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quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Respondeat superior

Um latinzinho faz sempre bem. Esse, aí em cima literalmente quer dizer “responda o superior” e, daquele jeito superconciso peculiar aos romanos, significa o chefe é responsável pelos erros dos subordinados. Esse é um ponto que eu já lembrei muitas vezes: não há maus tradutores, há gente incompetente que confia serviços de tradução a quem não está preparado para a função.

Por que o escolhido não recusa o trabalho? Muitas vezes por não poder, ou por lhe faltar coragem. Pode ser um funcionário da empresa, sem coragem de negar algo ao chefe, pode ser um aluno da faculdade momentaneamente ofuscado pelo "precisamos da colaboração para o sucesso do evento”. Pode ser um coitado vaidoso sem autocrítica, que ache que seus dois milréis de conhecimento de uma língua estrangeira lhe permitem se arvorar em tradutor ou intérprete. Sei lá, pode ser mil coisas. Pode, inclusive, estar desesperado atrás de dinheiro. Não faz diferença: cabe a quem escolhe escolher direito o tradutor/intérprete, como lhe cabe também escolher direito a sala onde se realiza o encontro, o serviço de som, de bufê e o que mais seja. No caso de texto escrito, cabe escolher bem o diagramador, impressor, encadernador, capista, ilustrador, enfim, toda essa turma de profissionais que conjugam seus esforços para o sucesso de um empreendimento de publicação ou de comunicação com o público.

Acontece que, na hora de pagar o tradutor/intérprete, acaba o dinheiro. Tem dinheiro para tudo, menos para o tradutor/intérprete. Então, procura-se alguém que faça o serviço grátis ou, ao menos, a preço vil ou meramente simbólico. Outro dia, aconteceu de novo: trouxeram um filósofo de origem tunisiana, um tal Pierry Lévy, de quem eu jamais tinha ouvido falar, mas deve ser alguém de substância, ao que dizem. Puseram o tal do seu Pierre num evento público, com tudo preparado a esmero, mas o intérprete era amador e arruinou o evento. Parece o intérprete era pessoa honesta, mas, foi prejudicado pela inexperiência e por uma outra agravante: era um interessado pelo assunto e ficou dividido entre dever de exercer a função de intérprete e o desejo de ser um participante ativo da platéia. O próprio intérprete malgré lui reconheceu sua falha, o que é grande prova de maturidade e se desculpou de público. Mas aí é que está o erro: quem deveria ter se desculpado era quem o escolheu.

Se você sabe quem foi o intérprete, por favor, diga a ele que eu mandei um abraço.

O relato está aqui.

Um comentário:

Anônimo disse...

Danilo,
agradeço o comentário.
É pertinente e essencial uma voz na tradução, vindo de você.
Nós, do De Repente, só queríamos transmitir a sensação que ficou para uma das palestras mais esperadas para o Mundo da comunicação.