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segunda-feira, 13 de agosto de 2007

O tradutor e seu status

Voltando ao assunto, é importante discernir entre o estatuto conferido pela lei, o estatuto que a sociedade nos confere e nossa situação econômica. Não se obtém respeito da sociedade por lei. A conquista do respeito é uma tarefa longa e árdua. Exige, principalmente, que se prove ao cliente e ao público, cuidadosa e educadamente, que nós fazemos o que eles não conseguem fazer e adotando uma postura plenamente profissional em qualquer situação.

Por exemplo, tratando os clientes com cortesia, mas também com firmeza profissional. Se o cliente liga e pergunta quanto você cobra para fazer uma tradução e a resposta é um cambaleante, bom, sabe, a gente aqui procura cobrar o justo, mas, sabe como é, teve aí um reajuste... em vez de um firme tanto por palavra do original, para os textos enviados em arquivo eletrônico formato Word. Outros formatos ou material em papel têm acréscimo ou coisa semelhante, já deu um passo atrás na conquista do respeito.

Além disso, é importante ter a coragem de dizer não. Um não educado, mas, mesmo assim, um não, firme, redondo, indiscutível. Não trabalho por esse preço. Não trabalho nessas condições.
É importante, também cumprir a palavra empenhada: se você promteu entregar o serviço na quarta-feira às doze horas, que o serviço esteja pronto na quarta-feira, às doze horas, chova ou faça sol.

E, para não ter que ouvir que a filha da amiga da cunhada do cliente podia fazer o serviço, procure aprender a fazer as coisas que os amadores não são capazes de fazer. Quero ver a filha da amiga da cunhada dar conta de um ttx ou de um ppt endiabrado.

Lembre, também que essa lei de direitos autorais só se aplica, a rigor, a tradução de livros, que é coisa muito importante, aparece no jornal e tal, mas representa muito pouco para nós, provavelmente menos de 5% de todo o volume de serviço.

Finalmente, JAMAIS TRABALHE DE GRAÇA PARA QUEM PODE PAGAR. Essa é a primeira regra do profissionalismo, a primeira característica que distingue o profissional do amador e a que nos conquista o respeito da sociedade. Na sua porta, talvez forme fila de gente querendo abatimentos e descontos e gratuidades, porque é para uma boa causa, para a escola, para o raio que os parta. Quem tem dinheiro para comprar roupa, para tomar chope, para a balada, tem que ter dinheiro para pagar tradutor. Num evento onde todos ganham, também o tradutor tem de ganhar.

Todos amam um voluntário, mas vuluntário é voluntário, profissional é profissional.

Uma vez, dizem, pediram a Cacilda Becker, ilustre artista de teatro, para fazer um espetáculo grátis. Ele respondeu não me peçam para fazer de graça a única coisa que tenho para vender.
Ah, não, ainda tem uma coisinha: não faço a menor questão de ser igualado ao autor. Não sou autor nem me considero igual ao autor, como também não faço a mais remota questão de ser considerado igual a advogados, pilotos de jato ou tocadores de marimba. Sou tradutor e isso me basta. Quer dizer, não vejo razão para me comparar a outros, sejam o autor ou seja lá quem for. A minha tarefa é a minha, a deles é a deles.

Um comentário:

Silvia D. Schiros disse...

É isso aí, Danilo. De vez em quando recebo algum pedido (direto ou encaminhado) de alguém que procura um voluntário para fazer uma tradução. Faço como a Cacilda: não me peçam para fazer trabalho voluntário com meu ganha-pão. Me chamem pra ser voluntária pra levar cachorro pra passear, pra organizar uma festa pra escola ou cuidar de gatos. Mas não pra traduzir.

AUbraços para você!