que as maiúsculas não estavam bem. Mandou-me um recado irritado, mais de um até, dizendo que não tinha pedido minha opinião sobre pontuação ou maiúsculas, mas sim sobre tradução. Acabou sumindo, talvez indignado com a incompreensão geral deste mundo. Achava-se, talvez, um artista. Muitos tradutores se acham artistas e acham que trocar uma vírgula do trabalho deles é como retocar a Mona Lisa e esperam somente críticas positivas algo que, para eles, significa elogios ilimitados. Por isso, tremo quando alguém me pede uma opinião sincera sobre meu trabalho. Mas, já vou adiantando: se a sintaxe chora com as sevícias, a pontuação faz enrubescer o Saramago e maiúsculas, hífen, aspas, travessão, são usadas aleatoriamente ou à moda inglesa, ou alguém me prova que houve um excelente motivo para tanta heterodoxia, ou é melhor nem perguntar o que eu acho.

Agora, clique aqui para ver os cursos Aulavox para tradutores, sempre a distância. Não estou mais postando todo dia, mas o blog está bem vivo e procuro melhorar a qualidade das informações. Volte sempre, discuta, faça perguntas e vamos, juntos, pensar a tradução como profissão.

Um comentário:

Emilio Pacheco disse...

"Mandou-me um recado irritado, mais de um até, dizendo que não tinha pedido minha opinião sobre pontuação ou maiúsculas, mas sim sobre tradução."

Isso me lembra uma mensagem que apareceu recentemente no Orkut. Aquela que perguntava se tradutor tinha que ser também revisor.